Esses dias de COVID-19 servem para muitas coisas. Afinal, estar em casa, trabalhando na frente do computador 10, 12 horas seguidas, próximo da família, longe dos colegas de trabalho, me deu tempo de notar umas coisas que me passariam despercebidas.
Fomos ensinados ao longo de toda a vida a olhar as pessoas nos olhos. Não “fitar” longamente, pois isso pode deixar o outro desconfortável, mas mover os olhos entre testa e boca, num movimento contínuo de familiaridade; sorrir ou menear a cabeça, tudo isso deixa o outro mais à vontade e transmite uma linguagem corporal de atenção e convalidação do outro.
Pois bem, hoje, na era dos dois, três monitores, olhar nos olhos, esses olhos virtuais, meio espectrais que nos enxergam do outro lado de uma linha de dados de alta velocidade, ou nem tanto, se tornou um exercício mais para o pescoço do que para os olhos. Estou lutando para aprender a manter um mínimo de etiqueta nessas reuniões virtuais que tenho tido às pencas.
Olho o outro nos olhos, ele vê meu pescoço; ele olha meus olhos, eu vejo a traseira do seu computador, cheia de fios, clipes, post-its e até um esquecido cotonete usado. Não está sendo fácil entender o outro pela linguagem “não falada” do dia a dia. Ou olho os olhos, ou olho a orelha. Falar nisso, tem gente com orelha feia, sabia? A minha por exemplo, pude ver que não é grande coisa. Tem até uns pelos nela que preciso arrancar. Ainda bem que tenho tempo…
Há um caráter nisso tudo que vai acabar por mudar nossa forma de olhar o outro. Sim? Não? Eu temo voltar para o escritório e começar a olhar os brincos, as orelhas, a gola, o alto da cabeça de pessoas. E será interessante perceber que o outro não vai ligar muito. Afinal, depois de tanto tempo olhando erraticamente, é possível que ele esteja acostumado a fazer o mesmo.
No meu caso, em particular, acho que vai acontecer algo muito diferente: vou olhar fixamente para a pessoa… já que antes eu é que estava sempre de lado, ouvindo a pessoa falar, retendo metade, enquanto olho o “Zap”, enquanto vejo um e-mail. E o outro lá… olhando minha orelha…
No fundo pode ser um aspecto bom desse confinamento!
Outro dia um colega de profissão disse uma pérola – “podemos interpretar isto assim, ou diametralmente oposto para isso, com fundamentos para ambas as coisas”… Eu tenho que discordar, se é que eu, tendo por profissão contabilidade e auditoria. Não posso admitir nada remotamente parecido com isso. Mas o fato é que, do ponto de vista da argumentação é isso que temos visto dia sim, outro também na mídia.
A mais recente face desse mal, que podemos chamar de Síndrome de Imprecisão, está fazendo residência permanente onde menos devia – a imprensa. Claro, é possível ter opinião e ser jornalista, mas não “o jornalista” do fato específico. O Editorialista, o dono do veículo, até pode ser, mas o cara que foi enviado para ser objetivo, repórter, não deveria ter viés de nenhuma natureza. Mas tem tido. Desde 1988 temos visto o fenômeno, para um lado, para outro lado do espectro político, e (talvez menos perceptível mas igualmente danoso) para o lado dos interesses do próprio veículo de comunicação.
O editorial do link acima é um desses casos. Ora, o que é que o Estadão poderia querer do Ministro Guedes? Que entrasse na “pilha” do mercado e viesse a público dizer que “é isso mesmo, o mundo tá mesmo acabando… salve-se quem puder”? O que é o ministro geraria com isso? Mais caos e confusão num dia particularmente cheio de especulador tentando extrair o máximo da situação, sem se importar com a verdade, sob qualquer ângulo.
Eu tenho alguma dificuldade em entender por que a imprensa não criticou quando Lula, no auge da crise (essa verdadeira) de 2008 foi pra TV dizer “… aí eu falei pro Bush… ô Bush, vê se segura essa onda aí, porque no Brasil vai acontecer só uma marolinha”… De fato, comendo o capital acumulado nas vacas gordas, sem crise de subprime ou qualquer outra coisa parecida, avançamos como se não houvesse amanhã, vimos o governo de então “fazer o diabo” para se manter lá no pináculo, e nos levou a uma crise muitas vezes pior do que a própria crise de 2008, em 2014 em diante… À exceção dos “suspeitos de hábito” (como em Casablanca), não houve quem pudesse ter uma voz dissonante forte o suficiente pra mandar Lula calar a boca – “por que no te callas!”.
Ontem o mundo acabou… hoje o mundo está ressurgindo, com a bolsa subindo forte. Claro. O mundo, quando acabar de vez, será tomado de tal surpresa que nem jornal vai dar tempo de editar – “como o relâmpago que sai do oriente e se mostra no ocidente”. Mas ontem, pelo menos, só acabou pra quem acredita em bobagem.
Aliás, falo isso porque já fui vítima do mesmo mal. Às vésperas das eleições de 2001, que acabaram por eleger o ora condenado Lula, com o dólar indo a R$ 4,00, insisti com antigo presidente da empresa que eu então era CEO, para comprar dólar… Que imbecilidade. Acontece, e acontece sempre no meio do “Hipi-hurra”… quando a capacidade de se manter sereno vai pela janela.
Ontem o mundo não acabou. Creio que vai acabar um dia, e como cristão torço para que seja logo. Mas enquanto não acabar, é melhor analisar os fatos com imparcialidade, e contar com uma imprensa que possa minimamente fazê-lo.
Foi dia de pânico, exceto em Brasília? Deveríamos agradecer por isso. Afinal, bom senso e cabeça fria não estão sendo muito comuns, nem no governo, muito menos no STF, Congresso, imprensa, e por aí (não) vai…
Um do canal Rural Business e me inspirou a escrever sobre o fato de que, sinceramente, não sei mais dizer, dentro do noticiário econômico, quem fala a verdade e quem apenas quer atingir um objetivo específico. Já não é mais possível saber com imparcialidade o que esperar da economia. Não é possível saber sequer se coisas do passado tem uma determinada interpretação ou seu oposto.
O vídeo trata da suposta manipulação que está havendo em torno do coronavírus, em como isso está sendo usado para gerar um pânico na população e baixar o preço de commodities, o que é de interesse especial da China, que deseja baixar sua inflação, que começa a sair do controle.
Falando em impossibilidade de saber a verdade, o caso do coronavírus é mesmo emblemático. Cada um dá sua visão, mas, mais do que qualquer outra coisa, tenta influenciar o máximo de pessoas possível para agirem de acordo com seus interesses específicos. A agenda oculta no bolso do colete está cada vez mais ativa, e já não se fica mais com a cara vermelha, ao expressar opiniões “abalizadas”, “de expert” em frente a câmeras que contrariam o bom senso ou a observação prudente.
A falta de curadoria na imprensa aprofunda sua crise e nos joga num lodaçal de opiniões carregadas de “significado”. Não sei se se dão conta, mas a quantidade de “experts” que vêm ao vivo dar sua opinião é cada dia maior. Âncora nenhum, de jornal nenhum, praticamente, fala algo que foi analisado pela redação e crivado pelo editor responsável. Tudo é jogado nas costas desses experts, que falam com sotaque carregado, do lado a que defendem, ou dos interesses das empresas para as quais trabalham.
É mais fácil se esconder por trás de um “expert” do que de fato submeter o fato ao escrutínio de alguém que cheque a validade do argumento e conclua algo. A tal curadoria… Pois bem, além de estarem escondidas atrás desses “especialistas”, as redações têm feito pior – têm buscado os “especialistas” que lhes interessa, e dado a esses a tarefa de papagaiar o que desejam atingir como objetivo tático. Uma guerra da informação está em curso, e os “especialistas” são agora a arma favorita no arsenal de fake news a que somos submetidos diariamente.
Acabei de cancelar minha assinatura do Estadão, de tantos anos. Não dá mais. Francamente, o Estadão fazia um bom contraponto com a Folha de SP (mais conhecida como Pravda, ou Gramma). Já não faz mais. Por que? A política do atual bufão residente no Planalto está ajudando os jornais a irem para o brejo de forma mais acelerada. Não que não não estivessem indo pro buraco de qualquer forma. Apenas apressou-se o passo da queda. Cancelei o Estadão porque não consigo mais acreditar nele. Os editoriais passaram a ter um tom tendencioso e de inconformismo.
Não vou manifestar em rua nenhuma no dia 15, mas apoio veementemente o direito de quem quiser ir, e mais, acho que realmente estamos diante de um golpe que envolve dois palhaços travestidos de presidentes de casas congressuais, e pelo menos uns 8 palhaços adicionais aboletados como deuses no Olimpo da mais alta corte da nação. E dá-lhe fisiologismo… e dá-lhe acobertamento de bandido!
O tal bufão do Planalto é realmente um cara que fala demais, desmedidamente e, como diz o “classudo” FHC, falta-lhe postura presidencial, mas cá entre nós, depois de ver aberta a caixa preta das gestões de FHC, prefiro o bufão (eu achava FHC um bom governante, por conta do Plano Real, mas concluo que ele apenas fez o mínimo e nos deixou com caixa pra 2 dias de operação no Tesouro, na sua saída).
O tal bufão do Planalto esperneia e insurge-se contra Lula e Dilma, e com “santa” razão. Essa dupla realmente é do barulho – e barulho sem semântica. Um, animador de platéia, quer nos fazer crer que não roubou nem um centavo (ora, por favor!), a outra, sequer consegue articular duas frases com sentido claro. De novo, prefiro o bufão. Não que ele seja meu sonho de consumo, para a posição de presidente, mas porque, a despeito de todos (os seus MUITOS) defeitos, os quais reconheço, tem uma virtude raríssima – justamente por não ter tanto verniz, nem ser animador de auditório, fala algo que dá pra perceber que realmente “quis dizer”.
Quando ele diz que “você não merece ser estuprada”, com relação à deputada, ele realmente cria (e ainda deve crer) que ela não mereça (mulher alguma merece); quando ele diz que o sistema de pontos das CNHs é punitivo e ridículo, ele realmente acha isso. Quando ele diz que nasceu de novo e que Deus lhe deu um novo começo depois da facada, ele realmente parece crer que foi Deus que fez o milagre.
O mesmo se dá com o General Heleno, auxiliar mor do bufão. Quando ele disse que “F..-se” e que “esse pessoal faz chantagem conosco”, ainda mais porque colhida sem seu conhecimento, traduz, de fato, o que Helenão pensa. E isso deveria ser bem examinado por nós todos: ele REALMENTE enxerga um processo de chantagem contra o executivo. Alguém duvida que ele esteja certo? Eu não. Mas em que medida ele está certo? Sob que aspectos? Ora, tornar o executivo refém do congresso, sem um mínimo de espaço de manobra orçamentário, quer governar no lugar do presidente. Isso não é brincadeira. Quando o legislativo se dá vantagem em cima de vantagem, na cara do povo brasileiro, sofrido, como plano de saúde pra filhos até 33 anos de idade, troca de carros oficiais, milhões em verbas para mordomias mil, etc, eu me pergunto se estamos diante de algo que se pode chamar de chantagem ou se na verdade é pura e simples extorsão mediante sequestro (de verbas).
Voltando ao assunto, a imprensa, com exceções, não tem mais a menor capacidade de informar o grande público. Está perdendo a relevância e continuará perdendo. Eu estou aqui fazendo uma espécie de grito de alerta, de um cidadão cansado: imprensa, abre teu olho, porque você está encurtando sua vida útil, em vez de tentar ser mais relevante, mais verdadeira, mesmo que isso implique em você dar crédito a alguém que no fundo tenta te tirar receita.
A verdade não pode ficar refém da agenda da imprensa!
Se tem dois jornalistas que conhecemos de anos, décadas, esses são Alexandre Garcia e J. R. Guzzo. São “macacos velhos”, gente que já dirigiu as mais importantes redações do país, gente que foi figura de proa em decisões sobre o que publicar e o que não publicar, gente conhecedora profunda dos bastidores do poder, gente “de Brasília”, águias de outros carnavais, enfim, verdadeiros vencedores em suas carreiras.
Recentemente vemos essas duas águias, junto com meia dúzia de jovens jornalistas e colunistas, como Rodrigo Constantino, entre outros, se insurgindo contra (quase) todo o restante dos profissionais de imprensa, ficando firmes do lado de um governo popular-impopular: popular junto ao povo, impopular junto à academia, aos jornalistas, aos intelectuais. Por que?
Foram, e são, os profissionais cujas colunas e entradas “…de Brasília, Alexandre Garcia…” temos lido, visto e ouvido ao longo de décadas, seja criticando governos militares, Sarney, Collor, FHC, Dilma, Temer, Bolsonaro e tutti quanti. Aprendemos a respeitar a curadoria feita por eles e expressa em suas ideias e palavras.
Pois bem, por que, então, fazem uma aparente defesa da posição de Bolsonaro, motivo da briga da semana, das manifestações cuja gestação começou com o áudio capturado sem querer, do Ministro Heleno, dando um “f8da-se” maiúsculo a parlamentares a quem acusa de querer pressionar indevidamente o executivo? A razão mais óbvia é a mais correta, provavelmente: porque realmente, conhecendo o congresso, e conhecendo as figuras que dominam o legislativo, sabem que Heleno tem razão. Realmente há uma permanente tentativa de chantagem ao governo. Não engoliram, nem engolirão tão facilmente, a falta de negociação pelas posições chave em ministério, e a colocação de figuras melhores, administrativa e tecnicamente, nos lugares antes reservados aos “flanelinhas” dos cargos, nomeados por Suas Excelências.
Minha crença é a de que, creia-se ou não na totalidade do que está fazendo Bolsonaro (e eu descreio em mais da metade), há a arraigada sensação de que o Brasil está sendo manipulado a pensar que estamos diante de uma ruptura da ordem democrática, e, vejam só, por conta justamente de… um ato democrático… uma manifestação.
Jornais e TVs, de um modo geral, abriram guerra a Bolsonaro quando esse endureceu o jogo com relação a verbas de publicidade, condenando à morte um setor que já andava muito mal das pernas. O Governo Federal, e os governos estaduais, são as únicas tábuas de salvação num mar econômico revolto, balançado pelas ondas da Web. Sem a conivência financeira do governo, estão fadados a falir mais rápido do que se anteviu. Ora, por que, como em situações anteriores, não apelaram para a bajulação pura e simples? Por que resolvem bater de frente? Usando um pouco de lógica argumentativa, entendo que a decisão só pode advir do fato de que entenderam não ser possível conquistar algo com a bajulação, e, portanto, só restou o confronto. O restante da (ainda grande) influência junto aos formadores de opinião os coloca numa posição de tentar fazer o governo se curvar, ou sair. Para isso, todas as Veras Magalhães, todas as Miriams Leitão, todos os Gerson Camarottis, são colocados à serviço desse propósito. E como não são nenhum Guzzo, nenhum Alexandre, não tem alternativa a não ser assumir o papel de torturador…
E o congresso, que desde o primeiro dia desse governo vem sido atropelado por decisões tomadas sem “consulta” (sic!), sabe que o caminho é mesmo o do “parlamentarismo branco”, regime rejeitado nas urnas do plebiscito de 1993. Sabemos, todos, de que matéria são feitas suas excelências. As exceções estão cada vez mais claras, para fazer contraste com os “donos” do congresso. Parlamentares como Marcel van Hattem, Oriovisto Guimarães, para ficar apenas em duas estrelas de primeira grandeza, são como manchas brancas em um lençol cinza escuro.
Pra concluir, eu fico com o conhecimento de décadas, acumulado por esses dois caras fantásticos, à alternativa de me curvar a uma suposta ameaça à democracia, cuja bandeira é desfraldada pelas Veras, Miriams, Maias e Alcolumbres da vida nacional.
Eu sou ruim da cabeça e doente do pé, dizem… detesto carnaval. Sempre detestei. Acho que um povo que precisa de uma catarse coletiva desenfreada, sem qualquer sentido, na qual um marmanjo se traveste de mulher, que as pessoas se esmagam umas às outras sob um calor infernal, pagando R$ 10, R$ 15 por uma cerveja quente, ouvindo um barulho de péssima qualidade (com honrosas exceções), me parece coisa de idiota. Mas ok, não critico quem gosta, do ponto de vista pessoal; goste e vá em frente. Apenas acho que é válida a posição contrária, como a minha, que não gosto.
O que aconteceu na Marquês de Sapucaí reflete a perda geral de respeito, geral, por tudo, todos, qualquer coisa. Uma iconoclastia que excede os ícones e desce à figura do respeito humano puro e simples. O que acontece, acho, é que o carnaval se tornou um bastão contra o mínimo de bom senso e respeito que resta na sociedade. Todo carnavalesco vive sonhando com os “antigos carnavais” (Onde anda você / antigo carnaval… como diria o samba enredo). No entanto, todo mundo se sente cada vez mais tragado pela espiral da falta de bom senso reinante, expressa de forma mais visível no carnaval.
Alguns argumentaram que se trata de reação à falta de verbas para a festa; outros, que os bicheiros e traficantes que (de fato) dominam as agremiações do samba reagiram ao endurecimento da polícia contra suas malandragens. Outros ainda, que é uma reação ao “Bozonaro”, e suas políticas, em tese ruins. Pode ser um pouco de tudo, e pode até não ser nada disso, mas tudo o que citei acima, somado à flagrante má vontade da imprensa, de um modo geral, contra os governos do RJ, estado e município, e do governo federal, cria um caldo bacana pra se colocar Jesus como sendo maltratado por policiais, numa clara alusão ao tal endurecimento com o crime. Ora, a despeito da crença popular, Jesus não teve problemas com a Lei, romana ou não. Ele mesmo disse que “ele a si mesmo se entregou”; ninguém o forçou a nada. Mesmo Pilatos tentou, em vão, livra-lo. Do outro lado, comparar os “policiais” da época aos atuais é no mínimo má vontade com os de hoje. Afinal, estamos neste estado de coisas por cumprir o império da Lei, ou por quebra do mesmo? Temos ou não temos uma constituição que (sobre) protege o cidadão comum? A Lei, em sendo cumprida, traria a paz social, ou é a burla ao seu cumprimento que traz o péssimo estado de coisas?
De volta ao título – Perda de Respeito – entendo que é disso que se trata. Não só aqui, mas aparentemente em todo lado, existe uma perda total de respeito:
Perda de Respeito pela Experiência – De um lado idolatra-se o “envelhecer bem”, a “melhor idade”, mas que o velho não se atreva a dar opiniões que vão contra a corrente vigente de ideias. De outro lado, uma pirralha (isso mesmo, é o termo no vernáculo para expressar o que a mocinha sueca é) se arvora em seus “how dare you” e esbraveja como se já soubesse no mínimo pagar suas contas e trabalhar 8, 9 ou 10h por dia, durante tempo suficiente para entender o que é rotina;
Perda de Respeito pela Formação Acadêmica – Desde a bárbara glamourização da burrice promovida por Lula, até a criação do idioma “Dilmês”, passando pela perda de contato dos agentes de controle financeiro governamentais com a matemática básica que nos levou a um buraco no orçamento, estamos vivendo tempos em que é bonito ser apedêuta (aquele que é incapaz de aprender). A música bacana é aquela de refrão fácil de entender, bobinha, mal feita; o sujeito se torna “compositor” sem saber se expressar, em nenhum idioma, e sem saber colocar as ideias uma após a outra, em um conjunto que faça um mínimo de sentido. O fato é que as “otoridades” dos últimos tempos fizeram o maior desserviço do mundo às novas gerações, e deixaram a impressão de que para vencer na vida você não precisa estudar, trabalhar, ou se aplicar em nada. É um “direito” seu, que se você não conseguir por seu talento imenso, será culpa do estado, e este terá que te dar uma vida plena, a despeito de você não querer nada com coisa nenhuma;
Perda de Respeito pelo Sagrado – Aqui, uma ressalva, a despeito de ser cristão evangélico, coloco o respeito pelo sagrado aqui em Latu Sensu. Desrespeito inclusive pelo direito de alguém ser ateu, se quiser. Afinal, o sagrado de alguém pode ser justamente a sua ausência (contra o que penso, obviamente, mas direito é direito). A ideia de que nada mais é sagrado está em perfeita sintonia com a visão maior de parte importante dos formados de opinião: se nada é sagrado para alguém, tudo é permitido, e portanto, pode-se induzir o povo a fazer qualquer coisa.
Perda de Respeito pela Vida Humana – Uma bactéria, como já foi dito, é vida, em Marte; mas um bebê humano perfeito, de 9 meses, no útero materno, não é. O contrasenso do desamor à vida vai longe: defende-se os atacantes e reprime-se os atacados. Uma vida humana tem o mesmo valor do que outra, em que pese o fato de ser esta vida que esteja pronta a tirar outra. A minoria vale menos que a maioria; um punhado de cidadãos da França vale mais do que milhões de Congoleses, e certamente a vida de meia dúzia de muçulmanos vale mais do que a vida de milhares de cristãos. Não sei explicar, mas a vida humana, qualquer uma, seja da minoria, da maioria, do rico, do pobre, está sempre sendo menosprezada por alguém;
Perda de Respeito pela Ciência – a exatidão, o rigor de pensamento, a prova científica tem cada vez menos valor. XY e XX agora podem ser XY-alfa, até XX-Omega, etc, num sem fim de “gêneros” sem qualquer fundamento biológico. A equação vale menos do que “meu sentimento” sobre os resultados que ela provê. Como diria Chesterton, “fatos são coisas teimosas”, mas estamos ficando craques em driblar fatos com “sensações”, “sentimentos” e “afinidades”;
Perda de Respeito pela Nação e pelo Coletivo – qualquer nação – governantes e legisladores, principalmente os últimos, decidem com base em qualquer fator que lhes traga vantagens, reais ou percebidas, independentemente de ser bom ou ruim para a coletividade. A pátria não simboliza mais nada e somos frequentemente chamados a zombar da nossa bandeira, dos nossos símbolos e de nossa soberania. Somos levados a acreditar que um “poder externo”, supranacional, “maravilhoso” virá transformar nossa vida dentro das fronteiras da nação – qualquer nação. Estamos no limiar da perda de vergonha nacional. A vida se torna cada dia pior, visto que o que é melhor para mim tem que ser melhor para todos, seja isso verdade ou mentira.
Dá pra ir longe lembrando as perdas de respeito. Quando o homem perde o senso de transcendência, perde o senso de consequência. Afinal, se nada que eu fizer faço para transcender, para ser melhor, para fazer a vida do próximo mais fácil, nada, então, merece ter as consequências medidas. Quando eu coloco o Deus ou deus do outro na sarjeta, quando eu trato a fé do outro, a “verdade” do outro como lixo, quando eu ataco o próximo porque ele não pensa como eu, estou me suicidando pouco a pouco. A alma sabe disso, e engole o auto-veneno quietinha, sem reclamar, até uma morte trágica, solitária e ignóbil.
“Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança. ” (Provérbios 11:14)
Como já tenho participado há vários anos, em Janeiro de 2019 me reuni com um grupo de empresários de alto coturno para uma palestra da então economista chefe da XP Investimentos, Zeina Latiff. Ao final da palestra, os participantes falaram cerca de 2 minutos cada sobre suas perspectivas para 2019. O ambiente era de desconfiança, permeado, aqui e ali, com doses de otimismo. A média das opiniões apontava para um ano “morno” mas positivo. Dito e feito. Individualmente todos erramos em nossas opiniões, mas a média “bateu” como uma profecia, tiro preciso entre os olhos da presa.
Agora, em Fevereiro de 2020, de novo nos reunimos, desta feita com outro palestrante, Ronaldo Patah, do UBS. O teor e formato foram os mesmos. A palestra foi muito interessante e direto ao ponto, e ao final, a mesma dinâmica – cada participante contando um pouco de suas expectativas para o ano, em seu segmento. Os segmentos variaram de Construção Civil de casas populares a Alta Tecnologia, passando por área agrícola, entre vários. Estavam ali representados quase todos os segmentos da economia.
Se a experiência dos anos anteriores serve, principalmente o “bullseye” de 2019, vou repassar as reflexões para 2020 para que possamos voltar a este texto no início de 2021 e ver se a “profecia” da multidão de conselheiros funcionou.
Há um otimismo “médio” marcante no ar
A noção de que “o pior já passou” é grande, e no fundo, mesmo crescendo a taxas (previstas) que variaram entre 2% e 2,8% para os mais otimistas, dá uma sensação de alívio grande, estilo a piada do “Bode na Sala”
Há uma aposta grande de que as chances de termos de 3 a 7 anos de racionalidade econômica, a despeito das remadas contrárias de setores da oposição ao atual governo, é marcante e, se o passado é indicador, apontam para um ano de 2,5% de crescimento, com viés de alta, ou no mínimo de manutenção, para 2021
Há um otimismo no ar quanto à manutenção da Selic nos patamares atuais, de 4,25%, com uma aposta do UBS de que possa cair até 4%, para depois subir até 6% (considerada taxa de equilíbrio entre inflação e juros reais relativamente capazes de manter a inflação sob controle)
Também há otimismo no ar devido ao crescente fluxo de capitais estrangeiros, que já se nota retornando com certa força
Há uma noção clara de que o presidente não é peça fundamental na precificação da economia, visto que há nele um mínimo de pragmatismo econômico, e uma equipe ministerial composta de figuras excelentes, nas pastas que realmente importam (economia, infraestrutura, agricultura, etc). Também há a noção de que a estabilidade política está bem definida, sem chance de grandes aventuras como as do período Lula II -Dilma I e II.
O conjunto dos presentes entende que apesar de haver pontos fracos (como a falta de estrutura e relativo “engorro” no ministério da agricultura, na liberação de novos projetos), ações coerentes e pró-mercado estão sendo tomadas
O motivador observado parece realmente ser o de provocar mudanças estruturais fortes e permanentes, inclusive as “impostas” pelo interesse nacional de entrar na OCDE.
Aswath Damodaran, o às da avaliação de empresas da New York University, em uma palestra em Curitiba disse, há alguns anos que “individualmente, ação por ação, há bastante erros de análise, entre o valor previsto e aquele que acaba por se realizar; tomando o conjunto dos papéis da Bolsa, é impressionante como o nível de acerto é quase de 100%” (as palavras são minhas, o teor é do Prof. Damodaran). A multidão de conselheiros, portanto, pode ser formada de pessoas ou de um grupo de dados. Interessante…
Fica a aposta. A minha é de um dólar mais fraco em fins de 2020, na faixa de R$ 4,00, juros iguais aos atuais, ou seja, 4,25%, inflação dentro da meta atual, 3,5%, e crescimento por volta de 2,5%. Como não sou “multidão” (e nem tão qualificado como conselheiro), só posso pedir a Deus para estar certo, e que em 2021 o país volte a crescer acima de 3%.
Dificilmente um artigo me surpreende do início ao fim. O link acima merece ser clicado e lido. É direto ao ponto, sem rodeios, e me parece que o autor não é evangélico (não possui o jargão do meio). Posso dizer isso porque sou batista e falo “evangeliquês” desde moleque.
Pois bem, várias personalidades, políticos e autores importantes, se dão conta da Cristianofobia que existe no mundo. É impossível falar mal do islamismo, budismo ou qualquer outro ismo sem ser duramente criticado. Exceto do judaísmo e cristianismo. Parece que a vertente de pensamento judaico-cristã se tornou o foco de todas as batalhas, tanto dos diversos fundamentalismos religiosos como o fundamentalismo político de esquerda (já que qualquer religioso é imediatamente colocado à direita).
O que está sob discussão não é se o evangélico é ou tende a ser de “direita”; é a batalha contra o que o núcleo judaico-cristão de pensar significa – valores rígidos, princípios perenes, valorização da família, palavra, honra, dever, país, o próximo, etc. Não se pode abalar uma sociedade que tem fundamentos sólidos como os acima. E aqui, ESQUEÇA o aspecto meramente religioso do cristianismo. Fixe-se no aspecto comportamental. É isso que é necessário mudar, para a esquerda – somente derrotando a família, somente demonizando o conceito de nação, somente tirando do lugar o dever, em detrimento do “direito” é que se conseguirá a sociedade sonhada pelas teorias típicas de esquerda.
Então evangélico não pode ter ideais de esquerda? Claro que sim. Aliás, o próprio Cristo tem, aos olhos do mundo, tendências “liberais”, principalmente quando colocadas contra o pano de fundo do tempo em que viveu. A diferença básica é que a busca do bem estar social pretendida por Jesus Cristo era VOLUNTÁRIA e não imposta por uma casta “iluminada”.
Meu medo do ideário de esquerda vem das reações e atitudes que encontro nos meus amigos e família. Amigos e familiares são tanto mais “de direita” quanto mais professam sua crença em Cristo. Um amigo querido, amado, se distanciou de mim há algum tempo, a despeito de nunca termos tido um bate-boca sobre política (conversas sempre civilizadas. Quando indagado sobre sua religiosidade (católica) ele se disse “cada vez meno católico”. Primos amados, na medida em que se afastaram da fé original (evangélica) tem se tornado cada vez mais ligados ao ideario de esquerda, tendo também começado um processo de corte de laços – mais difícil, pois família é família – mas progressivo.
Óbvio que existe radicalismo por parte de gente mais à direita. É gente chata igual aos radicais de esquerda. O fato, porém, é que o conceito de “esquerda” está se situando cada vez mais para o lado esquerdo do espectro político (vide o partido Democrata americano, irreconhecível em relação há alguns anos). Já a direita, devido às advertências e pressão da sociedade, tem tentado não exceder os limites da direita, pois a reação é cada vez mais forte.
Sobre a parte do post que fala de privilégios católicos, não dou a mínima. As Santas Casas, os colégios confessionais entre outras instituições, fazem muito bem a sociedade e ao longo dos anos têm sido fonte de pensamento e progresso.
O fato é que ser cristão se tornará, como o próprio Jesus Cristo falou, cada vez mais complicado, com cada vez menos tolerância do “beautiful people”, cada vez mais estigmas… a racionalidade tem cada vez menos vez (sic)… Fim dos tempos? Evangélicos têm certeza de que sim. Eu tenho. Já que é assim, sejamos (cristãos e judeus) cada vez mais “radicais” em nosso pacifismo (não a busca da paz idiota, mas a pacificação), nossas boas ações voluntárias e o nosso desejo de ser ‘sal e luz’ por onde que que andemos!
Tudo o que é contra o (verdadeiro) cristianismo dá mídia. Tudo o que nos enxovalha, como cristãos, “cola”. As ofensas contra nós são permissíveis e até dignas de encorajamento. Os sofrimentos terríveis de nossos irmãos ao redor do globo são motivo de chacota ou mesmo alegria por alguns que nos acham “elite branca” ou coisa que o valha. Tomam contra nós as barbáries (de fato) cometidas pela Inquisição Espanhola, cujos terríveis feitos já tem mil anos. Jogam contra nós as Cruzadas, como se não tivessem elas sido fruto de “defesa” contra as invasões do expansionismo muçulmano na mesma época, na Espanha, Hungria, Romênia e Áustria. Em síntese, tudo o que prejudica o cristianismo vale.
Recentemente a história da heresia do Porta dos Fundos nos doeu a todos. Obviamente que pedir para tirar do ar, entrar com medidas judiciais não resolvem e, de fato, é antidemocrático. Eles que falem o que quiserem, e arquem com as consequências – comerciais e espirituais; as primeiras de curto prazo e as últimas de prazo eterno. Liberdade de expressão serve para isso mesmo – para sermos agredidos sem chance de retorno. É liberdade e ponto. Nós podemos argumentar que eles não fariam isso com Maomé porque amanheceriam com a boca cheia de formiga. A reação (antidemocrática) eventual de grupos muçulmanos não nos dá o direito de justificarmos ações da mesma natureza. Não vivemos por esse código. Claro que se fisicamente assediados, temos o direito de defesa; mas não podemos fazer disso motivo de ataque.
Hoje vemos na mídia post do Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, mostrando fotos que ele mesmo tirou para “provar que a terra é redonda”. Ora bolas, ressuscitar um assunto que a ciência já comprovou há séculos é imbecil demais. Olavo de Carvalho vem a público dizer de argumentos de terraplanistas e que “não viu nada que os refute” até o momento. Olavo é uma pessoa que, a despeito de boas visões sobre conservadorismo, é um líder de seita, fanático, e com antolhos. Não serve de base para nada. Xinga e grita com quem discorda dele. Tive a oportunidade de estar no lado errado do revólver que ele empunhou contra os protestantes, quando dos 500 anos da Reforma. Amigos católicos de certa forma “agradecem” à Reforma, por ter propiciado uma renovação dentro do catolicismo, acabando com a era dos papas tiranos, que tudo podiam, que viviam contra o celibato que eles mesmos impunham ao clero, que eram glutões, beberrões e fornicadores ao extremo. Em síntese, a Reforma acabou por “reformar” também a igreja católica, em uma certa medida que, cremos, melhorou muito desde então.
De qualquer forma, a Bíblia mesma tem uma passagem muito boa, escrita por Isaías, 400 anos antes da vinda de Jesus Cristo, e que diz: Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar” (Isa_40:22, Versão J. F. de Almeida Revista e Corrigida). Difícil hein?
Então como justificar que a igreja católica tenha perseguido Galileo, Giordano Bruno e outros justamente por crerem que a terra era redonda? Bom, de fundamentos bíblicos é que não é; pois se existem lugares onde a Palavra menciona “cantos da terra”, também existe o texto acima, entre outros, bastante claro. O fato é que não importava aos escritores bíblicos; importava sim a mensagem de Deus aos homens, através de toda a Palavra, até a vinda de Cristo.
Se a bíblia não fosse clara sobre as perseguições, guerras e rumores de guerras, aflições e demais atrocidades que desde sempre nos perseguem, eu ficaria assustado. Não fico pois isso é “sinal dos tempos” como narrado no Apocalipse. Não crê nisso? Ok, não vamos brigar por isso. Não me chateie porque eu creio. É liberdade de expressão para os dois lados.
Como disse Evelyn Beatrice Hall na sua obra “The Friends of Voltaire” em 1906 (sob o pseudônimo de S. G. Tallentyre), e cuja autoria é atribuída a Voltaire, de forma equivocada, “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”
Uma das vantagens de calar a boca e ouvir é que escutamos coisas muito interessantes, ditas sem papas na língua, com erros, acertos, coisas boas e más, na “lata”.
Anteontem, na praia, tive oportunidade de “escutar” um rapaz por volta de seus 25 anos explicando uma série de visões, passadas por um visitante Iraniano à sua casa, sobre por que o Irã tem razão e os EUA não o tem. Muito interessante, pois o rapaz parece não apenas ter ouvido cuidadosamente a visão do estrangeiro, como aparentemente aceita-la sem reservas nem qualquer análise crítica maior.
Entre o que entreouvi, algumas “pérolas” bastante conhecidas nossas, como um antissemitismo indisfarçável, contido na expressão “A Palestina nunca foi judaica, e os Palestinos estavam lá desde sempre” (parece saído do panfleto antissemita “O Protocolo dos Sábios de Sião”), ou “Na segunda guerra a divisão arbitrária do Oriente Médio foi feita somente para garantir à Inglaterra o acesso ao petróleo” (sem se aprofundar no porquê, na estratégia da própria guerra ou ainda na instabilidade milenar da região) ou, por último, a afirmação de que “tudo o que interessa sempre foi petróleo” uma afirmação que, se é correta em uma boa medida, o é mais para fins do conflito Suni-Xiita do que para com os EUA, especificamente, e mais diretamente para tempos mais recentes, em que os EUA são mais do que autossuficientes nesse podre óleo preto.
Indo adiante, o rapaz não conteve seu desejo de ver os “EUA derrotados” pelo Irã, indiscutivelmente algo que faz parte do ideário da esquerda brasileira, independentemente do fato dos Aiatolás perseguirem minorias, matarem cristãos, enforcarem gays em praça pública e reprimirem suas mulheres com crueldade. A síntese da conversa, da qual quase cedi à tentação de participar (ia dar zebra, certamente…) é a de que qualquer ação contra o ocidente está justificada; o ocidente é mau, o ocidente é o capeta.
Li agora a matéria do Estadão que dá conta da natureza dos protestos em Teerã e no restante do Irã, e me chamou a atenção a frase que coloquei como tema deste artigo: “Eles mataram nossas elites e as substituíram por um governo liderado pelo clero”. A que se refere? Temos que voltar a 1979, quando a revolução dos Aiatolás tirou do poder um governante meia-boca, autocrata, o famoso Xá Reza Pahlevi, e colocou no lugar uma teocracia. De lá pra cá, o que era um dos países islâmicos mais abertos e modernos do mundo se tornou um fato de instabilidade regional e mundial, com ramificações tão terríveis quanto a triste situação do Iêmen ou a ascensão de organizações terroristas em vários locais do mundo, patrocinadas pelo regime de Teerã.
Os manifestantes cantam como palavra de ordem o “Eles mataram nossas elites e as substituíram por um governo liderado pelo clero” na Universidade Tecnológica de Sharif. A elite eram o Xá, um sujeito não muito “povão”, como sói acontecer com monarcas de dinastias antigas, sua mulher, Farah Dihba, uma perua que tinha coleções imensas de sapatos e jóias, e que desfilava a bordo de carrões importados, e uma elite dominante de séculos. O tal Xá governou de 1941 até 1953, quando acabou tendo que fugir do país, que escolheu um governante por meio do voto, Mossadeq, e que foi deposto logo depois, no que se convencionou chamar de a primeira ação da CIA para depor um governante de outro país.
Fato é que o Xá era mesmo um péssimo governante, e que estava no poder quando da 2a crise do petróleo, de 1976. Essa crise não fez só essa vítima no mundo, mas em muitos lugares, inclusive com um baque terrível na economia brasileira, desencadeando anos depois a crise da inflação, entre outras, ao redor do mundo. O Xá subestimou os Aiatolás e estava muito mais preocupado com a URSS do que com os turbantes… O fato é que a Revolução começou com um “acordão” entre a esquerda local, municiada pelos comunistas de então, o clero e forças militares, acabou por sair vencedora, com o episódio imortalizado pelo filme “Argo”, sobre a invasão da embaixada americana em Teerã, e seus reféns, que impediram Jimmy Carter de se reeleger, e tido até hoje como um presidente fraco. Fato é também que os EUA queriam no poder um governante “a seu feitio” e acabaram por não enxergar que o “acordão” entre esquerda e turbantes seria mais efetivo do que parecia em princípio.
Hoje, os estudantes cantam algo que parece ser verdade – trocaram uma elite nobiliárquica, um rei autocrata, por um estado ainda mais autocrata, repressor ao extremo, e que, para piorar, se imiscui em cada cantinho da vida pessoal, cultural e religiosa do povo. Uma massa crescente de cristãos está sendo vítima de violência sem igual, crueldade macabra por parte do regime. A massa de cristãos continua a crescer, porém, num movimento não antecipado, e, com certeza, que não é resultado de “ações da CIA”, mas do fascínio que a liberdade cristã traz ao ser humano – inclusive a liberdade de rejeitar o cristianismo e fazer troça do próprio Fundador, sem que isso enseje maior repressão.
A dinâmica é quase sempre essa – a troca de uma elite por outra, sem qualquer garantia de melhora. Podemos marcar fatos com a queda da República Romana e ascensão do poder imperial, passando pela sangrenta Revolução Francesa, Revolução Soviética, Chinesa, e vários outros exemplos do mesmo padrão: por achar que algo está ruim, troca-se algo por alguma coisa dez vezes pior.
Aqui, trocamos a (ruim) ditadura militar por algo mais insidioso e que, com pretexto de aprofundamento da democracia, nos colocou no mais longo período de recessão e desemprego da nossa história. Corremos o risco, no Brasil, de fazer uma troca da mesma natureza da do Irã: trocar algo que se poder trocar por algo que não vai embora nunca, exceto com muito sangue: um regime que se mantêm a despeito do povo – no Irã, pela religião; aqui no Brasil, pela escravidão cultural-ideológica.
Dei de cara com essa “manchete” do Estadão hoje e fiquei mais do que pasmo. Fiquei boquiaberto com o que está escrito ali pra todo o Brasil (e o mundo) ver. Por conta da eliminação do agora “diplomata” e “querido líder” Soleimani, um sujeito que andou mundo afora criando caos como o imposto aos judeus argentinos há alguns anos, ou à população do Iêmen, ainda hoje, tenho o desprazer de dar de cara com o “jornalismo” feito por um jornal que eu assino, e que julgava relativamente imune às estupidezes maiores. Trump ameaça o patrimônio histórico do Irã. Legal.
Aliás, nem “jornalismo” se trata, propriamente, mas apenas uma chamada enviesada para lindíssimas fotos de patrimônios culturais da humanidade em terras Iranianas.
Ou seja, o Irã desestabiliza toda a região, criando o caldo social que gerou o ISIS, que agora combate, invade (ou coordena) a invasão da embaixada americana no Iraque, infiltra milicias em vários locais, e agora diante da oportunidade não perdida pelos EUA de eliminar dois “coelhos gordos” com uma cajadada só (Soleimani e o líder miliciano no Iraque, Muqtada al-Sadr).
O fato é que, conforma BBC, “O governo Trump ficou surpreso com a magnitude do ataque contra a Embaixada em Bagdá, visto como uma escalada, e acreditou que Soleimani estava por trás disso. Apresentado com uma oportunidade de alvo, o presidente autorizou o ataque (contra o general).” Ficou mesmo, pois foi a culminação de uma série de atentados aqui e acolá, matando americanos (civis e militares). Qualquer nação que tenha algo de orgulho se sentiria justificada em matar as duas figuras de uma vez só. Será que Trump pensou nas consequências? Muito provavelmente não. Isso é ruim? Bom, ruim mesmo foi a atitude covarde de Jimmy Carter, diante da invasão da embaixada americana em Teerã, em 1979; ruim e covarde foi a atitude de Hillary Clinton (e de Obama) em “botar a viola no saco” diante da mortandade de civis e militares no consulado americano em Bengasi, na Líbia, que vitimou um homem cuja morte foi sentida nos EUA, J. Christopher Stevens, carismático diplomata, por conta de um filme considerado “ofensivo ao Islã” (“The innocence of Muslims”, ou a Inocência dos muçulmanos)…
É de se perguntar se a não-retaliação, a inação diante desses atos resolveu algo no sentido de melhorar as relação dos países muçulmanos com o ocidente. Nada adiantou ficar chorando, sentado na calçada. Apenas acabou ali o “deterrence factor“, ou seja, o fator de dissuasão, que os EUA detêm desde meados da 1a. guerra mundial. Até o “advento” do maluco Trump, os terroristas, oficiais ou não, já acreditavam que poderiam fazer atentados aqui, lá e acolá, que sempre haveria um Barack disposto a pagar uns US$ 400 milhões para algum grupo terrorista “dar um tempo”.
É de se perguntar também se o “atentado” contra o Porta dos Fundos, perpetrado por um idiota, ou grupo de idiotas, merece a mesma reação e grau de solenidade dado ao filme “A inocência dos muçulmanos”, que nem de longe é tão ofensivo ao islã quanto o Jesus gay dos cretinos brasileiros é para o cristianismo.
O cúmulo, porém, é o jornalismo de prejulgamento: eu afirmo, eu informo, que “Trump vai colocar patrimônio histórico do Irã sob ameaça”. De onde se retira isso? Com que base? Na 2a. guerra mundial, os aliados, liderados pelos EUA, foram responsáveis por recuperar e devolver aos museus da Europa milhares de obras e objetos de arte roubados pelos nazistas, num ato coletivo (e até poder-se-ia dizer desnecessariamente dispendioso, face às necessidades prementes da reconstrução do pós-guerra) de grande visão cultural, de futuro e de mundo. Qual é a base para afirmar que os EUA de hoje seriam capazes de, deliberadamente, colocar zonas de preservação histórica sob ameaça? Nenhuma base, obviamente, exceto o interesse de desacreditar o Ogro Laranja (o que é fácil, dada sua natureza, digamos, bufona).
Peca a imprensa brasileira por acoitar em suas redações um número enorme de jornalistas cujo amor à notícia é nulo, cujo apego à verdade está subordinado a suas paixões ideológicas, cujo interesse em informar está debaixo da mão política de um grupo que tenta a qualquer custo ganhar esta guerra cultural-ideológica na qual estamos no meio: no Brasil, e em quase todo o ocidente.
Pela epistemologia de um grupo, jornalistas hoje enxergam o que querem; por essa visão de mundo, vêem qualquer ação de um lado como sendo má, necessariamente (vice-versa é verdade também, mas em nível – ainda – infinitamente menor e mais difuso). Por essa visão de mundo, congressistas deixam de pensar no país, se é que algum dia nele pensaram, para botar fogo em ideias excelentes – de um e outro lado, diga-se, apenas para não dar “chances eleitorais” ao adversário.
Enfim, “basta a cada dia seu mal”, como Jesus disse no sermão do monte. Vamos lutando a cada dia para tentar fazer retroceder, seja pela palavra, seja pelo humor, a imbecilidade de extremos que pensam em tudo, menos no próximo.