Um dos episódios da vida pública que mais me agrada, pela mordacidade da pergunta e pela vivacidade da resposta, se deu em um trem de metrô em Nova York, em 1899, e relatada pelo Oswego Daily Times, recontada diversas vezes, uma delas com um suposto duelo verbal entre Winston Churchill e Nancy Astor, no parlamento inglês, mais ou menos assim:
“Meu senhor, se eu fosse sua esposa, colocaria arsênico no seu chá”… ao que o sujeito responde – “minha senhora, se a senhora fosse minha esposa, eu o beberia”…
Genial! Sem levar em conta quem o disse, se a dupla no Metrô de NYC, se Churchill e Astor em 1949, se Grouxo Marx em 1962, ou qualquer outro iluminado, o fato é que é muito interessante ver como uma troca de “insultos” pode ser tão bem concebida e finalizada. Só nos resta pensar numa possível resposta para a mulher, diante dessa pancada. Eu ainda não consegui. Minhas amigas feministas se resumem em dizer que a coisa foi ao contrário – a mulher teria respondido… o que não tem base histórica nenhuma, mas é “ben trovatto”…
Tudo isso pra dizer que estou topando beber arsênico diante de uma situação tão absurda como as opiniões de jornais e TVs da atualidade… Todo dia somos bombardeados com “fatos” jornalísticos da “maior relevância, como uma “notícia” (perdoem-me todas as aspas, mas como o entendimento sobre ironia está sendo perdido na população, creio que elas ajudam).
Ontem vi uma manchete “importantíssima” sobre o fato de que Bolsonaro, ao receber o empresário Luciano Hang, o teria abraçado. Pois é… ignomínia! Eu me pergunto se existe um bando de “focas” nas redações dos jornais, com mandato expresso de buscar qualquer coisa que seja sobre o governo, para apedrejá-lo. Não que eu ache que este governo esteja fazendo maravilhas. Longe de mim. Votei no Novo no primeiro turno, como já cansei de escrever, e em Bolsonaro no segundo, pois que votar no PT sempre foi para mim algo parecido com matar meus pais… Mas cá entre nós, a despeito dos auxílios luxuosos que Bolsonaro dá aos críticos, nada justifica o tratamento a ele dispensado pela mídia, pelo judiciário e pelo legislativo. A impressão que eu tenho é que o fato do cara ter colocado o dedo em muitas feridas ao mesmo tempo fez com que coisas sem relevância tivessem se tornado “the must”, enquanto coisa importante é varrida para baixo do tapete sem a menor cerimônia.
Mal comparando, “coisinhas” como se mijar em público em Davos, copular com a amante no avião presidencial sob o conhecimento de muitos dignitários, ou ainda assassinar a lógica e os idiomas em frente a câmeras de TV do mundo todo (desmerecendo toda uma população), ou ainda conchavar descaradamente por dinheiro, roubar desmesuradamente, tudo isso, parecem atos e palavras de somenos importância. Por favor…
Não há paz, não há tranquilidade para o executivo fazer NADA. Nem uma ação. Atos normais, irrelevantes mesmo, assumem um relevo de crime de lesa-pátria, enquanto atitudes que realmente matam a nação, como destinar zilhões a governadores irresponsáveis e eleitoreiros, espetando a conta nas cotas do governo federal, não têm a MENOR repercussão na mídia. Deixamos de ter um mínimo de caixa de ressonância, de imparcialidade, de clareza e correção no que ouvimos e vemos no noticiário.
Faz alguns dias que deixei de ver qualquer tipo de notícia, exceto econômicas e sobre a COVID, por razões profissionais. Não tenho mais estômago. E não falo de Globo, Band, CNN Brasil, nada disso. Falo de um mar de insinuações, provocações, maledicências, maldade pura e simples, geradas pelo fato de que o executivo se recusa a gastar em publicidade. Não importa a razão. Eu, se fosse o presidente, teria chamado as TVs e jornais, especificado que iria reduzir substancialmente as verbas, mas que iria continuar a manter uma comunicação mínima com a população via grande mídia. Bolsonaro decidiu pela via da confrontação, como aliás, é seu estilo, e que reprovo. Mas ao decidir isso, ele não poderia ter comprado contra si o ódio mortal sobre toda e qualquer iniciativa de governo, boa, má ou inócua. Não é possível ser visto sob um ângulo tão negativo todo o tempo.
O chá com arsênico foi servido pela grande mídia. Bolsonaro provavelmente vai bebê-lo. O fato é que ao fazer isso, e consequentemente, morrer, leva consigo a esperança dos votos de milhões de brasileiros, que queriam, e continuam querendo, ver um país menos corrupto, mais aberto ao mundo, menos comunista, menos paternalista, menos gastador, e menos inchado…
Não beba o chá, Bolsonaro. Mantenha-se vivo, mesmo que isso signifique transigir com essa gente, em termos republicanos, mas para manter-nos pelo menos um pouco, longe de uma guerra civil.