O Futuro de BAM – Business as Mission

As viagens missionárias do fazedor de tendas mais famoso da história…

Este pequeno artigo será, se Deus quiser, expandido para algo mais substancial sobre o modelo de futuro que creio que seja adequado para o movimento Business as Mission, BAM, ou na melhor tradução possível, “Missão Empresarial”, ou “Negócios como Missão”. Autores consagrados, como Mike Baer, Mats Tunehag e João Mordomo, entre vários outros teóricos de BAM, juntos conosco no 1º. Encontro do BAM Brasil, entre os dias 18 e 19 de Maio de 2024, nos brindaram com palestras fantásticas que versaram sobre a forma como nós, empresários, podemos e temos obrigação de olhar para nossas empresas e firmas com um olhar “sagrado”.

A principal mensagem, o principal “produto” que levei para casa deste congresso foi:

“Não há hierarquia entre o homem de Deus pastor, pregador ou missionário, e o homem de Deus empresário ou profissional liberal”.

Congresso BAM Brasil

A tendência que temos de olhar para os “clérigos” como gente mais próxima a Deus é absolutamente equivocada, e fruto de um mundo que começou a tratar coisas sagradas e profanas separadamente, relegando os negócios ao plano inferior. As razões são várias, e não vamos entrar nelas de cabeça, mas apenas resumindo, somos considerados mais profanos porque:

  • A cosmovisão católica que permeia boa parte do mundo hierarquizou e segregou o clero dos fiéis, sendo os empresários relegados à segunda categoria.
  • A visão de que lucro é pecado faz com que entendamos que o que fazemos é “arrancar algo de outra pessoa”. É uma visão deturpada da economia e das pessoas de forma geral. Estamos sempre ocupados em sublinhar o que de pior vemos nos outros.
  • A visão especificamente brasileira, em que um certo empresariado está sempre mancomunado com os governos, para obter vantagens indevidas, e mais, a visão de sonegação como um “mal necessário” à sobrevivência das empresas nos faz achar que empresário é alguém que vive num ambiente menos santo.

A despeito de tudo isso, o movimento BAM tem avançado no Brasil e no mundo, fomentando uma nova geração de empreendedores focados em gerar riqueza, para si e para os stakeholders de seu negócio, de forma saudável, socialmente e ambientalmente responsável, mas, sobretudo, espiritualmente comprometidos em viver (mais do que falar) o Evangelho dentro de nossas organizações.

Nós mesmos dentro da VBR Brasil temos tido a oportunidade de ter um turnover bastante baixo nos nossos funcionários. Parte disso, eu creio, advém de um ambiente social e espiritualmente saudável, onde a competição não é estimulada, se leva outro a ser deixado de lado. A competição é estimulada no sentido do melhor esporte do mundo – o golfe – no qual a pessoa, no fundo, joga contra ela mesma, suas limitações e momentos. Um ambiente espiritualmente saudável parece ser conducente a um relacionamento saudável entre as pessoas. As gerações mais modernas parecem gostar disso mais do que de um salário um pouco maior.

BAM joga, então, com a formação de empresas que tenha o poder de impactar o mundo, a começar por seu ambiente de negócios mais próximo, para Cristo e o Seu Reino.

A questão aqui não é mudar nem criticar esta filosofia do trabalho BAM. Ela está perfeitamente em linha com o Novo Testamento e com a Grande Comissão. Ela deve continuar a ser estimulada. Empresas cuja propriedade seja de servos de Deus devem ser estimuladas a se tornarem empresas BAM, sérias com Deus e Seu propósito. Ele continua a querer receber Glória (Doxa, como adora dizer João Mordomo) entre as nações.

O que quero tratar aqui é do futuro de BAM, como forma de penetração nessas nações. O objetivo aqui é tratar do Fluxo de Capital intergeracional, e como isso pode afetar BAM e a atividade e missionária mundial. Temos algumas certezas sobre o mundo atual – social e econômico:

  • Ele jaz no maligno (1 João 5:19).
  • Ele exerce crescente perseguição sobre o povo de Deus (Ap. 2:10)
  • Ele tornará o livre acesso das pessoas ao Evangelho cada vez mais difícil (Rom 8:36).

Diante disso, chegará, em breve, o tempo em que a existência de missionários será restrita de tal forma que somente não-clérigos poderão estar no meio de determinadas populações. Quem serão esses? Nós hoje os chamamos de bi vocacionados, de fazedores de tendas e muitas outras formas. O fato é que o mais bem sucedido “não-clérigo” me parece ser aquele que tem interesses vestidos em empresas e países em regiões complexas, ou que, pela natureza de suas empresas, possuam alcance grande o suficiente para serem relevantes em um local remoto, a despeito de estar ou não lá (a internet pode ser bênção, com certeza).

Do OPEX ao CAPEX

Como me pronunciei durante o painel-entrevista entre mim, e a Lara, brilhante guria de 22 anos, já CEO de sua empresa BAM, e antenada na vida espiritual e empresarial (uma alegria de ver!) e o querido Danilo Brizola, BAMer e agitador profissional, acredito em uma mudança na forma de alocação de recursos para missões.

Estratégias Atuais – a primeira onda – o OPEX[1]

A principal estratégia missionária mundial atual data dos primórdios da BMS – British Missionary Society, criada pelo querido e famoso William Carey no Séc. XVIII ainda, e cujo sucesso é inegável. De lá para cá tem sido mais do mesmo: reunião de fundos via denominações e pessoas empenhadas em contribuir para o Reino. Esses fundos são então lançados sob forma de cobertura de subsistência de missionários profissionais (a palavra é inadequada, mas é uma que reflete o que de fato existe), e os resultados são de maior ou menor intensidade, a depender do local, do estilo de trabalho e outros fatores, muitas vezes incontroláveis.

Essa foi a estratégia vencedora, por exemplo, no Brasil. Mesmo em sendo um país nominalmente cristão, o estilo de cristianismo havido aqui sempre foi mais não-praticante, ou não “nascido de novo” (embora não possamos negar o caráter eminentemente cristão de muitas e muitas lideranças religiosas do país ao longo dos séculos). As denominações evangélicas do velho mundo e dos EUA, primariamente, identificaram o Brasil como uma potencial fonte de cristãos nascidos de novo, e despejaram recursos humanos e materiais aqui.

Eu mesmo sou fruto disso, pois minha família, originalmente italiana e católica, passou por um processo de profunda transformação, a ponto de sermos hoje identificados diretamente com o cristianismo evangélico já por 4 gerações.

Essa foi a onda do OPEX, que ainda é a mais usada por organizações missionárias e denominações.

Estratégias Atuais – a segunda onda – o CAPEX[2]

Em um ambiente de repressão e dificuldades, apenas a lógica econômica mais direta e atraente para o país receptor vai permitir que o jogo continue a ser jogado. É muito mais difícil recusar um visto a um CEO de uma empresa investidora estrangeira do que a um missionário, ou, como tem acontecido frequentemente, missionários travestidos de estudantes de idiomas ou outras funções.

A motivação econômica direta é ao mesmo tempo legítima e legitimadora dos cristãos que, independentemente de qualquer coisa, vão ganhar a vida em outro país, pelo meio do empreendedorismo e do trabalho árduo e honesto.

Para isso, antevejo a necessidade de uma mudança em direção ao modelo seguinte. Aqui, uma pausa para segregar um conceito já apelidado de Business FOR Mission (Negócios PARA Missão) e o que proponho agora. O “disclaimer” de BAM diferencia o conceito de BFM de forma inequívoca[3]

“Business as mission é diferente de… BUSINESS FOR MISSIONS

                Lucros de negócios podem ser doados para dar suporte a missões e ministérios. Isso é diferente de BAM. Alguém pode chamar isso de negócios PARA missões, ao usar negócios para prover fundos para outros tipos de ministérios. Reconhecemos que lucros de negócios podem dar suporte a “missões”, e que isso é bom e válido. De forma semelhante, empregados podem doar parte de seus salários para causas caritativas. Enquanto tal possa ser encorajado, nenhum de nós gostaria de ser operado por um cirurgião cuja única ambição seja a de fazer dinheiro para ofertar à igreja. Ao invés disso, esperamos que ele tenha as habilidades corretas e que possa operar com excelência, fazendo seu trabalho com total integridade profissional. De forma parecida, um negócio BAM deverá produzir mais do que produtos ou serviços a fim de gerar riqueza. Ele deve buscar cumprir os propósitos e valores do Reino de Deus através de cada aspecto de suas operações. O conceito de negócio BFM pode limitar os empresários a um papel de doadores aos “ministérios reais”. A despeito da doação ser uma função importante, BAM se trata de negócios com fins de lucro, mas focados no Reino.[4]

Entendi, então, que o que temos em mão se trata de algo diferente, cujo nome provisório (e conceito por trás dele) poderia ser “BUSINESS ON MISSION”, ou “BUSINESS ON MISSION BASE” (Bomb).

Trata-se aqui de uma forma de empreendimento imaginada, planejada, gestada e capitalizada para uma função legítima (gerar lucro, como BAM) e ao mesmo tempo, servir de veículo também legítimo para que cristãos possam espalhar a Boa Nova a povos não necessariamente alcançados, ou totalmente não alcançados.

Não falo aqui de enfiar evangelho goela abaixo de nenhum povo ou “colonizar” o outro, mas tão simplesmente viver a sua fé simples e forte, permitindo que outros “vejam a Cristo” em nós, ainda que sem qualquer proselitismo. É proibido fazer proselitismo? Não façamos, mas NÃO deixemos de viver a Palavra e exalar “o bom perfume de Cristo”.

Como?

A forma mais objetiva de BOM, ou BOMB (!!!) se baseia em transformar esse atual OPEX (ofertas para missões) em CAPEX (investimentos em missões). Dentro desse conceito, a que eu acho mais atraente e que pode dar os melhores resultados é a acumulação de capital no sentido de gerar  Fundos ou Entidades de Investimento legítimos, cujo objetivo é o lucro, mas cuja estrutura operacional crie oportunidade para que cristãos “raiz” se disponham a trabalhar como executivos em locais normalmente complexos, de forma legítima, mas com olho e tempo para a propagação do Reino, nesses locais.

Não advogo de nenhuma forma que levemos equipes inteiras para essas empresas e atividades. Ao contrário, a contratação de pessoal de base local é fundamental. Ajuda a criação de emprego no país destino, reforça a economia local, recolhe tributos de forma legal e correta, e, no fim das contas, permite que interajamos com os cidadãos locais, levando-os, sem colonialismo, mas com amor profundo, ao conhecimento de Cristo.

Esses fundos funcionariam mais ou menos assim[5]:

Transformar as “doações” em capitalizações para Fundos de Investimento (Private Equities, entre outras plataformas) com todas as salvaguardas, garantias e governanças das leis dos melhores países e jurisdições para tal.

  • Estabelecer para o Fundo: a)As regras de investimento As regras de assunção de riscos e retornos; b)As regras de reembolso e reinvestimento; c) As regras de segregação de retorno ao Fundo e à transformação de CAPEX (retorno) em OPEX (novos bi vocacionados e líderes de campo); d)Um Board com visão alinhada com BAM e com o Reino.

Desta forma, bons investimentos vão gerar bons retornos, que terão três virtudes:

  • Tornar o movimento autossustentável
  • Tornar o movimento menos vulnerável a governos e políticas religiosas de países.
  • Dar ao movimento condições de crescimento mais acelerado do que a mera arrecadação de doações, ofertas e compromissos.
  • Tornar a vida dos bi vocacionados, na ponta extrema do movimento, mais estável.

Política de Emprego e Liderança

Empresas BOMB, ao serem comandadas e coordenadas por uma liderança BAM, teriam necessariamente, como já disse, que empregar localmente o máximo de pessoas, mas manter a liderança ligada e alinhada diretamente ao Fundo, a BAM e aos princípios BOMB.

Isso implica e que, em algum momento, empregados locais convertidos e comprovadamente capazes, passarão a ocupar cargos de liderança, alinhados com os princípios do movimento. Obviamente que lideranças cristãs locais e capazes podem ser recrutadas de imediato, o que normalmente não parece ser tão fácil.

Em qualquer circunstância, é ser “sal e luz” que vai ganhar o jogo, e não fazer proselitismo ou impor um modo de pensar.

São apenas reflexões não teóricas, baseadas em conceitos mais “heróicos” do que acadêmicos, mas podem servir de reflexão aos pensadores do Movimento como um todo.

“Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”


[1] Operational expenses, em inglês, ou “Despesas Operacionais”.

[2] “Capital Expenditures”, em inglês, ou Gastos de Capital.

[3] Aqui, o puxão de orelhas de João Mordomo me ajudou no avanço para o conceito que apresentarei a seguir.

[4] Extraído do manifesto de BAM, traduzido por mim.

[5] O Fundo IBEX, que eu mesmo invisto, trabalha quase exatamente neste modelo.

Amós o Profeta Social

Há alguns dias tive a honra de ter sido professor de Escola Bíblica Dominical, na Igreja Batista Essência, em Curitiba, sobre o livro de Amós, chamado de profeta, que não era “profeta” no sentido dado a Elias e Eliseu, por exemplo, mas que eu chamo por este epíteto. É profeta porque profetizou e ponto.

Minhas aulas contaram com a base luxuosa de um estudo do Pr. Paschoal Piragine, sempre muito bem fundamentado. O que eu quero chamar atenção aqui é para o paralelo infelizmente verdadeiro, entre o Israel de Jeroboão II, de 760 aC e o Brasil de hoje.

Pano de Fundo

Aquele era um Israel próspero, devido ao domínio, poucas vezes conquistado e mantido, da rota inteira de comércio desde a Síria até o Egito. Israel e Judá tinham, então toda a receita da tributação do comércio que por ali passava, suas caravanas e produtos. Isso enriqueceu os reinos da época e acabou por ser o estopim da derrota, pela invasão promovida pela Babilônia, ao norte, que queria esse comércio para si.

Em vez de promover o desenvolvimento e bem estar de seus súditos, esses reis, e a elite do país, fizeram o oposto, o que acabou por enfraquecer o cidadão comum e por consequência as defesas nacionais.

Violência

A primeira crítica de Deus, por Amós, à Israel e Judá da época diz respeito à violência. A condenação feita aos reis e líderes pelo pouco cuidado com aspectos violentos da sociedade, e mesmo a imposição de violência ao povo, dá o tom para a profecia e os “Ais” de Deus para o povo – prepare-se, porque uma liderança que permite a violência vai acabar por cair.

Vivemos momentos iguais aqui, com extrema leniência com quem é violento, e a inversão de valores típica dos moderninhos que são contra qualquer coisa que tente conter o agente da violência, e chama de violentos os agentes da ordem. Desde a moda do “Defund the Police” nos EUA aos ecos macaqueados aqui repetidos, vivemos uma época e um Brasil no qual a verdadeira violência é bem vista, e a suposta violência de quem quer cadeia pra bandido é colocada com horror frente a câmeras de TV.

Somos “violentos” quando nos colocamos contra o aborto? Somos violentos quando nos insurgimos contra injustiças cometidas por poderosos sem freio? Somos ruins, maus mesmo, quando somos contra o poder do narcotráfico e sua violência tanto física quando pelo efeito devastador que seus “produtos” geram?

Exploração

Amós fala da parte de Deus sobre a exploração que é imposto ao povo. É bem específico sobre um tipo de exploração se trata: extorsão via tributos, concentração de riqueza nas mãos de meia dúzia que nada produziam (não, isso não é capitalismo – é exatamente o oposto), extorsão via criminalização da atividade comercial.

Amós é específico nessa condenação (na verdade, Deus através de Amós).


“Ouçam esta palavra, vocês, vacas de Basã que estão no monte de
Samaria, vocês, que oprimem os pobres e esmagam os necessitados e dizem aos senhores deles: ‘Tragam bebidas e vamos beber'”…

Amós 4:1

O grande pecado da exploração é geralmente cometido pelo principal explorador do mundo – o governo. Quase qualquer governo age assim. Quanto maior o governo, maior o explorador, ou a tentação de explorar via o pode que este confere. Quem é o seu maior sócio? Quem é o seu maior dependente? Quem menos te dá em troca? Eu arrisco a dizer que é quem leva mais de 1/3 da riqueza de uma nação sem dar nada remotamente compatível em troca. Exploração, que já ultrapassou o “quinto dos infernos” (os 20% de tributos sobre o ouro, instituído por Portugal sobre o Brasil) em mais da metade.

A Corrupção

O terceiro ponto reprovado e descrito Deus, via Amós, é a maldição de ontem e de hoje, a corrupção.


“Eles não sabem agir com retidão”, declara o Senhor, “eles, que
acumulam em seus palácios o que roubaram e saquearam”

Amós 3:10

A corrupção aqui é “palaciana” e não velada. É, de certa forma, institucionalizada. Quem, como nós, vive sob tremenda corrupção, deveria ter aprendido a identificá-la e a se defender dela da forma mais simples possível: não participando dela nem sendo corrupto.

Nosso povo, como os judeus deste milênio antes de Cristo, parece padecer da mesma dificuldade.

A religiosidade vazia

O último item de reprovação de Deus, por Amós, foi uma religiosidade vazia. Não é que os judeus não cressem em Deus ou prestassem culto a Ele. É, talvez um excesso de religiosidade. Aquela coisa de crer em Deus mas acreditar que temos que pular sei-lá-quantas ondinhas no fim do ano para sermos bem sucedidos; de ir à missa ou ao culto, mas também fazer uma fezinha na mega sena, pois afinal, vai que dá certo…

Uma religiosidade vazia é uma postura de confiança “desconfiada” do Todo-Poderoso. É achar que o volante da Sena corre o risco de ocupar o lugar provedor de Deus. É acreditar no que não pode nos ajudar, no final das contas.

Em suma…

Tanto o livro de Amós como o de Miquéias, que estamos estudando agora, nos dão conta de advertências de Deus a Israel na época chamada “Pré-Exílio Babilônico”, quando os judeus foram desarraigados de suas terras, o Templo destruído, seus reis mortos ou aprisionados.

É um tempo muito parecido, moralmente com o que vivemos agora. Corrupção, Exploração, Violência, Religiosidade Vazia, compõem nossa sociedade. Não creio que Deus tenha mudado; não creio que o Brasil e o mundo de hoje sejam muito diferentes. Resta a nós esperar um exílio qualquer, numa Babilônia qualquer, até que, “purgados”, possamos voltar à Terra Prometida e, quem sabe, de uma vez aprendermos a viver.

Medo Social

Este é mais um daqueles meus posts que cumprirá um papel de me lembrar no futuro, de minhas conclusões sobre problemas do presente. E as conclusões estão um tanto longe do fato, tragédia, em si.

Assim como lá perto da minha terra, em Nova Friburgo, RJ, que em 2012 presenciou um “massacre” ambiental que levou a vida de mais de mil pessoas, por conta de chuvas tão avassaladoras que deixaram os meteorologistas de boca aberta, vimos esta semana o Rio Grande do Sul ser assolado por um fenômeno raro, e mais raro ainda deveria ser: uma queda de água sem precedentes, causada por um fenômeno que juntou uma massa úmida da floresta amazônica com um ar frio vindo da Argentina, como acontece todo outono. Como resultado, Porto Alegre ficou embaixo d`água, dezenas de mortos, milhares de desabrigados, gente sem água potável nem comida.

É uma tragédia. Mas para mim, não foi a tragédia de mais longo prazo. O Brasileiro, como sói acontecer, “caiu dentro”, apoiando, ajudando, fazendo doações, fretando aviões, levando água, comida, roupas e tudo o mais que a sociedade pode e deve dar nesses momentos em que nossos irmãos passam necessidade. Lindo de se ver, e independente de governos e autoridades. Mais rápido, voluntário, e certamente custando uma fração do que as “otoridades” conseguem fazer.

Medo

O depois está sendo mais doído e mais difícil de entender, mas posso concluir que deriva de uma parte da população que tem sido alimentada em um sentimento de direitos adquiridos indevido, e de certa forma, em detrimento da população em geral.

  • Grêmio – O clube de futebol abre as portas de seu lindo estádio para abrigar refugiados, apoia com água, comida, recebe as doações, faz o que é seu “dever cívico” (sim) mas com grande senso de dever social. O resultado é que parte, “aquela” parte da população cujo bem estar está acima de qualquer sentimento, invade as lojas do clube, quebra e rouba as vending machines, destrói cadeiras… talvez sejam torcedores do Inter, e achem isso “legal”. Mas é mais do que isso… certamente mais.
  • Saques – De novo, os “oprimidos” saem às ruas, enquanto a população se preocupa em salvar o que pode, para quebrar portas de lojas e mercados, e roubar. Comida? Pode ser também, mas as notícias dão conta de saques mais “seletivos”, de TVs, notebooks, e otras cositas más.
  • Assaltos – Uma organização cristã estava arregimentando gente pra ir apoiar no socorro a Porto Alegre. São homens, em sua maioria, e que fazem um treinamento intenso de sobrevivência, junto com uma jornada bacana pela fé em Cristo. Foram tomados de surpresa quando a liderança anunciou para “ir somente quem tem porte de arma” devido ao nível de bandidos à solta, cometendo crimes contra uma população já fragilizada.

Tá bom pra você? Ou acha sensacionalismo?

Repressão

A palavra acima suscita arrepios em correntes mais “libertárias” e “wokes” da sociedade, aqui e mundo afora. Reprimir, afinal, é o que dizem que a sociedade fez ao longo de séculos, criando um odiado patriarcado, e uma sociedade em que “é bom proibir”. Até que o “É proibido proibir” tomou conta da vida de todos nós.

  • Família – O pilar central da sociedade foi perdendo aos poucos o direito de educar, e dar uma boa palmada no traseiro de um filho rebelde. Claro, os exemplos de espancamentos são usados contra os pais que só querem, por amor aos filhos, faze-los sofrer menos no futuro. O resultado é uma família em que os filhos mandam (e mamam) nos pais. Os pais mandam então os filhos para o ponto seguinte do processo de “repressão” (segundo os wokes) sem um mínimo de respeito pelo outro, de respeito por si mesmos, e disciplina zero.
  • Escola – A escola então recebe um aluno que já tende a desrespeitar tudo e todos. Até um passado recente, a escola tentava tapar a lacuna de famílias desestruturadas e dar um pouco de disciplina e educação (no sentido não acadêmico) – falhar em provas, repetir de ano, ser levado ao “gabinete” do diretor, eram formas de tentar, ao menos, dar um mínimo de senso de convívio social. Não mais. Escolas se tornaram polos progressistas de transformação do que já vinha ruim, acabava por piorar
  • Governo – Todo governo, qualquer governo, que toma uma medida, meia boca que seja, no sentido de dotar a sociedade de meios de controle, é taxada de fascista, e ditatorial. O ex-ministro da justiça Sérgio Moro, em que pese sua burrice política extrema ao comprar briga com o chefe do executivo (convenhamos, não era também nenhum gênio), desfez um trabalho extremamente útil à sociedade, que foi o de acabar com uns tais “diálogos cabulosos” com a marginalidade. Por ego, talvez, colocou a perder o que teria sido seu maior legado: uma sociedade com menos poderes na mão de bandidos.

De novo – posso ser taxado de extrema direita pelas opiniões acima? Estou errado? Pode ser. Sempre estou disposto a admitir, desde que com boas razões. Não creio – neste momento de crise, pelo menos – que eu possa me sentir assim.

Legado

O resultado está diante de nós, na forma de uma sociedade cuja pior parte está armada, e pronta para cometer crimes contra uma maioria que só quer comer, dormir, trabalhar, procriar e fazer uma ou outra festa, quando der. Uma maioria esmagadora de gente que não está disposta a abrir mão de sua tranquilidade em troca de sensações de bem estar pessoal (leia-se, justiça própria).

Joaosinho Trinta dizia com propriedade que

pobre gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual“.

Joãosinho Trinta, carnavalesco

Sabedoria vindo de onde menos se esperava, sob forma de um aforismo que, creio, todos deveriam ler corretamente: pobre gosta de luxo, de estar bem, de ter coisas boas; intelectual adora a miséria – alheia, e luta para ter uma plêiade de miseráveis a quem pastorear.

O resultado é uma sociedade dominada por minorias: de corruptos, de bandidos, de intelectuais pró-miséria, de artistas woke ganhando suas benesses à lá Rouanet, todos, sem exceção, apontando o dedo para o “pequeno burguês”, o “capitalistazinho selvagem” cuja principal preocupação é trabalhar duro e não perder, seja para ladrão, seja para inflação, o que consegue juntar ao longo da vida.

Como sempre, este post é dirigido a mim mesmo, mas compartilho com quem quiser ler. Depois de uma temporada de balanços patrimoniais, me volto a escrever um tantinho. Deprimido de tanto ver erro e mal feito, e esperando nada ansiosamente o momento em que serei “descoberto e cancelado” porque, secretamente ou nem tanto, gostaria mesmo é que todo mundo fosse paupérrimo – exceto a si mesmos.

Deus nos acuda!

Da República Romana a El Salvador

Um livro comprido, meio chato, mas de fundo histórico inegável (“Patrician of Rome”) li sobre o cerco de Roma pelos bárbaros Volsci, ainda no nascedouro da República Romana, por volta de 384 aC. e a sua defesa heróica pelo patrício (nobre) Senador Marcus Manlius “Capitolinus”. O nome “Capitolinus” foi, inclusive, uma honraria garantida pelo Senado romano ao defensor justamente do Monte Capitolino, onde ficavam os órgãos do governo da Roma republicana, a Curia (Senado), os templos, as cortes de justiça etc.

Menos de 4 anos depois, esse mesmo Senador Manlius Capitolinus era lançado de cima da Rocha Tarpeia, local de execução reservado aos criminosos mais terríveis, e traidores da pátria. A razão era simples: considerado o primeiro “populista” por Suetônio, o historiador romano da antiguidade, Capitolinus havia se aliado à “plebe” na restituição de seus direitos básicos, retirados durante os duros anos pós destruição de Roma pelos Volsci. A plebe havia se endividado junto aos usurários da cidade e seus senadores mais ricos, e haviam sido ajudados por Capitolinus a sair das dívidas, com a venda, inclusive de seu patrimônio pessoal.

Os moradores dos “Mons” (montes ou colinas romanas) eram os patrícios. A plebe morava na planície entre os montes. Quem visita Roma conhece bem essa geografia linda. Os patrícios (não todos, uma minoria, na verdade) eram muito ciosos de seus “direitos” sobre a plebe, e a extorquia, pela via da usura, dos altos preços do trigo e outros alimentos. Um par de Consules (sempre eram dois, eleitos a cada ano) passavam legislações que lhes beneficiava muito. Se uniram a gangues de regiões mais obscuras da cidade, como a Subura (que voltou às telas recentemente numa série de TV), e deixavam que essas aterrorizassem a população, exceto os ativos e negócios dos senadores. A cobrança de tributos passou a ser de tal forma desigual, que, somada à insegurança e à falta de incentivo para trabalhar e empreender, gerou uma revolta da plebe.

Olhando de fora, parece algo bem similar ao que ocorre hoje em vários países do mundo. Elites “senatoriais” se unem a bandos armados de foras-da-lei, deixando-os aterrorizar uma população desarmada (sim, era proibido portar armas na Roma antiga). O resultado foi um “El Salvador” da antiguidade – acabaram por eleger um “Ditador” (por ironia, via Senado). O velho general e senador Marcus Camilus, chamado “o segundo fundador de Roma”, pela derrota pós invasão dos Volsci pelas legiões sob seu comando. O general acabou por resolver dois problemas – acabou com a revolta da plebe, que de fato nunca aconteceu exceto verbalmente (como certos eventos recentes no Brasil) e acalmou os ânimos do Senado, colocando lá nomes melhores. A história, bastante difícil de precisar, devido à falta de dados históricos de qualidade, dá aos dois nomes posições de destaque. Os senadores opressores, de nomes Lucius Valerius Potitus Poplicola e Marcus Furius Camillus, passaram à história como o lado negro da força.

Em tempos de crise, tanto na Roma antiga como na Grécia Clássica, tempos difíceis ensejavam a escolha de um “Ditador” para conduzir o país sem ter que prestar contas a milhares de burocratas. Era um imperativo do momento de crise. Como bem definido por Maslow, e hoje, claramente, descrito pelo articulista Luciano Trigo no seu texto O exemplo de El Salvador (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luciano-trigo/o-exemplo-de-el-salvador/), o povo salvadorenho fez uma opção daquelas que não há justificativa moral para recriminar: entre viver e morrer, é preferível viver, afastando momentaneamente todas as considerações de caráter menos imediatas, como comer, obter auto-realização, entre outras. El Salvador acaba de retomar essa mesma atitude, reelegendo o estranho Bukele com 85% dos votos, para raiva e desespero de uma mídia que, não se entende bem por que, exalta mais a criminalidade do que seu combate.

As semelhanças dos dois locais, separados por 2,5 mil anos de história e uns 10 mil Km de distância são marcantes. Bukele é, para todos os efeitos, um ditador, escolhido por uma população amedrontada, para por fim a um reinado de terror imposto pelo narcotráfico desde 1987. Pode-se não gostar, mas é bastante revelador do momento que vários países da América Latina vivem. Pergunte a qualquer carioca de classe média ou média baixa, ou mesmo muitos de classe média alta ou alta, se não concordariam com mais segurança, mesmo que isso significasse mais presídios e mais condenações, menos saidinhas de fim de ano e outras benesses, e verão que a lógica é a mesma.

Bukele encarna um ditador que traz soluções aos males imediatos. E com a queda do número de homicídios de 100 para 7, por cada cem mil habitantes, é reveladora do nível de eficiência alcançado. Bukele chama alguns governantes da região de “amigos de bandidos”, e tem razão. Temos amigos de bandidos em muitos locais. Os senadores romanos eram amigos de bandidos, já em 384 a.C. Poderosos sempre tenderão a se aliar a bandidos, se isso os beneficiar. Para alguns tipos de pessoas, aparentemente não há nunca dinheiro suficiente, ou poder suficiente. Mais é sempre mais, e sempre justificará quase qualquer atitude, por mais errada que seja.

Tivemos nosso momento “ditatorial” segundo alguns, na pessoa do ex-presidente Bolsonaro. Não me parece que foi minimente hábil como para se reeleger. Cometeu quase todos os erros da cartilha política, e cedeu, em momentos cruciais, ao establishment, como aliás, fez Macri, ex-presidente da Argentina, o qual, igualmente, pagou com a derrota na tentativa de se reeleger.

De ditador, pouco tinha. Mas assim ficou marcado pela narrativa que ora atribui a ele até mesmo o desastre de Chernobil, ou a Covid-19. Esperamos o nosso “ditador”? Eu preferiria que o bom senso e o equilíbrio entre poderes seja retomado no país, e que independentemente de ideologias, a paz e a segurança sejam restabelecidas, assim como uma justiça minimamente sã. Difícil acreditar nisso a curto prazo.

Vivamos com a esperança de que um ditador não seja necessário, e que momentos que levam a uma ditadura não sejam vividos. São coisas tristes demais para serem sequer cogitadas, mas às vezes inescapáveis.

Sobre amigos e envelhecer

Manchete do O Globo nos anos 20 lia: “Anciã de 42 anos encontrada morta em sua casa em Santa Teresa“. Pois é, acabei de cumprir 59 anos e falta unzinho pra eu me tornar oficialmente ancião, pelo menos apto a usar vagas de idoso, demarcadas pela Prefeitura de Curitiba.

Ninguém se iluda. No dia 17 de dezembro do ano que vem, se vivo estiver, entro no site da prefeitura e peço minha carteirinha, coloco no parabrisa do carro e vou frequentar vagas exclusivas nos shoppings da cidade, com muito orgulho.

Há várias razões para isso, mas listo duas que são mais caras para mim.

Amigos

A despeito de talvez não ser o melhor amigo do mundo, tenho grandes amigos; os melhores do mundo. Da minha mãe, meus irmãos, tias e tios, meus filhos, minha esposa, sobrinhos e amigos antigos e novos, sou feliz por não andar sozinho e ter a casa quase sempre cheia. Gosto disso. Não é nem que eu seja lá muito festeiro, mas porque gosto de ter gente em volta – festa ou não. É uma espécie de celebração da vida e do contato. Dizem que envelhecer sem amigos encurta a vida, e se for essa a razão, espero que Deus me dê muitos amigos novos e me mantenha os antigos. Lá na frente, os amigos véios vão morrer, como já morreu meu amado pai, já faz dois anos.

Amigo é coisa realmente pra se guardar. Às vezes a gente perde amigos. Recentemente perdi um, que amo muito, e ainda me indigno com o fato, e pelo fato de não ter tido a menor influência sobre o assunto, nem ter contribuído voluntariamente pra isso. De repente o amigo simplesmente achou que já não valia a pena andar comigo. Pena, muita pena, mas respeito à escolha alheia. Se voltar, encontrará o amigo cá, com muitos defeitos (talvez os mesmos que levaram à separação) mas com os braços abertos.

Normalmente – e diria em raríssimos casos – eu me desfaço de amigos. Eu acho que se amizade fosse um fator derivado de alguma vantagem que se leva por andar junto, teria outro nome. Tem que aturar mesmo, com dificuldades, chateações e bobagens que a existência de qualquer um de nós traz. Todo mundo tem bafo, às vezes, todo mundo mente às vezes, todo mundo tem algum tipo de vício (uns mais visíveis que outros), enfim, todo mundo pensa diferente aqui e acolá. Não se pode descartar alguém por defeitos – exceto, talvez, por traição ou maldade. Mas nem assim a Bíblia usa argumentos contrários à amizade:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão. 

Provérbios 17:17

E é isso aí… em todo tempo. Em meio a dificuldades, pensando diferente, crendo diferente.

Tenho certeza que com amigos minha velhice será mais suportável.

A outra razão para eu curtir envelhecer

O Lado de lá do Rio da Vida

Ou a gente envelhece ou morre antes. Essa já seria uma excelente segunda razão pra curtir envelhecer. Morrer antes, como a “anciã de 42 anos” não é uma coisa tão legal assim. Claro que hoje, aos 59 anos, tenho talvez uma saúde melhor do que tinha 10 anos atrás, quando tinha pressão alta, pré-diabetes e 130Kg. Claro que há quase 100 anos atrás, uma pessoa de 42 anos teria condições físicas e mentais talvez piores do que alguém de 70 anos hoje.

Malho 4, 5 vezes por semana, com parcimônia mas persistência, e a única coisa que me incomoda é gostar mais de vinho do que eu deveria… estou tratando do tema… eu e Deus.

Tenho ainda alguns anos de vida profissional pela frente, e anseio pelo dia em que poderei me aposentar do que faço hoje, e continuar a fazer basicamente o que faço hoje para Deus, exclusivamente, num ministério qualquer que Ele me dê. Mas não vou ficar esperando o tempo passar sem fazer nada. Não é do meu estilo. Estou talvez mais preguiçoso do que nunca, mas ainda não acho que eu tenha perdido a vontade de aprender, de ler, de pensar e escrever. Ainda consigo me indignar com o estado das coisas, do mundo, e tentar contribuir de alguma forma.

Mas o que realmente me dá alegria de envelhecer é que a cada dia que passo, estou mais perto de encontrar meu Salvador, aquele que me dá sentido à existência e me faz saber que sou amado, com um amor sem fim. Essa alegria passará o Rio da Vida comigo, quando estiver na hora de ir. De vez em quando me pego pensando no outro lado, em como o Senhor me receberá, as “broncas” que tomarei pelos zilhares de erros cometidos, e pelos acertos que também consigo identificar e me orgulhar por eles.

Essa perspectiva vai tomando forma, e em vez de me assustar, vai me moldando. A expectativa é grande pelo que ainda vou realizar aqui, seja em mais 1, 10 ou 100 anos (!), mas sei que o Outro Lado é muito mais bacana. Ver meu Senhor, rever meus amados, principalmente meu amado Ettore, o Tóia, filho que me dá uma saudade imensa, me acalenta o coração.

Não pensem que este pequeno escrito é triste. NÃO é. É extremamente positivo e alegre. Quero a cada dia, dos que me restam aqui, ser cada vez mais alegre, positivo e contente com o que Deus me dá.

Ontem na igreja (17/12/23) tive a oportunidade de falar à comunidade no momento do ofertório. Me veio à mente uma conversa que tive com o Pastor Marcelo logo antes do culto começar. A colocação do pastor é “como é que tem gente que sempre quer mais riquezas”… eu usei então a famosa frase do J.P. Morgan quando indagado por um repórter sobre “quanto era suficiente“. Ele respondeu, talvez com muita sinceridade: “só um pouquinho mais“. Sincero, porém certamente triste. O pouquinho mais toma nossa mente e nos escraviza. Eu quero o que o mesmo Salomão disse, agora e na velhice:

…não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. 

Provérbios 30:8-9 

Isso também me libertará as mãos para conseguir me alegrar nos dias que serão certamente os mais desafiadores, fisicamente, mas quase certamente os mais recompensadores para a alma.

Em síntese, amigos, se Deus permitir, serão a minha luz diária para continuar vivendo, até que Ele queira que eu vá.

De novo, nada de soturno aqui, nem estou tentando lançar um véu de tristeza sobre o restante da existência. Ao contrário, uma posição bem mais leve e alegre do que tive até hoje da vida. So help me God…

Proibir Criptos?

Duas opiniões divergentes, uma de um “banqueirão” mundial, outra do presidente do nosso Banco Central, vão em posições diametralmente opostas.

Em sabatina no Senado dos EUA, o CEO do J. P. Morgan, Jamie Dimon, disse que “se ele fosse o governo, acabaria com as criptomoedas (https://www.infomoney.com.br/onde-investir/se-eu-fosse-o-governo-acabaria-com-as-criptomoedas-diz-ceo-do-jpmorgan/).

Já Roberto Campos Neto vai na direção contrária, e diz que “Acho que melhor do que expelir e tentar proibir é tentar entender e trazer para perto do mundo financeiro” (https://www.infomoney.com.br/onde-investir/proibir-criptomoedas-no-mercado-financeiro-nao-e-a-melhor-solucao-diz-campos-neto/).

Quem tem razão? Ou melhor, que objetivos têm cada um desses caras? Algumas coisas vêm à mente. Tudo tem prós e contras, e vou listar os meus, porque francamente fico dividido por conta de diversas particularidades desses ativos, suas maravilhas e seu potencial incrível para oprimir o cidadão.

Reserva de Valor

Criptomoedas são uma espécie de “metal precioso” intangível. Ouro, platina, prata (em menor extensão) sempre foram considerados reserva de valor, ainda que não tenham, nem de longe, a aplicabilidade prática do ferro/aço, alumínio ou cobre. São reserva de valor por duas razões: raridade e durabilidade.

Neste sentido, as Criptos cumprem este papel. São relativamente raras (sua mineração é complexa, implica provar as chamadas “Provas de Trabalho” (PoW ou Proof of Work), e, como na mineração comum, se alguém “acha” o “metal”, se beneficia dele. É a recriação da corrida do ouro em escala digital. Além disso, a tecnologia blockchain faz delas algo relativamente “blindado”. Melhor do que o ouro, que pode ser roubado, o sistema descentralizado e quase à prova de bala do Blockchain faz com que esse “ouro digital” seja seu próprio Fort Knox.

Uso em Trocas

Os Maias, na América Central, possuíam um montão de ouro, mas nem por isso fizeram dele uma “moeda” ou meio de trocas. Assim, eram pouco mais do que uma coisa bonita pra adornar o pescoço, de valor menor do que muitos outros bens cambiáveis. Os espanhóis entraram e pegaram o ouro, o que não me consta ter sido agressivamente contestado pelos mesoamericanos. O pau quebrou lá por outras razões, como terras e poder. Não pelo ouro.

Os espanhóis tinham para o ouro uma função. Os criptoativos foram criados de olho justamente nesta função – de ter um ativo usado em trocas comerciais com segurança, durabilidade e valor.

Abuso em Trocas

Como tudo o que é raro e caro no mundo, não custou para que sofisticados esquemas fossem criados para fazer com que os incautos comprassem sonhos lastreados em Criptomoedas, apenas para ver sua grana evaporar na mão dos “Ponzi Schemers” do mundo.

Ora, os esquemas Ponzi, ou pirâmides, já existiam antes da existência mesma de computadores. Assim, a afirmação do CEO do J.P. Morgan, de que os tais esquemas são razão suficiente para atacar a existência mesma desses ativos me parece lúdica, pra dizer o mínimo.

Porto Seguro para Crimonosos

A deputada democrata, Elizabeth Warren, fala com certa propriedade que “Os terroristas de hoje têm uma nova maneira de contornar a Lei de Sigilo Bancário: criptomoedas”. Nós podemos ter uma noção relativamente realista de que traficantes de tóxico de armas e políticos corruptos do mundo inteiro devem fazer uso desse meio para ocultar seu patrimônio e deixá-lo inalcançável às autoridades.

Obviamente que bandido não precisa de incentivo para “contornar sigilo bancário”. Bandido faz até submarino pra traficar tóxico, corrompe com toneladas de dinheiro alguns governos, tornando-os passíveis de diálogos cabulosos e amistosos. Bandido é bandido, qualquer seja a posição que ocupe.

Assim, não podemos ter ilusão de que: a)a inexistência das criptos implique em resolver o problema da ocultação de bens; b)a proibição de criptoativos vá acabar com os mesmos, nem com sua utilidade ou uso. Tornar a platina ilegal, e só o ouro legal, mal comparando, não vai fazer com que o bandido jogue seu estoque de platina fora.

Medo Verdadeiro

Como conclusão, aí vai meu verdadeiro medo: o controle seletivo de cidadãos e suas atividades pelo uso de Criptomoedas E MOEDAS FIDUCIÁRIAS DIGITAIS, como é o caso do DREX, recém lançado pelo Banco Central. No fundo, tenho menos medo das Criptomoedas do que das Moedas Digitais como o DREX.

Corremos o risco de ver, num futuro próximo, alguns cidadãos, como dissidentes de alguns países não-democráticos, ou mesmo em pseudo-democracias, serem limitados em seus direitos por conta do fato de que cada “DREX” em sua carteira é de conhecimento dos donos do poder, e suas atividades sejam rigorosamente vigiadas e coibidas, sem autorização judicial. Ou melhor, sem autorização de um judiciário decente e democrático, ciente de seu papel numa democracia.

Meu medo, como Cristão, é ver nossa liberdade de emitir nossas opiniões ser cerceada de forma transversal e velada pelos donos do poder, sem que isso possa ser diretamente atribuído a eles. Com muita facilidade nós brasileiros passamos a usar dinheiro digital, em relação a países mais desenvolvidos. Recentemente na Alemanha e nos EUA, me dei conta do uso pesado que eles ainda fazem de dinheiro de papel. Pode ser conservadorismo, mas acho que há um resquício de medo “de fundo” em entregar a totalidade de suas transações econômicas ao controle ou interferência de governos.

A agenda de cada um

Campos Neto tem sua agenda, como executor de políticas monetárias de um país de tamanho razoável. Jamie Dimon tem sua agenda, como alguém que tem muito a perder com a possível desintermediação bancária que as criptos têm gerado, e que as moedas fiduciárias digitais certamente aumentarão.

Ficar de olho nas motivações é bastante importante, e não acho que eles devessem se comportar de forma diferente, pois têm mandatos claros de seus “patrões” e como bons profissionais, precisam levá-los a cabo da melhor forma possível (meu artigo de ontem sobre Kissinger pode colocar este diplomata sob ótica parecida).

No que crer? Num mundo ideal, sejam criptomoedas ou moedas fiduciárias digitais seriam um incrível facilitador da vida comum. Num mundo que vem sendo mais e mais liderado por bandidos, o medo pode ser real.

Kissinger

Henry Kissinger morreu, e logo surgiram os artigos contra e a favor do seu legado. No conservador Gazeta do Povo um Op-ed de Filipe Figueiredo tasca o pau no legado de Kissinger (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/filipe-figueiredo/o-legado-maldito-de-henry-kissinger-e-de-sua-lupa-de-ver-o-mundo/) por conta dos aspectos “manipuladores” e quase demoníacos do diplomata.

Já Niall Ferguson, seu biógrafo, o enche de elogios, pelo conjunto de sua obra (https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2023-11-30/henry-kissinger-was-a-complex-man-for-a-complex-century).

Nada mais convincente do que uma opinião simples, direta, e profundamente afetada por interesses (Niall) ou fundamentos ideológicos (Filipe). Nasci e vivi ouvindo desde muito jovem o Repórter Esso, e depois o Jornal Nacional, entre outros, falarem de “o Secretário de Estado americano, Henry Kissingeeer”… com aquela voz de Heron Domingues empostada e bacana. Era a Guerra Fria, o Vietnam e a revolução cultural pela qual passamos, e na qual perdemos a santidade e a sanidade.

Kisssinger, contudo, não foi um “gênio do mal” ou um santo bem intencionado. Não há tal simplicidade em sua conduta, e o que o guiou, como guia toda diplomacia mundial decente (com seus eventuais Anões Diplomáticos, como é o nosso caso) na minha opinião, foi um pragmatismo que, ao fim e ao cabo, nos rendeu entre outras coisas, a queda do Muro de Berlim (de novo, minha opinião de leitor ávido mas não tão espero assim).

Kissinger foi sobretudo o cara mais inteligente da sala em quase qualquer sala que tenha frequentado. Era difícil acompanhá-lo em sua montagem de castelos de carta intelectuais que o levariam ao resultado pretendido pelo presidente da vez, e, principalmente, o interesse dos EUA.

Lendo um livro agora que relembra a invasão de Copenhagen pelos ingleses, no início do Século XIX, para capturar navios de guerra muito necessários para o Bloqueio Continental, contra as tropas de Napoleão, vejo um paralelo interessante: a colocação do interesse nacional sobre aquele de uma nação que, se não era aliada, não era inimiga. Entraram, roubaram os navios e foram embora. Por medo da França fazê-lo? Provavelmente. Mas muito mais porque eram necessários e eles ao fim e ao cabo PODIAM fazê-lo sem medo de retaliações. É um pragmatismo conhecido, e que levou a outras atrocidades (segundo alguns) como a “colonização” da Índia e sua entrega à Companhia das Índias Orientais, que a explorava e mandava parte pra His Britannical Majesty. Outros dizem que no fundo nem Índia existia, e que os ingleses entraram, juntaram tudo e “legaram ao mundo” o país que hoje conhecemos. A verdade está um tanto dos dois lados.

Kissinger foi pragmático, e ponto final. Ele não tinha muita saída em muitas das políticas que ajudou a traçar e implementou. Eram tempos bem mais bicudos, em termos de balanço de poder mundial – bom, estamos voltando a tempos igualmente ruins, creio. Ele fez o que achava – não sozinho, obviamente, mas junto com o Think Tank existente dentro de qualquer corpo diplomático. Identificaram a China como sendo objeto de uma “ameaça lateral” de natureza parecida com a da então URSS e trataram de implementar um plano que acabou dando errado: abrir o comércio do Ocidente (carreada pelos EUA) à China, na presunção de que a riqueza, a afluência de seu povo, faria com que o comunismo acabasse por acabar, como ocorreu na Europa Ocidental no início da Revolução Industrial, pelo simples fato de que o trabalhador estava ficando mais rico, não menos, a despeito das acusações (muitas delas corretas) de trabalho análogo à escravidão, etc.

Eu ia cair naquele jargão de sociólogo e historiador: “Kissinger foi um produto do seu tempo”. Mas todo mundo que pensa um pouco sabe que qualquer ser humano, no fundo, o é. Kissinger for mais do que isso. Sua personalidade complexa e controversa, aliado a seu jeitão bonachão e sua afabilidade faziam dele um político como poucos. Um Lula, digamos assim, com a mentira mas sem as contradições.

A lição que aprendo com Kissinger e seu legado é: O interesse nacional egoísta acaba sendo menos prejudicial ao mundo do que um internacionalismo artificial supostamente benévolo, assim como o espírito interesseiro e egoísta do capitalismo acaba provendo melhores resultados do que um comunismo preguiçoso e simplista. No fundo, em ambos os casos, tanto o internacionalista quanto o comunista são o mesmo cara, e tem tudo, menos o interesse coletivo, no coração.

PS: Em tempo (e depois de comentários pela minha falta de amor cristão, ao patrocinar a visão que expressei acima) – Jesus Cristo nos disse para sermos “mansos como as pombas, e astutos como a serpente”. Ou seja, não mandou ninguém ser burro ou cego. Em outro lado, a Palavra diz “maldito o homem que confia no homem”. Em síntese, confiança é algo raro, difícil de manter e fácil de perder. Sei por experiência própria – pelos amigos que perdi, quase sempre por fazer algo que não sabia que achavam errado e ofensivo – quanto os que expeli, talvez por razões iguais. O fato é que quando TODOS cuidam se seus interesses e sua vida ao mesmo tempo, há um equilíbrio notável. O que não acontece, por exemplo, quando alguns portam armas e outros não. Meu amor pelo povo do meu país estará preservado quando eu defender o que é melhor para nós, sem ferir o outro propositalmente. No entanto, entre ferir e ser ferido, ferirei sempre.

Talentos, a Parábola

Ao andar pelos meus sites favoritos hoje na hora do almoço me deparei com este artigo. Como cristão, estranhei o teor totalmente cristão dentro de um site de economia liberar como o do Instituto Mises Brasil. Lá no meio do artigo o autor revela uma visão que vi pessoalmente nos EUA entre os meses de Outubro e Novembro do ano passado: milhares, literalmente, de ofertas de emprego em lanchonetes, restaurantes, transportadoras e outras, sem preenchimento.

Leia https://mises.org.br/artigos/1857/a-parabola-dos-talentos-a-biblia-os-empreendedores-e-a-moralidade-do-lucro

A razão é esta:

“Além de o governo proibir aqueles que aceitariam trabalhar por menos que o salário mínimo, ele também cria um incentivo perverso para se recorrer ao assistencialismo: ninguém aceitará um trabalho que pague pelo menos o mesmo que o seguro-desemprego.

Preocupado que estou com o rumo dessa prosa de emprego versus “vale isso”, “vale aquilo”, vejo que não estamos diante de um problema nacional, mas um que está tomando dimensões fantasticamente complexas para um mundo que, de um lado, vai vendo sua força de trabalho minguar, por envelhecimento da população, de um lado, e de outro, vendo as tecnologias tirar do ser humano a capacidade de reflexão mais profunda, sobre quase qualquer coisa.

Países tentam, cada um a seu jeito, ajudar o cidadão. Pelo menos é isso que vemos, com exceção dos suspeitos de hábito, cujo objetivo é tão somente torná-los mais dependentes de um estado-pai. Aceito perfeitamente a visão de um socialista honesto, intelectualmente, de que, na visão dele, o estado deve fazer um papel de proteção e extensão de uma rede social para que a sociedade não sofra. Entendo. Não concordo, mas entendo.

Também enxergo no capitalista intelectualmente honesto uma visão de que é o cidadão que deve se ajudar, primariamente, e que a sociedade, voluntariamente, deve se organizar em torno da criação da tal rede de proteção social. Vejo mais mérito nessa ideia, e no fato comprovado de que funciona melhor do que um estado-pai, inchado.

Mas ok, se o indivíduo for intelectualmente honesto, eu aceito discutir, argumentar, à exaustão. Isso não me cansa, mas me anima. O que cansa é ouvir ladainha, decoreba, de gente que não tem o valor (ou os neurônios) para argumentar, e, caso convencido, mudar de opinião. Ainda espero mudar de opinião caso convencido intelectualmente, e de forma livre, que um estado-pai é melhor para o cidadão do que um bom emprego ou liberdade de empreender.

Entendo o capitalismo como meu sistema nervoso periférico, que trabalha por mim 24 X 7, e produz resultados que eu não obteria se, conscientemente, tivesse que pensar em respirar, em tossir, em espirrar, em reagir ao quente ou ao frio, e todas as complexas operações que são feitas descentralizadamente por meus neurônios, deixando para meu sistema nervoso central, meu cérebro, as atividades mais nobres de refletir, tomar decisões e fazer acontecer. Um governo é eleito para pensar e fazer o melhor, deixando a sociedade agir dentro de um sem-fim de atividades descentralizadas que garantem o funcionamento do “corpo” (a nação) – água e esgoto, circulação, respiração, engolir e deglutir, são atividades que é melhor deixar pra periferia. Já estudar e decidir, pode ser feito centralizadamente, mas apenas para o “macro”.

Um governo não deveria ser maior do que uma cabeça, em relação ao corpo: uns 7 a 8% no máximo, e não os 34% que corresponde hoje ao naco que o governo leva da atividade total da nação. E olha que o cérebro usa 20% da energia, mesmo representando 7, 8% do volume total (aqui incluo a cabeça toda… o cérebro mesmo dá 2% do volume total).

Deus, o dono e criador do bom senso, não comete erros. Se fez um sistema nervoso que no total do corpo humano implica em 10% (vá lá) do total, é essa métrica que eu acho que seria correta para o bom funcionamento da “máquina”.

Mais do que isso: até 2 anos atrás em tinha mais de 130 Kg. Estava me matando de diabetes, pressão alta, etc. O corpo não aguentava levar tanto peso. Hoje tenho 87 Kg, e quero baixar ainda mais. Estou bem, feliz, animado e disposto. Peso demais, para a mesma estrutura, é causa de morte. É uma doença, uma inflamação. Com o estado, não é diferente. O estado está doente, e nós pagaremos o preço.

Oremos!

Sim, sou bobo

Minha conclusão, depois de ver tanta coisa nessa vida é que – “É… sou bobo mesmo”. Estava falando hoje com minha sócia e amiga de longa data. Somos um bando de tolos. Ajudamos até a quem não devíamos ajudar, e quanto mais ajudamos, mais as pessoas se sentem no “direito” de algo que não tínhamos qualquer obrigação de fazer.

Por bobos, ou tolos, me refiro àquela patética qualidade que Deus, através de Seu filho Jesus Cristo, nos ensinou a fazer. Elenco aqui algumas coisas espinhosas que nos foram ordenadas, no Sermão do Monte.

Sermão do Monte – Seja um “tolo

Concluam vocês mesmos como isso é ser idiota, no mundo atual:

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?  Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. 

Mateus 5:43-48- Sermão do Monte

Perfeitos idiotas são esses caras aí de cima. Imagine! Amar a quem nos persegue? Fazer o bem a quem nos odeia?

Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 
Mat 6:4  para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 

Mateus 6:3-4 – Sermão do Monte

Não podemos sequer falar do que fazemos. Temos que fazer e sequer reconhecer que fizemos algo. Tá ok.. tá ok… vamos lá, Senhor. Se nascemos pra Ti e vivemos pra Ti, precisamos cumprir isso tudo né?

Ou seja, devemos ser “bobos profissionais”, e ainda ouvir as pessoas dizendo que somos uns idiotas, e que é fácil nos enganar. É mesmo. O mais doído, porém, é quando a enganação surge de trás de nós, como um soldado que vê um companheiro de suas próprias trincheiras meter uma baioneta nas nossas costelas. É o famoso “fogo amigo”. Alguém que diz que crê nas mesmas coisas, que ama o mesmo Deus, que tem Jesus Cristo como Senhor e que por qualquer razão disputável, ou justificando o mal feito, nos coloca em posição indefensável, absolutamente, de joelhos diante de alguém cujo mau procedimento nos torna isso mesmo – perfeitos idiotas. Contra o “amigo” não temos defesa – alguém que não me lembro quem, fez uma interessante oração a Deus:

Senhor, protege-me dos meus amigos, porque dos inimigos cuido eu

Atribuído a Voltaire, segundo o ChatGPT (duvido)

Para ser um perfeito idiota, no sentido do Sermão do Monte, é preciso antes de tudo renunciar a si mesmo. Não significa que não temos que ser “astutos como a serpente”, ainda que mansos como as pombas, como diz o mesmo Senhor Jesus. Não é isso que nos torna idiotas perfeitos. O que nos faz tão perfeitos é o caráter voluntário que temos que aplicar à nossa idiotice – vou ser idiota para benefício do outro, em detrimento de mim mesmo.

Minha sócia fala com propriedade que poderíamos ganhar mais dinheiro se não fossemos propositalmente bobos algumas vezes. Ela está certa, claro. Mas eu prefiro não ganhar alguns dinheiros. Aliás, ao longo dos anos se eu tivesse aceitado algumas “proposições” feitas a mim, já teria parado de trabalhar e estaria vivendo de renda. Não farei. Já cometi erros no passado, e até hoje esses erros – que alguns veriam como esperteza – me doem, se eu os trago à memória.

Esperteza não é a mesma “astúcia” que Jesus nos pede – esta serve para sermos inteligentes o suficiente para abrirmos mão voluntariamente de qualquer vantagem, SE e QUANDO o Senhor o exigir de nós. Não significa nem se deixar roubar nem ser roubado sem saber. É aceitar que o mal feito do outro nos incomoda, nos fere, nos entristece, mas não nos fará azedar, amargar ou desfalecer porque no fundo nosso lugar não é aqui, mas junto a Deus, no céu.

Parece piegas? Parece burro? Você pode achar, mas deixe-me dizer uma lição que aprendi no módulo de História do Cristianismo, antiguidade, que terminei faz pouco: depois de muito serem martirizados, criticados e sofrerem atrocidades, os cristãos acabaram, mansamente, dominando e mudando o Império Romano de dentro pra fora.

Mais tarde, com a queda do Império Romano, as invasões bárbaras tomaram a Europa de roldão. Foi justamente o cristianismo e sua mansidão que acabou com as guerras internas, fraticidas, acabaram, o que liberou esforços da Europa para as Cruzadas (que foram uma forma de defesa, não de ataque, como seus professores de história dizem por aí). Daí por diante, com marchas e contramarchas, a Europa liderou o mundo no crescimento e prosperidade gerados desde o fim da Idade Média até agora.

Um país de bobos

Lembro bem como amigos meus achavam os americanos “bobos”. Na verdade eu também achava, até me dar conta do caráter deles, com relação à verdade, lisura e à palavra dada. Tanto os ingleses quanto os americanos, e nesta seara também alemães, holandeses e muitos outros de origem europeia, mas mais na Europa Evangélica, formaram uma sociedade baseada na palavra dada, no direito costumeiro e na confiança nas leis e nos contratos. Mas muito mais na palavra dada.

Um amigo meu, italiano, me disse uma vez que “minha palavra è una, sozinha”, ou seja, eu o havia alertado que ele havia me oferecido um carro a um valor abaixo do mercado, e ele disse que já havia dado sua palavra e ia mante-la, a despeito do “caixote” tomado. Quanta gente você conhece que é capaz disso? Quanta gente mantem a palavra e quanta gente distorce as palavras ditas até que se encaixem no seu desejo?

Quantos simplesmente não mantem a palavra, mentem descaradamente (a começar do chefe do nosso executivo) e acham que isso é uma baita esperteza? Quantas vezes teremos que ser enganados e escravizados até entendermos que a melhor coisa para uma sociedade é a verdade, a honestidade e a colocação do direito do outro acima do nosso? As palavras de Cristo, e seus ensinamentos, mudaram um mundo antes dominado pelo mais forte por um dominado por regras consensuais. Isso está acabando, até porque o capeta não ia mesmo ficar na sua.

O tal “país de bobos” está desaparecendo. No lugar dele está nascendo um país muito mais parecido com o nosso. Os EUA dos pais fundadores e o “farol em cima da montanha” está se tornando um paizeco de terceiro mundo, no qual vale tudo. Meu saudoso pai costumava dizer que “onde todo mundo é esperto, só tem burro”…

Continuarei a ser um bobão, como tantos brasileiros de valor, que se doaram pela sua pátria, e tantos outros “bobões” aqui e ali escorraçados pela mídia e chamados de otários – “perdeu, mané”. Perder? Perdi? Nada! Minha dignidade e minha honra estão intactas, bem como minha relação com o Justo Juiz, que há de julgar a todos.

PS – Em tempo – Sou auditor independente. Minha função é o chamado “ceticismo saudável”, ou seja, confiar desconfiando. Um leitor me questionou como eu poderia me identificar como “bobo” sendo auditor. Ora, é simples: eu tenho o direito de ser bobo com as minhas coisas, pois sobre elas posso voluntariamente abrir mão. Já quando auditor, opino sobre as coisas dos outros. Sobre essas não posso sequer pensar em ser tolo.

Independência ou Morte!

Dizem que Dom Pedro I não disse essa frase – “Laços fora… independência ou morte”, no Sete de Setembro, às margens do Riacho do Ipiranga. Tanto faz. É mais do que comum os progressistas quererem desfazer do passado de um país, tachando tudo de mito. Desde a dentatura de madeira de George Washington até a luta de João Paulo II contra o comunismo, nas mãos de certos historiadores tudo vira lenda.

Não importa. Parafraseando Monteiro Lobato, “Um país se faz com homens, livros e histórias inspiradoras”. É algo que inspira a todos nós, termos tido um país livre, com pouquíssimo sangue derramado. Uma nação fundada na paz, num território impressionantemente contíguo, com uma língua comum, costumes estranhamente parelhos, para tanta gente distinta que o formou, e paz, muita paz, ao longo de sua história, ainda que pontilhada por guerras aqui e acolá.

Tanto é assim, que o sombrio período militar, descrito como uma era negra, de prisões autoritárias e tortura, não contabiliza, na ponta do lápis, mais do que 400 vítimas – boa parte dela sabendo dos riscos que suas ações representavam. Uma vítima já seria muito, claro, principalmente se a vítima é você, mas cá entre nós, na estatística Staliniana, 400 pessoas é algo que nem conta.

Assim, nossa grande guerra foi a do Paraguai, na qual os feitos de Caxias, Tamandaré e outros são “descontruídos” pela historiografia oficial (deles), houve uma defesa territorial, apoiada pela Inglaterra, a grande potência da época. E daí? Todas as guerras de todos os tempos tiveram interesses difusos, de algum império, o que não tira delas a justiça – pelo menos de um dos lados, o do defensor. A França apoiou os EUA em sua guerra de independência contra a mesma Inglaterra, e ninguém chama a França de “imperialista”.

Mas voltando à efeméride em si, sou tremendamente grato a Deus por ser brasileiro, amo essa nação e tenho pelo minha bandeira um sentimento quase religioso. Sou cidadão dos céus, como a Bíblia me chama, o que não me tira o direito de amar meu país, e, por decorrência cristã, todos os outros, cada um à sua maneira, respeitando povos e culturas, ainda que não concordando com muita coisa. Há impérios, há soft power, hard power, tudo isso. Há dominações, há mutreta, há diplomacia inválida, há de tudo. Nada disso impede que eu seja apaixonado pelo meu país, a ponto de enxergar claramente o perigo que nos ronda, por meio de um internacionalismo pregado pela Internacional Socialista desde sempre.

O mote hoje é o desrespeito às nações. Já não se canta o hino do país sede na Champions League, mas um pavor orquestral e vocal que pra mim soa como “Lasanhaaaa… Lasanhaaaa... Lasaaaaaaanhaaaaa“, toda vez que ouço. Carregar uma bandeira nos ombros depois de uma medalha olímpica, ou de uma vitória na Copa, está se tornando “brega”.

Meu país é este aqui. Sete de Setembro de 1822, portanto há 201 anos, nos tornamos um país soberano, e há muito que comemorar. Se um país de 210 milhões de habitantes, com quase 9 milhões de Km de território soberano, um idioma, que alimenta mais de 1,1 bilhão de bocas diariamente, que produz quase tudo que precisa, que possui o território mais intocado pelo homem até o momento, um país que jamais iniciou qualquer ato bélico (nem unzinho sequer, como umas Malvinas, etc). Um país que criou uma doutrina de não intervenção na soberania dos outros, que é lindo por natureza, ou seja, se NÓS, a 7a. maior economia do mundo não temos o que comemorar, QUEM tem? Será os EUA, que “já chegaram lá” e são a maior nação do mundo? Será a China com sua voracidade de gafanhoto? Será a Rússia e seu czar e política briguenta? Será o Japão, que perde milhões de habitantes por ano, por estar “murchando”?

Meu país é minha copropriedade. Me sinto responsável por ele. Por isso eu quero bem a ele. Quero pagar impostos com justiça, mas pagá-los; quero as ruas limpas, e por isso guardo papel de bala no bolso; quero autoridades honestas, por isso nem penso em subornar guarda de trânsito pra evitar multa; quero preservar o meio ambiente, por isso não apoio iniciativas de desmatamento; quero um país rico, por isso não apoio que simplesmente se deixe a Amazônia sem exploração racional; quero um país educado, por isso dou minha quota de participação, escrevendo com um português minimamente aceitável; quero um país fraterno, por isso apoio os imigrantes que aqui chegam sem ter o mínimo para subsistir; e, por fim, quero um país Cristão, e por isso falo do amor de Jesus Cristo por cada pessoa. Mas mais do que tudo isso, entendo que sou voluntário nesse processo civilizatório. Não preciso nem quero sem empurrado para o bem. Quero fazê-lo porque no fundo me fará mais feliz.

Amo meu Brasil, a despeito do assalto às instituições que está sendo perpetrado debaixo do nosso nariz por gente que no fundo o odeia com todas as forças. Amo meu Brasil e por isso sou favorável a instituições fortes, democráticas e honestas. E é justamente por amar meu país que eu me sinto impelido a expor o que eu penso, e aceitar tudo o que venha de visões diferentes, com liberdade, sem censura, sem arbítrio.

Deus abençoe esse país imenso, lindo, pacífico e cristão!