A tal da liberdade

woman spreading her arms
Photo by Fuu J on Unsplash

Os indivíduos escolhem a quem desejam dar ouvidos. E essa escolha, normalmente, se baseia em crenças e consequentes previsões. Assim, por mais certos que estejamos, muitas vezes, não iremos demover uma pessoa de seguir num determinado sentido apenas por nossa capacidade argumentativa ou em função das evidências que temos em mãos. Numa grande parcela da vezes, os indivíduos terão que trilhar o caminho da dor e da perda para que possam perceber que os alertas eram sérios e, as consequências previstas, reais.

Penso em relação à essa perspetiva que temos a função de alertar, transmitir a profecia, demonstrar o diagnóstico, levar as boas novas, mas a escolha quanto a aceitar ou não a mensagem cabe a cada cidadão. Todavia, algo importante deve ser dito. Se o indivíduo é alertado, orientado e mesmo assim opta por seguir suas crenças e isso redunde em dano para outros, este deve ser responsabilizado. Pois tinha diante de si a informação necessária, mas fez a escolha de negligencia-la, tendo como decorrência o prejuízo da comunidade. Este precisa pagar o preço de sua escolha.

É preciso compreender que a liberdade é contextual e traz consequências. A liberdade que não considera a responsabilidade, não pode ser considerada como tal. Na verdade, essa liberdade em que o sujeito só quer seus direitos respeitados, mas não assume seus deveres e responsabilidades, não é liberdade, é tirania.

Contrário Senso

Uma breve declaração de princípios
H.L. Mencken, escritor e crítico social – www.google.com

Uma música que gosto muito, de uma das minhas bandas favoritas dos anos 60 e 70, Crosby, Stills, Nash & Young, tem uma letra melodramática mais ou menos assim:

“This old house of ours is built on dreams
And a businessman don’t know what that means.
There’s a garden outside she works in every day
And tomorrow morning a man from the bank’s
Gonna come and take it all away.”

(“Essa nossa velha casa é cheia de sonhos
E o homem de negócios não sabe o que isso significa.
Tem um jardim lá fora onde ela trabalha todo o dia
E amanhã cedo um homem do banco vai
Vir e levar tudo embora”.)

A música fala de uma situação comum nos EUA, principalmente nos tempos de crise, como foi a de 2008 (Sub-prime) – “foreclosure” ou retomada por falta de pagamento. Cercada por uma melodia lindíssima, cantada por caras descolados, meio hippies, povo do “paz e amor”, a letra arrepia os corações mais ternos, e leva a pessoa a odiar “o homem do banco” e o “homem de negócios”.

No filme Dr. Jhivago (Jivago?), o protagonista, Omar Sharif, numa noite gelada de Moscou, sai na rua quebrando pedaços de cercas de madeira pra queimar na lareira, em casa, pra evitar que a família morra de frio. O meio-irmão de Yuri Jhivago , um general do exército bolchevique, chega por trás dele e o surpreende no ato do “roubo”. Yuri argumenta que é um pai de família cuidando da sobrevivência dos seus. O general, numa linha maravilhosa do autor, Boris Pasternak, o autor, diz “um russo buscando lenha pra aquecer a família… uma visão enternecedora… um milhão de russos buscando lenha pra aquecer suas famílias nas cercas de Moscou, uma visão aterradora“…

Tudo isso aí pra dizer que invariavelmente a realidade é mais complexa do que os olhos vêem, e mais complexa do que algumas mentes, mesmo muito inteligentes, conseguem fazer sentido. Se as melhores mentes têm essa dificuldade, imaginem nós, mortais.

Vivemos num desses momentos, em que a realidade não é apenas complexa, mas está sendo tornada mais complexa do que o necessário, por um turvar de águas impressionante e deliberado. Tanto do lado do governo federal quanto dos outros dois poderes, mas principalmente da imprensa, o interesse na clareza sumiu, dando lugar ao que foi dito na célebre frase “a primeira vítima de uma guerra é a verdade”, atribuída ao senador americano Hiram Johnson.

Tanto Jhivago como Neil Young tinham posturas e visões que contemplavam seu mundo imediato, e faziam todo sentido para eles. Como na contradição estabelecida entre a física nuclear e a quântica, o que funciona muito bem no micro, parece nem sempre funcionar no macro.

E não é só no Brasil. Parece ter-se tornado um fenômeno mundial. Começando com o turvar de águas provocado pela China, ao restringir o acesso a informações sobre a COVID-19 por mais de 1 mês, cooptando inclusive a OMS no baile, até o momento atual, onde forças antagônica se batem pela primazia das informações, estamos perdidos num mar de “fatos” contraditórios. Pessoas inteligentes brigam entre si, alegando que o outro lado despreza “a ciência”. Ninguém mais sabe o que é ciência. A ciência de Fevereiro estava sumarizada, sem direito a contestação, a um “paper” do Imperial College, de Londres, dando conta do um número astronômico de casos de COVID-19 que transformaria a Peste Negra numa “gripezinha”. Mais recentemente, um teste, aparentemente revestido de “rigor científico” informa que a Hidroxicloroquina “Não funciona”… é a “ciência” do momento, e contra ela, se falarmos seremos queimados na fogueira da nova inquisição.

De outro lado, a fé extrema na Hidroxicloroquina faz coro com outra “ciência”, esta baseada da observação de alguns casos de cura aqui e acolá, também sem dar tempo para que houvesse “peer review” (revisão pelos pares) ou confirmação. Ciência é algo de longuíssimo prazo, uma coisa que se aprende a duvidar, mesmo quando um sábio como Isaac Newton propõe algo. Abaixar a cabeça à “ciência” não é algo que se deva fazer, senão relutantemente.

Mas e a complexidade? Continuamos a tratar assuntos complexos com abordagens simples. Afinal, devemos ou não nos trancar em casa? Devemos ou não dar importância capital aos efeitos econômicos da pandemia?

Quem até o momento chegou mais próximo de uma postura cientificista, pelo menos, foi o ex-ministro Teich, numa entrevista à Globonews, em que deu uma série de esculachos em “desinformadores” (quem pode duvidar que, naquele momento, e com aquela postura, não o eram?). Teich, pressionado para se declarar por “isolamento vertical” ou “horizontal, foi claro e simples – sou a favor de tratar cada caso com a devida dose de racionalidade, variando a solução de acordo com o problema específico apresentado. Nada de açodamento, nada de pular em cima das conclusões do Imperial College, da pesquisa do NEJoM, nada. Apenas ir acumulando os dados e ir comparando com os fatos diante de nós. Nem Bolsonaro nem Dória – bom senso aplicado a cada caso.

Afinal, “para problemas complexos existe sempre uma solução clara, simples, e invariavelmente, errada”, como disse H.L. Mencken…

Ben, Lullaby e outros assuntos

Michael Jackson - Ben Capa (13 de 15) | Last.fm
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Eu me lembro bem, no final dos anos 70, de dois fatos que até hoje me fazem dar risada… Um, era “Cris e Simone” (A maravilhosa Regina Duarte e o meio-canastrão Francisco Cuoco), da novela Selva de Pedra, da Globo, e sua “música tema”, Rock`n`Roll Lullaby”, cantada por B.J. Thomas. Fantástica canção, que até hoje me traz uma lembrança nostálgica. Só que errada… A música foi usada como tema romântico entre os dois personagens, que dão piruetas narrativas, se separam e voltam a se encontrar no final, sob o som da tal “Lullaby”. Ocorre que a canção não tem nada, absolutamente, de romântica. Depois de mais velho, ouvindo a música já em inglês, com “ouvidos de ouvir”, ficou claro que é uma música de um guri, cuja mãe, de 16 anos, o teve na condição de “mama-child”, e ela canta o tal Lullaby (Canção de Ninar), para o filho dizendo que “tudo vai ficar bem”… Patacoada da Globo, ou confiança na incapacidade do público de perceber.

O outro fato se trata de outra música, Ben, de Michael Jackson, foi usada na novela Uma Rosa com Amor, numa trama que nem me lembro bem, mas que envolvia um relacionamento romântico vivido pela fantástica Marília Pera. Ocorre que, de novo, Ben é uma música sobre um cachorro, amiguinho do então adolescente Michael… hehe… De novo, informação parcial…

E é isso aí. Informação parcial nos leva a lindas conclusões, que “falam ao nosso coração”, e nos transmitem certo conforto… e estão erradas, na maior parte das vezes.

Estamos vivendo hoje sob a égide de conclusões parciais. Os dois (claros) lados do espectro político brasileiro estão sendo levados a tomar partido com base em informações parciais. Paradoxalmente, isso vale mais para as classes mais informadas do que para as menos cultas/ligadas. Ora, por que? Normalmente o mais culto vai mais fundo, apura mais, raciocina mais, para concluir. Então por que estamos, nós que nos julgamos “melhorezinhos” do que o vulgo ignaro (Deus nos perdoe), tão ou mais mal informados do que o resto?

O que eu acho que são as possíveis causas:

  • Precipitação – Estamos, todos, “jumping to conclusions” alegremente… Eu mesmo já me peguei uma série de vezes “concluindo com absoluta convicção” coisas que depois tive que ter a humildade de reconhecer erradas, total ou parcialmente.
  • Academicismo Inconclusivo, ou “Ciência” inconclusiva – Estamos nos valendo de pesquisas que estão sendo feitas de forma precipitada, por uma academia doida pra dar “respostas” à sociedade, sem os devidos grupos de controle, sem os devidos cuidados de amostragem, etc.
  • Incapacidade de olhar a opinião do outro lado -É realmente muito difícil, e eu confesso às vezes impossível, ouvir o outro lado. Só quero ouvir (falo por mim) o que “bate” com minha forma de pensar, e isso me leva à necessidade de uma luta diária para olhar os argumentos contrários antes de concluir. Ouvir Haddad falar sobre COVID-19 é duríssimo, mas necessário.
  • Manipulação pura e simples – Talvez o mais grave seja que existe uma necessidade das fontes de informação em,propositadamente, vender um peixe. A imprensa, de um e outro lado, tende a vender o seu peixe, e não noticiar. Não vemos mais imparcialidade. No sábado próximo das 13h, voltando de uma reunião (Curitiba pode…) coloquei a BandNews pra tocar e ouvi, aterrorizado, Kennedy Alencar falar uma bobagem do tamanho da emissora: “Chavez e Maduro armaram a população, e veja no que isso deu”. Fiquei perplexo porque todo mundo sabe que Chavez e Maduro desarmaram a população da Venezuela, e depois armaram os chamados “coletivos” (originada da palavra Soviete), que são os “Camisas Pardas” do regime bolivariano. Kennedy não queria informar. Ele queria somente dizer que as palavras de Bolsonaro na tal reunião ministerial, de que a população armada não é vítima de um governo opressor, faziam eco com a questão da Venezuela, confirmando o objetivo (inconfesso) de qualquer ditadura – “desarmo você para o seu próprio bem”. A resposta a isso é a segunda emenda à Constituição americana. E pra não dizer que estou sendo parcial a favor de Bolsonaro, um fato que também é claramente distorcido pela mídia mais à destra, é a colocação de que Bolsonaro não freou o combate à corrupção. Ele freou sim, ou pelo menos não fomentou, como seria coerente com seu discurso de campanha. Quais as razões? Queiróz, etc? Não creio. Acho que Bolsonaro estava sim, refém de um ministro altamente popular e que em alguma medida nunca acreditamos que entraria para a política, mas acabo de ver, pelo teor do Fantástico de ontem, 24 de Maio, que parece sim inclinado a pelo menos influenciar o mundo político, senão ser candidato ele mesmo.

A soma de todos os fatos acima nos leva a uma conclusão – estamos ferrados na mão dos “formadores de opinião” atuais, que não querem NADA além de turvar as águas, não reconhecendo coisas óbvias, de um lado, dando ênfase a coisas secundárias, de outro, mas sob qualquer aspecto, mantenho o cidadão instruído à mercê de um mar de informações contraditórias, muitas delas simplesmente falsas (como esquecer o famoso relatório do Imperial College, de Londres, sobre a COVID-19?).

Vamos anotando todas as coisas no nosso coração e as conferindo, como fez Maria, mãe de Jesus, sobre a divindade do próprio filho… colete dados… conclua depois…

Breves Momentos

person holding white ceramic cup with hot coffee
Photo by Clay Banks on Unsplash

Hoje sei que a vida é a composição de breves momentos, circunstâncias tão singelas e efêmeras que, por vezes, escapam por entre nossos dedos, instantes tão delicados e sutis que é preciso muita habilidade para não perdê-los ou arruiná-los.

Final de tarde, cheiro de café, os sons da casa, a conversa pacata, o coração pacífico, o sorriso do filho, o beijo gostoso na pessoa amada, os gestos generosos, as cores do cactos, o vento suave, as colorações do horizonte. Tudo acontecendo ao mesmo tempo em uma torrente de estímulos e se fazendo sentido, e se fazendo aquilo que chamamos vida. E a vida acontece, se mostra, encanta nos recantos de nossas cozinhas, nos encontros com amigos, no labor do escritório, na varredura do quintal, no sossego da rede.

Por vezes, esperamos demais para começar a viver. Deixamos sempre para depois as conversas importantes, os afetos necessários; demoramos demais para notar que os nossos filhos estão ainda em nossas casas e, quando nos damos conta, eles já partiram; esperamos muito para dizer às pessoas o quanto elas são importantes e, quando abrimos nossos lábios, os lugares estão vazios. Por esperarmos tanto para começar a viver, deixamos vazar pelos cantos do tempo a existência que é tão valiosa.

Por vezes, esperamos demais pelas ocasiões espetaculares, pela presença das celebridades, pelas datas especiais, sempre, na esperança de que elas terão o poder de trazer sentido para nossas histórias ou mudar o rumo de nossa caminhada. Planejamos férias perfeitas, festas únicas, viagens a lugares distantes, mas nos esquecemos que quem irá desfrutar desses momentos é o mesmo eu que não consegue encontrar vida em seus próprios dias. Devíamos nos lembrar do que cantou John Lennon: “a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”.

Talvez, até agora estejamos tentando alcançar a mítica cidade citada por James Hilton em sua novela Horizontes Perdidos, e assim, o nosso Shangri-La seja sempre o sonho de outros, uma terra de estranhos, um lugar distante. Mas agora seria uma boa ocasião para nos questionarmos: Que momento mais precioso pode acontecer do que aquele no qual estamos com pessoas a quem amamos? Que momento mais precioso pode acontecer do que aquele em que temos nos braços o abraço de um filho? Que momento mais precioso pode acontecer do que aquele no qual estamos na intimidade de nossos quartos conversando com o próprio Deus?

Que tenhamos nossas mentes abertas e corações receptivos para compreender que grandes ocasiões, momentos inesquecíveis são aqueles que dão significado à existência, que dão sabor à vida. E, estes, se fazem de uma coleção de pequenas alegrias, de vizinhos e amigos, de filhos e família, de finais de tarde sonolentos sentindo o cheiro gostoso do café.

E aí?

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Photo by Jon Tyson on Unsplash

Às vezes, é um susto. Sim, perceber que a vida não aconteceu da maneira que prevíamos, que as fórmulas não funcionaram e que isso aconteceu sem que notássemos. De repente, você acorda e o tempo passou; pode ver isso no espelho, as marcas estão lá; pode perceber que o corpo não acompanha mais os pensamentos, as dores são sentidas com mais frequência e a história está um pouco maior que antes.

Junto ao susto desta constatação, começamos a pensar que não dá mais tempo, que perdemos o trem da história e o que sobrou foram apenas restos. E lá vem um sentimento confuso, acompanhado de perguntas que não fazíamos e inseguranças que não tem nome. Olhamos ao redor e vemos a energia e projetos alheios cheios de exclamação e caminhos de sucesso. Porém em nossa trilha difícil, a dúvida cresce, os passos pesam um pouco mais, o número de remédios aumenta na caixinha, agora estes tem nomes mais complexos, e olhamos os vitoriosos um pouco mais distantes à frente, ou assim imaginamos.

É, esses momentos acontecem, pensamentos confusos, sentimentos negativos e ações disfuncionais. Encontrei-os e sei bem a fisionomia amedrontadora que usam. Mas foi nesta trilha inóspita que parei para considerar algumas coisas.

Comecei a perceber que sucesso é algo que deve ser customizado. Sim, sucesso antes de tudo precisa ser realização de algo que faça sentido pra mim. Parar de tentar o sucesso dos outros, entender que não existe uma vida que se assemelhe a outra e que importante é aquilo a que damos importância.

Percebi que tempo é continuidade. Hoje, ontem, amanhã é didática pra explicar o que não tem explicação. Viver é mais do que existir e entender que o que importa é o hoje. É o hoje que traz sempre novas oportunidades pra começar. Hoje é o novo, hoje é o que existe, hoje é nossa casa, hoje é o tempo oportuno.

Entendi que sim, que a vida continua, que ainda é possível ser feliz e é possível mudar. Compreender que não precisamos fazer acordos com o fracasso, com o descaso, com o desrespeito, com a velha trilha que nos conduz às mesmas culpas e antigas tristezas. É libertador enxergar um novo caminho e saber que, se ali está, pode ser trilhado. Podemos mudar, podemos recomeçar, podemos escolher o final, mesmo que não tenhamos tido a oportunidade de escolher o início. Como bem disse Sartre: “ Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”

A Amizade

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Photo by Helena Lopes on Unsplash

“A melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades”.
(Abraham Lincoln)

A amizade é, inevitavelmente, refúgio. Um amigo é aquele que sempre nos acolhe quando todas as portas foram fechadas, é aquele que nos recebe quando todos os dedos estão apontados. Quando todos se foram é ele quem permanece e nos conduz pelo caminho da tolerância e da aceitação.

A amizade é, indubitavelmente, companhia. Ela sobrevive aos fracassos e sucessos pessoais. Amigo é aquele que consegue se alegrar quando alcançamos o triunfo e é capaz de vir ao nosso encontro quando sofremos a adversidade. Ele sorri com as nossas alegrias e chora as nossas tristezas. O escritor, poeta e filósofo suíço Henri Frédéric Amiel (1821-1881) afirmou apropriadamente sobre sua postura frente a realidade ora vivida pelos seus amigos: “Quando o meu amigo está infeliz, vou ao seu encontro; quando está feliz, espero por ele”, dessa maneira, ele nos ensina que a amizade se mostra como respeito pelo tempo do outro; ela nunca é invasão, mas sempre se prontifica a auxiliar.

A amizade é, inquestionavelmente, transparência. O amigo nos vê como realmente somos e continua ao nosso lado. Mas também, ele se dispõe a ser ele mesmo sem máscaras ou fingimentos. Normalmente, suas palavras são bálsamo sobre nossas feridas abertas ou martelo que esmiúça pedras quando nos encontramos alienados em nossas ilusões e deslumbramentos. Um amigo nunca se isenta de nos dizer a verdade e de nos alertar sobre o perigo, mesmo que isso possa nos incomodar. Diante de um amigo os silêncios nunca são constrangedores, podemos não ter o que dizer quando estamos próximos a ele e, mesmo assim, estar ao seu lado nos diz tudo.

A amizade, por tudo isso e muito mais, é um bem raro, uma preciosidade. Aqueles que não têm amigos sofrem os seus desertos de maneira mais intensa e não podem compartilhar adequadamente as suas alegrias.

Vale notar, ainda, que há uma amizade incomparavelmente melhor, a mais profunda e significativa que o homem pode experimentar em sua existência. Há um Amigo que se mostra mais amigo que qualquer outro, Alguém que nos conhece melhor do que ninguém, que está disposto a nos acompanhar em quaisquer ocasiões de nossa vida e que está sempre pronto a nos servir de refúgio. Deus é esse grande amigo que simplesmente espera que O reconheçamos e nos disponibilizemos para Ele. Ele espera pacientemente que você invista nesse relacionamento.

Limites Constitucionais

Constituição Federal: muito falada, pouco conhecida

Li outro dia um post de um advogado, que me parece bem interessante. Não concordo com tudo o que está ali, mas no que tange a alguns aspectos constitucionais, sou forçado a concordar.

Direito de Ir e Vir

A Constituição preconiza a “liberdade de ir e vir” (artigo 5º, XV, da CF). Já o artigo 5º, II, da mesma Constituição diz que existem as “obrigações de fazer ou deixar de fazer determinado comportamento “somente em virtude da Lei”. Grandes conquistas. Como não sou advogado, mas contador e perito em causas judiciais aqui e ali, tenho que ir buscar conselho em quem entende (neste caso https://www.conjur.com.br/2020-abr-12/ricardo-marques-covid-19-nao-direitos#sdfootnote1sym).

O autor deste artigo é enfático em dizer que:

Chamou a minha atenção o fato de o presidente da República Jair Messias Bolsonaro, nessa sexta-feira da paixão, passear pelas ruas da capital federal, sendo massivamente criticado pela imprensa, que o classificou como delinquente social e irresponsável[2], diante das regras de governadores de estados que limitam a liberdade das pessoas e a atividade econômica. Mas, apesar da crítica ferrenha, outro fato despertou a minha atenção a frase do presidente: “Ninguém vai cercear meu direito de ir e vir”.“sua frase e, mais do que ela, seu direito, sob o ponto de vista jurídico’… ‘se ampara na tradição jurídica secular, da Carta Magna de João Sem Terra, às Revoluções Francesa e Americana.”

E aí? Que direito têm então, sem quebrar a Constituição, governadores e prefeitos de mandar fechar uma loja, prender o dono, mandar todo mundo ficar em casa sem exceção?

Ah, mas a Lei da Quarentena não prevê isso? Não. Prevê o isolamento somente de quem estiver contagiado (pessoas, bagagens, cargas, etc). “Ah…” – dirá você – “mas como é que vamos saber quem está contagiado ou não?”. Você pode argumentar que deveria haver medida mais dura na Lei. Existe, mas obviamente os políticos e o STF jamais daria essa moleza ao Bolsonaro – afinal, Estado de Sítio e Estado de Calamidade Pública, com o aumento de poderes presidenciais e dos militares, o que não interessa a ninguém do establishment político-jurídico (e aqui, sem crítica a esses poderes, e também sem preferência pelo executivo).

De quem são os espaços públicos?

A questão mais direta aqui lida com a “praia”. Esta é federal, faixa de marinha, sendo impossível, inclusive, construir nela sem expressa autorização. No Brasil, ao contrário de muitos países, não existe “praia particular”, exceto se por alguma “sorte” do dono do local, um acidente geográfico impeça a entrada normal de pessoas – mesmo assim tem que haver uma “servidão” (passagem).

Como é que se arvoram em prender gente na praia os governadores de alguns estados?

Qual é a questão

Não se trata de ser contra o isolamento, ou ser contra o lockdown. Nada disso. Trata-se apenas e tão somente de saber que limites existem. A questão fundamental é que evitar lockdown é apenas uma forma de manter a constituição, enquanto esta não for mudada. Infelizmente estamos fazendo, todos, parte de um grande experimento social, que pode até não “visar” eliminar liberdades, mas certamente dão a pista de como a sociedade vai responder em caso de uma ameaça real às liberdades individuais.

A Suécia disse algo mais ou menos parecido, para justificar o fato de que não iria colocar todo mundo trancado em casa, preferindo apelar para o bom senso da população, o que funcionou, em boa medida. E mesmo que tiver funcionado em escala menor do que em outros países, pelo menos não serviu pra criar uma determinada ruptura constitucional. Bom, cada país com suas leis, e em alguns casos, como nos EUA, é possível, por haver uma constituição mais enxuta e mais poder ao executivo.

Em suma, acima apenas dois problemas para os quais a mídia não deu nenhuma atenção, e que, gostemos ou não, tornam a posição do executivo mais entendível. Ao delegar aos estados, de forma monocrática, a responsabilidade pelas medidas de combate ao COVID-19, o STF criou ainda mais complicação jurídica numa seara já nebulosa. Ao tomarem as medidas que estão tomando, os governadores e prefeitos estão sendo frontalmente contrários à constituição. Se as medidas são boas e apropriadas ou não, não vem ao caso aqui (até acho que em boa medida o são).

Um STF minimamente alinhado com a Constituição teria dado indicações mais claras e ajudado a resolver um problema de segurança jurídica. Bolsonaro estará certo se sair pela tangente dizendo que “a responsabilidade foi assumida pelos governadores”…

Gratidão

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Photo by Simon Maage on Unsplash

Ser grato é uma atitude que evidencia inteligência. A gratidão envolve a capacidade de perceber o benefício recebido, coisa de gente que tem a habilidade e capacidade de compreender a sua própria realidade e a melhora da condição que foi proporcionada pela ação do outro. Assim, a gratidão só pode ser exercida por aquele que pensa.

Além disso, ser grato é mais funcional, pois reforça o bem que foi feito a nosso favor. Entenda, uma pessoa que teve a sua atitude valorizada e reconhecida, se sentirá cada vez mais predisposto a fazer o bem pra aquele que o reconhece e valoriza. Desta forma, a gratidão se mostra como uma resposta que faz a manutenção de algo desejável.

Mostrar-se grato também ensina. Quando somos expostos às situações e manifestamos gratidão, possibilitamos um exemplo que poderá servir para o aprendizado do outro. E quando assim o fazemos, plantamos uma melhora no mundo, mostramos ao próximo que ele pode mudar.

Por essas e outras, prefiro ser uma pessoa agradecida a ser um arrogante ingrato.

Em tempo, pense sobre algum benefício recebido que esqueceu de agradecer. Vá ao encontro desta pessoa e mostre a ela sua gratidão.