Novo Capitalismo

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Photo by Koushik Chowdavarapu on Unsplash

Toda essa tristeza e sequelas causadas pela COVID-19 passarão. O mundo andará para frente, e eu aposto num efeito “Dia da Vitória” (2a. guerra mundial), quando o povo foi tomado de uma energia e de uma alegria que contagiaram o humor geral do mercado e permitiu um boom que durou muito tempo e enriqueceu o mundo, uns países mais, outros menos.

Tenho tentado conciliar na minha cabeça a beleza do funcionamento de uma economia de mercado com as necessidades de preservação do planeta. Tendo a achar chatos os ecologistas, ou eco-chatos, e tendo a achar mais “legal” os economistas liberais, da escola de Chicago. Estou certo? Nem tanto.

Uma coisa é verdade, e precisamos partir desse pressuposto para ler este artigo como eu o imagino: só existe geração de riqueza e aumento de prosperidade no capitalismo de mercado. Qualquer outra consideração falha, pois não apresenta nenhuma prova material de resultados. Pode discordar à vontade, mas apresente um único caso em que uma economia de orientação comunista/socialista ou ainda um “capitalismo de estado” tenha funcionado a longo prazo. Nem me venha dizer que a China é um caso, pois que a China é um sucesso somente na medida em que abraça postulados desse capitalismo de mercado (para o exterior, apesar da repressão interna).

Isto posto, passei a observar, tanto quanto possível, os efeitos calculados por cientistas, sobre a redução da poluição sobre o mundo e alguns resultados assustam – positivamente. Desde a limpeza da água de algumas baías normalmente sujas, até a redução bárbara da poluição do ar em cidades terrivelmente poluídas, como Cidade do México e Xangai. O efeito colateral (positivo) é notável e há alguns aspectos que precisamos aprender, a fim de manter o resultado positivo da tragédia, sem abrir mão tanto da liberdade democrática quanto de um bom nível de vida.

O que é dispensável

Descobrimos que há coisas perfeitamente dispensáveis e que não influenciam em nada nossa qualidade de vida:

  • Idas e vindas – descobrimos que há tanta coisa que pode ser feita de forma mais racional sem nos movermos de casa, que certamente há um grande aprendizado aqui. Quando penso que a última vez que abasteci meu carro fazem 40 dias, posso apenas inferir que posso pelo menos tentar não esbanjar tanto em hidrocarbonetos, sem perder qualidade de trabalho e movimentação. Claro, aumentarei meu consumo de petróleo depois disso tudo, mas não penso em voltar ao padrão pré-COVID;
  • A comida caseira – sei que pode (e haverá) impacto na indústria do food service no mundo todo, mas o fato é que muitos de nós, principalmente em países como os EUA, em que o consumo de comida industrializada é enorme, experimentamos uma olhada para dentro da cozinha que povos como os italianos, gregos, portugueses e espanhóis sempre privilegiaram – uma bela comida caseira, com ingredientes bons, que a gente bote a mão na massa pra fazer ou ajudar (no meu caso, atrapalhar filhos e esposa). Creio que embora minha conta de supermercado tenha aumentado, o prazer da mesa – e, pasmem, sem aumento de peso – aumentou muito;
  • Viagens a Trabalho – quantas vezes tirei o traseiro da cadeira e fui de Curitiba para Rio ou São Paulo, para ter uma miserável de uma reunião presencial com algum cliente ou figurão, apenas porque tinha sido convocado, ou senti que precisava? Descobrimos que é possível fazer reuniões online com alegria até, ou semi-presenciais são possíveis e podem ser produtivas, e um estar presente e outro não, implica em
  • Roupas e Balagandãs – Existe uma obsessão humada com a indumentária que é milenar. Desde o famoso “quem te disse que estavas nu?” de Deus aos homens, no Gênesis, que o ser humano está tentando fazer com que o resultado de um erro se transforme em algo digno de nota, no tapete vermelho de Hollywood, de preferência… Outro dia me dei conta de que passei 40 dias só de bermuda e calça de moleton, e nem um mísero jeans usei neste período. Fiz meus calls, falei com meus clientes, e como todo mundo estava nivelado por “baixo”, se é que pode se chamar de baixo estar à vontade, feliz da vida, no conforto do lar, todo mundo estava conforme com esse estado de coisas. Mais do que isso, vesti basicamente as mesmas roupas diversas vezes, observando claramente a desnecessidade de um monte de coisas.

Vai por aí adiante… pode complementar a lista…

Sei que muitos desses conceitos já estão contidos em movimentos como “live in a suitcase” ou “vida simples”, entre outros. Mas não é esse o objetivo desse alfarrábio. A pergunta aqui, fundamental, é: é possível manter um altíssimo padrão de vida, liberando o sistema produtivo para coisas muito mais importantes, como por exemplo:

  • Redução do Tamanho do Estado – Este é um fundamento de um capitalismo de mercado saudável. O Brasil nunca (minha opinião) teve um sistema de capitalismo liberar, de mercado, legítimo. Por capitalismo de mercado leia-se a competição livre, a propriedade privada, respeito a contratos, entre outras coisas. Temos gente demais pendurada em quem paga tributo. Criamos uma necessidade patética de um “estado pai”, justamente porque o cidadão brasileiro sempre se acha numa posição de servidor do estado, e não o contrário. Reduzindo o tamanho do estado, sobrará mais dinheiro para o ponto abaixo…
  • Infraestrutura – obras como água, saneamento, luz, internet, escolas, hospitais, etc, demandam um capital que de certa forma acaba indo parar em atividades, digamos, menos fundamentais. O tributo sobre o consumo vai acabar caindo, o que não é em si ruim, pois que o estado será reduzido, primeiro e vai acabar sobrando dinheiro para o que realmente se espera dele – saúde, educação, segurança, saneamento, infraestrutura…
  • Cuidado com o Meio Ambiente – Muitos naturalmente estão se ressentindo de ficarem ser olhar a natureza, e quando saem têm uma percepção de claridade e beleza que nos escapa quando estamos “acostumados” a algo. Morei no Humaitá, no Rio, durante anos, e durante anos peguei meu carro e desci a Rua Real Grandeza em direção à Urca, pra pegar o aterro. A vista maravilhosa do Pão de Açúcar e da Enseada de Botafogo passava batida algumas vezes. Eu passei a me cutuca pra NÃO deixar o espetáculo ficar costumeiro. A capacidade de se embasbacar com as Obras de Deus serão o movimento maior em direção a nao mais aceitar que um infeliz jogue o seu esgoto industrial na praia ou na baía… É possível se indignar a ponto de ir à rua para garantir saneamento e águas limpas. Uma vida menos exposta e menos agitada poderá nos guiar a um maior cuidado com o meio ambiente, sem a neura de que precisamos comer capim ou andar a pé para isso…
  • Vida Pessoal e Familiar – Casa grande ou casa pequena, estamos sendo obrigados a conviver conosco mesmos e com a família, e SEM os amigos por perto. Voltamos a ser uns “Daniel Boone” perdidos no Kentucky do Séc XVIII, cercado só pela família e meia dúzia de amigos (se tanto). Isso nos faz voltar a TER QUE falar com eles, e ouvi-los. Tem sido, para mim, uma experiência inovadora (creiam-me), principalmente com jovens moços em casa, que normalmente já fazem retiro nos seus quartos, dia após dia.
  • Respeito ao Outro – Brasileiro é invasivo por natureza. Óbvio que isso é uma generalização, mas como toda a generalização, ela se baseia numa percepção razoavelmente fundamentada. A necessidade de dar espaço ao outro, de não invadir, de respeitar o espaço corporal, de ser mais higiênico tornou-se muito mais evidente. Quando vim do Rio para Curitiba me falaram muito que o curitibano é frio, etc. Em relação ao carioca, claro, mas no final das contas eu não apenas me adaptei mas me apaixonei pela liberdade e respeito que os curitibanos dão uns aos outros. O respeito à individualidade é alto, e por isso, talvez, a COVID aqui tenha tido menor impacto que em outros locais.

Eu poderia ir adiante enchendo o saco (o que já fiz muito hoje) mas o fato é que deve haver, TEM que haver um capitalismo que não tire em nada nossa qualidade de vida e que permita vivermos num planeta mais sustentável. Ter 7.5 Bi de pessoas, 8 Bi, na mesma terra, esperando que sempre achemos uma solução tecnológica pra continuarmos sobrevivendo não me parece uma alternativa viável.

Chá com arsênico

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Photo by Manki Kim on Unsplash

Um dos episódios da vida pública que mais me agrada, pela mordacidade da pergunta e pela vivacidade da resposta, se deu em um trem de metrô em Nova York, em 1899, e relatada pelo Oswego Daily Times, recontada diversas vezes, uma delas com um suposto duelo verbal entre Winston Churchill e Nancy Astor, no parlamento inglês, mais ou menos assim:

“Meu senhor, se eu fosse sua esposa, colocaria arsênico no seu chá”… ao que o sujeito responde – “minha senhora, se a senhora fosse minha esposa, eu o beberia”…

Genial! Sem levar em conta quem o disse, se a dupla no Metrô de NYC, se Churchill e Astor em 1949, se Grouxo Marx em 1962, ou qualquer outro iluminado, o fato é que é muito interessante ver como uma troca de “insultos” pode ser tão bem concebida e finalizada. Só nos resta pensar numa possível resposta para a mulher, diante dessa pancada. Eu ainda não consegui. Minhas amigas feministas se resumem em dizer que a coisa foi ao contrário – a mulher teria respondido… o que não tem base histórica nenhuma, mas é “ben trovatto”…

Tudo isso pra dizer que estou topando beber arsênico diante de uma situação tão absurda como as opiniões de jornais e TVs da atualidade… Todo dia somos bombardeados com “fatos” jornalísticos da “maior relevância, como uma “notícia” (perdoem-me todas as aspas, mas como o entendimento sobre ironia está sendo perdido na população, creio que elas ajudam).

Ontem vi uma manchete “importantíssima” sobre o fato de que Bolsonaro, ao receber o empresário Luciano Hang, o teria abraçado. Pois é… ignomínia! Eu me pergunto se existe um bando de “focas” nas redações dos jornais, com mandato expresso de buscar qualquer coisa que seja sobre o governo, para apedrejá-lo. Não que eu ache que este governo esteja fazendo maravilhas. Longe de mim. Votei no Novo no primeiro turno, como já cansei de escrever, e em Bolsonaro no segundo, pois que votar no PT sempre foi para mim algo parecido com matar meus pais… Mas cá entre nós, a despeito dos auxílios luxuosos que Bolsonaro dá aos críticos, nada justifica o tratamento a ele dispensado pela mídia, pelo judiciário e pelo legislativo. A impressão que eu tenho é que o fato do cara ter colocado o dedo em muitas feridas ao mesmo tempo fez com que coisas sem relevância tivessem se tornado “the must”, enquanto coisa importante é varrida para baixo do tapete sem a menor cerimônia.

Mal comparando, “coisinhas” como se mijar em público em Davos, copular com a amante no avião presidencial sob o conhecimento de muitos dignitários, ou ainda assassinar a lógica e os idiomas em frente a câmeras de TV do mundo todo (desmerecendo toda uma população), ou ainda conchavar descaradamente por dinheiro, roubar desmesuradamente, tudo isso, parecem atos e palavras de somenos importância. Por favor…

Não há paz, não há tranquilidade para o executivo fazer NADA. Nem uma ação. Atos normais, irrelevantes mesmo, assumem um relevo de crime de lesa-pátria, enquanto atitudes que realmente matam a nação, como destinar zilhões a governadores irresponsáveis e eleitoreiros, espetando a conta nas cotas do governo federal, não têm a MENOR repercussão na mídia. Deixamos de ter um mínimo de caixa de ressonância, de imparcialidade, de clareza e correção no que ouvimos e vemos no noticiário.

Faz alguns dias que deixei de ver qualquer tipo de notícia, exceto econômicas e sobre a COVID, por razões profissionais. Não tenho mais estômago. E não falo de Globo, Band, CNN Brasil, nada disso. Falo de um mar de insinuações, provocações, maledicências, maldade pura e simples, geradas pelo fato de que o executivo se recusa a gastar em publicidade. Não importa a razão. Eu, se fosse o presidente, teria chamado as TVs e jornais, especificado que iria reduzir substancialmente as verbas, mas que iria continuar a manter uma comunicação mínima com a população via grande mídia. Bolsonaro decidiu pela via da confrontação, como aliás, é seu estilo, e que reprovo. Mas ao decidir isso, ele não poderia ter comprado contra si o ódio mortal sobre toda e qualquer iniciativa de governo, boa, má ou inócua. Não é possível ser visto sob um ângulo tão negativo todo o tempo.

O chá com arsênico foi servido pela grande mídia. Bolsonaro provavelmente vai bebê-lo. O fato é que ao fazer isso, e consequentemente, morrer, leva consigo a esperança dos votos de milhões de brasileiros, que queriam, e continuam querendo, ver um país menos corrupto, mais aberto ao mundo, menos comunista, menos paternalista, menos gastador, e menos inchado…

Não beba o chá, Bolsonaro. Mantenha-se vivo, mesmo que isso signifique transigir com essa gente, em termos republicanos, mas para manter-nos pelo menos um pouco, longe de uma guerra civil.

Brasil perde…

Com ironia, Sergio Moro volta a atacar divulgação de diálogos da ...
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Estou neste momento ouvindo o pedido de demissão do Ministro Sérgio Moro. Apalermado com o que estou ouvindo, só tive uma atitude – clamar a Deus por nosso país. Um momento como esse, com COVID e dezenas de problemas tão graves, não precisávamos deste problema. O pior, da forma como o Min. Moro colocou – pressão para que o presidente tenha acesso a inquéritos secretos e a “diálogo” com o diretor da Polícia Federal. Inacreditável!

Depois de anos sendo roubados, pelo PT e seus satélites, estamos diante de um governo que até este momento, pelo menos pelo que podemos perceber, está fazendo trabalhos muito bons, com ministros bastante bons. Agora, isto… Não consigo entender o que leva um presidente fazer tanta bobagem, em momentos tão difíceis! Ora por favor!

Será que estamos fadados a viver num país de Maias, Lulas, Alcolumbres, Dilmas, Dirceus, e tantos outros? Como pode ser que não consigamos levar adiante uma agenda honesta e positiva? COMO viver em um país em que, de um lado a imprensa torce contra e distorce tudo, de outro temos um Congresso de ladões, majoritariamente, um STF incompetente e parcial? COMO seguir vivendo, fazendo negócios, se de um lado temos uma esquerda louca, ladra, radical, com uma agenda pró-China, pró-Cuba, e tantas outras excrescências, e de outro e de outro uma cambada de cretino, que quando não é desonesto (não acho que o Bolsonaro seja necessariamente desonesto) é burro (ou mal orientado).

Palmas, sim, para a clareza, honestidade e firmeza de caráter de Moro. Já o conhecíamos, conhecemos ainda mais. Bolsonaro deve ter julgado que Moro não teria “colhões” para seguir com a demissão. Perdeu, e graças a Deus. Não creio que Moro tenha qualquer motivo ulterior, seja político ou de qualquer outra natureza.

Me assusta, agora, o resultado dessa situação. Covid, demissões de ministros, etc. Quem, agora? Paulo Guedes? Melhor trocar o próprio Bolsonaro, dando espaço ao General Mourão, para tentar resolver o que foi criado pelo próprio presidente, por seus erros.

Fico triste pelo Bolsonaro. Ele me parece, ou parecia, um homem bem intencionado. Não sei mais.

Deixo claro aos meus amigos que não significa o atenuamento de meu horror com os anos negros do PT. NADA foi pior do que aquilo. Teremos muita dificuldade de ver uma situação tão grave como as do passado recente.

Não terei nunca o “meu Lula”, o meu “bandido de estimação”. Se ao fim de ao cabo Bolsonaro se revelar mau, não será porque ele usou discurso cristão que eu o vou apoiar.

Espero, também, que meus amigos não achem que Rodrigo Maia ou Davi Alcolumbre passaram a ser heróis da pátria. Muito menos os notórios do PT.

Estamos é num mato sem cachorro…

ONU versus ONU

brown concrete building under blue sky during daytime
Photo by Tomas Eidsvold on Unsplash

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/coronavirus-pandemia-fome-alerta-agencia-da-onu/

A Gazeta do Povo de hoje repercute a matéria que já está na boca de muitos, por aí, e se refere à “guerra” entre a OMS e a PMA (Alimentos), por conta da crise do COVID-19. David Beasley, diretor do PMA – Programa de Mundial de Alimentos, da FAO, disse:

“Se não nos prepararmos e agirmos agora, para garantir o acesso, evitar déficits de financiamento e interrupções no comércio”, o resultado pode ser uma “catástrofe humanitária… em poucos meses”.


A ONU demonstra à ONU que a ONU está errada. A ONU do alimento mostra à ONU da saúde que há um erro grave de estratégia. Enquanto isso, na Bat-caverna chamada de Brasil, continuamos a brigar com o executivo por conta da simples “menção” a este fato…

Não que isso vá em nada ajudar aos contra e a favor de isolamento a pensarem “fora da caixinha”, como virou clichê, mas é importante dar elementos de julgamento para depois não vermos mudada, a golpes de tacape da imprensa mainstream, a narrativa em torno de “quem disse o que”, como fez recentemente João Dória, tomando posse, ou melhor, dando a posse a David Uip, e paternidade do uso de Hidroxicloroquina… Não que isso faça qualquer cócega na consciência de político, porque não ter consciência parece ser pré-condição para o sucesso na política, mas é preciso deixar registrada a linha da narrativa hoje, para que daqui há 12 meses alguém não assuma a paternidade da defesa da economia, vis-à-vis a pandemia, como certamente ocorrerá.

Quem viver (literalmente) para contar poderá revisitar o artigo (este e aquele) e comparar o que aqui e lá foi escrito com as palavras dos governadores, ora inclusive imbuídos, em boa maioria, de pichar “cartas abertas” e manifestos oportunistas, vergonhosos e contraproducentes.

O medo acima de tudo

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Photo by Tonik on Unsplash

Acabei de ter um video-call com minha equipe de gerentes e diretores. Gente que priva da minha total confiança e que tem a “ousadia” de falar na minha cara, abertamente, o que pensam, sabendo que eu gosto mais de latir do que morder, como bom viralatas. A reunião era sobre a possibilidade de retorno às atividades normais, pouco-a-pouco, visto que estou em contato com centenas de outros empresários, e que há uma certa preocupação em fazer um retorno em condições razoáveis e ordenadas, tomados os devidos cuidados.

Saí da “reunião” espantado. Existe, claramente o aspecto pragmático, que só uma equipe eficiente tem (aliás, são todos, gerentes e diretores da equipe, mulheres). Os argumentos são válidos e variaram de um simples “precisamos distanciamento dentro do escritório, limpeza boa, máscaras, etc”, até considerações sobre a recente redução da jornada de trabalho, onde deixar os filhos, já que as creches não estão funcionando, uma infinidade de detalhes que, francamente, me passaram batido, como bom homem à moda antiga que sou (limitado, focado no objetivo somente, etc).

Mas o que me espanta mesmo são as conclusões a que cheguei sobre a situação em que estamos metidos, não só como país, mas como “mundo” e o que isso acarretará no longo prazo.

Medo Patológico

O nível de medo que pude detectar, medo sincero, nas pessoas, tanto da minha equipe como de outras, é impressionante. A paúra de que tem um equivalente a bicho-papão na esquina, e que VAI matar você, inapelavelmente, ou aos seus, é tão real que dá quase pra pegar com as mãos.

O medo se mostrou logo de cara, quando falei que eu, pessoalmente, pretendia ir retomando atividades no escritório, pois que estou ficando quase doido dentro de casa, apesar de estar trabalhando mais do que antes. A reação foi imediata, e variou desde “eu não” até “você tá doido” (ou quase isso).

Minha resposta foi uma simples pergunta, de volta: “Ah, ok. Ou seja, quanto mais o tempo passar, como é que vocês acham que essas reações serão?”. E é isso, exatamente, que me mete medo (sem trocadilho): a cada dia que passa nós aumentamos nosso grau de medo, e com certeza, de susceptibilidade a outros tipos de problemas, desde depressão a outras “patias”.

Incapacidade de Retomar

Começaremos a nos sentir incapazes de retomar as atividades normais? De interagir? Como vamos enfrentar o dia a dia normal? Qual será o motivador que me tirará da cama para “enfrentar o bicho-papão” na esquina? Será a geladeira vazia? Será a empresa se desagregando ou falindo? Será uma ordem do governo?

Não sou exatamente um cara depressivo, pela natureza, mas sinto a cada dia que estou mais encarquilhado. Com mais dificuldade de retomar o dinamismo, de fazer negócios, de interagir normalmente.

Será que “sairei do outro lado” normalmente?

O efeito da política

Ninguém está se dando conta do efeito pernicioso da briga política que está rolando neste país, e que envolve mais do que o presidente e o ex-ministro da saúde. A briga desceu para os andares de baixo, com ambos os lados se escorraçando publicamente, com os já típicos “vai estudar”, “fulano disse isso”, “beltrano apoia o confinamento”, “Globolixo”, etc… Ninguém mais parece querer aceitar um comando.

Por outro lado, o STF e a Câmara fazem o possível para tirar os poderes do executivo. Estamos sem comando central, e isso não se deve a essa ou aquela atitude ou palavra do presidente:

  • O STF decide que no Brasil os governadores têm mais autoridade do que o Ministério da Saúde (esqueçam o presidente por um momento);
  • A Câmara aproveita o momento tumultuado para passar emendas ao Plano Mansueto, e joga no colo do tesouro nacional a dívida impagável dos estados, tirando desses a responsabilidade por manter um mínimo de ordem fiscal na casa;
  • A oposição apoia todo e qualquer sujeito, com qualquer intenção que seja, e que fale contra o presidente, não importando o que ele fale;
  • A grande mídia, cercada de dívidas e com delirium tremens de falta de publicidade governamental, dá eco a toda e qualquer posição contrária ao executivo, mirando no presidente, “errando” a cabeça dos seus ministros, elogiando-os, como se o ministério tivesse aparecido por combustão espontânea na Esplanada, em Brasília.

Enfim, uma enorme piada de muito mau gosto, e que vai enchendo a cabeça de quem tem menos afeto à leitura mais extensiva das opiniões, contra e a favor de qualquer posição (quem chegou até aqui neste artigo entendo o que digo; quem é leitor de memes já parou faz tempo e não se dará conta do que escrevi).

Há um caminho do meio. Há a possibilidade de, racionalmente, tentar unir a população contra o virus, independentemente de governo, remando todos para um lado só. Mas certamente, Câmara, Senado, Oposição, STF e Imprensa NÃO têm essa intenção. Espero, por Deus, estar errado, mas como leio bastante, de tudo, em detalhes, não estou nada esperançoso.

Uma Nota Importante – escrevo antes de tudo como memórias, para mim mesmo. Um dia relerei tudo isso, e me questionarei “onde estava com a cabeça quando escrevi isso”, ou até me congratularei por uma coisa ou outra que escrevi. Portanto, não gostou? Critique (costumo dizer que as opiniões negativas são mais importantes que as positivas). Mas faça-o com civilidade e fundamento (ainda que eu não concorde, vou examinar seu arrazoado com atenção).

Será que em Harvard acreditarão?

https://dash.harvard.edu/bitstream/handle/1/42638988/Social%20distancing%20strategies%20for%20curbing%20the%20COVID-19%20epidemic.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Recebi o link acima de um amigo empresário que, como todo mundo com contas a pagar e sem um patrão-estado, está preocupado com o alongamento desta tranca imposta à população de forma indiscriminada, gostaria de transcrever abaixo, em tradução livro, um trecho do “paper” publicado pela Universidade de Harvard, cujo link pode ser facilmente acessado, acima, com acesso a todo o dito material. Depois, meus comentários:

“Para simulações com isolamento sazonal, o pico ressurgente pós-intervenção pode exceder o tamanho da epidemia irrestrita (Figura 2, Figura S5 [vide link acima]), tanto em termos do pico de prevalência quanto em termos de número total de infectados. O forte distanciamento social mantém uma alta proporção de indivíduos suscetíveis na população (grifo meu), levando a uma epidemia intensa quando R0 (N.T. “basic reproduction number”, ou número básico de reprodução) aumenta no final de outono e inverno. Nenhuma das intervenções pontuais foi eficaz na manutenção do prevalência de casos críticos abaixo da capacidade de cuidados intensivos.”


“O distanciamento social intermitente pode impedir que a capacidade de atendimento crítico seja excedida (Figura 3, Figura S6). Devido à história natural da infecção, há um atraso de aproximadamente 3 semanas entre o início do distanciamento social e o pico da demanda de cuidados críticos. Quando a transmissão é forçado sazonalmente, o distanciamento social no verão pode ser menos frequente do que quando R0 permanece constante em seu valor máximo de inverno durante o ano. O período de tempo entre medidas de distanciamento aumentam à medida que a epidemia continua, à medida que o acúmulo de imunidade a população retarda o ressurgimento da infecção. Sob as atuais capacidades de cuidados intensivos, no entanto, a duração geral da epidemia de SARS-CoV-2 pode ir até 2022, exigindo a adoção de medidas de distanciamento social entre 25% (no inverno R0 = 2 e sazonalidade, Figura S3A) e 70% (para o inverno R0 = 2,5 e sem sazonalidade, Figura S2C) desse período.”

E agora? O que pensar? O estudo continua:

“Um único período de distanciamento social não será suficiente para impedir que as capacidades de cuidados críticos sejam ultrapassadas pela epidemia de COVID-19, porque, sob qualquer cenário considerado ela deixa boa parte da população suscetível que um ressurgimento de transmissão após o final do período levará a um número de contágios que excederá essa capacidade. Esse ressurgimento pode ser especialmente intenso se coincidir com um aumento de inverno no R0. O distanciamento social intermitente pode manter a ocorrência de casos críticos de COVID-19 dentro das capacidades atuais do sistema. Essa estratégia, porém, pode prolongar duração total da epidemia até 2022. O aumento da capacidade de cuidados intensivos reduz substancialmente a duração geral da epidemia, garantindo cuidados adequados para quem estiver gravemente doente.”

Em síntese, a brilhante conclusão a que Harvard chegou, com método científico e uso de equações diferenciais, nos leva a concluir exatamente o que boa parte da população intuitivamente crê: que confinar indefinidamente, sem haver vacina, é contraproducente.

Além disso, o estudo coloca um peso enorme no clima, sobre as decisões. Como já disse em outro post, o hemisfério sul está em exata contraposição ao norte, onde esses estudos estão sendo feitos, e onde as “medidas que deram certo” (ou errado) foram tomadas primeiro. Em nossa sanha de não pensar por conta própria e não interpretar resultados antes de sair agindo igual doidos, esquecemos que rumamos para o INVERNO, e estávamos em pleno verão quando essa folia começou. Ou seja, fizemos o contrário do que Harvard preconiza, e que o demonizado presidente justamente dizia que éramos para fazer.

No mais, se alguém quiser brigar comigo, não o faça. Brigue com o estudo aí em cima.

O frágil equilíbrio econômico

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Photo by Muhammad Muzamil on Unsplash

Uma economia pujante é como uma vaca premiada. Ela dá muito leite, é bonita e dá retorno ao dono. Mas geralmente é um animal frágil. Qualquer economia, mesmo se ligeiramente maltratada, tende a murchar e morrer.

A vida econômica é como o sistema sanguíneo – um sistema de vasos comunicantes infinitos, cujo vai-vem de “nutrientes” que mantêm a vida. Qualquer interrupção nesse sistema provoca confusão, doenças e males que levam até facilmente à morte.

Independentemente de se você é contra ou a favor de restrições às movimentações de pessoas, #fiqueemcasa ou #obrasilnaopodeparar, o que escrevo aqui nada tem a ver com seu ponto de vista. É uma constatação às vezes difícil de engolir.

A história demonstra que a supressão de fluxos comerciais ou da circulação de bens e serviços, mesmo por curto período, sempre gerou catástrofes. Apenas para citar algumas:

  • O “grande salto adiante” (China, 1958-60) foi a tentativa chinesa, no início da dominação comunista, de criar uma indústria de base e uma agricultura de bases centralizadas. O planejamento feito em Pequim, por burocratas, deu tão errado que causou a morte de mais de 100 milhões de pessoas, de fome – produtos ruins e caros chegavam a uma população empobrecida;
  • O “Gosplan” (abreviação de Comitê Estatal de Planejamento) instituiu na União Soviética, os planos quinquenais, entre 1921 até a derrocada final do regime, em 1991. O sistema de planejamento quebrou a espinha dorsal da produção e levou a Rússia ao caos econômico e à sua ruína. Isso pra não falar o Holomodor, uma chacina de camponeses impedidos de produzir, que gerou quebras de safras e efeitos em cascata de fome e destruição;
  • Os planos de safra em Cuba – A criação do Ministério do Açúcar define bem o nível de dirigismo dessa economia, e por que a economia cubana dependeu tão profundamente da URSS. Ainda hoje os efeitos das quebras de racionalidade nas transações vindas daí cobram um preço no baixo crescimento da economia cubana (a despeito da propaganda em contrário e das estatísticas “oficiais”).

Esses artificialismos econômicos não ocorrem só em países socialistas. Entendo que a OPEP é uma forma artificial de controle de preços que quebrou cadeias produtivas no mundo e gerou duas crises (choques do petróleo) de grandes proporções. Qualquer cartel é um artificialismo que gera pobreza. A política dos “campeões nacionais” de triste e recente memória no Brasil é outro exemplo trágico.

Independentemente de sua preferência durante esta crise da COVID-19, e independentemente do seu nível de hipocondria (que eu creio que direciona mais as ações e opiniões do que outros fatores), a economia continua sendo uma “vaca premiada”, que adoece por qualquer coisa e corre risco de morrer. As recentes intervenções na economia, começando pelos PNDs no Brasil (Planos nacionais de desenvolvimento), ainda nos governos militares, passando pelos planos de estabilização econômica, foram coroados nos anos Lula/Dilma pela intervenção maciça na economia, que nos levou a uma recessão que encolheu o PIB em mais de 10% em 2 anos, o que pode dar “2 Covids”.

Assim, dada a fragilidade das trocas econômicas, das cadeias de produção, dos fluxos de dinheiro em circulação (e em poder de quem precisa, a população de mais baixa renda, não empregados do governo), precisamos desesperadamente de deixar a economia fluir TANTO QUANTO possível. Claro, com todo cuidado, com prevenção e isolamento social (3 metros ou 30 Km dá no mesmo) deve ser tomado. Tem que ser absolutamente rígido nisso. No entanto, já vemos começar o esgarçamento do tecido econômico aqui e acolá.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema econômico, os zilhões gastos até agora pelo Governo para tentar minimamente remediar a situação dos mais fragilizados não vai dar pra resolver a vida nacional por mais do que algumas semanas. E isso ocorrerá à custa de um aumento brutal no déficit público. O tamanho da economia é desproporcional à capacidade do governo – qualquer governo – em suprir a diferença gerada pela quebra de cadeias econômicas inteiras.

Por enquanto estamos rumando para dois tipos de caos – de saúde e econômico. Resta saber qual matará mais. Aposto no econômico (com tristeza por ambos)…

Imitadores, não pensadores.

O hemisfério norte está saindo do frio. O hemisfério sul está entrando nele. Há uma curva bastante bem demarcada de mortes totais na população, que aponta para um aumento crítico nos meses de inverno:

https://www.legacy.com/news/culture-and-history/yes-its-true-more-people-die-in-january/ – In “Yes, it`s true – more people die on January”.

Cada um dos “picos” acima se refere exatamente a Janeiro, ou Fevereiro de cada ano, no hemisfério norte. O “Janeiro” deles é o nosso Junho, e o “Fevereiro” deles é nosso Julho, em termos de sazonalidade das mortes.

A questão lógica que se propõe no Brasil é se estamos ou não certos em tentar empurrar a curva de contaminação da COVID-19 pra frente. Como sempre, copiamos sem pensar muito os modelos que “deram certo” no hemisfério norte, onde está a maior parte das nações desenvolvidas.

Ocorre que lá, empurrar a tal curva pra frente, achatar a curva, faz sentido. Aqui no hemisfério sul, não faz. E a explicação é bem simples: enquanto eles saem do inverno, nós entramos. Essa é inclusive uma das razões pelas quais o combate à COVID-19 no Brasil até o momento se demonstra relativamente mais efetivo do que em países mais desenvolvidos.

Há um racional, então, para o que estamos fazendo? Vamos relacionar as medidas que estamos tomando com o outro fator chave nessa equação, que é a economia: achatar a curva implica em trancar gente; trancar gente implica em trancar a economia; trancar a economia implica em criar diversos problemas estruturais e conjunturais para o país.

Assim, as medidas que o presidente Trump está tomando nos EUA, rigorosas e de lockdown, são medidas corretas, no sentido de que o país tem a “felicidade” de estar rumando para períodos mais quentes.

No Brasil, ou é tudo a mesma coisa – verão, inverno, etc, como por exemplo nos estados do N, NE e CO. A coisa complica mais um pouco no S e SE, porque o clima castiga um pouco mais.

Então, faz sentido o que estamos fazendo aqui? Aparentemente não. Promovemos um lockdown em alguns estados por razões açodadas e claramente de cunho político, e não cuidamos de entender com calma outras variáveis importantes, como essa meia dúzia de dados coletados, que incluí aqui.

Em síntese:

https://www.demogr.mpg.de/books/drm/003/2.pdf – In Seasonality of human mortality.

A reação do organismo ao clima, no Brasil, tende a ser menor do que no hemisfério norte. Estamos, portanto, usando medidas de contraciclo no meio do ciclo…

https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0225994

O gráfico acima, se tivessemos aqui (devemos ter…) seria um espelho quase que perfeito ao acima, que trata só do Norte do Equador. Assumindo que isto seja verdade, hoje estamos no “mês de setembro” do hemisfério norte, ou seja, um mês de relativa calmaria de mortes estatísticas. Em três meses estaremos no “dezembro” do hemisfério norte, rumando para os meses de caos, Janeiro e Fevereiro (nossos Junho e Julho).

Até lá, teremos criado um estresse antecipado e em boa medida desnecessário, no momento errado e ficaremos sem munição para atravessar o momento mais agudo.

Não se trata de dar tempo de capacitar mais os hospitais. Isso a natureza já cuidou de nos dar, nos meses até maio pelo menos. Teríamos que ter tomado as mesmas medidas de aumetno de capacidade das UTIs, respiradouros, etc, mas SEM ter sufocado a economia por antecipação.

Como este país todo mundo se rege pela cartilha dos países do Norte sem fazer praticamente nenhuma reflexão, estaremos diante de um problema muito mais grave do que o necessário, e que começará a se tornar crítico em Junho, caso Deus não nos mande um milagre em forma de vacina ou outra cura antes.

Luzes da Ribalta

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Photo by Matt Chesin on Unsplash

Político não escolhe essa ‘profissão’ à toa. Ninguém chega a um cargo eletivo sem ter na personalidade um misto de animador de auditório e advogado; de artista de novela e orador. É uma profissão para poucos, no mundo, e no Brasil, para menos ainda, pois invariavelmente uma dose de cara de pau e disposição para o ‘vale-tudo’ é necessária. Tivemos grandes oradores em nossa história, desde Ruy Barbosa até FHC, passando por gente muito craque nesse mister, como o ex-presidente, reconhecidamente um dos melhores comunicadores que tivemos, em que pesem nossas opiniões sobre ele e seu caráter, ou falta dele.

Por que é assim? Por que uma pessoa estaria permanentemente em busca de ser notícia, de ter algo para falar, uma opinião ‘certeira’, uma frase de efeito… Ora, desde os tempos da Ágora grega, é preciso conquistar para o seu lado uma grande quantidade de pessoas disposta a depositar confiança em alguém através do voto. As formas de buscar essa popularidade que garante votos muda e evolui com o tempo. Subir num caixote de feira com uma corneta na mão já foi suficiente. Depois vieram os palanques com carros de som. Depois, a mídia televisiva. Agora, como nos ensinou a eleição passada, é a mídia digital que “manda”, associada com outras formas.

O que não muda é o desejo insaciável dos políticos por um holofote. É de pasmar… a expressão “papagaio de pirata” foi cunhada em homenagem a quem não resiste à tentação de aparecer na frente das câmeras, mesmo a custa de passar um ridículo ou outro.

A situação atual é o resultado dessa holofotefilia… De um lado, a esquerda se junta a governadores para fazer o oposto do que o governo federal faz. Qualquer oposto. Não importa. Se Bolsonaro pregasse lockdown horizontal, eles iriam na direção contrária. Se Bolsonaro achasse um absurdo administrar Hidroxicloroquina, eles achariam o máximo e defenderiam com ardor juvenil.

Mandetta, bom técnico e (parece) melhor político, pode não ter tido a intenção inicial, mas certamente está escudado numa posição de “força” e está super à vontade em frente aos holofotes diários, que o colocarão certamente como figura nacional, e com isso, destinado a vôos políticos mais altos. É a grande chance, há que se agarrar a ela. “Nada pessoal”, presidente, ele pode ter dito… e vida que segue. Até acabar a pandemia e o cara se tornar menos indispensável, talkey?

Pois bem, de outro lado Bolsonaro não parece a dividir o “reino” dele com ninguém, não acha prudente deixar o subordinado raposa-política aparecer. Ficou brabo, deve ter dado murro na mesa… Afinal, Guedes e Moro são outra coisa. Tudo, menos políticos. Creio que só depois de se convencer que Moro não tinha mesmo qualquer ambição política, mas, claro, quer um cargo no STF, foi que o presidente se tocou e parou de encher o saco dele.

Bolsonaro precisa pensar: a melhor forma de se utilizar dessa situação é fazer justamente o contrário: dar corda e levar parte dos louros. Afinal, a despeito das cretinices da imprensa, dizendo que Bolsonaro é “menor que seu governo”, isso obviamente é uma idiotice – Bolsonaro é do tamanho do governo que criou. Nem mais, nem menos. Cortou aqui e acolá qualquer político engajado em seu governo que quis colocar a popularidade acima da função, como foi o caso de Bebbiano, entre outros. Outros, demitiu por despeito ou intriga mesmo. Mas daí a dizer que o governo é ruim… vão algumas léguas.

A Holofotefilia não vai acabar nunca. É da natureza do animal da política. O que é importante é deixar claro que há uma linha traçada no chão pelo presidente – ou o cargo ou a popularidade. Os dois, ele não admite. O governo é dele, para bem ou mal, e os incomodados terão que se mudar. Não antes de criar muito caso e ao sair, se tornarem detratores do mandatário. Coisas da vida brasileira…

Liberdade é liberdade financeira

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Photo by Kristina V on Unsplash

Há anos, quando eu tinha uns 17 anos, meu tio Roberto, irmão da minha mãe, e o sogro dele, Frank, me deram uma carona, de carro, de minha cidade natal, Cordeiro, para o Rio de Janeiro, onde eu recomeçaria a estudar e começaria a trabalhar de balconista na farmário Biscaya, do meu outro tio, Aluízio.

No meio do caminho, paramos para comer um pastel num local chamado Cachoeiras de Macacu, e lá ouvi um conselho que não esqueci nunca, e que, na minha opinião, deveria ser a mola mestra da vida profissional, financeira e pessoal de qualquer pessoa – e, penso eu, de países também – “Sobrinho, liberdade é liberdade financeira. Só existe essa liberdade e todas as outras estão subordinadas a esta”.

Eu estava naquele período da vida em que o adolescente briga com os pais por qualquer coisa, e isso irritava tanto a mim (que não sabia se queria cursar a faculdade de física que havia passado, para UFRJ) e meus pais (que francamente deviam estar felicíssimos de se livrar de uma mala sem alça resmungão).

Uma vez que comecei a ganhar meu meio salário mínimo por mês e morar num quarto alugado no conjunto residencial do IAPI da Penha, no Rio, comecei a dar mais valor ao que vinha às minhas mãos. Apesar de não ter me tornado um mão-de-vaca, na prática eu conseguia já vislumbrar a verdade do que me tinha sido dito – só tendo liberdade financeira podemos saborear as outras liberdades. Obviamente que estamos falando de uma sociedade livre e na qual podemos ter propriedade privada. Senão, não funciona…

O tempo passa, o tempo voa… já não há mais poupança Bamerindus, mas a vida, apesar de tantos problemas, e até mesmo uma tragédia familiar de grandes proporções, a vida continua boa. Aliás, com Deus, a vida é sempre boa, acho eu. Uma coisa não mudou – cada vez menos as pessoa se preocupam, de fato, com a liberdade econômica. Um amigo meu chama isso de “F#!ck you Money” – aquele dinheiro que dá a você o direito de mandar alguém para aquele lugar sem o medo patológico de consequências sobre sua vida cotidiana.

Tudo isso pra falar do ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation, cuja edição de 2020 coloca o Brasil um pouquinho melhor que em 2019, mas ainda assim um pais “majoritariamente não livre”. A razão principal disso é nosso déficit público crescente. Até 2008 a coisa vinha bem, com o preço das commodities lá em cima, pré-sal, etc. Aí o país decide se tornar “o trapezista que acha que sabe voar”, e esquece que tem que pegar no próximo trapézio, senão se esborracha, pois que na vida não há rede de proteção…

Chegamos a 2016 numa situação lastimável nas contas públicas, e com um Estado de tal maneira inchada, que governo algum pode fazer nada, dado que o orçamento está 95% carimbado… chegamos no fundo do poço da falta de liberdade financeira, e tal como euzinho, com 17 anos, o país deu um basta em determinadas coisas (ligadas ao ciclismo, creio…) e começou, timidamente, a sair do fundo do poço.

Aí vem essa coisa de Covid. Isso é tipo praga do século, e não há como resolver isso sem medidas emergenciais. Apenas que, num país onde a liberdade financeira é pequena, e as reservas financeiras parcas, a solução custará mais caro.

A China, de onde o tal virus veio, e que diz tê-lo controlado, com sua economia mais livre do que a nossa, a despeito da liberdade de opinião e pensamento “zero”, tenderá a sair disso melhor do que nós, teoricamente ocidentais.

Submersos num lodaçal burocrático, ficamos à mercê de uma corja de político que está sempre em busca do próximo mandato, em busca da próxima eleição e de seu próximo cargo. Alguns dias atrás o presidente havia editado uma Medida Provisória com a possibilidade de redução de carga de trabalho e salários proporcional, para os tempos bicudos de Covid. A gritaria foi geral, e (como quase tudo o que se fala hoje) quase derruba o tal presidente.

Ontem, a Medida Provisória 936 faz exatamente isso. Ainda estou estudando os efeitos, mas parece que podemos reduzir até 70% dos salários e carga horária do pessoal, com compromisso de não demissão, com o Governo complementando parte das perdas de cada empregado.

E a tal liberdade econômica? Bom, o país vai endividar ainda mais as próximas gerações, em algo parecido com 5% do PIB, só este ano, mas se Deus quiser, sairemos dessa menos ensanguentados do que poderíamos estar. A raiz do problema está justamente na quase impossibilidade de tomar qualquer medida, dentro de uma empresa, sem que alguém, algum “avatar” nos diga que podemos.

Está todo mundo pasmo com o aumento do número de pedidos de seguro desemprego nos EUA. E por que o desemprego sobe tão forte e tão rápido lá? Porque demitir não custa, como aqui e na Europa. As empresas conseguem se manter vivas, minimamente. Os liberais-progressistas dirão “anátema”! Claro, é sempre mais fácil pensar no ser individual do que no coletivo. É mais doído e mais fácil empatizar com o Sr. João, que perdeu o emprego e tem 4 filhos, do que entender que, contrário-senso, a economia americana também será a primeira a se recuperar, e voltar a gerar empregos. Justamente pela facilidade e liberdade financeira.

Pra terminar, uma reflexão: se tivéssemos hoje mais liberdade econômica nacional, máquina pública menos inchada, menos arrasto aerodinâmico de salários altos e toneladas de aposentados públicos, estaríamos certamente livres para tomar decisões ainda mais generosas no sentido de preservar a vida e o emprego dos cidadãos, e a vida e continuidade das empresas. É certamente mais fácil tomar decisões quando se tem liberdade… financeira também…