Salmos da Modernidade – Salmo 13

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Maestro, aos costumes… Um salminho de Davi…

Eu pareço um zé-ninguém mesmo… nem Deus liga pra mim… se Ele fosse capaz de esquecer de algo, eu diria que se esqueceu mesmo foi de mim! Não liga pra mim, Divindade?
Como sempre tem gente querendo meu mal. Tem gente que me odeia, e às vezes eu nem sei bem por que… Até quando você, Deus, vai deixar que esse povo me odeie? Eu fico num bode, num calundu, numa tristeza de dar (des)gosto…
Como diria meu filho Ettore, o famoso Tóia – “Ola pla minha cala”, Deus! Deixa eu enxergar o futuro, porque não vejo um palmo adiante do nariz! Eu não quero morrer agora, sem realizar nada; 
Depois eu morro, e aí os meus inimigos vão dizer que ganharam de mim. Vão ficar todos prosas, se achando, e eu terei perdido essa “peleia”. 
Mas tudo bem, como sempre. Eu confio que o Senhor vai fazer o melhor, não importa quanta assombração me apareça. Eu confio em Deus e ponto final. 
Eu reclamo, reclamo, brigo com Deus e fico brabo, mas no final das contas, Senhor, eu só tenho mesmo é que agradecer!

Sinecuras

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Sinecura significa “Sem Cuidado” (do latim – sine, “sem” e cura, “cuidado”), de acordo com a Wikipédia. O nome era dado a um emprego ou função que era só uma desculpa pro sujeito “mamar” em alguma teta. Estatal ou não, sem trabalhar – ou seja, receba, sem qualquer cuidado, pois você não tem responsabilidade alguma. Só recebe.

O Brasil não inventou a sinecura. Na Inglaterra dos séculos XVI ao XIX, as sinecuras eram formas de reconhecimento dos reis aos seus súditos fieis, por conta de algo que tivessem feito (merecida ou imaginariamente). A Roma antiga, onde o termo se originou, não foi nem de longe a inventora da prática, embora tenha tornado o termo famoso. E lá as sinecuras eram, pelo menos, entendidas pelo que realmente eram – benesses com o dinheiro alheio.

A famosa Companhia das Índias Orientais, ou “John Company”, na gíria da época, era uma empresa privada com características e poder muito parecidos ao de alguns países. A John Company foi mais rica e mais poderosa do que a maioria dos reinos europeus da época, e também distribuía suas sinecuras.

A prática, portanto, não nasceu em terras e reinos católicos, embora tenham se tornado uma forma de arte, quando os países protestantes da Europa, e os EUA, já tinham praticamente banido a prática, em fins do Séc XIX. Claro que banir é um termo forte, já que em pleno Séc. XX vimos a repetição disso tanto na Inglaterra, Holanda, EUA e outros locais.

O costume chegou ao Brasil com as caravelas de Cabral. Pero Vaz de Caminha aproveita a famosa cartinha a El Rey para solicitar uma sinecurinha pra um cunhado, se não me falha a memória… e daí viemos: de sinecura em sinecura.

A modernidade da Sinecura

O Estado moderno e sua impessoalidade tende a coibir as sinecuras, sob a alegação de que cada trabalho merece sua paga, e não pode existir paga sem trabalho que o justifique. Isso, longe de significar o fim da prática, implicou em sua sofisticação.

Hitler, na Alemanha Nazista, formou um time de “Sinecuristas” de alto coturno, composto de empresas como Basf, Bayer, Heinkel, etc, que ajudaram no esforço de guerra alemão em troca de uma sinecura chamada monopólio. Aliás, essa é, na minha opinião, a única diferença entre um estado comunista e um estado fascista- a existência desses monopólios ou oligopólios, no fascismo, contra um estado todo-provedor e empreendedor, no comunismo “raiz”.

Lula, e seu partido, fizeram algo semelhante, muito mais recentemente, com a política dos “campeões nacionais”, que elegeu empresas para serem vitoriosas no mercado, como JBS, Odebrecht, etc. A troca parece funcionar bem, já que a JBS, por exemplo, acabou se tornando mesmo um campeão nacional, e mundial até, com seu gigantesco faturamento e sua competência na produção de proteína animal.

Nada disso, porém, parece ajudar o país. Em troca de qualquer sinecura, de um empreguinho estilo “rachadinha” num gabinete de vereador no interior até o recebimento de zilhões em empréstimos do BNDES a juros baixos e à custa de deixar outro zilhão de empreendedores sem financiamento (1), o mercado se desalinha e acaba empobrecendo como um todo. Mas esse não foi nem o pior exemplo de sinecura recente. Pior do que financiar um empreendedor nacional é financiar um estado (no mais das vezes totalitário ou quase) com esse mesmo dinheiro da população, sob a certeza de que o pagamento não viria – e na época, não importava se viria ou não.

A Negociata – a Sinecura Nossa de Cada Dia

Assim como a cerveja da 6a. feira, com aquele torresminho, e um pagode, o desejo pela sinecura do dia-a-dia está enraizada aqui, e precisa ser extirpada a golpes de facão.

“Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Barão de Itararé

Apparício Torelly, o Barão de Itararé citado acima, era um humorista e escritor do início do século, famoso por seu humor ácido e tiradas geniais. entre outras, disse pérolas que se confirmam a cada dia, piada ou não: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.” ou a célebre “O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.” entre outras dezenas de frases geniais.

A negociata é a sinecura com meia contrapartida: não é totalmente “sine” (sem), e dá algo de “cura” (cuidado), mas normalmente dá mais lucro. É o outro lado da alma brasileira – se não dá pra receber sem fazer absolutamente nada, “vende-se” algo por um preço um tantinho maior, pagando algo pra cada agente do processo, e até se entrega algo, a depender do grau de vigilância da sociedade. Os hospitais de campanha da Covid 19 me cheiram muito a essa classe de sine-quase-cura: contrato na crise, sem licitação, pago milhões, não uso, descomissiono assim que posso, todo mundo fica com a impressão de que algo foi feito, e nada.

Durante a tragédia em Nova Friburgo e região, em 2011, se não me falha a memória, prefeitos receberam do Governo Federal milhões para aliviar o sofrimento das vítimas. Os prefeitos (mais de um) são acusados de embolsar a grana toda – uns R$ 300 milhões e não fazer nada. Se embolsaram, não sei. O que sei é que qualquer chuvinha maior no centro da cidade provocava alagamentos, por conta do assoreamento das manilhas de águas pluviais.

Eu com isso…

A tendência, como o saudoso Barão já falava, é a de que nós nos importemos somente quando não somos nós o objeto de tão grande benesse. Se estou no meio, às favas a moral. Vimos corruptos, há alguns anos, agradecendo a DEUS (Aiaiai!) pela propina recebida, que era “desejo divino”. Como cristão evangélico, minha vontade é a de que a teologia da “queda da Graça” fosse verdadeira, e esses aí fossem do céu direto pro inferno. Não posso arguir isso…

O fato é que requer grandeza moral para não aceitar nem propor sinecuras ou negociatas. O ser humano em geral, e o brasileiro em particular, são mestres em arrumar desculpas e explicações para seus malfeitos. Ora é “porque todo mundo faz mesmo”, ora é “porque preciso”, ou ainda porque “é por uma boa causa”.

Grandeza moral se aprende no berço, com pais igualmente morais, ou mesmo que imorais, que reconheçam isso e incutam nos filhos o desejo de que eles não sejam iguais aos próprios pais. Levar (ainda que arrastados) para a igreja e escola ajuda muito. Segregar de amizades ruins era a marca do pai de antigamente; não é mais. Grandeza moral, porém, é algo que nem sempre os filhos aprendem. Para isso, infelizmente, as consequências sociais deveriam ser duras e imediatas. Não o são: hoje a leniência com o “pobre do menino de 16 anos que matou 4” tem sido a marca de uma sociedade que no fundo ama a sinecura, o mal-feito, a negociata e deseja que as punições não ocorram. Algo diabólico.

Estamos longe de extirpar o mal e as sinecuras permanecem nos mesmos gabinetes legislativos, nas mesmas varas cíveis e criminais, nas mesmas escolas e universidades, no bar da esquina, na fila do ônibus, na repartição pública, e por aí vai.

Educação? Leis duras? Fortalecimento da família? Igrejas e Templos? Tudo isso junto ajuda. Temos uma luz no fim do túnel? Não sei – acho que não pois “o mundo jaz no maligno”. Tenho esperança? Poucas. Vamos resolver o problema? Não creio. Pessimista? Muito.

Eu creio em Deus, porém, e sei que Ele é quem detém o controle da humanidade, a quem dá livre-arbítrio, mas que também teu o Seu. Esperemos pelo melhor, desconfiando, mas esperemos.

(1) A injustiça desta prática é menos aparente, pois parece que o governo simplesmente tem o dinheiro e empresta a quem quer – como devedor líquido e pagador de juros, o dinheiro que vai para o BNDES e que acabou alimentando os campeões nacionais acabou sendo financiado a juros de mercado, em títulos da dívida, a custo significativamente maior. Sou contra a existência de bancos estatais de qualquer natureza, inclusive de fomento, mas entendo o xodó que o mercado tenha por eles, em um país de juros altos e crédito difícil.

Salmos da Modernidade – Salmo 12

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Esse é em Ré Menor, moçada… Feliz 2022!

Socorro, acode, Senhor... 
Tem malandro demais nesse mundo!
Ninguém faz mais o que presta,
Só tem mentiroso, ladrão, vagabundo...

Se o cara abre a boca, ja tá mentindo,
Corta fora o beiço dos caras, Senhor!
Cala a boca de toda essa corja, é o que resta
Essa gente que engana e não tem temor!

Quem vai pelo mundo criando tristeza
E faz da vida do pobre um horror
Pode crer que não vai demorar
Pra Deus dar um fim a você, malfeitor.

Deus vai nos livrar de você, malandragem, 
Mas nós sabemos que tem muita gente
Que adora enganar, e ser enganado
Dá ouvidos a promessa, de político que mente.

Socorro, acode Senhor...

Versão em Prosa – pra parte do Jogral:

Socorro, acode, Senhor…Tem malandro demais nesse mundo! Todo mundo só quer se dar bem. Ninguém mais liga pra fazer o que presta. 
Só tem mentiroso (tanto no tempo de Davi como hoje! – Nota do Adaptador). Abriu a boca, pode contar que tá enrolando, puxando saco, mentindo. 
Pode parecer cruel, mas que Deus corte fora a língua de quem é assim – pode até ser figurativamente…
Esses caras vão pelo mundo achando que engalam todo mundo na lábia, e falam abertamente: quem é que manda na minha boca? 
O povo mau vai pelo mundo fazendo o pobre sofrer, mas Deus falou que vai dar um fim nesse estado de coisa. Deus só fala coisa boa, honesta que nem ouro e prata puros. Ele falou, não tem erro!
Pois é… a gente sabe que Deus vai tomar conta de nós; e vai nos livrar da malandragem pra sempre. 
Mas é claro que tem gente ruim em todo lado, e que no fim das contas tem um monte de gente que acha bacana gente que fala bonito, promete tudo, não mede palavras pra agradar, mesmo que no fundo só queira uns votos… ou uma grana.

Nota: a brincadeira com o “samba enredo” e o jogral é pra lembrar que Salmos, na verdade, significam “cânticos” de louvor, e eram coletâneas de músicas que provavelmente eram entoadas em cultos a Deus… e ainda são! O Samba enredo é pra curtição mesmo… o jogral é pra nós imaginarmos a criançada da igreja falando, no intervalo das estrofes, ao som de uma cuíca, baixinho, ao fundo…

Os meus desejos para 2022

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“Deus abençoe” tem sido o meu “motto” quando falo com pessoas, às vezes até com quem não tenho muita intimidade. Procuro pensar no que vou falar, e falar porque realmente desejo a bênção de Deus sobre a pessoa.

De uma forma geral, mesmo que é agnóstico não se importa com meus bons desejos. É o normal. Se alguém me diz “Nossa Senhora te abençoe”, eu, que sou evangélico, a despeito de fã de carteirinha de Maria, a mãe terrena de Jesus, não acredito que ela vá me abençoar, pois está com Deus na Sua Glória. Mas e daí? Importa para mim o bom desejo do meu amigo “desejador”.

Quando um amigo espiritualista me deseja “bons fluidos”, ou coisa parecida, não fico zangado. Sei o que ele quer dizer com isso e aceito de bom grado o que há no coração dessa pessoa. Não me incomoda; ao contrário, me dá alegria.

Por outro lado, volta e meia recebo um “what???” ou “o que é isso???” nas redes sociais quando desejo a alguém meus “God Bless”, “Dio vi benedica”, ou “Deus abençoe”. A razão? Sei lá. Talvez a rejeição pura e simples a Deus, por implicância, ou por achar que se desejo bons votos em nome do meu Deus, claramente sou um conservador, e provavelmente fascista, terraplanista, bolsonazista, e por aí vai. Qual o que…

O ano de 2022 promete. Promete coisas más, eu creio, pois quando há eleição num ano, sempre há a maldade da manipulação da nossa sociedade em prol de uma ou outra visão de mundo. 2022 promete trazer coisas boas, também, como é comum. Deus sempre manda nossa quota de sanidade, pela via de coisas boas que Ele tem prazer de lançar sobre a humanidade, apesar de nós. Mas o vidente sempre acerta no “artista famoso que vai partir”, a “enchente que vai inundar o sudeste”, ou mesmo a “guerra que vai estourar no oriente médio… em algum lugar”. Ninguém dá bola. Isso também é praxe.

O que não é praxe neste ano é a culminação de uma cisão social tremenda, desnecessária e que só serve a político e à política. Estamos escravos do nosso sistema político, que concentra poder nas mãos de quem não deveria te-lo, e mantém a renovação política longe da sua plenitude. Mas também será um ano em que esse mesmo Deus, Aquele do “te abençoe”, abençoará de fato esta nossa sagrada terrinha. Poucas vezes tenho visto tanta gente engajada em tentar renovar a política. Gente boa, de fato, se mobilizando para se candidatar e tentar mudar as coisas. Isso vai mexer no cenário, e de fato, só precisamos de uma ligeira maioria no Senado para que a população reconquiste um módico de controle social sobre a política. Para ver o nível de corrupção que inunda as casas legislativas.

Deus vai nos abençoar porque é Deus. Não porque nós merecemos qualquer coisa. Mas essa terra tem sido vítima, por tempo demais, de gente que tem o coração voltado só para seus interesses, e seus grupos de pressão. Ninguém (ou quase ninguém) parece capaz de em determinado momento parar, refletir e pensar “minha posição é ruim para o Brasil”, ou “minha posição tornará gente infeliz”.

Bom, quem é capaz de criar e viver de uma indústria tão perversa como a da seca no nordeste, do tóxico, do tráfico de seres humanos ou de influência no legislativo, é capaz de tudo. Mas para esses também existe um Deus todo-poderoso. E a eles também eu desejo que “Deus os abençoe” – até porque a bênção de Deus assume tantas facetas, que em alguns casos pode significar a frustração de todos os planos de quem meu pedido de bênção é estendido.

Portanto, Deus te abençoe, Bolsonaro (e que você pare de criar encrenca, mesmo com boas intenções). Deus te abençoe Lula (e que você tenha um encontro com Jesus e desista de seus maus caminhos). Deus os abençoe, Ministros do STF (e que vocês passem a julgar com equidade e não com suas agendas políticas). Deus te abençoe, José Dirceu (e que você entenda que Deus existe, e que cobrará de você contas pelas suas maldades contra o país). Deus os abençoe, Macedo, Valdomiro e tantos outros mercadores da fé (e que vocês reconheçam que o que fazem é contrário à Palavra de Deus, em muitos e muitos casos).

Por fim, Deus te abençoe, eu mesmo, e que aprenda a lidar com as dificuldades em mais otimismo e certeza de que há um futuro sempre melhor, não importando a dor do passado; as felicidades do presente, e principalmente da vida Eterna com Deus, são e serão recompensas suficientes por tudo.

Feliz 2022, amigos, Feliz 2022, Brasil, e que Deus nos abençoe, o que quer que isso signifique para cada um de nós!

Guerrilha

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A primeira menção do termo Guerrilla (Pequena Guerra) aconteceu quando os espanhóis, por volta de 1808, começaram a atacar o exército invasor de Napoleão, durante as chamadas “Guerras Napoleônicas”, enquanto nosso então soberano, Dom João VI, andava comendo coxinhas de frango nas ruas do Rio de Janeiro, acompanhado da mal-educada Carlota Joaquina, outro tipo de guerrilheira espanhola, exportada para a corte portuguesa de então.

Guerrilha passou a ser um termo militar usado para definir pequenos grupos de ataque, ou na definição abaixo:

Trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não empregando contra ele senão meios extremamente limitados

Beaufré, André, in Introdução à Estratégia

Guerrilha contra Nós

Ontem (28/12/2021) escrevi um meio desabafo a que denominei “Rolo Compressor”, ao qual estaríamos sendo submetidos. Uma minoria, com poderes quase que ditatoriais, e que nós, uma maioria conservadora e de vida pacata, não conseguíamos suplantar.

Hoje me ocorreu que não é bem um rolo compressor, mas uma guerrilha, talvez. A observação cautelosa da história dos últimos 150, 200 anos, dá conta de que há uma guerrilha em ação, na qual, de fato, um adversário muito mais forte acaba sendo dominado pela via de ações com meios extremamente limitados, mas efetivos.

Terrorismo

Neste sentido, terrorismo acaba sendo uma espécie de guerra de guerrilhas, pelo uso de força sub-reptícia contra combatentes, e não combatentes, ou seja, contra populações desarmadas, por meios extremamente violentos, cujo objetivo é deixar o adversário de boca aberta, sem reação, baratinado com a capacidade para o mal, empregado contra ele.

O 11 de Setembro, de fato, foi um grande sucesso “militar”, guerrilheiro, se considerarmos o efeito e o custo absurdo em vigilância e segurança. Com o custo a todos nós imposto por essa ação única e ousada, poderíamos ter transformado todo o oriente médio, Irã e Afeganistão, em países de primeiríssimo mundo, com ruas calçadas de prata e calçadas de marfim.

A Guerrilha entre Nós

A guerrilha tradicional, de forma geral, e o terrorismo em particular, têm um defeito de origem: seu potencial de aplicação continuada. Não dá para empregar ataque atrás de ataque impunemente. Depois do 11 de setembro houve o Metrô de Madrid e mais outros episódios de maior ou menor impacto, mas o grande terremoto e comoção gerados pelas Torres Gêmeas não seria repetido com igual eficácia.

Há, porém, a guerrilha no estilo Rolo Compressor, que continua firme e forte, e que nos mantém a todos reféns de várias correntes de pensamento, desde a esquerda internacional, que preconiza a “Pátria Grande” latino-americana, até a dominação cultural de organizações como ONU, OMC e grandes corporações. Esse tipo de guerrilha pode ser usada continuamente, e tem sido usada assim, contra tudo e contra todos os que se opõem ao seus objetivos.

No caso do terror internacional, o objetivo declarado, a Jihad, é uma iniciativa de uns tantos covardes radicalizados, que são incapazes de conquistar corações e mentes pela apologia e discussão ampla, irrestrita, de ideias e ideais. São covardes porque não possuindo meios de convencimento, jogam bombas; inexistindo razão para dar-lhes amparo, recorrem aos aviões pilotados por radicais. Quanto ao terrorismo, sabemos o que ele quer, e de forma mais ou menos precisa, quem são.

No caso da guerrilha intelectual marxista, o “inimigo” é difuso, mas mais capacitado a conquistar incautos pela pregação de suas doutrinas, ainda que igualmente incapazes de debater de forma ampla, aberta, irrestrita, e sem berrar ou recorrer a mentiras. Vemos uma erosão da vida ocidental que ocorre entre os 16 e os 30 e poucos anos, pela adesão a um modo de vida descompromissado com a realidade do emprego e dos boletos para pagar. Após os 30 e poucos, o sujeito começa a acordar para o fato de que não há solidez em qualquer argumento que dê a um estado-deus a primazia sobre a vida de populações inteiras.

De Paulo Francis a Thomas Sowell, de José Guilherme Merchior a Carlos Lacerda, exemplos abundam de gente que, por pensar, simplesmente, deixaram os “tenets” de esquerda, e acabaram virando grandes anti-esquerdistas. Este fato, aliás, da visceralidade com que antigos esquerdistas se voltam contra postulados de esquerda, diz muito sobre o que viram, e como acabaram por entender o que antes acreditavam, e do que se livraram.

Perguntado, Paulo Francis não hesitou em dizer a razão pela qual tinha se desiludido e deixado a esquerda: “Eu cresci“. Amadurecimento gera uma espécie de conservadorismo que nada mais é do que deixar de lado as coisas de menino, nos dizeres do Apóstolo Paulo:

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.

1a. Epístola de Paulo aos Coríntios 13:11 

Há um muro no final da vida de cada um de nós. Quando somos jovens, o muro está tão longe, aparentemente, que não o vemos, e portanto, não nos importamos. A vida, claramente, é infinita. É a beleza da experimentação, da descoberta, das realizações e da ousadia. Não é ruim em si, mas não sei se deve ser estimulado – hormônios já fazem isso bastante bem. Na medida em que envelhecemos, acabamos vendo o muro cada dia mais próximo, e nos damos conta de que mais cedo ou mais tarde vamos dar de cara nele. E começamos a pensar na “Vida após o Muro”. Nos tornamos mais reflexivos e mais cautelosos. Isso também não é ruim em si, mas também não precisa ser estimulado, pois que a falta de hormônios, ou sua substituição por outros, já cumpre o papel.

Mas a guerrilha segue e existe, e certamente não é liderada por menores (em idade cronológica). Se não o é, então quem a lidera? São gente mais próxima do tal Muro do que seus liderados. Deveriam, portanto, ter deixado a sabedoria e seus hormônios, ou a falta deles, falar em seus corações. Deveriam ter-se dado à reflexão e parado de encher o saco de todas as novas gerações.

Então quem são esses guerrilheiros, a dita “Esquerda”? Como cristão, tendo a acreditar que, sabedores ou não, seguem uma cartilha ditava pelo capeta, o capiroto, o coisa-ruim, de destruição de todos os valores implantados com sangue, suor, erros e lágrimas, ao longo de 20 séculos de cristianismo, com auxílio luxuoso do judaísmo (chamar de auxílio é reducionismo, claro). Boa parte sim, cônscios de que são “não-inocentes úteis” nas mãos do inimigo, mas boa parte tão somente não tendo amadurecido a ponto de enxergar que os ideais, à primeira vista tão nobres, de repartição de renda, igualdade, e planejamento central, não funcionam, e nunca funcionarão.

Graças a Deus, como dizia Paulo Francis,

A melhor propaganda anti-comunista é deixar um comunista falar.

Paulo Francis

Deixe-o falar, não o impeça. Ouça até ele parar com a ladainha pré-ordenada, e daí comece a fazer perguntas simples sobre alguns aspectos e peça detalhes sobre como tal e tal coisa funcionarão. O sujeito acabará te convencendo, sem querer, de como o que ele defende não tem base na realidade e como nunca funcionou, e nunca funcionará.

Mas isso não impedirá o rolo compressor de seguir compactando e amassando nossa existência, nem a guerrilha lutando pelas mentes e corações dos nossos jovens.

Estratégia

A estratégia de qualquer guerrilha se resume em poucas ações: escolha de um local em forma de gargalo, surpresa, velocidade, violência e retirada rápida. Foi assim com os espanhóis cortando as linhas de suprimento dos exércitos de Napoleão, e que enfraqueceu estômagos e pernas dos soldados, permitindo o então Visconde de Wellington derrotá-los dentro de Portugal. Foi assim no 11 de setembro, quando uns 10 caras deixaram de joelhos a nação mais poderosa da terra.

É assim hoje, e o local em forma de gargalo são as nossas escolas e universidades, é a nossa mídia, é a nossa cultura. Nas instituições de ensino, guerrilheiros bem treinados atacam de forma pontual os “exércitos” de toda a nação, um pelotão/turma por vez; na mídia, meio dúzia de guerrilheiros bem falantes, dispostos a defender um ideal, atacam de uma posição de vantagem tática (uma câmera e um microfone) milhões de incautos ao mesmo tempo; na cultura, umas poucas centenas de guerrilheiros talentosos e charmosos atacam toda uma população com frases de efeito, palavras bonitas douradas por fora com desejos elevados. E está feita a mágica da guerrilha intelectual moderna. Poucos dominam o cenário mundial, enquanto muitíssimos assistem impotentes, ou tão ocupados em pagar as contas que não têm como fazer nada.

Por fim, não nos esqueçamos de um fator que um ser humano bem formado não costuma lançar mão: a mentira, o engano, a meia-verdade, a violência. Se você é guerrilheiro, não pode ter pudor de atacar a dona do mercadinho, a senhorinha que vende flores no térreo da Torre, ou o pai de família que saiu pra trabalhar e pegou um voo fatídico. Você tem que encarar essas mortes como “danos colaterais”, para um bem maior, e seguir em frente. Minta, engane, falseie estatísticas, escolha com carinho seus entrevistados para falar o que você quer, coloque pílulas de mentira em livros didáticos. Reescreva a história para contar o que você quer; enfim, lance mão de qualquer argumento, mas principalmente, não deixe o outro falar. Sufoque-o com um palavrório sem fim. Tenha um bom fôlego de modo que não deixe o outro argumentar. E se o outro conseguir te pedir detalhes do que você pensa, insista que o tempo acabou e que você precisa chamar os comerciais, ou que a aula está no fim.

Nossa Guerrilha

Temos uma guerrilha para chamar de nossa? Sim, e ela tem milhares de anos: a família. É nela que diariamente os guerrilheiros-pais metem na cabeça dos filhos, dia após dia, coisas “subversivas” como falar a verdade, usar a lógica, não gastar mais do que ganha, respeitar os mais velhos, e por aí vai.

Temos outra tática boa – igrejas. Nelas são completados os ensinos de virtude e frutos do espírito – amor, paz, benignidade, bondade, mansidão, domínio próprio, e coisas contra as quais não havia lei – hoje estão criando.

Uma outra tática, o envelhecimento natural, parece estar ocorrendo sempre, e sobre ela não temos nada a melhorar ou mudar, exceto polir a existência de forma a tornar os anos adicionais de cada cidadão nos mais produtivos de sua vida, e não achar que a vida acabou porque a aposentadoria chegou.

O muro continua lá, o além-muro existe e pode ser uma bênção. Enquanto não batermos no muro, poderemos ajudar outros a pelo menos enxergá-lo. Será nossa maior guerrilha. Sempre.

Rolo Compressor

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Isso aí abaixo é um desabafo.

Não tenho dúvida de que vivemos debaixo de um rolo compressor, em nossa sociedade ocidental. Viramos o patinho feio de tudo o que é aspecto da sociedade moderna. Temos que pedir desculpas por tudo, a quem quer que seja, por qualquer coisa que tenha acontecido há 10 ou 200 anos atrás. Não temos escolha. Temos que ajoelhar quando um cabeludo, péssimo quarterback de time da NFL nos manda ajoelhar.

Temos que achar bacana coisas como Planed Parenthood (organização pró-aborto nos EUA), Femen, Movimento LGBTQ+, ESG ou qualquer outra moda que inventem e que possa ser colocada debaixo do manto da santidade politicamente correta. Dava cansaço. Agora dá irritação. Espero que não dê em banho de sangue.

Por outro lado temos que nos envergonhar por coisas que eram sinônimo de moral e bons costumes, como família nuclear, cis-genderismo, apreço à ideais democráticos, como liberdade de expressão e livre trânsito de ideias, livre trânsito de produtos, liberdade de cátedra, e outras abominações.

Esse é um rolo compressor que às vezes vem do alto de uma empresa mundial qualquer, por exemplo, informando que temos que fazer cursos de integração e reaprendizado LGBTQ+, ou “descolonialismo”. De repente vem um CEO ou ministro de estado dizendo que todo mundo tem que aderir a um determinado tipo de palavreado, e aceitar passivamente coisas como linguagem “neutre”.

Já não se pode discordar. Não digo atacar, vociferar ou discriminar. Digo apenas discordar, polidamente. Acreditar diferentemente. Ser independente nas ideias. Nada disso pode mais. Até palavras que tínhamos como tendo significado consagrado, estão sendo ressignificadas. Aliás, até a Bíblia tem tido defensores de sua reinterpretação e ressignificação. Com muito apoio inclusive dentro de comunidades cristãs “mainstream”.

Não existe mais nenhum ponto imutável de apoio. Nada mais é firme e constante. Nenhuma ideia ou opinião pode ser considerada não-efêmera, e somos constantemente levados a acreditar que algo que sempre tivemos por fundamento, como falar a verdade, examinar e pensar sobre algo antes de verbalizar, ou mesmo a forma como educar nossos filhos, já não vale mais.

Um novo capítulo está sendo aberto nessa sanha de compressão social: a prevalência do estado sobre os pais, no que concerne à criação e saúde dos filhos. Mais recentemente, estamos vendo-se perder a liberdade de escolha que temos que ter a responsabilidade de ter, sobre o destino dos nossos pequenos.

O rolo compressor me obriga a pensar que meu filho de 5 anos pode escolher perfeitamente o sexo que terá. Mas não pode ser responsabilizado, se matar alguém aos 16 anos. Ele pode decidir se vacinar por conta própria, mas não tem condição de dirigir aos 15 anos.

O rolo compressor está vindo numa velocidade cada vez maior. Não dá para saber (se você nunca leu Apocalipse, claro) sua origem e interesses. Manifestamente, o cristianismo e os valores da civilização ocidental são seu alvo. Nossos valores familiares são seu prato, a ser devorado e transformado em fezes.

Se você se sente debaixo de um rolo compressor social, cujos motoristas são uns poucos gatos pingados com excessivo poder – sabe-se lá quem o deu a eles – sinta-se abraçado. Um abraço bem forte, de quem está sendo esmagado junto. Aliás, estaremos cada vez mais juntos, até virarmos pasta de gente.

Salmos da Modernidade – Salmo 11

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Para: Líder da Banda de Louvor / De: Rei Davi

Quando o bicho pega, é debaixo da mão do Senhor que eu vou me esconder. Tem gente que diz pra si mesmo: “vaza… vai pro teu esconderijo”? Só porque do lado de fora da casa tem bandido com AK47 e Pistola .90, preparados pra mandar a gente mais cedo pra falar com Papai do Céu…
Se a gente deixa de fazer o que presta, o que Deus mandou a gente fazer, sobra o que pra nós? 
Deus está no Céu que Ele mesmo criou, bonito que só… está sentado atrás da escrivaninha de CEO daquele lugar todo… E não tem nada que o Chefe não veja, na hora, sem falhar… Tudo e todos estão na mira dEle. 
Na prática, Deus testa tanto o gente boa como o mala. Mas Ele, no final das contas, tem pavor de quem é violento. 
É… sobre essa gente Ele vai fazer chover canivete aberto, como diria meu pai. E vai jogar essa gente num fogaréu sem tamanho. 
Ninguém se iluda – Deus é justo, e tem pavor de injustiça. Quem anda com Ele um dia vai ve-lO cara a cara. 

Salmos da Modernidade – Salmo 10

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Esse aí é pro mestre de bateria… diz no pé!

Lá no fundo do meu coração eu sei bem que estar “Seguro”, mesmo, no duro, só se Deus me proteger… Então eu digo pra mim mesmo: Voa pra perto do seu refúgio, como um gavião? 
Sim… porque tem gente por aí querendo mais é matar esse gavião-gente com flechada. Vão ficar escondidinhos até acertar o pobre bicho entre as asas, logo ele, que é gente boa, e que Deus gosta tanto. 
A questão é – se a base da nossa vida vai pro brejo, o que é que pode fazer o povo que é de Deus? 
Deus está no Seu Santo Templo; Deus fez sua Sala do Trono nos céus, e ele sabe de tudo, inocente! 
Deus aplica vestibular pra vagabundo… e os caras normalmente não passam… 
Daí, nem adiante reclamar porque Ele vai trazer um toró de praga sobre eles, ou seja, gente que não dá bola pra Deus. 
Ele é justo – sabe “justiça”? Não essa daqui, mas a dEle, que nunca falha! Não importa o que achemos, quem é Do Senhor vai ver Seu rosto, mais cedo ou mais tarde. 

Evolução

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Criação

Sou cristão, radical… Creio na divindade e na ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, creio no “sobrenatural” de Deus. Não sou, porém, um desses cristãos que acha que a terra foi feita em 6 dias de 24 horas, e que no 7o. dia Deus descansou – literalmente.

Aliás, acho que a interpretação do termo hebraico “Yom” foi levada longe demais (que pode ser tanto “dia” como “período” como “era”) pelos tradutores da Bíblia da antiguidade, que nos legaram um termo que se não é inadequado, é incompleto. Quanto mais eu leio os primeiros capítulos de Gênesis, mais em me convenço de que estamos tentando fazer com que ele seja algo que o autor, Deus, via Moisés, nunca se propôs: que fosse um texto científico.

Como disse o radialista e filósofo judeu, Dennis Prager, “Se Deus tivesse se proposto a escrever um livro científico, traria talvez milhões de vezes mais informação do que toda a literatura técnica do mundo; precisaríamos de milhões de anos só para entender as equações que teriam que ser escritas para deslindar o mistério“.

Deus só seria justo se nos deixasse um livro que qualquer pessoa senciente pudesse minimamente examinar e encontrar eco na alma. De Albert Einstein a Forest Gump, todos temos que poder examinar a escritura e tê-la explicada de forma que a entendamos.

Imaginem explicar o mundo, e um universo de 14 bilhões de anos em meras meia dúzia de páginas de um livro. Dá pra entender que Deus pôs o mundo em marcha e o moldou com as próprias mãos, em “Yoms” (eras). Isso pra mim está correto, e ao mesmo tempo não importa muito. Deus criou o mundo etapas, que chamou de Yoms, seja lá que duração tenha o tal Yom. O fato inescapável é que Ele criou.

Com cristãos somos fustigados dia e noite pela aparente contradição entre criação e evolução. Por culpa nossa mesmo, judaico-cristãos, lançamos sobre nós a pecha de crermos no que nem mesmo as Escrituras dizem.

Eric Metaxas, em seu livro “Is Atheism Dead?” (“O Ateísmo morreu?” – ainda sem tradução em Português, creio) fala da quase total assertividade da sequência da evolução, e principalmente da chamada “Explosão do Cambriano” (período de poucos milhões de anos em que “surgiram” milhões de espécies no mundo).

Eu próprio dei de cara com essa análise – da impressionante assertividade do relato do Gênesis, quando um professor de Geologia entrou na sala e começou a escrever no quadro os dias da Criação segundo o Gênesis:

  1. No 1° dia, criou a luz e separou a luz das trevas.
  2. No 2° dia separou “águas das águas” e criou os céus.
  3. No 3° dia criou a terra, os mares, as ervas do campo e as árvores frutíferas.
  4. No 4° dia criou as estrelas do céu, e segregou o dia da noite.
  5. No 5° dia criou os grandes peixes do mar, os répteis “de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies” e toda as aves conforme cada espécie.
  6. No 6° dia Deus fez as feras da terra conforme a sua espécie, o gado, o homem à sua imagem – à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.).
  7. No 7o. dia Deus descansou…

As risadas enchiam a sala de aula. Era o auge, talvez, da descrença e do cientificismo acadêmico que desaguou na falta total de imaginação científica que vemos hoje. Na incapacidade de ver o que não é óbvio. O professor continua fazendo um paralelo com as eras geológicas:

  1. Aazóica – “Ausência de Vida” (Pré-Cambriana)
  2. Arqueozóica – “Vida Antiga” (Pré-Cambriana)
  3. Proterozóica -“Vida Anterior” (Pré-Cambriana)
  4. Paleozóica – “Vida da Pedra” (Explosão do Período Cambriano – Eras Cambriana, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero, Permiano)
  5. Mesozóica – “Vida Média” (Triássico, Jurássico, Cretáceo)
  6. Cenozóica – ” Vida Nova” (primeiros vestígios do Homem – Do Grego “Kainos”, novo e “Zoe” – vida)
  7. Neozóica – “Vida Nova” (era em que nos encontramos hoje – Do Latim, “Neo” e do grego “Zoe”).

Agora volte e compare os períodos… com poucas diferenças, nós temos uma descrição bastante acurada da Criação, por um pastor de ovelhas do deserto do Sinai, mais de 1.500 anos antes de Cristo… O que? Como é que o cara poderia ter uma ideia mínima dessa correlação tão marcante?

O professor termina (com silêncio sepulcral na sala) dizendo: “Não sabemos, mas aprendam a não fazer ciência com conclusões prévias no bolso do colete”, ou coisa que o valha).

Evolução

Na minha opinião “resolvemos” a questão básica das diferenças entre a Bíblia e a Ciência com essa constatação acima. Mas obviamente há a questão da evolução. Charles Darwin relutou muito em publicar seu livro A Origem das Espécies, pelo menos parcialmente por questões de fundo religioso, sua possível ou alegada relação com o cristianismo (tendo inclusive cogitado ser clérigo anglicano em certa altura da vida).

Independentemente disso, outros tomaram sua Teoria e lançaram-na contra a Bíblica com furor. Os líderes cristãos engoliram a isca com linha e chumbada, sem qualquer reflexão e passaram a tentar colocar a teoria numa espécie de ostracismo herético, o que somente fez com que parecessem ridículos aos olhos “iluminados” do mundo.

Estamos no meio de uma batalha entre biologia evolucionária e cristianismo? Não sei nem consigo enxergar assim. Tão somente vejo um nível alto de premissas sendo usadas como verdades reveladas por parte dos cientistas (biólogos, paleontólogos, etc) que não possuem mais validade intrínseca do que uma manifestação de fé qualquer.

Não vi ainda um único link entre uma e outra espécie ser comprovado. Apenas “uma” espécie aqui, e “outra” ali, com algumas características que podem ser consideradas complementares ou parecidas, mas sem uma continuidade que possamos comprovar. Perto desse nível de, digamos, evidência, a fé na historicidade de Jesus ou das Escrituras, como um todo, me parecem teorias bem mais sólidas, mantendo as devidas proporções e diferentes áreas do conhecimento.

O fato é que ninguém explica a tal “Explosão” do Cambriano, ou seja, o 4o. dia da Criação. Ninguém, na verdade, pode explicar a frase atribuída a Einstein que:

As coisas deveriam ser o mais simples possíveis, mas não mais simples do que isso

Albert Einstein

O que eu quero dizer com isso: ninguém, nem mesmo em condições absolutamente controladas em laboratório jamais conseguiu gerar algo vivo de componentes não vivos. Ninguém consegue desconstruir uma célula até seu nível molecular, atômico, e enxergar exatamente em que ponto algo não orgânico passa a se tornar “vivo.

Por isso, digo que não há nada que me proíba – nem creio que haverá jamais – de continuar glorificando a Deus por minha existência, por Sua Graça expressa através de Cristo, ou do fato de que Ele sustenta a vida na terra.

Fora disso, estamos apenas contrapondo Fé com fé. Só isso.

Hedonismo, Dor e Liberdade

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Sem mais preâmbulos, e indo direto ao que quero dizer…

Hedonismo

A Wikipédia traz a definição clássica de Hedonismo como sendo “aumentar o prazer e diminuir a dor”, que deriva da escola filosófica clássica iniciada por Aristipo de Cirene. Esse sujeito achava que não havia nada mais nobre do que ter prazer, e evitar a dor. Criou todo um conceito filosófico para justificar sua teoria. Deve ter sido imensamente popular… Bom, hoje seria.

Dor

Sobre a dor, é um fato da vida, e decorre de algo que nos chateia, nos incomoda, nos faz mal, ao corpo ou à alma. É algo que o ser humano foi criado para evitar. É algo que ninguém deseja para si próprio, em sã consciência.

Liberdade

Liberdade é um conceito extremamente complexo, e que ultimamente tem sido vendido como “não prestar contas a ninguém”, “não ter limites aparentes”, ou ainda “capacidade de tomar as próprias decisões”, ou mais objetivamente (creio), independência, autonomia e autodeterminação (como a mesma Wikipédia conceitua).

E daí? Onde quero chegar?

Não sou filósofo nem psicólogo. Lido com finanças e números a vida toda. No entanto, vejo uma relação umbilical entre Liberdade, Hedonismo e Dor. Se eu sou livre, mas pratico hedonismo, ou seja, só penso nos meus próprios prazeres, chegará o momento em que física e mentalmente estarei impedido de exercer liberdade. Seja por falta de condicionamento mínimo para caminhar num parque, ou sentar quieto, meditar, orar ou simplesmente prestar atenção em algo, perderei a liberdade pela via dos efeitos do hedonismo.

Por outro lado, se eu pratico exercício, a disciplina do alimento, do estudo, da concentração, eu necessariamente estou “me negando a mim mesmo” algo, em algum momento. Isso gera dor, seja física seja mental. A dor de cabeça do jejum tem a mesma natureza fundamental da dor muscular do exercício ou a dor de alma das horas passadas em meditação. Elas diminuem meu prazer, claramente. Eu, pelo menos, tenho zero prazer em caminhar ou correr, levantar peso ou mesmo orar – é uma disciplina que precisa ser exercitada, que gera dor antes de gerar prazer.

Se eu gero dor física ou mental/espiritual, perco algo de minha liberdade. Ou seja, no momento da dor me privo da liberdade, por exemplo, do descanso, ou do relax de uma boa comédia na TV.

Paradoxo da Liberdade

A liberdade, portanto, parece ser, e é, um grande paradoxo. Desde as definições sobre o “preço da liberdade” (eterna vigilância) até o conceito bíblico, a maravilhosa passagem em que Jesus nos informa que “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36), vemos uma liberdade que antes de ser um “estado”, é uma “ação” – estar livre, pois que perdê-la parece bem mais fácil do que conquistá-la.

Eu, por exemplo, perdi minha liberdade quando passei dos 120Kg. Não apenas isso, quase perdi meu fígado e minha vida para a esteatose (e depois, se deixasse minha vida “livre”, cirrose). Tive que acabar com minha liberdade de comer o que bem entendia e beber vinho mais liberalmente, e me submeter a um tratamento radical – uma cirurgia que me cortou 90% do estômago, e que até agora me tira a vontade de sequer tocar em comida (uma paixão).

Perdi minha liberdade “sendo livre”. Que paradoxo. Perdi a liberdade justamente por fazer tudo o que queria fazer com minha barriga, sem pensar em mais nada. Quão livre eu realmente era? Esqueci a parte da “eterna vigilância”. Vigiar não é nada bom, e tira o prazer. Vigias de bancos, de presídios, ou de acampamentos militares sabem da importância de uma boa vigilância para manter a liberdade – e o quão chato é o processo… a vontade de cair no sono e atender os desejos da “carne” podem ser o estopim da perda total da liberdade, e até da vida, em muitos casos.

Portanto, ser livre implica em boa medida em matar o hedonismo.

Vida Moderna

O homem moderno foi levado ao hedonismo extremo por uma vida boa, conquistada pra nós nas trincheiras das grandes guerras, e pelos nosso políticos e estadistas menos populares, que nos exigiram sangue, suor, lágrimas, que nos instaram, a cada brasileiro, a “cumprir o seu dever” como o Brasil esperava. A dor de uns comprou a liberdade e o hedonismo de todos, ou quase todos.

Onde isso nos está levando? Pensando numa camada ainda mais alta na Escala de Necessidades de Maslow, criamos um nível superior, que poderíamos chamar de “Hedonismo Crônico”. É um estado em que temos o “direito” ao hedonismo, sem prestar contas a ninguém. A vida moderna nos chama ao direito, e nos quer afastar do dever.

A Equação da Vida Moderna

Vida Moderna = Hedonismo.

Direito = Prazer; Dever = Dor.

Eu mesmo

Pragmatismo

O resultado desse hedonismo crônico será fatalmente a perda da liberdade. E a perda da liberdade virá pela falta de um mínimo de pragmatismo. Por razões que só uma sociedade majoritariamente hedonista pode compreender, já há algumas décadas temos trocado o necessário pelo desejado, o correto pelo que nos faz sentir bem, o difícil e certo pelo errado e fácil.

Tem sido assim, por exemplo, com a teimosia da ideologia de gênero, que nos quer fazer esquecer o sexo biológico como não importante, a despeito da inescapável impressão digital biológica, do XX e XY no nosso corpo.

Tem sido assim também com relação às ideias de que temos direito a algo pelo qual não trabalhamos e não conquistamos; direitos que “nos são devidos” mas que alguém terá que pagar por eles. Tem sido assim com relação ao “capitalismo malvadão” e sua geração de riqueza e o consumo/confisco dessa riqueza por governantes que nunca descontaram uma duplicata ou pagaram uma folha de salários na vida.

Tem sido assim, mais recentemente, com física e matemática, cujos rígidos padrões lógicos não são “aceitos” por alguns, que adorariam que 2 + 2 fosse igual a 22… Tem um vídeo excelente sobre isso… procurem no YouTube.

Enfim, tem sido assim todas as vezes que a realidade impõe à sociedade algo duro de engolir. Qual avestruz, muitos escondem a cabeça na terra na vã tentativa de que o problema desapareça, independentemente do fato de que 2 + 2 = 4, independentemente de como me sinto com relação a isso.

Nossa sociedade perdeu a capacidade de ser pragmática. Foi o realismo, o pragmatismo, segundo Viktor Frankl, que permitiu a muitos prisioneiros de campos de concentração sobreviverem às terríveis condições impostas pelos nazistas. Os otimistas morreram logo; os pessimistas, logo depois. Acho que os hedonistas morreram antes de qualquer grupo desses.

A vida não coaduna com o hedonismo puro e simples. A liberdade não lhe paga homenagem.

Decerto, em mais 20 anos esse artigo mal escrito poderá fazer sentido para alguém que, depois de cismar com igualdade de sexos, ou sua inexistência, ou políticas sociais infinitas, tenha perdido a liberdade ou encontre-se na mais miserável existência.

Acordar antes do problema é melhor do que depois, ou não acordar mais.