Indo pro Inferno

Todos, ou quase todos nós, temos amigos queridos. Os amigos queridos têm o condão de encher nosso saco sem o menor problema. E sair ileso disso, e ainda receber abraços, e uma dose extra de amor fraternal.

Esse post aí me foi “proposto” como uma pimenta na minha conhecida declaração de fé em um Deus Único, Criador dos céus e da terra, justo e amoroso.

Eu disse ao dito cujo que o responderia, se ele quisesse, em privado, explicando a situação que está proposta aí. Não dá pra fazer digressão ou exegese nos confins do Zap… Ele não veio a mim, sábio que é, pra não ter seu augusto saco cheio, de volta, por mim. Então me digno a escrever, em muito mais linhas do que ele estaria com vontade de ler (aguenta, cabeção!), mas com o que considero ser uma visão que NÃO vai mitigar suas inquietudes, porque quem crê não precisa de explicação, quem não crê não aceita nenhuma delas. Mas vale a tentativa.

Em tempo, o amigo querido em pauta, há uns tempos, disse que estava lendo a Bíblia. Fico feliz com isso, porque parte dos conceitos que vou tentar ordenar não serão inéditos pra ele.

O problema do Conhecimento de Deus

O tal esquimó aí em cima, vivia lá num canto isolado de Labrador, ou um outro Finisterre qualquer gelado lá de cima. Ele obviamente não conhecia o Deus Único em que cremos, nem em Seu filho, Jesus Cristo, em que creio. Nunca ouviu falar do Credo Apostólico nem da Igreja Única, de Cristo, chamada “a Noiva do Cordeiro”.

O tal esquimó então (paradoxalmente, pra piada ter graça) pergunta se ele conhecesse o “Tal de Deus” e o Pecado, ele iria pro inferno. O “Tal Deus” responde, para surpresa do amigo Inuit, e manda um “sim, se você soubesse e não cresse, iria direitinho pras profundas dos infernos”. O inuit então retruca – “então por que você me contou???”… A piada é muito boa, claro, tanto pelo caráter sem-pé-nem-cabeça da proposição inicial, como seu desfecho inesperado, à lá Abbott e Costello – quem é mais velho lembra –

Abbott – “Não me diga que o Tia Edna morreu”…

Costello – “É… a tia Edna morreu”…

Abbott – “Eu te DISSE pra não me contar!”.

Paráfrase de uma das muitas “Não me diga” dessa dupla de comediantes hilários

O que isso representa

A teologia trata do assunto, sem piada, e de forma bastante coerente e racional, baseada em alguns textos do Velho e Novo Testamento que apontam para um racional derivado da observação:

  • Deus nos criou dotados de certos atributos intrínsecos – imagem e semelhança à Ele
  • Esses atributos nos fazem capazes de observar a natureza, externa e interna (a Natureza e a nossa natureza) de forma a tecer certas conclusões inescapáveis:
    • Ou tudo existe ou nada deveria existir
    • Tudo é tão lindo e perfeito, em todos os detalhes, que a vida sem uma sincronia e perfeição difícil de ser obtida sem muita inteligência é tão “aleatória” como chegando a ser impossível
    • Existe uma “Lei Moral” dentro de nós – alguns podem chamar de Compasso Moral, que nos faz rejeitar imediatamente algumas coisas, em detrimento de outras. Por exemplo, matar é algo desprezível, e isso está entranhado dentro do Ser Humano. Portanto, a vida é sagrada. É um “imperativo moral” que aponta para “Algo”.

Com o Dennis Prager falou certa vez – Deus não nos deu qualquer PROVA de Sua existência, mas deixou o mundo lotado de EVIDÊNCIAS dela. E a razão é simples – tanto a existência quanto a não-existência de Deus, comprovadamente, esmagaria o ser humano: a existência pela impossibilidade clara de se chegar a Ele, e a não-existência pela futilidade que a vida teria, o que poderia fazer com que qualquer adulto preferisse o suicídio a viver debaixo de tal maldição – a de ser “nada”.

Portanto, ressoa no meu coração a imensa sabedoria de um Deus que conhece nossas limitações e nos leva a uma única atitude possível, ante a existência ou inexistência de Deus: FÉ. Seja a existência como a inexistência de Deus, só se acredita mediante a fé. Seja ela no Deus da Bíblia ou no tratado científico que mais nos agrade, é somente pela FÉ que somos “salvos” (o que quer que isso signifique pra você).

A resposta ao Inuit

Em primeiro lugar, em um tempo de politicamente correto, chamar o cara de Esquimó é o máximo da falta de correção: Inuit (primeiros povos) são os “Esquimós”. Esquimó é um termo usado pelos Inuits pra NOS denominar “estranhos”.

O tal inuit, então, chega a, sabe-se lá de onde, perguntar a um Deus – não é difícil entender isso, dados os conceitos que já falamos, de Revelação Natural e Compasso Moral – se ele vai pro “Inferno” se rejeitar Deus e não acreditar no pecado. Deus diz que sim, claro.

Se Deus é justo, e se, como a Bíblia diz, Ele não poder deixar “impune” qualquer pessoa que tenha se separado dEle pelo pecado. Como lá está escrito que “Todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus” (Romanos 3:23), então todo mundo carece de perdão de Deus.

Em outro lado, o Apóstolo Paulo (o mesmo de Romanos, acima) diz que “onde não há Lei, não há transgressão da Lei” (Romanos 4:15). Daí deriva a piada acima. Ora, se eu não sei se algo é errado, como é que eu vou evitar cometer um erro? Eu não posso ser considerado culpado por algo que eu sequer sei que é errado.

Nas minhas aulas de domingo, na Escola Dominical, da Igreja Batista Essência, me saí com uma alegoria que exemplifica bem esse conceito:

Cinto de segurança

Houve um tempo em que não era “pecado” (lei) o uso do cinto de segurança. Isso era assim por várias razões. Houve tempo em que nem cinto havia. Portanto, como antecipar o uso de algo que ainda não tinha sido inventado?

Depois da invenção do cinto abdominal, sua limitação de uso e a incerteza sobre se ajudava ou não em caso de acidentes, fez com que seu uso demorasse a ser tornado obrigatório. Isso ocorreu até que a Volvo criou o Cinto de 3 Pontas, e cedeu, gratuitamente, a novidade para todo o mercado, diante do impacto positivo e do aumento fantástico de segurança para os motoristas.

Passou a ser Lei, e hoje eu sou multado se ando de carro sem o apetrecho. Minha aplicação diz respeito justamente a isso – a Lei era considerada boa, por Paulo, e por Jesus (que diz que a veio cumprir, e não revogar). Portanto, a existência de uma Lei que me obrigue a usar cinto é algo fundamentalmente bom.

Mas o melhor de tudo não é a Lei – é o Cinto de Segurança em si. Eu esqueço do incômodo de usá-lo principalmente no calor, quando ele me protege de dar de cara no parabrisa do meu carro, ou de sair voando através da janela, em caso de colisão. ÉSSA é a beleza da Lei. A Lei foi dada porque fundamentalmente é algo que faz bem ao ser humano.

Trata-se de uma coisa que ajuda, e, se entendida, não traz chateação. O Rei Davi diz mais de uma vez nos Salmos que “A Lei do Senhor é perfeita”, “Ó quanto eu amo a Tua Lei”, e por aí vai. Davi entendeu a utilidade da Lei, mais do que o “fardo” que alguns querem fazer parecer.

O Inuit fez a pergunta errada, pra começar a conversa. Não se trata do “pecado”, mas do erro de se afastar de uma “regra” que preserva e melhora a vida. O Inuit deveria ter refletido sobre o quanto a Lei Natural, a Revelação Natural, é útil. Ainda que admitisse a existência ou um conceito diferente de Deus, a revelação natural existe e subsiste como conceito por si só.

Se Tia Edna morreu ou não, o fato independe de terem ou não me contado.

O Deus do Inuit

Não tenho a menor ideia – no momento que escrevo – de que tipo de deidade acreditam os Inuits*. Vou procurar ver depois. Mas independentemente disso, a piada mira no cristianismo, de forma bastante direta. De qualquer forma, a Palavra diz que “ninguém pode se dar por escusado”

A charada, pelo menos do ponto de vista Cristão, “morre” com a afirmação d de Efésios 4:9-10 (citação abaixo), de que Jesus Cristo, desceu para ao “Hades” (morada das almas dos mortos) para “pregar às almas”. O Hades é um conceito grego que não equivale a inferno. Segundo a Bendita Wikipedia, “Hades é a transliteração comum para o português da palavra grega haídes, usada em várias traduções da Bíblia. Talvez signifique “o lugar não visto” ou “o lugar invisível”.

Jesus teria ido a este “lugar invisível” para “pregar às almas”. Quando foi isso? Não importa. Se cremos que Jesus é Deus, e eu creio, estou plenamente confortável em crer que o local não é físico nem cronológico. É todo e qualquer momento em que o ser humano será visitado, “sim ou sim”, pelo Filho de Deus, que lhe falará diretamente ao coração e indicará o caminho ao Pai. Assim, ninguém, biblicamente, pode se dar por escusado.

Em tempo, as citações que chegam a esta conclusão estão contidas abaixo:

Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.

(1 Pedro 4:6)

 Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra?  Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. 

Efésios 4:9-10

Quer-se dizer que Jesus não desceu a canto algum que não já estivesse ido, seja no Sábado de Aleluia seja em qualquer outro dia, antes, durante ou depois da Sua Vinda. Isso importa menos do que o tema aqui proposto – ninguém poderá ser dado com escusado diante de Deus no dia do famoso “Julgamento”. Todos, grandes e pequenos, de todas as épocas, tribos, povos e raças, irão se encontrar face a face com Deus. Nisso eu creio, por isso anseio e espero.

Ao meu amado amigo (que não menciono porque não me procurou pra estudar – diz ele que tá em Harvard, of all places, fazendo uma pós graduação. Tendo a crer… hehe) digo que espero que ele aceite a resposta dada, de coração, às suas inquietudes. Lembro, porém, o que ouvi de Joelmir Betting, de saudosa memória e católico praticante:

“A quem não crê, nenhuma explicação é suficiente; a quem crê, qualquer explicação é desnecessária”

Atribuído a Joelmir Betting – já que ouvi dele.

* Li depois na Wikipedia que os Inuits não acreditam em um Deus, mas em um monte de espíritos e deidades, bons e ruins. Ou seja, são “animistas” como boa parte das culturas nômades. Na minha opinião, esta é uma razão pela qual a maioria aderiu ao cristianismo de bom grado. É uma explicação mais razoável para o mundo. O mesmo aconteceu com os povos indígenas mais ao sul, mas esses já tinham em si o conceito de um Deus criador. Mas isso é outro capítulo.

Meditação e Ansiedade

Uma manchete do jornal conservador, cristão, Gazeta do Povo (https://www.gazetadopovo.com.br/pino/monja-coen-curitiba-ansiedade/) chama atenção sobre a “cura da ansiedade pela meditação”.

Eu sou curioso e já tentei esse tipo de meditação. O que aprendi, e que rejeitei, foi o fato de que ao meditar buscamos “esvaziar nossa mente”, e que o ato de esvaziar a mente nos faz “reordenar o pensamento”, relaxar, etc. Concordo que ao decidir voluntariamente não pensar, eu estou desligando conexões e emoções que podem me conduzir a um processo de ansiedade.

Ansiedade é “excesso de futuro”, como alguém já definiu. Assim, ao me desligar voluntariamente da cognição, eu tendo a me desligar do que me dá “excesso de futuro”.

Funciona?

Funciona. Eu mesmo sou testemunha de que funciona. Mas não se trata do fato de que eventualmente a meditação não me sirva, para este fim. Não se trata de “funcionar”, mas de como funciona.

O mecanismo que eu consegui enxergar na meditação funcionou (para mim) mais ou menos assim: pegue um “mantra” – uma frase que não tenha significado particular algum. Pode ser “ohmmmmm” ou “ahhhhh”, ou até “gooooool” repetidamente. A frase vai aos poucos perdendo o significado (que já nem tinha) e se torna um foco em si, fazendo com que você automaticamente “não pense” (o conceito aqui é extremamente difícil de confirmar, pois que creio que o cérebro não pararia nunca, em termos cognitivos, mas apenas que bloqueemos a compreensão dos programas que rodam “por trás” na nossa CPU). Alguns dizem que olhar pra ponta do nariz faz com que a gente já deixe de pensar automaticamente. Isso, junto com o tal mantra, nos faz esvaziar a mente. Deve ser, conforme aprendi, uma coisa feita intencionamente.

Aqui, outra pergunta – intencionalmente “não pensar” é um conceito que me escapa à compreensão. Mas vamos adiante.

O que significa Funcionar, para a Ansiedade?

Se eu medito, esvazio a mente, com o objetivo de controlar ou eliminar a ansiedade, preciso entender o que pretendo com isso. Sim, ansiedade é ruim, e a própria Bíblia deixa isso muito claro:

Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. 

Filipenses 4:6

Eu não preciso ter “excesso de futuro” na minha cabeça, ou seja, não devo andar ansioso. Como eu resolvo isso, é outra parada. Ora, existem causas para ansiedade? Sim, quase sempre. Afinal, a vida é um jogo complexo que envolve peças móveis e de difícil compreensão. O ser humano tenta, e em parte consegue, controlar parte das peças móveis, de forma que ao longo da história cada vez menos variáveis “doidas” ficam presentes na vida cotidiana: a luz funciona de noite – quase sempre, a água está na torneira – idem… não estamos sujeitos a morrer pela espada (exceto em algumas áreas e mesmo assim algo relativamente raro, em relação à toda história humana), e assim por diante.

A ansiedade pela comida e bebida, expressa por Jesus no Sermão do Monte (não andeis ansiosos pelo que haveis de comer ou o que haveis de beber… vestir, etc) já não parece tão presente numa sociedade em que o problema passou a ser o excesso, e não a falta de comida e bebida. Assim, vamos controlando variáveis aqui e ali, e passamos a nos tornar mais senhores do nosso destino – segundo nossa compreensão.

A ansiedade tenderia a acabar, mas isso não é o que vemos recorrentemente. Vemos, ao contrário, que as razões da ansiedade passam a ser vistas em coisas muito menos importantes, em termos existenciais, e muito mais relevantes para quem está ansioso. Ir numa festa com a roupa correta parece ocupar um lugar de ansiedade muito maior do que, por exemplo, ter o que comer amanhã, como era há poucos 250 anos atrás.

Então, meditar para afastar a ansiedade pela interrupção do fluxo de ideias na cabeça, parece não ter lugar para acontecer, visto que os motivos para a ansiedade parecem, hoje, muito mais fúteis ou difusos do que em qualquer outro momento da história. Ora, se é assim, o que fazer com uma ansiedade insistente, paralizante e francamente não existencial?

Ansiedade é razão para Ansiedade

Parece paradoxal, mas fica-se ansioso hoje até pela própria sensação de ansiedade. O que quero dizer com isso é baseado em algo que acontece comigo, todas as vezes que saio de férias ou tiro uns dias de “boreste” em casa. Fico ansioso pela necessidade de ter ansiedade. Afinal, o escritório, os afazeres, não podem ser conduzidos por outros, que não eu mesmo. EU preciso estar lá. EU preciso tomar decisões. EU preciso estar no controle. EU EU e EU.

Essa ansiedade não irá embora de jeito nenhum, exceto por uns instantes durante e depois da meditação, pois que não tem suas questões fundamentais resolvidas.

Monja ou não monja, bacana, trendy ou lacradora, meditação por esvaziamento não funciona para o que realmente importa – o futuro.

O futuro está lá, ansiosamente visto ou não

O futuro existirá independentemente de nós. Ele existe e ponto final, e chega até nós um segundo por segundo. Nem mais nem menos. Eu sou um carro indo em direção a um muro, chamado morte física, e no caminho até lá eu tenho que me livrar de buracos, manter-me na pista, fazer as curvas corretas, não desrespeitar os “sinais” e tentar chegar incólume – a que? À morte? Sim, inevitavelmente.

Como não ficar ansioso com um futuro tão pouco promissor? É assim pra todo mundo, exceto uns poucos (quem crê, crê). Então eu, por esvaziar minha mente, me livro da ansiedade? Não creio. Mas essa é só minha opinião.

Então, como eu decido enfrentar a ansiedade, sendo ansioso como sempre fui? Afoito, como sou chamado por colegas e amigos? Imediatista, como já fui tachado centenas de vezes pelo meu saudoso e amado pai?

A resposta veio a mim pela Bíblia, me instando a fazer exatamente o oposto. Em vez de me esvaziar, me encher. De quê? Do Espírito de Deus:

E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito,  falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus. 

Efésios 5:18 a 21

Isso resolveu meu problema? Sim. Deixei de ser ansioso? Não. Como assim? Que burrice! Algo resolve seu problema de ansiedade e não te torna menos ansioso? Não se trata disso. Deixe-me explicar.

Sintomas de ansiedade podem ser controlados com química, remédios, e até (por períodos mais ou menos longos) com meditação, estilo “esvaziar a mente”.

Ansiedade em si, não pode. Ela é um estado de alma. É uma condição do ser humano que não o deixa e faz parte. Não existe condição física que liberte o homem da ansiedade. Vejo ricaços ansiosos, e paupérrimos “zen”. Vejo saudáveis ansiosos e doentes “de boa”. Vejo gente bem sucedida tranquila e gente com zero sucesso doente de ansiedade. Ou seja, é uma condição (creio eu) pessoal, de alma e corpo, e que não fica sob controle, senão por pouco tempo e à base de Sertralina e Meditatina, ou qualquer técnica que se aplique.

Ansioso, sem Ansiedade

Deixei de sentir os efeitos da ansiedade sem deixar de ser ansioso – e sem me preocupar em controlar tais efeitos. Faço tudo o que posso por mim, para não viver sob a égide da ansiedade. Faço exercícios físicos, me alimento bem, etc e tal. Mas o que realmente foi o “game changer” está no texto acima, de Efésios, e antes, de Filipenses – tento me encher do Espírito e levar a Deus minha ansiedade – ou melhor, o que, no momento, naquela janela de tempo, está causando a ansiedade “do momento”.

Como ansiosos profissionais, alguns de nós sabe perfeitamente bem que só precisa de meia razão para puxar o gatilho da ansiedade. Qualquer coisa é razão. Pode ser um suspiro mal dado, que nos leva a sentir uma dorzinha do lado. Pode ser um cliente que te olhou meio torto. Pode ser qualquer coisica, de nada, que já está lá o monstro nos olhando e nos dizendo “vou te devorar”.

O muro da morte continua lá, e eu nem me dou mais conta. Parece que a ansiedade se torna uma forma de encher a cabeça com bobagem, retirando de nós a única coisa que deveria ser fonte dela – o nosso fim, que virá com certeza. Parece então que a ansiedade é um mecanismo de defesa contra a certeza da morte. Será que é isso? É algo meio diabólico, que me tira do foco que eu deveria ter – a morte como a única coisa segura da vida. Algo que o ser humano comum tenta esquecer que está lá, e não deveria. Deveria, isto sim, encará-la como um fato e entender o que crê (se é que crê) que está do outro lado.

Se eu creio que há algo depois do muro da morte, eu sim, deveria estar preocupado em entender o que é e como fazer para me virar, depois do muro. Se eu não creio, deveria estar ansioso pelo caminho mesmo, até lá – ou seja, a ansiedade se torna algo muito mais imediato, um problema diário a ser resolvido.

Eu decidi o seguinte: o muro da morte não é o fim. Eu creio que depois do muro da morte, existe vida eterna. Entendo que a vida eterna que existe lá pode ser de duas naturezas: com ou sem o Criador. Obviamente, já disse que creio no Criado. Decidi ainda que o caminho daqui até o muro pode ser mais ou menos acidentado, mas que eu deixarei isso pra Ele mesmo, o Criador, decidir como será. Não se trata de cruzar os braços e deixar que Ele decida, mas viver na certeza de que Ele anda cá comigo, dentro de mim, na verdade, e que a ansiedade não vai embora mas que ela não importa. Já que estou “em Cristo” e sou “nova criatura”, as coisas velhas passaram, tudo é novo. Não vou deixar de ser ansioso, mas não vou deixar que a ansiedade me defina.

À monja e seus seguidores, meu profundo respeito. Não minha admiração, pois não posso admirar o vazio. Posso sim, admirar Deus agindo em mim, ao meu redor, no universo todo. Posso permanecer com minha ansiedade intrínseca sem achar que o mundo vai acabar por conta dela… o meu mundo.

Pretendo sim, extirpar a ansiedade do meu modo de vida. Em certa medida tenho conseguido ser menos ansioso. Isso está acontecendo por eu me encher de Deus, não por me esvaziar de mim.

Apátridas

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Seu João, o Apátrida

O avô da minha esposa, Sr. Jon Friesen, era de origem alemã, menonita. Nasceu na Sibéria Central, Rússia, no início do século XX. Com o advento (tragédia) da Revolução Bolchevique, os menonitas, cristãos, tiveram que se mudar de lá, fugidos, atravessando o Rio Amur, da Sibéria para o norte da China. Toda a família foi – pai, mãe, filhos, tios, tias, primos, e tudo o que tinham de possessões terrenas, em cima de carroças com esquis, feitas trenós. Passaram quatro anos (acho) para atravessar toda a China, então um “protetorado do Reino Unido”, até chegar a Shangai, e de lá num barco para Marselha, na França, onde uma sociedade de apoio aos migrantes menonitas os indicou dois destinos possíveis – Brasil ou Canadá. Parte da família escolheu Brasil, parte Canadá. Até hoje existem menonitas de nome Friesen (que é bem comum) em ambos os locais, aparentados.

O Sr. João (o Jon ou Ivan) entrou no Brasil como “Apátrida”, com um documento emitido pela Liga das Nações (creio, também), antecessora da ONU. Tive esse documento nas mãos, e creio que meu sogro, Heinrich Friesen, ainda deve ter em algum lado, ou a Tia Gertrude Friesen Dyck. Foi meu primeiro contato direto com o termo Apátrida – “sem pátria”. Ora, Seu João, a quem conheci bem, nos anos 90, tinha cara de “russo”. Falava um tantinho de russo, além do Alemão (Hoch Deutsch – o “Alto” Alemão, de Goethe e Schiller) e o Plötisch (ou Platt Deutsch, “alemão amassado” (Sic!) ou dialeto dos “alemão russo” como falam ainda hoje aqui perto, na colônia menonita de Witmarsum). Era russo, mas não era russo. O pai nasceu, até onde sei, na Península da Criméia, que já foi Rússia, já foi Ucrânia, já foi Rússia, já foi Ucrânia… e hoje é Rússia, de novo, meio que na marra). Não era Ucraniano. Não era Alemão (Friesen significa originário de Friesland, que tem Ost-Friesland e West-Friesenland, região do norte da Alemanha e Holanda, de onde vem a mistureba que chamam de Plöttisch…).

Seu João nunca se naturalizou brasileiro. Morreu Apátrida, portanto. Bom, eram os tempos dos documentos de papel, dos passaportes falsificáveis (hoje ainda são…) e das encrencas de fronteiras, que ainda existem naquela parte do mundo. Ao que me consta nunca teve problemas aqui. Aqui casou, criou os filhos, possuiu terras, e até se aposentou, e morreu. Está enterrado na Colônia Nova, em Nova Aceguá (antigo distrito de Bagé-RS) e em paz descansa, com o Senhor.

Da Sibéria para a Nicarágua

Ser apátrida por contingências é algo triste, até certo ponto. Depende de uma nação acolhedora, como eram o Brasil e o Canadá de então (e ainda são) para receber e dar uma vida digna a esses imigrantes pobres e sem bandeira.

Ser apátrida por decisão de um Estado Nacional é coisa que dificilmente se vê. Eu vejo histórias de “banimento” feitas por monarcas absolutistas de até o Século XVIII. Depois disso nem sei se o fato voltou a existir. Os absolutismos foram sendo reduzidos e os banimentos se tornaram muito raros. Depois da 2a. guerra mundial, nem sei como anda isso. Não sou expert em política migratória internacional, mas tendo a pensar que quase nada assim acontece. Nações desenvolvidas acabaram com isso.

De repente, surge um sujeito do 3o. mundo, com cara de caudilho analfabeto, e começa a retirar cidadania de seus paisanos. Um bispo aqui, um escritor ali, uma ativista de direitos humanos acolá… e isso parece que não incomodou ninguém, nem no mundo dito civilizado, por um bom tempo. Parece que começa a incomodar agora. Até mesmo no nosso Brasil varonil, de triste governo e tendências autoritárias. Parece que a dose foi demasiada, até mesmo para gente pouco dada à democracia, como os que temos no poder, antes e agora.

Ora, o que significaria ter sua cidadania, seu direito a um país, a uma bandeira, caçados por decisão do chefete de estado de ocasião? O que dizer ao mundo, se você agora se vê sem direito algum, em sua própria terra, da qual detinha um passaporte, cantava o hino e, no fim das contas, amava e ama?

O cidadão perdeu seus direitos, e não sabe para onde vai. Países latinos um tantinho menos ditatoriais, como Chile, Colômbia, México, outros nem tanto, como Argentina e Brasil, e até nações europeias, como Espanha (que, afinal de contas, criou essa confusão toda aqui) ofereceram asilo aos cidadãos (nenhum deles culpado de nada, exceto discordar do ditador). Como esses apátridas se sentirão aqui? Aliviados, como Seu Bernardo, pai do já descrito Seu João Friesen, por ter alguma terra para cultivar e paz para crer em Cristo? Ou frustrados por ter que receber um passaporte que não é o seu, de uma terra que não é a sua, cantar um hino que não é seu e tentar amar uma terra com a qual tem pouca afinidade?

Quem parará o ditador? Qual é o limite que precisa ser rompido, que lei internacional quebrada, que artigo da Convenção de Genebra burlado, para que o mundo se aborreça a ponto de intervir? Será Daniel Ortega melhor que Manuel Noriega, cujo Panamá se viu envolvido no quebra-pau com os EUA? Será que é preciso um Canal do Panamá para que alguém se digne a intervir?

O mundo está deixando de tomar atitudes por razões éticas, cada vez mais. Ah… isso sempre aconteceu, dirão os puristas. Sim, claro. Trata-se, porém, da frequência e natureza das infrações, e da qualidade e força das intervenções. Eu vejo um gráfico apontando uma queda cada vez mais forte tanto na frequência quanto na intensidade das intervenções.

Hutus mataram um milhão de Tutsis, em Ruanda, depuseram seu monarca, e o mundo olhou. As manchetes não tinham um milésimo da indignação que o holocausto até agora gera. Uganda foi inundada de refugiados Tutsis, que devem estar por lá até agora. Apátridas, todos, na prática, senão na documentação.

Eu e você, cristão, conservador ou pelo menos amante da família nuclear, de pai e mãe, corremos o risco de sermos os novos apátridas, em algumas décadas, ou anos? Eu tenho a distinta impressão que sim. E tenho também o distinto medo de que ninguém virá em nosso socorro.

Mulher, mulher…

Photo by Sogro, Aline, circa 1980 – vou apanhar por conta dessa foto…

Não fui nem sou constrangido a escrever sobre mulher. Deus me premiou com minha esposa, amiga e companheira de quase 30 anos. Me premiou também com uma mãe inteligente e guerreira; me premiou com avós, cunhadas, nora (por enquanto a única) e sogra com que me dou muito bem, a quem admiro e amo. Sou cercado de mulheres poderosas, inteligentes, amigas e sobretudo, gente de Deus.

Mas confesso que não sou apaixonado por esse Dia da Mulher. Não que eu ache que não há valor em exaltar, empoderar e apoiar a mulher. Nada disso. Como conservador, amante da família e de Deus, não poderia deixar de colocar a mulher no patamar que Cristo as colocou.

Num tempo em que a mulher era uma escrava melhorada, um pouco emancipada, no mundo todo, Jesus tratou a mulher como igual, e, em muitos casos, como tendo alguma primazia sobre homens. Foram mulheres que o avistaram primeiro quando Ele ressuscitou. Foram mulheres que o acompanharam durante todo o ministério terreno. Foram mulheres, em sua maioria, que estavam com Ele, corajosamente, quando ele pendia de uma cruz.

Jesus não se esquivou de conversar com uma mulher, samaritana, e isso ficou registrado para a posteridade como um dos atos mais importantes de Seu ministério. Deus não fez, nunca acepção entre homens e mulheres. A Bíblia tão somente relatou o que era a cultura da época. Mesmo assim, os judeus tiveram sempre uma postura mais avançada quanto à mulher do que qualquer povo da época. Creio que somente foram alcançados nesse avanço depois do início do Século XX.

A razão para eu não gostar do Dia da Mulher é simples: ele não deveria existir. Como aliás, não deveria existir dia do orgulho gay, dia dos homens, dia da consciência negra, e daí em diante. Se existe um dia da mulher é porque há necessidade de reforço em relação às mulheres, seus direitos e suas responsabilidades. E isso, claramente, é função de uma sociedade menos que perfeita.

Como conservador, consigo enxergar a estatura moral, cultural e de capacidade da mulher, e consigo ver, também claramente, que a mulher tem um papel diferente – não menor, melhor ou pior – do que o do homem. Apenas isso. Diferente.

Eu rogo a Deus que rapidamente deixemos de ter necessidade de ter dia disso, dia daquilo ou daquele, e tenhamos apenas dias normais, de fraternidade e liberdade (igualdade, nunca há nem nunca haverá, e francamente, não vejo isso como ruim ou necessário).

À minha mulher preferida, Aline, esposa e amiga, à minha mãe, Ruth, amiga que logo completará 80 anos, à minha sogra, Olga, mãe também, à minha norinha, Mariana, à minha “bisoma” Elly, e às minhas cunhadas, primas, tias e queridas amigas todas, meu cordial desejo de que nunca tenham que passar por situações em que se sintam menores, inferiores ou forçadas a nada, exceto se pelo Espírito de Deus.

A vocês todas, meu desejo de Paz, Amor e Alegria!

ChatGPT, PIX, DigiFidus e nós, Juntos e Shallow Now…

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Morro de medo de coisas que não entendo… mas isso é natural. Quanto mais limitado você é, ou quanto mais limitado você admite que é, mais medo você terá de coisas que não entende – principalmente quando todo mundo em volta de você diz entender.

Hoje, todo mundo está encantado com uma nova modalidade de inteligência artificial, o ChatGPT, que parece fazer traduções melhores que muitos tradutores juramentados e consegue criar histórias e até músicas, baseadas em dados alimentados e “aprimorados”. Meu cérebro reptiliano (chamemo-lo “Jacarito”) diz “sei não, hein”… e tem aquela urgência de brigar ou fugir.

Me senti, e ainda me sinto assim com relação a outros fenômenos do mundo atual, como o PIX e as Moedas Oficiais Digitais ou algo como “DigiFidus” (desculpem o neologismo, mas tá difícil ler algum mais adequado). Bancos devem estar tremendo diante do potencial do PIX em relação às pretensões do Brasil em “desintermediar” as operações financeiras. Já um Real Digital, baseado em blockchain, pode criar uma situação de controle total e absoluto sobre a vida financeira de todo mundo que estiver “on-the-grid” (conectados, ou bancarizados).

Indo de trás pra adiante:

PIX

É uma coisa mágica, e que não vemos em nenhum outro lugar do mundo, até o momento. Passei 2 meses nos EUA recentemente, com minha esposa, e dificilmente uma área me deixou mais frustrado, no país mais desenvolvido do mundo, do que o setor bancário. Nessa área, damos de 10 a zero em qualquer outro país, China incluída. Somos feras em automação bancária. Então por que o PIX mete medo em Jacarito?

Temo que eu não tenha mais nenhuma privacidade financeira, o que contraria frontalmente a Constituição de 1988, em seu Art. artigo 5o., incisos X e XII, prevê garantia de sigilo bancário “fundamentado no direito à privacidade e à intimidade, a inviolabilidade dos sigilos das comunicações telegráficas, correspondência de dados e das comunicações telefônicas.”. Ações práticas da Receita Federal, como SPED, ECF e ECD, já fazem um papel bastante bom em, sob qualquer aspecto prático, acabar com o sigilo de empresas.

Na prática, isso já foi pras calendas há tempos, como muitas coisas previstas, inclusive em cláusulas pétreas na CF88, e que certamente virão assombrar a todos, à esquerda e à direita, sempre que algum Supremo deseje brandir poder em nossa cara.

Há razões de sobra para adorar o PIX. É grátis (por enquanto), é simples e inclusivo. O Povão adora, e com razão. O meu medo não reside nisso. Meu medo se dá pelo fato de que, se temos um Banco Central independente hoje, temos um PIX “blindado” de medidas antidemocráticas. Está na rua, e na cabeça dos governantes da vez, o desejo e a possibilidade de tornar (senão de direito, mas de fato) o Bacen, de novo, em um apêndice do Governo. O COAF já saiu de lá, e portanto, é simples prever um certo esvaziamento contínuo das funções do Banco. A partir de meados de 2024, um novo presidente do Bacen assumirá, à “imagem e semelhança” dos governantes da vez. E quem me garante privacidade ou “licitude” no uso das informações financeiras derivadas do PIX?

Teoria da Conspiração? Pode ser, claro. Afinal, Jacarito, cá dentro de mim, tem medo, e foge… ou ataca…

DigiFidus

Um passo lógico, subsequente, a ser dado pelos controladores da Moeda, é a criação de Reais (R$) totalmente digitais. Quando da criação das primeiras moedas virtuais, como BitCoin e outras, imediatamente veio à minha mente o fato de que governos não gostam de competição. Sua vontade de controlar desaguaria – creio que desaguará – na criação das DigiFidus – moedas digitais baseadas em tecnologia blockchain, mas controladas e lastreadas fiduciariamente pelos governos centrais – a começar pelo Brasil, creio, que é ponta de lança nessas tecnologias.

A pergunta que Jacarito se faz então, é a seguinte: O que impede um Bacen dotado de capacidade de processamento de dados quase infinita, faca-e-queijo na mão, de varrer do mapa todo o sistema bancário nacional, e concentrar em suas mãos toda a capacidade de criar e controlar contas bancárias, oferecer (e negar) empréstimos e controlar toda e qualquer transação financeira? Teoricamente, nada.

Jacarito se encolhe num canto, no chão da jaula desse zoológico chamado Brasil, e balança o rabo ameaçadoramente a quem quer que chegue próximo. Como não ter medo de um governo que tem tal ubiquidade? Tal capacidade de fazer o que quer, literalmente, com todo e qualquer player da economia?

Se o governo é de direita, pode perfeitamente beneficiar igrejas e ONGs de sua preferência; pode fomentar o agribusiness e até facilitar a vida de quem quer garimpar onde não deve, em tese. Pode disruptar ONGs “inimigas” e varrer do mapa, sem deixar rastros, instituições mais à esquerda.

Se o governo é de esquerda, pode perfeitamente bem acabar com toda e qualquer instituição religiosa, lascar com a vida das forças armadas – financeiramente, e ainda criar embaraços horríveis à vida de reflorestadores e do agro brasileiro. Em mãos “estrangeiras”, pode ser usada em benefício de potencias estrangeiras, em linha com suas opções ideológicas.

Se o governo um dia for “centrão”, aí sim estaremos lascados, pois a necessidade de malas de dinheiro circulando em aeroportos, ou caixas de papel pintado de R$ em apartamentos alugados serão coisa do passado. Tudo devidamente carimbado pela autoridade que mandar na vez (essa gente tende a ser bem eclética no compartilhamento do poder).

À esquerda e à direita, passando pelo centrão (ou centro), os riscos para a vida da sociedade são evidentes. Resta saber se os Jacaritos dentro de todos nós aceitarão isso passivamente, ou se algum Supremo nos impedirá de demonstrar nossa indignação ou desejos.

ChatGPT

Isso parece não ter nada a ver com os pontos anteriores, mas Jacarito discorda e me pede pra contar o que “ele” acha.

Como toda boa tradição de Teoria Conspiratória, sempre há um elemento de tolhimento da capacidade de interpretação da realidade, até que o “fato consumado” já tenha acontecido e seja tarde demais. O filme de mesmo nome quase me matou de medo, pela possibilidade de que aconteça um dia. Esquerda e direita sempre competem pela primazia de pichar nas costas do outro lado a capacidade de fazer “isso”.

ChatGPT é um fenômeno. É preciso passar dias esperando uma vaga pra acessar o sistema. Dentro dele, um mundo de possibilidades emerge, desde a confecção de teses fajutas de mestrado e doutorado, até a tradução (excelente, por sinal) de documentos. Dá até pra ajudar bastante na escrevinhação de códigos de computador.

O que Jacarito teme, no que tange não só a ChatGPT, mas a qualquer espécie de inteligência artificial, é o que o livro “The Loop” (Jacob Ward) sub-titula como “Como a tecnologia está criando um mundo sem escolhas, e como lutar contra isso” (tradução minha, sem suporte do ChatGPT, graças a Deus).

O que Jacob Ward nos chama atenção é para o fato de que IA (Inteligência Artificial) dificilmente é algo “neutro” ou cientificamente orientada. Sempre tem um “bias”, uma pegadinha. Se você pergunta algo que o sujeito (de carne e osso) por trás da ferramenta, considera inadequado, politicamente correto ou que ele ache que vai ferir alguma suscetibilidade, o ChatGPT vai retornar uma mensagem padrão dizendo que não comenta sobre este assunto, e ponto final.

Por outro lado, outro dia vi que o ChatGPT retornou algo sobre a morte de Ayrton Senna num acidente com Satoru Nakajima no GP… do Brasil… uns anos antes da morte efetiva. Por que? Sabe-se lá. O GPT ainda tá aprendendo (Talvez GPT signifique Getting Productive Tips, ou “Obtendo dicas produtivas”).

Num mundo de seres cuja atenção não dura mais do que 20 segundos, e cuja capacidade de teclar é milhares de vezes maior do que a de refletir, onde é que o ChatGPT entra em jogo? O Livro alude a isso da seguinte forma:

“While I believe it’s clear that the mental and physical health of entire generations could be at stake, I also believe that capitalism, culture, and our conviction that we are in charge of our own destinies are blinding us to the threat.”

(Embora eu entenda por claro que a saúde física e psíquica de gerações inteiras possam estar em jogo, eu também acredito que o capitalismo, a cultura e nossas convicções de que estamos no controle de nossos próprios destinos nos está cegando para a ameaça [presente]”

The Loop, Jacob Ward

Como, meu Deus do céu, não estar “blinded” (cego) para a ameaça que a IA representa para nós, quando a Lei do Menor Esforço é tudo o que nos rege, na sociedade atual? Como não deixar “a vida nos levar”, ainda que a “vida” seja aquela ditada por nós por uma IA, frequentemente (senão sempre) programada para nos dar uma resposta que nos imbecilize, nos faça ainda mais presa de um mundo feito para nos moldar?

O Livro segue dizendo que empresas, como Facebook, Google, etc, usam essas ferramentas de IA para nos conduzir, tanger, como gado, para um destino especificado internamente. O objetivo parece ser usar uma tecnologia que não entendemos para retirar de nós a capacidade de reflexão (*)

Tudo parece Cooperar para nosso Bem… até que não…

ChatGPT, PIX, DigiFidus… tecnologias que, há algum tempo atrás, seriam difíceis de não qualificar como “milagres”, ou “magia”. Tecnologias que ainda hoje a maioria de nós não entende, não faz questão de entender e tem raiva de quem entende.

Some-se a isso o fato de que os grandes Curadores da Sociedade, a Imprensa, os Acadêmicos e Filósofos parecerem estar a serviço das mesmas forças que programam os algoritmos das diversas IAs, das quais “bebemos” sem reflexão, e está dada a confusão, e a escravização.

Tudo parece cooperar para nosso bem, e nossa tranquilidade, até que não mais seja verdade. Seja você de que convicção política for, saiba que estamos, todos nós, diante de uma aterrorizante possibilidade de virarmos uma “Idiocracy” (**)

Pagaremos pra ver? Jacarito não quer…

(*) O Livro não é textual sobre isso, mas sua sinopse sim.

(**) O filme é bobinho; o argumento é profundo.

Ram Charam e o Caixa-Rei

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Li e envio aqui o link do artigo recente do famoso Ram Charam sobre a situação economica atual, no mundo, e a necessidade de preservação de Caixa – “Cash is King”. Meu amigo, Dr. Marcos Leandro Pereira, reproduziu e comentou sobre o artigo, e o faço aqui, não só em deferência à sua ilustre opinião, como ao próprio Charam, obviamente. Não faço inteiramente minhas as opiniões de Charam no que tange ao Brasil, especificamente.

Entendo o espírito do artigo, e gostei muito, Marcos. Talvez a única consideração é o cuidado que devemos ter no conceito “cash is king” no Brasil. Vivemos em meio a uma recente e crescente onda de incertezas que na prática nem sabemos onde vai dar. Coisa boa, parece que não será. Assim, “cash may not be the king here; hard assets do”… ou seja, melhor, aqui, talvez seja buscar portos mais seguros. O estranho é que vemos investimentos estrangeiros entrando no país e brasileiros buscando abrigo no exterior. Lula é uma “unanimidade midiática” em quase todo lado que eu vou, com raras e honrosas exceções (alguns estados nos EUA, por exemplo). Ninguém parece se dar conta da raiva e do espírito de gastança pública, do “re-loteamento” do executivo em Brasília, e das insanidades que tomaram conta do esferas do poder federal (fora as ações “fora da casinha” do STF, claro). Assim, hard assets me parecem ser algo, no mínimo, a ser considerado num país como o nosso…

Eu mesmo, in LinkedIn

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Com essas breves palavras acima, creio que introduzi o assunto que ninguém quer falar, aqui, e que “tá dominado” no exterior. A máquina de propaganda, muito possivelmente com nossa grana, perpetrada pelo partido no poder, o “Labors-Nine”, pra quem entende, varreu do mapa toda e qualquer consideração sobre o dono do partido, no que tange a corrupção e tendências não democráticas, além de uma eleição pra lá de suspeita (não me refiro aqui a urnas, necessariamente, mas à militancia de um TSE que, no meu ver, atuou para influenciar a campanha política de forma decisiva).

Loolah no Exterior

Tanto em boa parte dos EUA (e em sua mídia mainstream, com certeza), quanto na Europa, essa “dominada” por uma visão de mundo de esquerda, começando pelos seus principais players na mídia, Loolah (sorry pela escapada covarde na soletrada) é um semi-deus, provavelmente candidato ao Premio Nobel da Paz.

Faz-se uma força hercúlea e desproporcional, que eu não sabia que era possível ser exercida por um “Anão Diplomático” (thanks, Israel) como o Brasil. O homem que ficou preso por mais de 500 dias, julgado e condenado por mais do que uma simples meia-dúzia de juízes de várias instâncias, culpado como o capeta, volta à cena do crime (cena em español, porfa) incensado por quase metade dos votantes do país, e nos braços da imprensa nacional.

A Rússia já disse que vai considerar a “proposta de paz” feita pelo sujeito para a terminar a guerra na Ucrânia, como se proposta viável alguma tivesse sido feita. Isso, obviamente um coup-de-main para elevar o status da Rússia junto a nós e reforçar o caráter de estadista de Loolah, foi noticiado como verdade revelada. Se o Kremlin tivesse pedido a canonização do desfeliz junto ao Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, eu ficaria menos espantado…

Independentemente disso tudo, a dicotomia entre o que o cara fez e é e a visão que o mundo tem dele é de matar de raiva. Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal.

Loolah no Brasil

Aqui o negócio é um tantinho diferente, a despeito da força da mídia em lavar ratazanas. Uma boa parte do eleitorado e dos formadores de opinião, esses (nós) frequentemente tachados de burros e “gado”, sabemos claramente que se trata de uma aberração, o que vivemos hoje.

Não tenho amor algum por Bolsonaro, e o culpo por várias coisas: a)desconsideração e apoio no desprestígio à Lava-Jato; b)briga desnecessária e burra com a imprensa mainstream nacional – que o isolou; c)desconsideração com efeitos da vacinação, o que não ajudou em nada num momento difícil ; d)transito atabalhoado e burro junto ao STF e Congresso – só pra ficar nos exemplos mais gritantes. Bolsonaro foi um cara que correu uma maratona sozinho, e chegou em segundo lugar. Impressionante a performance dele e de seus pimpolhos, sempre rápidos no gatilho pra falar, sem pensar.

Mas tenho que admitir que o cara teve méritos muito maiores, a despeito de tudo isso – méritos esses parcialmente desfeitos pela mesma mídia maistream que ele desprezou: a)controle da inflação e retomada em “V” da economia; b)ausência de casos de corrupção – pelo menos comprovados e vultosos – em seu governo; c)excelente condução da política de infraestrutura, terminando obras inacabadas – uma constante em qualquer governo anterior; d)excelente tratamento dado ao setor mais competitivo do país – o Agro.

Isso tudo, o que tem a ver com o artigo de Charam?

Tá… e daí? Daí que, como eu disse, estamos diante de um caso de esquizofrenia econômica. Claro que podemos ter uma reviravolta para melhor, com a demissão de Haddad, que é uma nulidade em vários segmentos do conhecimento humano, mas principalmente em economia. Claro que podemos ter uma crise de “Lula 1” com mais “paz-e-amor”, quando este se dê conta de que não vai “dominar tudo” por aqui como os pares dele, Cristina, Ortega e Maduro, para ficar somente nos exemplos mais próximos, fizeram em seus países de origem. Claro, por fim, que temos a possibilidade do Congresso ter um pingo de decência e começar a exercer seu poder, independentemente de loteamento de cargos e cooptação.

Mas não creio, sinceramente, que isso vá ocorrer. Creio sim que haverá uma deterioração do cenário econômico por aqui. Diz-se que em Brasília, depois de 2 meses de governo, quase 2/3 dos cargos do segundo escalão ainda estão por ser “distribuídos”. Por que? A se manter o modus operandi usual, esses cargos estão a espera de suas respectivas “éxcélênssias”, que pagarão por eles com o toma-lá-dá-cá costumeiro, sem vergonha ou respeito, e, francamente, sem pensar no amanhã.

Diz-se também (não posso provar, óbvio) que o sistema de “fale com fulano”, e “fulano resolve isso” já está de volta a Brasília. Todos lá estão felizes. Afinal, deu-se ali o retorno do Jedi-mor.

Concluindo…

Assim, só restará ao Brasileiro, se eu estiver certo, os “Hard Assets”, ou seja, “coisas” que são mais difíceis de serem garfadas, como terras, imóveis, e, lá no fim da descida da ladeira, ouro, outros metais preciosos, etc. No fim da ladeira há um poço em que o conceito de “Cash is King” (respeitado em todo mundo, por boas razões) encontrará pouca realidade fática no país, se a moeda se corroer (enquanto o Campos Neto lá estiver, duvido um pouco), se os preços dos ativos em bolsa virarem fumaça, os títulos do governo subirem de nível de risco e, por fim, se a inflação, vilão nota mil de qualquer população, voltar com força.

Aqui, Cash will be the Executioner. Melhor fazer o que muitos estão fazendo, enquanto dá, e ter um pé-de-meia tão seguro quanto possível, a salvo das mãos do governo…

Passado Movediço

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Ontem fomos todos tomados de surpresa por uma decisão do STF que é, para dizer o mínimo, insólita. A imagem abaixo, do Valor, conta a história com relativa exatidão:

www.valor.com.br

Vou dar as minhas razões particulares, como auditor independente, conselheiro e cidadão, do porquê acho isso tudo tão absurdo.

Insegurança Jurídica

A síntese desse “pagode” é relativamente simples, pelo que pude depreender: você é uma empresa, contribuinte, recebe uma multa, com ou sem razão (tsk, tsk…) e recorre em instância administrativa, e termina na instância judicial. Lá pelas tantas, o STJ, ou qualquer tribunal que seja considerado “definitivo” como corte decisória, te dá ganho de causa, ou seja, considera-se o assunto passado em julgado. Pois bem, com base nisso, a empresa passa a ignorar os efeitos financeiros da mesma – se estava provisionado o valor da contingência, reverte a provisão; se não estava (seja por falta de critério contábil ou por opinião favorável de seus advogados, aceitas por seus auditores independentes), mantém tudo como d`antes, fora dos livros.

Agora, por essa decisão, se o tal STJ deu uma decisão favorável e, após isso, o MESMO tribunal passa a decidir de uma forma oposta, o fisco terá o direito de te cobrar a dívida, antes considerada não devida, da mesma forma, a partir do momento em que o tal tribunal deu decisão em contrário.

Efeitos

Eu fico aqui me perguntando como vou proceder com meus clientes. O QUE vou ter que re-re-revisar, para tentar entender que “causos” foram já julgados no passado e considerados como sendo irrelevantes ou afastados do balanço da empresa, eu terei que dizer “sinto muito, provisione de novo porque o STJ reverteu – não a sua – decisão e agora você corre o risco de ver sua grana penhorada pelo fisco…“. Como diria Noel Rosa, “com que roupa / eu vou”. Não sei, e estou aqui matutando quais efeitos adicionais isso pode ter. Alguns deles abaixo, para raiva, medo frustração ou choro dos colegas e amigos.

Fusões e Aquisições

Processos de fusões e aquisições no Brasil já são uma dor de cabeça, justamente porque aqui no Brasil, o conceito de “responsabilidade solidária” atinge seu ápice mundial: se o seu predecessor, na sociedade, cometeu um crime tributário, você, que adquiriu a empresa – sabendo ou não do fato – é responsável pelo mesmo. O CNPJ é responsável. Não quem perpetrou o ato, do ponto de vista decisório. Com isso, os processos denominados de Due Diligence são muito mais complexos do que em qualquer lugar do mundo. Honorários de Due Diligence aqui costumam ser demasiado caros, em relação a (quase) qualquer outro país de mesmo porte.

E agora, o que dizer ao investidor? “Sabe a Due Diligence que eu fiz há 2 anos? Pois é, o “escrow” não é mais suficiente, sabe… e não é porque erramos a mão. É porque ressuscitaram um assunto morto e enterrado. Tanto eu quanto seus advogados concordamos que na época não havia qualquer risco aqui”…

Auditoria Independente

Nem sei por onde começar aqui. Imaginemos o caso mais rumoroso dos últimos tempos: PIS e Cofins na base de cálculo do ICMS, julgado em última instância pelo STF, que, em tese, colocou uma pedra na sepultura e selou a cal e canto. Todo mundo correu para recuperar a grana paga indevidamente ao fisco federal. Ora, cobrar 9,25% sobre, digamos, 12% de ICMS, implica em uma “super tributação” de 1,11% -impacto direto sobre preços e custos, e, necessariamente, sobre a atividade econômica fabril e comercial como um todo.

Empresas de todo o Brasil tiveram o direito de recuperar esses montantes, e nós, auditores independentes, diante de um fato consumado, nada mais temos a fazer senão concordar que já não há efeitos aqui, exceto aqueles contábeis advindos dessa recuperação do gasto tributário passado excessivo.

Suponhamos que amanhã, um “outro STF” decide julgar exatamente o oposto. Se entendi bem, o fisco federal, e seus supercomputadores Cray, vão imediatamente identificar todos os contribuintes que ganharam ações contra a Receita, e cobrar tudo de novo, com juros, multa e correção.

A questão é: o QUE considerar contingência e o que não? Para as demonstrações contábeis de 2022 (dezembro), sob auditoria neste momento, não sei ainda o que teremos que rever a ponto de saber o que terá que ser reconsiderado. Pode ser (ainda nem medi isso) que alguns clientes tenham ganho ações no passado que já tenham sido objeto de julgamento diferente.

Estado de Coisas

Parece coisa de “direitista radical”, “bolsonarista” ou coisa que o valha. Não é. Confesso que não sou lá tendente a teses de esquerda, conquanto concorde com algumas delas, en pasant. Mas o fato é que temos diante de nós uma situação que sequer sabemos onde vai nos levar como economia.

O “Estado de coisas” é de tal ordem movediço que faz a célebre frase atribuída a Pedro Malan – “No Brasil até o passado é incerto” uma verdade absoluta.

Desconstrução da Objetividade ou a morte da Ciência

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Leio regularmente um website chamado Quillette.com, e recomendo. É um site de ideias, um site de artigos compridos e muitas vezes acadêmicos demais para o ouvido não treinado, o que não apaga seu valor – principalmente num mundo em que mais de 15 segundos, ou 2 linhas, é uma eternidade. O “attention span” do adulto médio brasileiro, creio que deva andar pelos 5 minutos, o que coloca este meu artigo fora do esquadro para a maioria dos que me dirão que o leram.

Mas divagações à parte, hoje li com interesse um artigo que “falou ao meu coração”, pela tragédia intelectual que traz à tona. Traduzo uma pequena parte e gostaria que o meu eventual leitor apelasse para sua generosidade com minha prosa e lesse até o fim:

Vários anos atrás, no mundo pré-pandêmico das reuniões presenciais, um colega recém-contratado do Fashion Institute of Technology propôs um curso de sociologia com temática LGBT, antes da School of Liberal Arts. Este é um passo necessário para que o curso seja aprovado pelo comitê curricular da faculdade. Era a hora de darmos um feedback construtivo e ajustes ocasionais, antes da votação final do comitê. Era um bom curso. A proposta era clara e concisa, indicando não apenas um domínio da literatura relevante, mas uma sensibilidade aos interesses, expectativas e capacidade dos alunos para lidar com a carga de trabalho.

Notei, porém, um problema que parecia aparentemente menor e facilmente corrigível. Entre os resultados de aprendizagem listados estava a exigência de que os alunos desenvolvessem uma “maior aceitação das perspectivas e direitos LGBTQ+”.

Isso me pareceu problemático. Acontece que penso que tal aceitação é uma coisa boa, mas estipulá-la como um resultado de aprendizagem levanta uma questão complicada. Se um aluno dominar o material do curso, entregar o trabalho exigido e passar nos exames, mas não exibir essa aceitação, ele será reprovado?

Depois de expressar minha admiração geral pelo curso, expressei minha apreensão da seguinte forma (e isso é quase uma citação exata):

“Precisamos ter em mente que somos uma universidade estadual. Nossa missão é buscar, averiguar e disseminar a verdade objetiva e equipar nossos alunos para fazer o mesmo. Por essa missão, não acho que podemos propor um resultado de aprendizagem que exija a aprovação dos alunos em uma questão de moralidade pessoal. Os outros resultados de aprendizagem são bons. Você não precisa disso, então eu simplesmente cortaria.”

Minha colega tinha acabado de sair da pós-graduação e ainda não havia se formado, o que (teoricamente) a colocava em uma posição vulnerável. No entanto, ela teve um ataque apoplético; com tanta raiva, na verdade, que ela teve dificuldade em pronunciar sua primeira frase. “Não acredito que as pessoas ainda pensam assim!” ela gaguejou. “A Queer Theory desconstruiu a objetividade!”. Suas palavras pairaram no ar enquanto eu olhava ao redor da sala. Nem um único membro do corpo docente, nem mesmo aqueles em matemática ou ciências, parecia perturbado por sua declaração categórica. Como eu era um professor titular, relutava em debater com um colega não titular durante uma reunião escolar. Então, deixei o assunto de lado. O curso foi aprovado sem revisão pela Escola de Artes Liberais, e passou a ser aprovado pela comissão curricular. E foi assim que minha faculdade entrou no negócio de ganhar convertidos.

Mark Goldblatt in https://quillette.com/2023/02/07/the-approaching-disintegration-of-academia/ – Grifos meus, tradução minha e do Google Translator…

Não estou aqui, como não está o autor, Mark Goldblatt, para concordar ou discordar com a proposição, nem mesmo com o que a professora chamou de “Queer Theory” (Teoria Gay, ou coisa que o valha). Não se trata nem de concordar nem discordar dessa ou aquela posição, no espectro de pensamento possível ao ser humano de qualquer espectro, raça, religião (ou falta dela). Trata-se da negação da POSSIBILIDADE DO CONTRADITÓRIO. O professor catedrático teve que se calar, ante a professora iniciante, tão somente para evitar um problema mais sério, devido ao fato de TODOS os outros acadêmicos presentes terem se omitido, ante a avassaladora pressão exercida por um conceito que sequer admite ser questionado.

Questionar é Preciso?

A pergunta fundamental é essa. Estamos proibidos de questionar? Sejam equações ou urnas eletrônicas, estamos diante de grupos organizados de pressão cada vez menos propensos a aceitar ser contraditados. E não apenas se sentirem afrontados pela mínima discordância, mas pessoalmente ofendidos. Independentemente de se tratar tão somente de um debate saudável de ideias.

O medo maior, no meu caso, é que tal postura está chegando em ciências exatas, o que será, certamente, a total abdicação do direito de inovar e quebrar paradigmas.

Desconstrução da Objetividade

Acho que neste “pormenor”, a professora da citação tem toda razão. A Queer Theory quer, de fato, “desconstruir a objetividade”. O que isso poderia significar? Uma banana pra realidade; uma figa pro senso comum? Não se sabe. O fato é que ao dizer que desconstruiu a objetividade, eu coloquei no lugar dela algo diferente – e necessariamente menos objetivo – subjetivo. Qual é o lugar que a subjetividade possui no meio acadêmico e científico? Em minha opinião, não deveria ter nenhum lugar. Nem mesmo em “ciências” consideradas menos exatas, como sociologia, psicologia ou mesmo teologia, a base é o sufixo “logia”, lógica, sobre a qual se baseia, ou deveria se basear, qualquer estudo sincero – nem vou dizer sério, porque o conceito de seriedade também pode ser considerado subjetivo. Sincero, porque se propõe a observar a realidade, e comprovar, de forma tão segura quanto possível, os resultados experimentais ou provas matemáticas/mentais.

Por lógico, descontruir a objetividade parece significar a inclusão de elementos menos palpáveis, ou comprováveis. Isso fica claro no uso que se dá à própria linguagem. A desambiguação da linguagem é o objetivo, por exemplo, dos dicionários e da linguística (e mesmo a filologia). Com as mudanças constantes de conceitos, baseadas em preferências e sensações, mais do que em fatos ou usanças, perde-se o referencial e o entendimento comum de um termo. Os grandes escritores do mundo ajudaram a “fixar a língua no tempo”. Shakespeare no inglês, Goethe e Schiller, no alemão, Dante Alighieri no italiano, Cervantes no espanhol ou Camões no portugues escreveram de forma tão magistral que ajudaram a transformar “sua versão” do idioma em “regra culta”, menos mutável, e por conseguinte menos sujeita a más interpretações.

Um tio querido, recém falecido, tradutor juramentado de alemão, sempre se gabava da superioridade desse idioma para definições de engenharia – só como um exemplo. É de tal ordem, e tão bem definido, o conceito de cada coisa, que é praticamente impossível a um engenheiro “não entender” ou “desentender” algo, devido ao detalhismo do idioma alemão com coisas para as quais temos uma só tradução como “alicate”, “arruela”, “fechadura”, “biela” e coisas que, se ambíguas, tornam um carro uma carroça.

Posso ir adiante falando do tema, mas como já perdi talvez 99,99% dos meus leitores, por enfado, deixo o texto à posteridade – ou pra mim mesmo no futuro, quando eu mesmo tiver saco para ler o que escrevi. Mas ao ler, saberei de forma precisa o que quis dizer – espero.

Segunda Linha

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Ao longo da minha carreira profissional em Auditoria Independente, já fiz parte de uma firma de auditoria de Primeira Linha (Andersen) e várias firmas e alianças de “Segunda Linha” (Praxity, RSM, Russell Bedford). Indistintamente recebi críticas, de qualquer lado e sob qualquer posição, em qualquer das empresas. Uma porque “despejava um caminhão de estagiário” para fazer o trabalho de auditores, outras porque “não tinham o tamanho e não passavam ‘confiabilidade’ necessárias ao mercado”.

Ouvi isso com muito cuidado e respeito, e, como profissional, com uma doída pontada no fígado, por não expressar o que realmente existe na parte da Contabilidade que se chama Auditoria, e por que os resultados de nosso trabalho às vezes nos fazem dar com os burros n`água junto à opinião pública.

O fato mais clamoroso e mais recente diz respeito às Lojas Americanas (AMER3) e a “maior fraude contábil da história do mundo”, segundo alguns veículos de comunicação.

Mais recentemente, a Dra. Patrícia Punder, indicada como Perita para a AMER3, pelo juízo da Recuperação Judicial, declinou do trabalho pela via de uma argumentação enviesada e francamente (meu julgamento) exangue de conhecimento profissional:

Em entrevista a VEJA, ela apontou a falta de acordo financeiro e, sobretudo, a impossibilidade de trabalhar com uma das quatro maiores empresas contábeis especializadas em auditoria no mundo (Deloitte, EY, KPMG e PwC) como fatores determinantes para a decisão de abandonar o caso. Fora isso, ela também disse que temia por sua integridade física com o desenrolar das investigações contra os acionistas…

https://veja.abril.com.br/economia/o-alerta-da-advogada-que-renunciou-trabalho-como-perita-em-caso-americanas/

A advogada, que não sabemos que nível de conhecimento contábil e de auditoria, especificamente possui (não duvidamos que os tenha), informa que sem uma das quatro maiores firmas de auditoria do mundo não pode investigar os resultados do trabalho de… uma das quatro maiores firmas de auditoria do mundo.

Mais adiante continua da seguinte forma:

Segundo a advogada, a recusa das grandes empresas acende um sinal de alerta no caso. “Isso me preocupa muito, porque eu precisaria ter uma auditoria de primeira linha, pois o caso é muito complexo”, diz ela, afirmando que chegou a contatar auditorias de “segunda linha”, mas que, por questões de confiabilidade, o ideal seria trabalhar com uma das chamadas “Big Four”.

Idem

Dois aspectos fundamentais que eu gostaria de deixar registrado

Primeira ou Segunda Linha

Trata-se de uma demarcação não existente, do ponto de vista técnico, e muito menos no que tange à qualidade do que pode ser feito por uma auditoria “qualquer”, que detenha a técnica necessária. Esta técnica deriva do conhecimento das Normas Brasileiras de Contabilidade de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica (NBC TA) e das Normas Brasileiras de Contabilidade, que, no Brasil, administra (Lei 11.638/2007) o regramento contábil brasileiro, derivado dos IFRS -“International Financial Reporting Standards” (Ou Padrões Internacionais de Relatórios Financeiros).

Quando no Board da RSM, vivemos um embate, na Europa principalmente, contra cláusulas que se chamam “Big Four Only” – são cláusulas em que uma reserva de mercado é criada por agentes do mercado, a fim de que se reconheçam somente as auditorias de Big Four como sendo válidas para chancelar Demonstrações Financeiras/Contábeis.

Importante deixar claro que não há NADA, absolutamente, de minha parte, contra as Big Four – muito pelo contrário – imenso apreço técnico e amizade por vários sócios e profissionais dessas empresas, que realmente são usinas de fabricação de ferramentas de qualidade técnica. Apenas que não são as únicas, e nem sempre estão na vanguarda das inovações. Portanto, não estou aqui tratando de dividir o mercado em “eles” e “nós”. Estamos tratando da inadequada visão – do mercado – de que existe um abismo técnico intransponível entre as firmas e alianças denominadas “Mid-Tiers”, e as grandes firmas. Aliás, o “gap” de faturamento entre elas é cada vez menor em termos percentuais. Cá entre nós, dizer que uma firma de faturamento de USD 8 bilhões é “necessariamente pior” do que uma de (digamos) USD 30 bilhões é o mesmo que dizer que o carro “A” é melhor que o “B” porque a montadora “A” é 10 vezes maior do que a “B”, o que faz menos sentido, por exemplo, quando se tem um carro com um tridente em cima do capô, só pra ficar num exemplo.

Eu não ousaria chamar um advogado de “segunda linha” porque ele não pertence a um mega escritório. Aliás, a profissão de advogado, diferentemente da do auditor, não teve o nível de concentração inacreditável que temos hoje na nossa área. A razão é que os advogados não admitem determinadas práticas chamadas “comerciais” dentro de suas competências, e são zelosos delas, mundo afora. Ao contrário, talvez os maiores juristas do mundo não estejam debaixo de mega firmas, mas sob sua própria luz técnica. Nem por isso dizemos que são de segunda linha.

Caráter Personalíssimo

Um outro fato que talvez passe despercebido do respeitável público é o caráter personalíssimo dos trabalhos, tanto de advogados, como de contadores e auditores. O sócio responsável, e só ele, deveria responder por eventuais problemas e falhas técnicas, devidamente comprovadas. O caso da Andersen, no imbroglio da Enron, é um exemplo clássico dessa máxima. Nancy Temple e David Duncan, sócios da firma, foram apontados como tendo cometido o ato que levou toda uma firma centenária à bancarrota, por perda de sua reputação. A Andersen foi ainda condenada em primeira instância por destruição de provas, o que foi revertido pela Suprema Corte dos EUA anos depois, em 2005. Sob qualquer aspecto, me parece que se trata sempre da relação entre o Sócio Responsável e o Cliente.

É natural que clientes pressionem o auditor independente a ver as coisas sob o seu prisma. E cabe ao auditor independente refutar, quando aplicável, qualquer consideração que não tenha eco na técnica. Quanto a técnica é vaga ou interpretativa, existe latitude para pensar em um lado ou outro do espectro de decisão. Porém, nunca em detrimento da realidade – e, no caso Americanas, em detrimento da verdade a ser dita ao acionista e ao mercado (o próprio Arthur E. Andersen costumava falar seu “mantra” pelas esquinas da firma – “Think clearly, speak clearly” – pense com clareza, fale com clareza).

Pressões

Talvez o que norteie a independência do auditor não seja (creio que não é) o tamanho da organização da qual participa, nem, como alegou a Dra. Patrícia Punder, a existência de tecnologia ou capacidade técnica para tecer julgamento sobre as contas de uma organização do tamanho da AMER3. Com o avanço das técnicas de Big Data, Data Warehousing e Screening de dados, basicamente qualquer auditor, ou grupo de auditores, tem condições de julgar saldos contábeis, independentemente de sua magnitude, dados o TEMPO e o ACESSO adequados. Disso não tenho dúvidas. Tampouco disputo competição técnica com colegas de Big Four. Creio que empresas de auditoria devidamente qualificadas para tal, sejam elas Big Four of Mid-Tier, detenham suficiente conhecimento para liderar – se disposição e incentivo tivessem- equipe de auditoria para cliente de quase qualquer tamanho. A única limitação a ser identificada e leva em conta é a capacidade de atendimento pela quantidade de profissionais disponíveis para tal. Lidero auditorias de alguns clientes com tipos societários como Sociedade por Ações de capital aberto e fechado, sociedades de grande porte, dou as ressalvas necessárias, e não me importo, nem deveria me importar, se um cliente vai me trocar por outro auditor mais bonzinho, por conta de ressalva em parecer de auditoria (conhecido como “parecer sujo”). Faz parte do jogo. Não disputo o fato, mas como Arthur E. Andersen, por volta de 1913 disse “não há dinheiro suficiente na cidade de Chicago pra comprar minha opinião”. Esse é o espírito que deve reinar na profissão.

Particularizando, eu hoje detenho em minha carteira, CNPJs que isoladamente não representam mais do que 5% da receita da minha firma. Se colocarmos grupos econômicos na jogada, talvez uns 7%. É uma exposição alta, talvez, mas nunca a existência sobre os ombros de alguns colegas, na qual um único cliente pode corresponder a 100% da receita comandada por este profissional. Isso sim é poder de pressão de cliente sobre auditor. E isso independente do tamanho da firma. O profissional está mais exposto.

ISQM1 – Recentes Decisões sobre Controle de Qualidade em Auditorias

Não é de hoje que as auditorias lutam com a necessidade de que um responsável técnico esteja sob o olhar atento de outro. Sempre há essa preocupação, justamente pela pressão que alguns clientes exercem sobre o auditor responsável (principalmente quando em problemas!). A recente norma ISQM1, (International Standard on Quality Management 1 (Previously International Standard on Quality Control 1) – Quality Management for Firms that Perform Audits or Reviews of Financial Statements, or Other Assurance or Related Services Engagements: Padrão Internacional de Gestão da Qualidade 1 (anteriormente denominada Padrão Internacional de Controle de Qualidade 1) – Gestão da Qualidade para Firmas que executam auditorias ou revisões de Demonstrações Financeiras, ou serviços relacionados) é o resultado da evolução do processo de controle interno, pelas firmas de auditoria, sobre os resultados exarados para o público.

Implicam na existência de um Sócio Revisor (em alguns lados chamados de Cold Reviewer, ou Revisor Frio), que não participou dos trabalhos, mas detém qualificação técnica e experiência para tal. Difícil dizer se um Revisor extra conseguiria, na maioria dos casos, identificar e trazer à luz casos que se ligam a fraudes, pura e simplesmente, como os casos da Enron, já mencionados, e escândalos ainda maiores, como o da WorldCom, Vivendi, ou mesmo o caso Petrobrás, que sequer foi tratado como escândalo contábil, e que não tiveram repercussões tão duras (o caso da WorldCom sequer tem mais o verbete, sob “Escândalo”).

A Norma NBC PA 400, “Independência para Trabalhos de Auditoria e Revisão”, Seção 410, fala exatamente sobre isso – independência para trabalho de auditoria e revisão. É só ver lá que ficará claro que o regramento existe e é claro suficiente como para permitir que os auditores façam o que é correto para que seu trabalho seja perfeito, tecnicamente.

O fato é que a profissão evolui e tentar evitar que casos como este aconteçam. No entanto, a profissão, como um todo, fica sempre desprotegida em casos de fraude, pura e simples, já que não é função de auditores independentes investigar fraudes, ou dar conta de situações nas quais foram levados a cometer erros não intencionais, por conta de malversação de dados ou fundos.

Falar com Clareza

Ao escolher falar com clareza, o auditor está sujeito a pressões de seus contratantes e dos seus pares, contadores, dentro das organizações. A alternativa, de ter uma auditoria totalmente “estatal”, como alguns apregoam, é ainda pior – vide o número de escândalos que o poder público é submetido, dia a dia, e a dificuldade de apura-los.

A outra alternativa, à francesa, de ter dois auditores independentes atuando simultaneamente, parece não ter surtido muito efeito ao longo dos anos. Vide o caso Vivendi, já mencionado, no qual dois auditores não conseguiram trazer a público os fatos, e falar com clareza.

O que não podemos como profissionais contábeis aceitar são as alusões a “pequenos” e “grandes” auditores, “primeira” e “segunda” linhas, como se fosse o tamanho de uma organização que determinasse sua capacidade de falar a verdade. Entendo que não o é. Ainda, nós auditores podemos e devemos defender as prerrogativas da nossa profissão, contra a predação constante de outros, interessados sempre nos resultados que a falta de clareza ao falar possa gerar de benefícios ao seus clientes – não falar de um passivo não registrado, não falar de uma ação cujo ganho é menos que certo, não falar que tal ou tal ativo está super ou subavaliado, entre outros casos comuns.

Lidar com pressão tem que fazer parte do treinamento do sócio responsável por uma auditoria. Existência de ressalvas também pode e deve ser parte da vida de companhias – inclusive de capital aberto, a fim de que o público possa julgar até que ponto detêm informações suficientes para tomada de decisões.

À Dra. Patrícia, apenas desejo que ela segregue os fatos em seu julgamento, e não submeta sua opinião ao público sem uma reflexão mais profunda. Sobre o medo pela própria vida e dos familiares, é algo pessoal e intransferível. Desejo a ela e a todos os profissionais nesta situação, muitas bênçãos e proteção.

Capitalismo pode ser Selvagem. O noticiário, pior… muito pior.

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O fato é que de quando em quando um escândalo financeiro vem à tona. E quase sempre tem um auditor chamado de corresponsável. Não que seja, ou nem sempre, mas minha profissão é ingrata, às vezes.

Os casos recentes de IRB e Lojas Americanas trouxeram de volta à memória casos anteriores, como ENRON, Vivendi, ou mais recentemente os escândalos envolvendo “pirâmides” como a do Madoff. Em todos eles, uma união entre interesses dos diretores, ou “C-Levels” como o Condado da Faria Lima os chama, e seus supostos guardiões: auditores, conselheiros de administração, conselheiros fiscais e auditores independentes.

Fico à vontade (na verdade, à vontade dentro da maior saia justa) para falar do assunto, pois tanto me sento em conselhos de administração, fiscais, como sou auditor independente em uma série de empresas. Convivo com a necessidade de emitir uma opinião sobre demonstrações financeiras, em empresas que muitas vezes tem problemas de avaliação de patrimônio e preciso dar uma “ressalva” (o termo técnico para dizer que algo não está como devia ser, no Balanço de uma empresa).

Convivo também, como conselheiro, com a necessidade de ser rigoroso e ao mesmo tempo simpático com as necessidades e dificuldades das empresas às quais sirvo. E só sirvo se for rigoroso. Se não o for, terei sido só um “cone” no ataque da seleção, como chamavam o pobre Fred, indevidamente… E cone não sou. Por isso é fácil comprar encrenca pra cima da minha carcaça. A depender do interesse de quem você audita, ou aconselha, a vida pode ser mais ou menos formosa.

Por isso, situações como as das Lojas Americanas me falam ao coração e me transmitem uma certa simpatia pelos seus auditores, lançados na fogueira da imprensa, inclusive por “crimes” que nem tipificados como tal o são, como o suposto crime de “fraude contábil”. Só falta chamar de terrorismo, como parece ser moda. Não quero, obviamente, compactuar com erros de quem quer que seja, colega ou não. Quero apenas dar às coisas as dimensões que têm, se e quando tiverem. A imprensa só tem certezas. A imprensa já fez sua análise contábil, já colocou seus experts em Normas e Procedimentos de Auditoria pra estudar o caso (com que dados, não sabemos) e já crucificaram tanto o auditor independente quanto os administradores.

Já nós, a classe contábil, só temos dúvidas. Eu, por enquanto, sou um poço de dúvidas. A menos que tenha havido, de fato uma enorme fraude, com “Fê” maiúsculo, não consigo (por enquanto) enxergar R$ 20 bilhões como faltando no balanço da empresa. Consigo, talvez, enxergar um valor de juros advindos de quebra de Covenants (que são os requisitos mínimos que os bancos exigem para que um empréstimo tenha uma determinada taxa de juros). Nada, por enquanto, me leva a crer que alguém tenha contabilizado juros “ao contrário” nas Demonstrações de Resultado. Me pareceria ignóbil demais, difícil de explicar e claramente impossível de esconder do auditor – exceto por conivência. Não acredito. Prefiro não acreditar, claro.

O que me “dana” a alma nesse caso todo é como tudo foi feito, e como tudo poderia ter sido conduzido totalmente diferente, e não foi. Não culpo ninguém, obviamente, mas um troço desse tamanho, hoje já chamado de “maior escândalo do país” e maior mesmo do que a nojenta ENRON, poderia ter sido objeto de maior reflexão, e contato entre as partes interessadas. Algumas vezes vi “Concordatas Brancas”, como se falava antigamente, em que uma empresa se via num problema e chamava as partes interessadas mais “agredidas” ou com maior potencial de perda no processo e discutia-se uma solução que não passasse por uma tremenda lavação de roupa suja nas páginas dos jornais. Aqui parece que o objetivo foi justamente o contrário: de jogar tudo no ventilador, da forma mais virulenta possível, e esperar a pior resposta possível da sociedade.

Temos que lembrar, ainda, que existe a possibilidade de que o procedimento ora denominado de “fraudulento” ou “criminoso” pela imprensa e por algumas vozes influentes, seja algo de uso muito mais comum, o que poderia levar o mercado, e a CVM, seu regulador, a um de dois caminhos: a)todo mundo de mão na parede, e revista corporal e algemas ou; b)se é “de mercado”, obviamente temos que criar uma forma de contenção, a fim de que não tenhamos na mão uma crise sistêmica com condão de matar todo um segmento, deixando o povo sem roupa barata, eletrodomésticos em 12 X sem juros, e por aí vai. Sem esquecer do impacto em toda a cadeia de fornecedores.

É um juízo de valor que não quero fazer. Mais do que essa situação toda, o “timing” me parece tremendamente (in)feliz – logo depois da troca de governo, e com o advogado do presi…dente como defensor. Tudo isso dá margem a um filme pra Hitchcock nenhum botar defeito.

Francamente espero que a técnica tenha sido aplicada, e que tudo acabe sendo um problema menor, para bem do mercado, das empresas e do seu auditor independente. Não creio que será, mas desejar não custa.

Desejo, porém, ardentemente, que as redações acabem com o amadorismo da peste que as ronda, e cerquem-se de gente que checa dados, e não detenha uma agenda abertamente anticapitalista, de “ser por ser” e que se dane a sobrevivência do outro.