A perda do respeito

Eu sou ruim da cabeça e doente do pé, dizem… detesto carnaval. Sempre detestei. Acho que um povo que precisa de uma catarse coletiva desenfreada, sem qualquer sentido, na qual um marmanjo se traveste de mulher, que as pessoas se esmagam umas às outras sob um calor infernal, pagando R$ 10, R$ 15 por uma cerveja quente, ouvindo um barulho de péssima qualidade (com honrosas exceções), me parece coisa de idiota. Mas ok, não critico quem gosta, do ponto de vista pessoal; goste e vá em frente. Apenas acho que é válida a posição contrária, como a minha, que não gosto.

O que aconteceu na Marquês de Sapucaí reflete a perda geral de respeito, geral, por tudo, todos, qualquer coisa. Uma iconoclastia que excede os ícones e desce à figura do respeito humano puro e simples. O que acontece, acho, é que o carnaval se tornou um bastão contra o mínimo de bom senso e respeito que resta na sociedade. Todo carnavalesco vive sonhando com os “antigos carnavais” (Onde anda você / antigo carnaval… como diria o samba enredo). No entanto, todo mundo se sente cada vez mais tragado pela espiral da falta de bom senso reinante, expressa de forma mais visível no carnaval.

Alguns argumentaram que se trata de reação à falta de verbas para a festa; outros, que os bicheiros e traficantes que (de fato) dominam as agremiações do samba reagiram ao endurecimento da polícia contra suas malandragens. Outros ainda, que é uma reação ao “Bozonaro”, e suas políticas, em tese ruins. Pode ser um pouco de tudo, e pode até não ser nada disso, mas tudo o que citei acima, somado à flagrante má vontade da imprensa, de um modo geral, contra os governos do RJ, estado e município, e do governo federal, cria um caldo bacana pra se colocar Jesus como sendo maltratado por policiais, numa clara alusão ao tal endurecimento com o crime. Ora, a despeito da crença popular, Jesus não teve problemas com a Lei, romana ou não. Ele mesmo disse que “ele a si mesmo se entregou”; ninguém o forçou a nada. Mesmo Pilatos tentou, em vão, livra-lo. Do outro lado, comparar os “policiais” da época aos atuais é no mínimo má vontade com os de hoje. Afinal, estamos neste estado de coisas por cumprir o império da Lei, ou por quebra do mesmo? Temos ou não temos uma constituição que (sobre) protege o cidadão comum? A Lei, em sendo cumprida, traria a paz social, ou é a burla ao seu cumprimento que traz o péssimo estado de coisas?

De volta ao título – Perda de Respeito – entendo que é disso que se trata. Não só aqui, mas aparentemente em todo lado, existe uma perda total de respeito:

  • Perda de Respeito pela Experiência – De um lado idolatra-se o “envelhecer bem”, a “melhor idade”, mas que o velho não se atreva a dar opiniões que vão contra a corrente vigente de ideias. De outro lado, uma pirralha (isso mesmo, é o termo no vernáculo para expressar o que a mocinha sueca é) se arvora em seus “how dare you” e esbraveja como se já soubesse no mínimo pagar suas contas e trabalhar 8, 9 ou 10h por dia, durante tempo suficiente para entender o que é rotina;
  • Perda de Respeito pela Formação Acadêmica – Desde a bárbara glamourização da burrice promovida por Lula, até a criação do idioma “Dilmês”, passando pela perda de contato dos agentes de controle financeiro governamentais com a matemática básica que nos levou a um buraco no orçamento, estamos vivendo tempos em que é bonito ser apedêuta (aquele que é incapaz de aprender). A música bacana é aquela de refrão fácil de entender, bobinha, mal feita; o sujeito se torna “compositor” sem saber se expressar, em nenhum idioma, e sem saber colocar as ideias uma após a outra, em um conjunto que faça um mínimo de sentido. O fato é que as “otoridades” dos últimos tempos fizeram o maior desserviço do mundo às novas gerações, e deixaram a impressão de que para vencer na vida você não precisa estudar, trabalhar, ou se aplicar em nada. É um “direito” seu, que se você não conseguir por seu talento imenso, será culpa do estado, e este terá que te dar uma vida plena, a despeito de você não querer nada com coisa nenhuma;
  • Perda de Respeito pelo Sagrado – Aqui, uma ressalva, a despeito de ser cristão evangélico, coloco o respeito pelo sagrado aqui em Latu Sensu. Desrespeito inclusive pelo direito de alguém ser ateu, se quiser. Afinal, o sagrado de alguém pode ser justamente a sua ausência (contra o que penso, obviamente, mas direito é direito). A ideia de que nada mais é sagrado está em perfeita sintonia com a visão maior de parte importante dos formados de opinião: se nada é sagrado para alguém, tudo é permitido, e portanto, pode-se induzir o povo a fazer qualquer coisa.
  • Perda de Respeito pela Vida Humana – Uma bactéria, como já foi dito, é vida, em Marte; mas um bebê humano perfeito, de 9 meses, no útero materno, não é. O contrasenso do desamor à vida vai longe: defende-se os atacantes e reprime-se os atacados. Uma vida humana tem o mesmo valor do que outra, em que pese o fato de ser esta vida que esteja pronta a tirar outra. A minoria vale menos que a maioria; um punhado de cidadãos da França vale mais do que milhões de Congoleses, e certamente a vida de meia dúzia de muçulmanos vale mais do que a vida de milhares de cristãos. Não sei explicar, mas a vida humana, qualquer uma, seja da minoria, da maioria, do rico, do pobre, está sempre sendo menosprezada por alguém;
  • Perda de Respeito pela Ciência – a exatidão, o rigor de pensamento, a prova científica tem cada vez menos valor. XY e XX agora podem ser XY-alfa, até XX-Omega, etc, num sem fim de “gêneros” sem qualquer fundamento biológico. A equação vale menos do que “meu sentimento” sobre os resultados que ela provê. Como diria Chesterton, “fatos são coisas teimosas”, mas estamos ficando craques em driblar fatos com “sensações”, “sentimentos” e “afinidades”;
  • Perda de Respeito pela Nação e pelo Coletivo – qualquer nação – governantes e legisladores, principalmente os últimos, decidem com base em qualquer fator que lhes traga vantagens, reais ou percebidas, independentemente de ser bom ou ruim para a coletividade. A pátria não simboliza mais nada e somos frequentemente chamados a zombar da nossa bandeira, dos nossos símbolos e de nossa soberania. Somos levados a acreditar que um “poder externo”, supranacional, “maravilhoso” virá transformar nossa vida dentro das fronteiras da nação – qualquer nação. Estamos no limiar da perda de vergonha nacional. A vida se torna cada dia pior, visto que o que é melhor para mim tem que ser melhor para todos, seja isso verdade ou mentira.

Dá pra ir longe lembrando as perdas de respeito. Quando o homem perde o senso de transcendência, perde o senso de consequência. Afinal, se nada que eu fizer faço para transcender, para ser melhor, para fazer a vida do próximo mais fácil, nada, então, merece ter as consequências medidas. Quando eu coloco o Deus ou deus do outro na sarjeta, quando eu trato a fé do outro, a “verdade” do outro como lixo, quando eu ataco o próximo porque ele não pensa como eu, estou me suicidando pouco a pouco. A alma sabe disso, e engole o auto-veneno quietinha, sem reclamar, até uma morte trágica, solitária e ignóbil.

Perspectivas Econômicas de 2020

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Photo by Arthur Osipyan on Unsplash

“Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança. ” (Provérbios 11:14)

Como já tenho participado há vários anos, em Janeiro de 2019 me reuni com um grupo de empresários de alto coturno para uma palestra da então economista chefe da XP Investimentos, Zeina Latiff. Ao final da palestra, os participantes falaram cerca de 2 minutos cada sobre suas perspectivas para 2019. O ambiente era de desconfiança, permeado, aqui e ali, com doses de otimismo. A média das opiniões apontava para um ano “morno” mas positivo. Dito e feito. Individualmente todos erramos em nossas opiniões, mas a média “bateu” como uma profecia, tiro preciso entre os olhos da presa.

Agora, em Fevereiro de 2020, de novo nos reunimos, desta feita com outro palestrante, Ronaldo Patah, do UBS. O teor e formato foram os mesmos. A palestra foi muito interessante e direto ao ponto, e ao final, a mesma dinâmica – cada participante contando um pouco de suas expectativas para o ano, em seu segmento. Os segmentos variaram de Construção Civil de casas populares a Alta Tecnologia, passando por área agrícola, entre vários. Estavam ali representados quase todos os segmentos da economia.

Se a experiência dos anos anteriores serve, principalmente o “bullseye” de 2019, vou repassar as reflexões para 2020 para que possamos voltar a este texto no início de 2021 e ver se a “profecia” da multidão de conselheiros funcionou.

  • Há um otimismo “médio” marcante no ar
  • A noção de que “o pior já passou” é grande, e no fundo, mesmo crescendo a taxas (previstas) que variaram entre 2% e 2,8% para os mais otimistas, dá uma sensação de alívio grande, estilo a piada do “Bode na Sala”
  • Há uma aposta grande de que as chances de termos de 3 a 7 anos de racionalidade econômica, a despeito das remadas contrárias de setores da oposição ao atual governo, é marcante e, se o passado é indicador, apontam para um ano de 2,5% de crescimento, com viés de alta, ou no mínimo de manutenção, para 2021
  • Há um otimismo no ar quanto à manutenção da Selic nos patamares atuais, de 4,25%, com uma aposta do UBS de que possa cair até 4%, para depois subir até 6% (considerada taxa de equilíbrio entre inflação e juros reais relativamente capazes de manter a inflação sob controle)
  • Também há otimismo no ar devido ao crescente fluxo de capitais estrangeiros, que já se nota retornando com certa força
  • Há uma noção clara de que o presidente não é peça fundamental na precificação da economia, visto que há nele um mínimo de pragmatismo econômico, e uma equipe ministerial composta de figuras excelentes, nas pastas que realmente importam (economia, infraestrutura, agricultura, etc). Também há a noção de que a estabilidade política está bem definida, sem chance de grandes aventuras como as do período Lula II -Dilma I e II.
  • O conjunto dos presentes entende que apesar de haver pontos fracos (como a falta de estrutura e relativo “engorro” no ministério da agricultura, na liberação de novos projetos), ações coerentes e pró-mercado estão sendo tomadas
  • O motivador observado parece realmente ser o de provocar mudanças estruturais fortes e permanentes, inclusive as “impostas” pelo interesse nacional de entrar na OCDE.

Aswath Damodaran, o às da avaliação de empresas da New York University, em uma palestra em Curitiba disse, há alguns anos que “individualmente, ação por ação, há bastante erros de análise, entre o valor previsto e aquele que acaba por se realizar; tomando o conjunto dos papéis da Bolsa, é impressionante como o nível de acerto é quase de 100%” (as palavras são minhas, o teor é do Prof. Damodaran). A multidão de conselheiros, portanto, pode ser formada de pessoas ou de um grupo de dados. Interessante…

Fica a aposta. A minha é de um dólar mais fraco em fins de 2020, na faixa de R$ 4,00, juros iguais aos atuais, ou seja, 4,25%, inflação dentro da meta atual, 3,5%, e crescimento por volta de 2,5%. Como não sou “multidão” (e nem tão qualificado como conselheiro), só posso pedir a Deus para estar certo, e que em 2021 o país volte a crescer acima de 3%.

Crentefobia – Matéria do Estadão

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,crentefobia,70003184254

Dificilmente um artigo me surpreende do início ao fim. O link acima merece ser clicado e lido. É direto ao ponto, sem rodeios, e me parece que o autor não é evangélico (não possui o jargão do meio). Posso dizer isso porque sou batista e falo “evangeliquês” desde moleque.

Pois bem, várias personalidades, políticos e autores importantes, se dão conta da Cristianofobia que existe no mundo. É impossível falar mal do islamismo, budismo ou qualquer outro ismo sem ser duramente criticado. Exceto do judaísmo e cristianismo. Parece que a vertente de pensamento judaico-cristã se tornou o foco de todas as batalhas, tanto dos diversos fundamentalismos religiosos como o fundamentalismo político de esquerda (já que qualquer religioso é imediatamente colocado à direita).

O que está sob discussão não é se o evangélico é ou tende a ser de “direita”; é a batalha contra o que o núcleo judaico-cristão de pensar significa – valores rígidos, princípios perenes, valorização da família, palavra, honra, dever, país, o próximo, etc. Não se pode abalar uma sociedade que tem fundamentos sólidos como os acima. E aqui, ESQUEÇA o aspecto meramente religioso do cristianismo. Fixe-se no aspecto comportamental. É isso que é necessário mudar, para a esquerda – somente derrotando a família, somente demonizando o conceito de nação, somente tirando do lugar o dever, em detrimento do “direito” é que se conseguirá a sociedade sonhada pelas teorias típicas de esquerda.

Então evangélico não pode ter ideais de esquerda? Claro que sim. Aliás, o próprio Cristo tem, aos olhos do mundo, tendências “liberais”, principalmente quando colocadas contra o pano de fundo do tempo em que viveu. A diferença básica é que a busca do bem estar social pretendida por Jesus Cristo era VOLUNTÁRIA e não imposta por uma casta “iluminada”.

Meu medo do ideário de esquerda vem das reações e atitudes que encontro nos meus amigos e família. Amigos e familiares são tanto mais “de direita” quanto mais professam sua crença em Cristo. Um amigo querido, amado, se distanciou de mim há algum tempo, a despeito de nunca termos tido um bate-boca sobre política (conversas sempre civilizadas. Quando indagado sobre sua religiosidade (católica) ele se disse “cada vez meno católico”. Primos amados, na medida em que se afastaram da fé original (evangélica) tem se tornado cada vez mais ligados ao ideario de esquerda, tendo também começado um processo de corte de laços – mais difícil, pois família é família – mas progressivo.

Óbvio que existe radicalismo por parte de gente mais à direita. É gente chata igual aos radicais de esquerda. O fato, porém, é que o conceito de “esquerda” está se situando cada vez mais para o lado esquerdo do espectro político (vide o partido Democrata americano, irreconhecível em relação há alguns anos). Já a direita, devido às advertências e pressão da sociedade, tem tentado não exceder os limites da direita, pois a reação é cada vez mais forte.

Sobre a parte do post que fala de privilégios católicos, não dou a mínima. As Santas Casas, os colégios confessionais entre outras instituições, fazem muito bem a sociedade e ao longo dos anos têm sido fonte de pensamento e progresso.

O fato é que ser cristão se tornará, como o próprio Jesus Cristo falou, cada vez mais complicado, com cada vez menos tolerância do “beautiful people”, cada vez mais estigmas… a racionalidade tem cada vez menos vez (sic)… Fim dos tempos? Evangélicos têm certeza de que sim. Eu tenho. Já que é assim, sejamos (cristãos e judeus) cada vez mais “radicais” em nosso pacifismo (não a busca da paz idiota, mas a pacificação), nossas boas ações voluntárias e o nosso desejo de ser ‘sal e luz’ por onde que que andemos!

A Terra Plana

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Foto por Brett Zeck no Unsplash https://unsplash.com/s/photos/world-map

Tudo o que é contra o (verdadeiro) cristianismo dá mídia. Tudo o que nos enxovalha, como cristãos, “cola”. As ofensas contra nós são permissíveis e até dignas de encorajamento. Os sofrimentos terríveis de nossos irmãos ao redor do globo são motivo de chacota ou mesmo alegria por alguns que nos acham “elite branca” ou coisa que o valha. Tomam contra nós as barbáries (de fato) cometidas pela Inquisição Espanhola, cujos terríveis feitos já tem mil anos. Jogam contra nós as Cruzadas, como se não tivessem elas sido fruto de “defesa” contra as invasões do expansionismo muçulmano na mesma época, na Espanha, Hungria, Romênia e Áustria. Em síntese, tudo o que prejudica o cristianismo vale.

Recentemente a história da heresia do Porta dos Fundos nos doeu a todos. Obviamente que pedir para tirar do ar, entrar com medidas judiciais não resolvem e, de fato, é antidemocrático. Eles que falem o que quiserem, e arquem com as consequências – comerciais e espirituais; as primeiras de curto prazo e as últimas de prazo eterno. Liberdade de expressão serve para isso mesmo – para sermos agredidos sem chance de retorno. É liberdade e ponto. Nós podemos argumentar que eles não fariam isso com Maomé porque amanheceriam com a boca cheia de formiga. A reação (antidemocrática) eventual de grupos muçulmanos não nos dá o direito de justificarmos ações da mesma natureza. Não vivemos por esse código. Claro que se fisicamente assediados, temos o direito de defesa; mas não podemos fazer disso motivo de ataque.

Hoje vemos na mídia post do Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, mostrando fotos que ele mesmo tirou para “provar que a terra é redonda”. Ora bolas, ressuscitar um assunto que a ciência já comprovou há séculos é imbecil demais. Olavo de Carvalho vem a público dizer de argumentos de terraplanistas e que “não viu nada que os refute” até o momento. Olavo é uma pessoa que, a despeito de boas visões sobre conservadorismo, é um líder de seita, fanático, e com antolhos. Não serve de base para nada. Xinga e grita com quem discorda dele. Tive a oportunidade de estar no lado errado do revólver que ele empunhou contra os protestantes, quando dos 500 anos da Reforma. Amigos católicos de certa forma “agradecem” à Reforma, por ter propiciado uma renovação dentro do catolicismo, acabando com a era dos papas tiranos, que tudo podiam, que viviam contra o celibato que eles mesmos impunham ao clero, que eram glutões, beberrões e fornicadores ao extremo. Em síntese, a Reforma acabou por “reformar” também a igreja católica, em uma certa medida que, cremos, melhorou muito desde então.

De qualquer forma, a Bíblia mesma tem uma passagem muito boa, escrita por Isaías, 400 anos antes da vinda de Jesus Cristo, e que diz:   Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar” (Isa_40:22, Versão J. F. de Almeida Revista e Corrigida). Difícil hein?

Então como justificar que a igreja católica tenha perseguido Galileo, Giordano Bruno e outros justamente por crerem que a terra era redonda? Bom, de fundamentos bíblicos é que não é; pois se existem lugares onde a Palavra menciona “cantos da terra”, também existe o texto acima, entre outros, bastante claro. O fato é que não importava aos escritores bíblicos; importava sim a mensagem de Deus aos homens, através de toda a Palavra, até a vinda de Cristo.

Se a bíblia não fosse clara sobre as perseguições, guerras e rumores de guerras, aflições e demais atrocidades que desde sempre nos perseguem, eu ficaria assustado. Não fico pois isso é “sinal dos tempos” como narrado no Apocalipse. Não crê nisso? Ok, não vamos brigar por isso. Não me chateie porque eu creio. É liberdade de expressão para os dois lados.

Como disse Evelyn Beatrice Hall na sua obra “The Friends of Voltaire” em 1906 (sob o pseudônimo de S. G. Tallentyre), e cuja autoria é atribuída a Voltaire, de forma equivocada, “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”

“Eles mataram nossas elites e as substituíram por um governo liderado pelo clero”

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,terceiro-dia-de-protestos-no-ira-desafia-o-regime-dos-aiatolas,70003156392

Uma das vantagens de calar a boca e ouvir é que escutamos coisas muito interessantes, ditas sem papas na língua, com erros, acertos, coisas boas e más, na “lata”.

Anteontem, na praia, tive oportunidade de “escutar” um rapaz por volta de seus 25 anos explicando uma série de visões, passadas por um visitante Iraniano à sua casa, sobre por que o Irã tem razão e os EUA não o tem. Muito interessante, pois o rapaz parece não apenas ter ouvido cuidadosamente a visão do estrangeiro, como aparentemente aceita-la sem reservas nem qualquer análise crítica maior.

Entre o que entreouvi, algumas “pérolas” bastante conhecidas nossas, como um antissemitismo indisfarçável, contido na expressão “A Palestina nunca foi judaica, e os Palestinos estavam lá desde sempre” (parece saído do panfleto antissemita “O Protocolo dos Sábios de Sião”), ou “Na segunda guerra a divisão arbitrária do Oriente Médio foi feita somente para garantir à Inglaterra o acesso ao petróleo” (sem se aprofundar no porquê, na estratégia da própria guerra ou ainda na instabilidade milenar da região) ou, por último, a afirmação de que “tudo o que interessa sempre foi petróleo” uma afirmação que, se é correta em uma boa medida, o é mais para fins do conflito Suni-Xiita do que para com os EUA, especificamente, e mais diretamente para tempos mais recentes, em que os EUA são mais do que autossuficientes nesse podre óleo preto.

Indo adiante, o rapaz não conteve seu desejo de ver os “EUA derrotados” pelo Irã, indiscutivelmente algo que faz parte do ideário da esquerda brasileira, independentemente do fato dos Aiatolás perseguirem minorias, matarem cristãos, enforcarem gays em praça pública e reprimirem suas mulheres com crueldade. A síntese da conversa, da qual quase cedi à tentação de participar (ia dar zebra, certamente…) é a de que qualquer ação contra o ocidente está justificada; o ocidente é mau, o ocidente é o capeta.

Li agora a matéria do Estadão que dá conta da natureza dos protestos em Teerã e no restante do Irã, e me chamou a atenção a frase que coloquei como tema deste artigo: “Eles mataram nossas elites e as substituíram por um governo liderado pelo clero”. A que se refere? Temos que voltar a 1979, quando a revolução dos Aiatolás tirou do poder um governante meia-boca, autocrata, o famoso Xá Reza Pahlevi, e colocou no lugar uma teocracia. De lá pra cá, o que era um dos países islâmicos mais abertos e modernos do mundo se tornou um fato de instabilidade regional e mundial, com ramificações tão terríveis quanto a triste situação do Iêmen ou a ascensão de organizações terroristas em vários locais do mundo, patrocinadas pelo regime de Teerã.

Os manifestantes cantam como palavra de ordem o “Eles mataram nossas elites e as substituíram por um governo liderado pelo clero” na Universidade Tecnológica de Sharif. A elite eram o Xá, um sujeito não muito “povão”, como sói acontecer com monarcas de dinastias antigas, sua mulher, Farah Dihba, uma perua que tinha coleções imensas de sapatos e jóias, e que desfilava a bordo de carrões importados, e uma elite dominante de séculos. O tal Xá governou de 1941 até 1953, quando acabou tendo que fugir do país, que escolheu um governante por meio do voto, Mossadeq, e que foi deposto logo depois, no que se convencionou chamar de a primeira ação da CIA para depor um governante de outro país.

Fato é que o Xá era mesmo um péssimo governante, e que estava no poder quando da 2a crise do petróleo, de 1976. Essa crise não fez só essa vítima no mundo, mas em muitos lugares, inclusive com um baque terrível na economia brasileira, desencadeando anos depois a crise da inflação, entre outras, ao redor do mundo. O Xá subestimou os Aiatolás e estava muito mais preocupado com a URSS do que com os turbantes… O fato é que a Revolução começou com um “acordão” entre a esquerda local, municiada pelos comunistas de então, o clero e forças militares, acabou por sair vencedora, com o episódio imortalizado pelo filme “Argo”, sobre a invasão da embaixada americana em Teerã, e seus reféns, que impediram Jimmy Carter de se reeleger, e tido até hoje como um presidente fraco. Fato é também que os EUA queriam no poder um governante “a seu feitio” e acabaram por não enxergar que o “acordão” entre esquerda e turbantes seria mais efetivo do que parecia em princípio.

Hoje, os estudantes cantam algo que parece ser verdade – trocaram uma elite nobiliárquica, um rei autocrata, por um estado ainda mais autocrata, repressor ao extremo, e que, para piorar, se imiscui em cada cantinho da vida pessoal, cultural e religiosa do povo. Uma massa crescente de cristãos está sendo vítima de violência sem igual, crueldade macabra por parte do regime. A massa de cristãos continua a crescer, porém, num movimento não antecipado, e, com certeza, que não é resultado de “ações da CIA”, mas do fascínio que a liberdade cristã traz ao ser humano – inclusive a liberdade de rejeitar o cristianismo e fazer troça do próprio Fundador, sem que isso enseje maior repressão.

A dinâmica é quase sempre essa – a troca de uma elite por outra, sem qualquer garantia de melhora. Podemos marcar fatos com a queda da República Romana e ascensão do poder imperial, passando pela sangrenta Revolução Francesa, Revolução Soviética, Chinesa, e vários outros exemplos do mesmo padrão: por achar que algo está ruim, troca-se algo por alguma coisa dez vezes pior.

Aqui, trocamos a (ruim) ditadura militar por algo mais insidioso e que, com pretexto de aprofundamento da democracia, nos colocou no mais longo período de recessão e desemprego da nossa história. Corremos o risco, no Brasil, de fazer uma troca da mesma natureza da do Irã: trocar algo que se poder trocar por algo que não vai embora nunca, exceto com muito sangue: um regime que se mantêm a despeito do povo – no Irã, pela religião; aqui no Brasil, pela escravidão cultural-ideológica.

Até que ponto chega o mau jornalismo?

https://arte.estadao.com.br/internacional/geral/locais-historicos-ira/

Dei de cara com essa “manchete” do Estadão hoje e fiquei mais do que pasmo. Fiquei boquiaberto com o que está escrito ali pra todo o Brasil (e o mundo) ver. Por conta da eliminação do agora “diplomata” e “querido líder” Soleimani, um sujeito que andou mundo afora criando caos como o imposto aos judeus argentinos há alguns anos, ou à população do Iêmen, ainda hoje, tenho o desprazer de dar de cara com o “jornalismo” feito por um jornal que eu assino, e que julgava relativamente imune às estupidezes maiores. Trump ameaça o patrimônio histórico do Irã. Legal.

Aliás, nem “jornalismo” se trata, propriamente, mas apenas uma chamada enviesada para lindíssimas fotos de patrimônios culturais da humanidade em terras Iranianas.

Ou seja, o Irã desestabiliza toda a região, criando o caldo social que gerou o ISIS, que agora combate, invade (ou coordena) a invasão da embaixada americana no Iraque, infiltra milicias em vários locais, e agora diante da oportunidade não perdida pelos EUA de eliminar dois “coelhos gordos” com uma cajadada só (Soleimani e o líder miliciano no Iraque, Muqtada al-Sadr).

O fato é que, conforma BBC, “O governo Trump ficou surpreso com a magnitude do ataque contra a Embaixada em Bagdá, visto como uma escalada, e acreditou que Soleimani estava por trás disso. Apresentado com uma oportunidade de alvo, o presidente autorizou o ataque (contra o general).” Ficou mesmo, pois foi a culminação de uma série de atentados aqui e acolá, matando americanos (civis e militares). Qualquer nação que tenha algo de orgulho se sentiria justificada em matar as duas figuras de uma vez só. Será que Trump pensou nas consequências? Muito provavelmente não. Isso é ruim? Bom, ruim mesmo foi a atitude covarde de Jimmy Carter, diante da invasão da embaixada americana em Teerã, em 1979; ruim e covarde foi a atitude de Hillary Clinton (e de Obama) em “botar a viola no saco” diante da mortandade de civis e militares no consulado americano em Bengasi, na Líbia, que vitimou um homem cuja morte foi sentida nos EUA, J. Christopher Stevens, carismático diplomata, por conta de um filme considerado “ofensivo ao Islã” (“The innocence of Muslims”, ou a Inocência dos muçulmanos)…

É de se perguntar se a não-retaliação, a inação diante desses atos resolveu algo no sentido de melhorar as relação dos países muçulmanos com o ocidente. Nada adiantou ficar chorando, sentado na calçada. Apenas acabou ali o “deterrence factor“, ou seja, o fator de dissuasão, que os EUA detêm desde meados da 1a. guerra mundial. Até o “advento” do maluco Trump, os terroristas, oficiais ou não, já acreditavam que poderiam fazer atentados aqui, lá e acolá, que sempre haveria um Barack disposto a pagar uns US$ 400 milhões para algum grupo terrorista “dar um tempo”.

É de se perguntar também se o “atentado” contra o Porta dos Fundos, perpetrado por um idiota, ou grupo de idiotas, merece a mesma reação e grau de solenidade dado ao filme “A inocência dos muçulmanos”, que nem de longe é tão ofensivo ao islã quanto o Jesus gay dos cretinos brasileiros é para o cristianismo.

O cúmulo, porém, é o jornalismo de prejulgamento: eu afirmo, eu informo, que “Trump vai colocar patrimônio histórico do Irã sob ameaça”. De onde se retira isso? Com que base? Na 2a. guerra mundial, os aliados, liderados pelos EUA, foram responsáveis por recuperar e devolver aos museus da Europa milhares de obras e objetos de arte roubados pelos nazistas, num ato coletivo (e até poder-se-ia dizer desnecessariamente dispendioso, face às necessidades prementes da reconstrução do pós-guerra) de grande visão cultural, de futuro e de mundo. Qual é a base para afirmar que os EUA de hoje seriam capazes de, deliberadamente, colocar zonas de preservação histórica sob ameaça? Nenhuma base, obviamente, exceto o interesse de desacreditar o Ogro Laranja (o que é fácil, dada sua natureza, digamos, bufona).

Peca a imprensa brasileira por acoitar em suas redações um número enorme de jornalistas cujo amor à notícia é nulo, cujo apego à verdade está subordinado a suas paixões ideológicas, cujo interesse em informar está debaixo da mão política de um grupo que tenta a qualquer custo ganhar esta guerra cultural-ideológica na qual estamos no meio: no Brasil, e em quase todo o ocidente.

Pela epistemologia de um grupo, jornalistas hoje enxergam o que querem; por essa visão de mundo, vêem qualquer ação de um lado como sendo má, necessariamente (vice-versa é verdade também, mas em nível – ainda – infinitamente menor e mais difuso). Por essa visão de mundo, congressistas deixam de pensar no país, se é que algum dia nele pensaram, para botar fogo em ideias excelentes – de um e outro lado, diga-se, apenas para não dar “chances eleitorais” ao adversário.

Enfim, “basta a cada dia seu mal”, como Jesus disse no sermão do monte. Vamos lutando a cada dia para tentar fazer retroceder, seja pela palavra, seja pelo humor, a imbecilidade de extremos que pensam em tudo, menos no próximo.

What a Year!

2018 December calendar with crossout marks
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I like the fact that we slice the time in years, months, days and hours, and periodically stop and check what happened. It seems that we then try to look ahead in a more positive way. I always consider myself privileged to be able to apply “checks and balances” and try to make sense of the things.

This year started full of high expectations. A new government that started under the auspices of the war against criminality and corruption, and of a strong economic recovery. The figure of a strong leader, a man without the vices and ideological minuses of his predecessors, permeated the collective thought and maybe made us as a nation forget the hindrances usually placed by politics.

From the criminality point of view, a huge success, with average level of crimes having decreased by some 22%. This achievement is (in my humble opinion) due to certain specific measures taken by Justice Minister Sergio Moro in the first days of his term, such as isolating the drug lords in maximum security penitentiaries and enforcing combat of smaller crimes with the same vigor of the larger ones. Also the deployment of national security forces whenever necessary and in whichever parte of the country necessary, in a timely manner, helped a lot to show to the criminals that Federal Government is serious about curbing crime.

In the fight against corruption, our major defeats, in the beginning inflicted by a still majorly “tainted” congress, mainly the lower chamber, but in the recent months by the Executive itself, with nonsensical measures taken by the president himself without the consent of his Justice Minister. The support of allegedly corrupt Supreme Court justices to the president (and vice versa) raised suspicions of protection for the president`s “son number one”, apparently involved in a scandal of corruption. This has made the president accept some laws passed by Congress that no one would believe he would, in the campaign. Bolsonaro`s image is definitely smeared by this fact alone!

In the economy we had a recalcitrant beginning, with a much better year end. Projections for the GDP in the end of 2018 were of some 2.2% to 3%. The delay in approving the much needed economic measures, such as the reform of the retirement system (creation of minimum age, equaling the government employees to the ones in the public sector, in terms of benefits, etc) created a serious delay in the recovery of the economy. By the mid 2019 no one was certain whether the reform would pass in the Houses or the size of what came from it. A famous economist bet against me that it would not be over R$ 500 Billion, while I bet in a total R$ 1 trillion (over a period of 10 years). At the end, I “won more than lost”, with an economy of R$ 840 Billion, plus the effects of the changes in the pension system of the military and of the States and Counties public servants. After all was said and done, total savings in 10 years can reach R$ 1.5 trillion, an appreciable effort. Mr. Paulo Guedes was the national hero this year. A level head with clear goals, the man endured a lot from politicians. Politicians can be annoying in their ability to pretend to ignore some basic economic principles. This was clearly a plus for Mr. Guedes, with his proverbial ability to lecture his public. This last week a panel of 7 journalists of Globo TV Network had to endure Mr. Guedes` “class” with shut mouths, for the lack of arguments against his excepcional conduction of the economy, despite the landmines planted both by opposition and (mainly, I`d say) government officials in his plans to boost growth. Mr. Guedes was certainly the highest point in a somehow controversial government.

Then, the most visible side (from an international point of view) of Mr. Bolsonaro’s administration: environment. From the (nonsensical) outcry of the international press on the fires on the Amazon to Mr. Bolsonaro’s call of Greta Thunberg as “Pirralha!” (Brat!), the year was one of clear and huge misunderstandings (some journalists were incredulous by the number of “giraffes” killed in the fires in the region!). Mr. Bolsonaro’s administration was demonized as “forest arsonists” and clearly “anti-climate” policies. I would daresay this is not true. It is a fact that this administration does not count with the support of the major NGOs in the Amazon region, and this does not help in the creation of good press abroad for him. It is also a fact that he plans to develop the region, mainly regarding its mining potential. Oh, if mining was as big a problem as is the illegal occupation of areas for wood extractions (illegal) and its transformation in pastures. That is the point, and is happening as always had. It does not significantly depend on the actions of this or that government. The curves of increase and decrease in deforestation and fires in the area are much more subject to the economic growth than anything else. The largest deforestation years were 2001 (under Fernando Henrique Cardoso`s administration) and 2004 (Lula), and the lowest was 2012 (Dilma). There is no apparent link to specific policies applied this or that year, but fact is that from a peak of 29 thousand Km², the deforestation in 2019 was of 9.5 thousand km².

The failure of this government to communicate its achievements is partially due to Mr. Bolsonaro’s rhetoric against the “Bad Press”, à lá Mr. Trump. This, together with specific measures that cut the already decreasing revenues of the traditional media, such as abolishing the need of public companies to publish its Financial Statements in papers of large circulation, and the reduction in government publicity, created a tremendous bad will in the redactions.

All in all, this has been a great year, but a year that has not been fairly appraised, neither by Bolsonaro`s supporters nor his detractors. It will have to be adequately analyzed by historians, some time in the future, if we still count on fair-minded historians by then.

Portugal…

Foto WMF – Torre de Belém, Lisboa, Nov 2019

Tirei um montão de dias de férias em Portugal, com uma passadinha pela Espanha, só pra “espiá”. Fui muitas e muitas vezes lá, mas já fazia 19 anos que não ia. Algumas coisas chamam atenção no país:

  • A quantidade de turistas multiplicou-se por 100;
  • As autoestradas criadas desde então (só tinha Lisboa-Porto naquele tempo, creio) transformaram o país e nunca estão lotadas – graças ao sistema de “comboios” que ainda funciona, a despeito das queixas dos portugueses;
  • A quantidade de brasileiros é imensa e deixa marcas até no jeito de falar.

Durante a viagem postei no FB uma única vez uma observação sobre algo que ouvi na TV e que me deixou roxo de vergonha – “Cerca de 7% dos brasileiros acreditam que a terra é plana”, dizia o âncora da TV Portuguesa. Ó raios, disse eu… isso é um fenômeno mundial creio, mas de onde foi que os portugueses arrancaram a informação de que cerca de 14 milhões e meio de brasileiros realmente acreditam que a terra é plana? Tudo isso veio na esteira de um congresso de “terraplanismo” no nordeste do Brasil por aqueles dias. Fiquei com vergonha, mas acho que raiva teria sido um sentimento apropriado também, uma vez que não entendo mais nem como se obtêm essas estatísticas (eleições são uma época boa para perder a fé no Ibope…) nem se há interesse em nos enxovalhar, mais do que nós mesmos o fazemos, com nossos Toffolis, nossos Lullas, nossas Dilmas (essa, campeã em nos sacanear ao vivo e via Embratel), entre outros. Na verdade não tem necessidade alguma de que entes externos façam piada sobre nós. Nós damos conta disso sem ajuda.

Mas é legal ver que Portugal ainda está razoavelmente livre de imigração predatória, forçada de fora para dentro, de gente sem qualquer conexão com o lugar. “Bain, ó pá, milhoire os brasilairos, não ié?”, dezem estar dizendo os patrícios, já que, de fato, melhor alguém que tem, além do idioma (quase) igual, a mesma propensão para ficar amuado, auto-exovalhar-se e fazer “auto-piada”…

A nota mais triste talvez tenha sido os cartazes, sobra da última eleição para a Câmara dos Deputados deles, cheios de PCP (Partido Comunista Português), dizendo “Aumento geral de salários, aumento geral de pensões” e outros artificialismos que fazem da esquerda universal um bloco monolítico em suas reivindicações cretinas e prenúncios do caos econômico, uma vez atendidas.

A nota mais legal foi a de um cartaz (também de partido político, creio) dizendo “Se um deputado incomoda muita gente…”… eles também se dão ao direito de concluir que tem deputado demais, fazendo de menos, custando demais e enchendo o saco demais… É bom saber que além das insanidades da esquerda, existem outros fatores universais de chateação.

Viva a Santa Terrinha…

Hedonismo à Brasileira

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Continuando a divagar por escrito na internet… nada disso é para ninguém. É para mim mesmo…

Hedonismo é definido no dicionário como sendo “viver tendo o prazer como bem supremo e estilo de vida“. É difícil não achar que o brasileiro, em geral, e o carioca, em particular, não viva assim.

Tenho amigos que viveram nos EUA algum tempo, como ilegais. Tinham 2, 3 empregos e trabalhavam entre 12 e 18 horas por dia, inclusive sábados e muitos domingos, sem descanso. Trabalham em quase qualquer coisa. Lavavam pratos, manobravam carros, assentavam tijolos na construção civil, e até varriam ruas. Nada era pequeno demais para eles, nem abaixo de suas potencialidades. O que importava era o dólar e mandar de volta o que juntaram, para a família ou para comprar algum bem. Viviam em “repúblicas” que eram verdadeiras “cabeças de porco”, quase miseráveis. Mas viviam nos “States”.

Um desses mesmos amigos, de volta ao Brasil, voltava a ostentar seu diploma de curso superior; já não aceitava trabalhar mais que 8 horas por dia, e no fim da tarde de sexta feira já estava prontinho para ir tomar chope e comer sardinha frita no Largo de Santa Rita com os amigos, e espairecer. Imaginar-se aqui varrendo meio metro de calçada, até mesmo em casa, voltou a ser impensável. Em suma, vida de classe média típica.

Outro saiu daqui e acabou no exército dos EUA, para poder ter acesso à cidadania. Já não tinha nem um resquício de esquerda, mas virou patriota temente e defensor da doutrina de defesa americana. Um verdadeiro ianque.

O que faz do brasileiro alguém tão diferente fora do seu país em relação ao que é aqui? Por que no exterior aceita viver uma vida de privações, desde que com expectativa de futuro, em relação ao que vive aqui, embora, francamente, eu ache que se trabalhasse aqui o que trabalhava lá fora, economizaria quase o mesmo, considerando os custos de viver aqui e lá. O que faz de nós patriotas em relação ao país que nos adota, e no Brasil acharmos ridículo o Sete de Setembro?

Não tenho uma explicação, e este post só serve para ventilar minha frustração em entender a alma do brasileiro, sob muitos aspectos. É, me parece, um Hedonismo à Brasileira… a capacidade de evitar fazer qualquer coisa, e clamar por direitos, sem ter trabalhado ou defendido nada, muito menos a nação. É algo como o cara que deixa uma esposa que o apoiava, mas que ele desprezava, e passa a idolatrar uma que o despreza. Algo meio masoquista vai na nossa alma e eu me recuso a aceitar isso sem tentar entender. Por que, meu Deus do céu, tratamos nosso país, nossas ruas, praças, avenidas, nossos prédios, nossas calçadas, nossas escolas, como lixo, e quando no país alheio somos capazes de sentimentos até patrióticos pelo que nem é nosso?

Se eu falar de patriotismo serei imediatamente associado a Bolsonaro. Independentemente de eu simplesmente amar meu país. Se eu disser que pago meus tributos com rigor e pontualmente, serei taxado de bobo. Se eu defender a beleza, o potencial e a capacidade do Brasil em ser grande, serei mais um Policarpo Quaresma.

Meu desejo sincero é poder ter a possibilidade de um dia ver um país bacana, em que as pessoas tenham vergonha de furar uma fila, de jogar papel no chão, de reivindicar o que não é seu direito, enfim de aceitar que precisa oferecer mais e reclamar menos.

Major Quaresma, a seu dispor…

Somos incapazes de grandeza – O Brasil vive de narrativas

Em um post anterior eu discorri sobre a incapacidade do Brasil em ter uma falta crônica de Pureza de Intenções (vide Post). Neste, diante das reviravoltas da política, tento entender (na verdade escrevo muito mais para mim do que para qualquer audiência – um dia vou olhar pra trás para tentar entender como é que os acontecimentos deste período tenebroso de nossa história me afetou).

A noção de democracia e ditadura

Alguns têm uma noção meio flácida, frouxa, do que seja democracia e do que seja ditadura. Todo mundo está cansado dos memes que fazem troça da esquerda e seu amor por Cuba, Venezuela e afins, e sua ojeriza ao Chile, Brasil e sua mania de culpar os EUA por tudo.

Outros tem uma noção de que é democracia tomar decisões em nome de todo um povo, e promover “golpes soft”, mudando a constituição pouco a pouco, a fim de permitir infinitas reeleições, ou poder nomear e destituir membros da Suprema Corte, etc.

Os problemas cognitivos com os conceitos de democracia de ditadura existem na esquerda de na direita. Quando o PT vem a público dizer, como disse Lula, que a Venezuela é um mais de grande democracia, está obviamente com uma noção distorcida do que ela seja. Em contrapartida, quando o Filho Zero-sei-lá-o-quê diz que um AI-5 seria algo natural em um processo de “despetização” do país, ou coisa que o valha, também tem uma visão distorcida.

Golpe é golpe, e tem que ser chamado pelo nome. 1964 não foi golpe (minha opinião). 1967 foi claramente um golpe. O pedido de renúncia e posterior efetiva renúncia de Evo Morales claramente não se enquadra na categoria de golpe, nem soft nem hard. Foi simplesmente a saída do poder de um governante ilegítimo, que se perpetuou lá mudando a constituição por via da intimidação do congresso e compra da corte suprema, por conta de uma situação insustentável, gerada por uma massa de gente nas ruas e a mudança de lado de vários agentes do governo, já cansados de toda a baderna.

O Chile

O Chile é diferente? Afinal tem o melhor padrão de vida da América Latina, é democrático, apesar do passado de Pinochet, e tem tido alternância no poder entre a esquerdista Bachellet e o direitista Piñera, por exemplo. O Chile tem um padrão educacional alto, e pareceria imune a levantes de qualquer natureza, que poderiam colocar a ordem e a economia em problemas. Aparentemente existe algo no país que está levando a coisa pro brejo. O que seria? Que narrativa sustenta esse status quo? Qualquer um que se meta a escrever algo com seriedade e honestidade intelectual tem que se fazer esta pergunta. Afinal, “it`s the economy, stupid” tem sido um mantra da direita, desde as estrepolias de Clinton e da estagiária.

A coisa toda começou parecida ao Brasil de 2013 e seus “20 centavos” nas passagens de ônibus. Lá foram 30 pesos, ou aproximadamente 16 centavos aos câmbios atuais. Nada muito diferente, exceto que a renda per capita lá é o dobro da nossa. O ponto fundamental lá, como quase aconteceu aqui, é o quebra-quebra provocado. Lá como aqui black blocs “se infiltraram” (lá parece que o movimento tem muito mais vândalos) e quebraram vidraças, tocaram fogo em estações de metrô, infernizaram a vida do cidadão comum. E o que mexeu tanto com o Chile?

A BBC, em uma longa reportagem ( https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-50115798 ) dá algumas pistas, sem muitas evidências senão a palavra de alguns ativistas, contra e a favor, mas identifica alguns aspectos que merecem destaque:

  • A eventual desigualdade entre pobres e ricos existente no Chile;
  • A falta de sensibilidade do governo de Piñera sobre aspectos sociais, chamando os manifestantes de “preguiçosos” e não conseguindo compreender o assunto (“Incomprensibles”) ou irrazoáveis;
  • A reação da polícia (violenta, segundo informam) frente aos protestos;
  • A expectativa de melhora da economia mais alta do que ocorreu (o primeiro governo de Piñera foi muito bem sucedido neste aspecto, já o segundo nem tanto);
  • O papel preponderante dos estudantes na geração de toda a convulsão social.

Em princípio apenas dois aspectos podem realmente ser levados a sério como fundamentos para os protestos, em meu entender – a expectativa de uma melhora maior do que a ocorrida, de um lado, e principalmente a postura belicosa dos estudantes. Não é só no Brasil que as universidades são uma espécie de cadinho de pensamentos de esquerda, sempre prontos a ouvir mestres e líderes e sair às ruas. Possuem o tempo e a energia para ir a público berrar suas reivindicações.

Michelle Bachelet, que não é boba nem nada, e grupos de esquerda, inconformados (lá como aqui) de terem sido baixados do poder, tratam de capitalizar sobre o fato. Não é nada diferente do que tentará a esquerda brasileira, cedo ou tarde. Temo que veremos uma corrida presidencial em 2022 cercada de “protestos” e quebra-quebra. Deus não permita!

Ah, e o Brasil? Vivemos de narrativas como as da Bolívia, na qual Evo foi “deposto”, e do Chile, com suas violentas manifestações (“pacíficas”). Aqui estamos às voltas com narrativas sobre a “inocência” de Lula, Dirceu e Cia; vivemos sob a tentativa de reescrever a história. Nada disso mudará a realidade, mas a realidade, bem, esta pouco importa. Historiadores, os que escreverão sobre isso daqui há alguns anos, serão quase todos parciais de qualquer jeito, e a objetividade, o rigor científico, este ficará de fora da análise, e teremos mais alguns anos de metanarrativas a descontruir, como hoje temos que explicar aos estudantes que a URSS foi um experimento falido que matou 68 milhões de pessoas, que a China matou outras 100 milhões, de fome; temos que explicar o que foi o Holomodor, o que foram os campos da morte no Cambodja… por aí vai…

Este artigo escrevi para mim mesmo, e compartilho com quem quiser ler e gostar de “textão” (hoje, qualquer coisa que passa de 5 linhas é textão…). O meu tradicional pedido de perdão pelas falhas de estilho e escrita…