Apátridas

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Seu João, o Apátrida

O avô da minha esposa, Sr. Jon Friesen, era de origem alemã, menonita. Nasceu na Sibéria Central, Rússia, no início do século XX. Com o advento (tragédia) da Revolução Bolchevique, os menonitas, cristãos, tiveram que se mudar de lá, fugidos, atravessando o Rio Amur, da Sibéria para o norte da China. Toda a família foi – pai, mãe, filhos, tios, tias, primos, e tudo o que tinham de possessões terrenas, em cima de carroças com esquis, feitas trenós. Passaram quatro anos (acho) para atravessar toda a China, então um “protetorado do Reino Unido”, até chegar a Shangai, e de lá num barco para Marselha, na França, onde uma sociedade de apoio aos migrantes menonitas os indicou dois destinos possíveis – Brasil ou Canadá. Parte da família escolheu Brasil, parte Canadá. Até hoje existem menonitas de nome Friesen (que é bem comum) em ambos os locais, aparentados.

O Sr. João (o Jon ou Ivan) entrou no Brasil como “Apátrida”, com um documento emitido pela Liga das Nações (creio, também), antecessora da ONU. Tive esse documento nas mãos, e creio que meu sogro, Heinrich Friesen, ainda deve ter em algum lado, ou a Tia Gertrude Friesen Dyck. Foi meu primeiro contato direto com o termo Apátrida – “sem pátria”. Ora, Seu João, a quem conheci bem, nos anos 90, tinha cara de “russo”. Falava um tantinho de russo, além do Alemão (Hoch Deutsch – o “Alto” Alemão, de Goethe e Schiller) e o Plötisch (ou Platt Deutsch, “alemão amassado” (Sic!) ou dialeto dos “alemão russo” como falam ainda hoje aqui perto, na colônia menonita de Witmarsum). Era russo, mas não era russo. O pai nasceu, até onde sei, na Península da Criméia, que já foi Rússia, já foi Ucrânia, já foi Rússia, já foi Ucrânia… e hoje é Rússia, de novo, meio que na marra). Não era Ucraniano. Não era Alemão (Friesen significa originário de Friesland, que tem Ost-Friesland e West-Friesenland, região do norte da Alemanha e Holanda, de onde vem a mistureba que chamam de Plöttisch…).

Seu João nunca se naturalizou brasileiro. Morreu Apátrida, portanto. Bom, eram os tempos dos documentos de papel, dos passaportes falsificáveis (hoje ainda são…) e das encrencas de fronteiras, que ainda existem naquela parte do mundo. Ao que me consta nunca teve problemas aqui. Aqui casou, criou os filhos, possuiu terras, e até se aposentou, e morreu. Está enterrado na Colônia Nova, em Nova Aceguá (antigo distrito de Bagé-RS) e em paz descansa, com o Senhor.

Da Sibéria para a Nicarágua

Ser apátrida por contingências é algo triste, até certo ponto. Depende de uma nação acolhedora, como eram o Brasil e o Canadá de então (e ainda são) para receber e dar uma vida digna a esses imigrantes pobres e sem bandeira.

Ser apátrida por decisão de um Estado Nacional é coisa que dificilmente se vê. Eu vejo histórias de “banimento” feitas por monarcas absolutistas de até o Século XVIII. Depois disso nem sei se o fato voltou a existir. Os absolutismos foram sendo reduzidos e os banimentos se tornaram muito raros. Depois da 2a. guerra mundial, nem sei como anda isso. Não sou expert em política migratória internacional, mas tendo a pensar que quase nada assim acontece. Nações desenvolvidas acabaram com isso.

De repente, surge um sujeito do 3o. mundo, com cara de caudilho analfabeto, e começa a retirar cidadania de seus paisanos. Um bispo aqui, um escritor ali, uma ativista de direitos humanos acolá… e isso parece que não incomodou ninguém, nem no mundo dito civilizado, por um bom tempo. Parece que começa a incomodar agora. Até mesmo no nosso Brasil varonil, de triste governo e tendências autoritárias. Parece que a dose foi demasiada, até mesmo para gente pouco dada à democracia, como os que temos no poder, antes e agora.

Ora, o que significaria ter sua cidadania, seu direito a um país, a uma bandeira, caçados por decisão do chefete de estado de ocasião? O que dizer ao mundo, se você agora se vê sem direito algum, em sua própria terra, da qual detinha um passaporte, cantava o hino e, no fim das contas, amava e ama?

O cidadão perdeu seus direitos, e não sabe para onde vai. Países latinos um tantinho menos ditatoriais, como Chile, Colômbia, México, outros nem tanto, como Argentina e Brasil, e até nações europeias, como Espanha (que, afinal de contas, criou essa confusão toda aqui) ofereceram asilo aos cidadãos (nenhum deles culpado de nada, exceto discordar do ditador). Como esses apátridas se sentirão aqui? Aliviados, como Seu Bernardo, pai do já descrito Seu João Friesen, por ter alguma terra para cultivar e paz para crer em Cristo? Ou frustrados por ter que receber um passaporte que não é o seu, de uma terra que não é a sua, cantar um hino que não é seu e tentar amar uma terra com a qual tem pouca afinidade?

Quem parará o ditador? Qual é o limite que precisa ser rompido, que lei internacional quebrada, que artigo da Convenção de Genebra burlado, para que o mundo se aborreça a ponto de intervir? Será Daniel Ortega melhor que Manuel Noriega, cujo Panamá se viu envolvido no quebra-pau com os EUA? Será que é preciso um Canal do Panamá para que alguém se digne a intervir?

O mundo está deixando de tomar atitudes por razões éticas, cada vez mais. Ah… isso sempre aconteceu, dirão os puristas. Sim, claro. Trata-se, porém, da frequência e natureza das infrações, e da qualidade e força das intervenções. Eu vejo um gráfico apontando uma queda cada vez mais forte tanto na frequência quanto na intensidade das intervenções.

Hutus mataram um milhão de Tutsis, em Ruanda, depuseram seu monarca, e o mundo olhou. As manchetes não tinham um milésimo da indignação que o holocausto até agora gera. Uganda foi inundada de refugiados Tutsis, que devem estar por lá até agora. Apátridas, todos, na prática, senão na documentação.

Eu e você, cristão, conservador ou pelo menos amante da família nuclear, de pai e mãe, corremos o risco de sermos os novos apátridas, em algumas décadas, ou anos? Eu tenho a distinta impressão que sim. E tenho também o distinto medo de que ninguém virá em nosso socorro.

ChatGPT, PIX, DigiFidus e nós, Juntos e Shallow Now…

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Morro de medo de coisas que não entendo… mas isso é natural. Quanto mais limitado você é, ou quanto mais limitado você admite que é, mais medo você terá de coisas que não entende – principalmente quando todo mundo em volta de você diz entender.

Hoje, todo mundo está encantado com uma nova modalidade de inteligência artificial, o ChatGPT, que parece fazer traduções melhores que muitos tradutores juramentados e consegue criar histórias e até músicas, baseadas em dados alimentados e “aprimorados”. Meu cérebro reptiliano (chamemo-lo “Jacarito”) diz “sei não, hein”… e tem aquela urgência de brigar ou fugir.

Me senti, e ainda me sinto assim com relação a outros fenômenos do mundo atual, como o PIX e as Moedas Oficiais Digitais ou algo como “DigiFidus” (desculpem o neologismo, mas tá difícil ler algum mais adequado). Bancos devem estar tremendo diante do potencial do PIX em relação às pretensões do Brasil em “desintermediar” as operações financeiras. Já um Real Digital, baseado em blockchain, pode criar uma situação de controle total e absoluto sobre a vida financeira de todo mundo que estiver “on-the-grid” (conectados, ou bancarizados).

Indo de trás pra adiante:

PIX

É uma coisa mágica, e que não vemos em nenhum outro lugar do mundo, até o momento. Passei 2 meses nos EUA recentemente, com minha esposa, e dificilmente uma área me deixou mais frustrado, no país mais desenvolvido do mundo, do que o setor bancário. Nessa área, damos de 10 a zero em qualquer outro país, China incluída. Somos feras em automação bancária. Então por que o PIX mete medo em Jacarito?

Temo que eu não tenha mais nenhuma privacidade financeira, o que contraria frontalmente a Constituição de 1988, em seu Art. artigo 5o., incisos X e XII, prevê garantia de sigilo bancário “fundamentado no direito à privacidade e à intimidade, a inviolabilidade dos sigilos das comunicações telegráficas, correspondência de dados e das comunicações telefônicas.”. Ações práticas da Receita Federal, como SPED, ECF e ECD, já fazem um papel bastante bom em, sob qualquer aspecto prático, acabar com o sigilo de empresas.

Na prática, isso já foi pras calendas há tempos, como muitas coisas previstas, inclusive em cláusulas pétreas na CF88, e que certamente virão assombrar a todos, à esquerda e à direita, sempre que algum Supremo deseje brandir poder em nossa cara.

Há razões de sobra para adorar o PIX. É grátis (por enquanto), é simples e inclusivo. O Povão adora, e com razão. O meu medo não reside nisso. Meu medo se dá pelo fato de que, se temos um Banco Central independente hoje, temos um PIX “blindado” de medidas antidemocráticas. Está na rua, e na cabeça dos governantes da vez, o desejo e a possibilidade de tornar (senão de direito, mas de fato) o Bacen, de novo, em um apêndice do Governo. O COAF já saiu de lá, e portanto, é simples prever um certo esvaziamento contínuo das funções do Banco. A partir de meados de 2024, um novo presidente do Bacen assumirá, à “imagem e semelhança” dos governantes da vez. E quem me garante privacidade ou “licitude” no uso das informações financeiras derivadas do PIX?

Teoria da Conspiração? Pode ser, claro. Afinal, Jacarito, cá dentro de mim, tem medo, e foge… ou ataca…

DigiFidus

Um passo lógico, subsequente, a ser dado pelos controladores da Moeda, é a criação de Reais (R$) totalmente digitais. Quando da criação das primeiras moedas virtuais, como BitCoin e outras, imediatamente veio à minha mente o fato de que governos não gostam de competição. Sua vontade de controlar desaguaria – creio que desaguará – na criação das DigiFidus – moedas digitais baseadas em tecnologia blockchain, mas controladas e lastreadas fiduciariamente pelos governos centrais – a começar pelo Brasil, creio, que é ponta de lança nessas tecnologias.

A pergunta que Jacarito se faz então, é a seguinte: O que impede um Bacen dotado de capacidade de processamento de dados quase infinita, faca-e-queijo na mão, de varrer do mapa todo o sistema bancário nacional, e concentrar em suas mãos toda a capacidade de criar e controlar contas bancárias, oferecer (e negar) empréstimos e controlar toda e qualquer transação financeira? Teoricamente, nada.

Jacarito se encolhe num canto, no chão da jaula desse zoológico chamado Brasil, e balança o rabo ameaçadoramente a quem quer que chegue próximo. Como não ter medo de um governo que tem tal ubiquidade? Tal capacidade de fazer o que quer, literalmente, com todo e qualquer player da economia?

Se o governo é de direita, pode perfeitamente beneficiar igrejas e ONGs de sua preferência; pode fomentar o agribusiness e até facilitar a vida de quem quer garimpar onde não deve, em tese. Pode disruptar ONGs “inimigas” e varrer do mapa, sem deixar rastros, instituições mais à esquerda.

Se o governo é de esquerda, pode perfeitamente bem acabar com toda e qualquer instituição religiosa, lascar com a vida das forças armadas – financeiramente, e ainda criar embaraços horríveis à vida de reflorestadores e do agro brasileiro. Em mãos “estrangeiras”, pode ser usada em benefício de potencias estrangeiras, em linha com suas opções ideológicas.

Se o governo um dia for “centrão”, aí sim estaremos lascados, pois a necessidade de malas de dinheiro circulando em aeroportos, ou caixas de papel pintado de R$ em apartamentos alugados serão coisa do passado. Tudo devidamente carimbado pela autoridade que mandar na vez (essa gente tende a ser bem eclética no compartilhamento do poder).

À esquerda e à direita, passando pelo centrão (ou centro), os riscos para a vida da sociedade são evidentes. Resta saber se os Jacaritos dentro de todos nós aceitarão isso passivamente, ou se algum Supremo nos impedirá de demonstrar nossa indignação ou desejos.

ChatGPT

Isso parece não ter nada a ver com os pontos anteriores, mas Jacarito discorda e me pede pra contar o que “ele” acha.

Como toda boa tradição de Teoria Conspiratória, sempre há um elemento de tolhimento da capacidade de interpretação da realidade, até que o “fato consumado” já tenha acontecido e seja tarde demais. O filme de mesmo nome quase me matou de medo, pela possibilidade de que aconteça um dia. Esquerda e direita sempre competem pela primazia de pichar nas costas do outro lado a capacidade de fazer “isso”.

ChatGPT é um fenômeno. É preciso passar dias esperando uma vaga pra acessar o sistema. Dentro dele, um mundo de possibilidades emerge, desde a confecção de teses fajutas de mestrado e doutorado, até a tradução (excelente, por sinal) de documentos. Dá até pra ajudar bastante na escrevinhação de códigos de computador.

O que Jacarito teme, no que tange não só a ChatGPT, mas a qualquer espécie de inteligência artificial, é o que o livro “The Loop” (Jacob Ward) sub-titula como “Como a tecnologia está criando um mundo sem escolhas, e como lutar contra isso” (tradução minha, sem suporte do ChatGPT, graças a Deus).

O que Jacob Ward nos chama atenção é para o fato de que IA (Inteligência Artificial) dificilmente é algo “neutro” ou cientificamente orientada. Sempre tem um “bias”, uma pegadinha. Se você pergunta algo que o sujeito (de carne e osso) por trás da ferramenta, considera inadequado, politicamente correto ou que ele ache que vai ferir alguma suscetibilidade, o ChatGPT vai retornar uma mensagem padrão dizendo que não comenta sobre este assunto, e ponto final.

Por outro lado, outro dia vi que o ChatGPT retornou algo sobre a morte de Ayrton Senna num acidente com Satoru Nakajima no GP… do Brasil… uns anos antes da morte efetiva. Por que? Sabe-se lá. O GPT ainda tá aprendendo (Talvez GPT signifique Getting Productive Tips, ou “Obtendo dicas produtivas”).

Num mundo de seres cuja atenção não dura mais do que 20 segundos, e cuja capacidade de teclar é milhares de vezes maior do que a de refletir, onde é que o ChatGPT entra em jogo? O Livro alude a isso da seguinte forma:

“While I believe it’s clear that the mental and physical health of entire generations could be at stake, I also believe that capitalism, culture, and our conviction that we are in charge of our own destinies are blinding us to the threat.”

(Embora eu entenda por claro que a saúde física e psíquica de gerações inteiras possam estar em jogo, eu também acredito que o capitalismo, a cultura e nossas convicções de que estamos no controle de nossos próprios destinos nos está cegando para a ameaça [presente]”

The Loop, Jacob Ward

Como, meu Deus do céu, não estar “blinded” (cego) para a ameaça que a IA representa para nós, quando a Lei do Menor Esforço é tudo o que nos rege, na sociedade atual? Como não deixar “a vida nos levar”, ainda que a “vida” seja aquela ditada por nós por uma IA, frequentemente (senão sempre) programada para nos dar uma resposta que nos imbecilize, nos faça ainda mais presa de um mundo feito para nos moldar?

O Livro segue dizendo que empresas, como Facebook, Google, etc, usam essas ferramentas de IA para nos conduzir, tanger, como gado, para um destino especificado internamente. O objetivo parece ser usar uma tecnologia que não entendemos para retirar de nós a capacidade de reflexão (*)

Tudo parece Cooperar para nosso Bem… até que não…

ChatGPT, PIX, DigiFidus… tecnologias que, há algum tempo atrás, seriam difíceis de não qualificar como “milagres”, ou “magia”. Tecnologias que ainda hoje a maioria de nós não entende, não faz questão de entender e tem raiva de quem entende.

Some-se a isso o fato de que os grandes Curadores da Sociedade, a Imprensa, os Acadêmicos e Filósofos parecerem estar a serviço das mesmas forças que programam os algoritmos das diversas IAs, das quais “bebemos” sem reflexão, e está dada a confusão, e a escravização.

Tudo parece cooperar para nosso bem, e nossa tranquilidade, até que não mais seja verdade. Seja você de que convicção política for, saiba que estamos, todos nós, diante de uma aterrorizante possibilidade de virarmos uma “Idiocracy” (**)

Pagaremos pra ver? Jacarito não quer…

(*) O Livro não é textual sobre isso, mas sua sinopse sim.

(**) O filme é bobinho; o argumento é profundo.

Desconstrução da Objetividade ou a morte da Ciência

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Leio regularmente um website chamado Quillette.com, e recomendo. É um site de ideias, um site de artigos compridos e muitas vezes acadêmicos demais para o ouvido não treinado, o que não apaga seu valor – principalmente num mundo em que mais de 15 segundos, ou 2 linhas, é uma eternidade. O “attention span” do adulto médio brasileiro, creio que deva andar pelos 5 minutos, o que coloca este meu artigo fora do esquadro para a maioria dos que me dirão que o leram.

Mas divagações à parte, hoje li com interesse um artigo que “falou ao meu coração”, pela tragédia intelectual que traz à tona. Traduzo uma pequena parte e gostaria que o meu eventual leitor apelasse para sua generosidade com minha prosa e lesse até o fim:

Vários anos atrás, no mundo pré-pandêmico das reuniões presenciais, um colega recém-contratado do Fashion Institute of Technology propôs um curso de sociologia com temática LGBT, antes da School of Liberal Arts. Este é um passo necessário para que o curso seja aprovado pelo comitê curricular da faculdade. Era a hora de darmos um feedback construtivo e ajustes ocasionais, antes da votação final do comitê. Era um bom curso. A proposta era clara e concisa, indicando não apenas um domínio da literatura relevante, mas uma sensibilidade aos interesses, expectativas e capacidade dos alunos para lidar com a carga de trabalho.

Notei, porém, um problema que parecia aparentemente menor e facilmente corrigível. Entre os resultados de aprendizagem listados estava a exigência de que os alunos desenvolvessem uma “maior aceitação das perspectivas e direitos LGBTQ+”.

Isso me pareceu problemático. Acontece que penso que tal aceitação é uma coisa boa, mas estipulá-la como um resultado de aprendizagem levanta uma questão complicada. Se um aluno dominar o material do curso, entregar o trabalho exigido e passar nos exames, mas não exibir essa aceitação, ele será reprovado?

Depois de expressar minha admiração geral pelo curso, expressei minha apreensão da seguinte forma (e isso é quase uma citação exata):

“Precisamos ter em mente que somos uma universidade estadual. Nossa missão é buscar, averiguar e disseminar a verdade objetiva e equipar nossos alunos para fazer o mesmo. Por essa missão, não acho que podemos propor um resultado de aprendizagem que exija a aprovação dos alunos em uma questão de moralidade pessoal. Os outros resultados de aprendizagem são bons. Você não precisa disso, então eu simplesmente cortaria.”

Minha colega tinha acabado de sair da pós-graduação e ainda não havia se formado, o que (teoricamente) a colocava em uma posição vulnerável. No entanto, ela teve um ataque apoplético; com tanta raiva, na verdade, que ela teve dificuldade em pronunciar sua primeira frase. “Não acredito que as pessoas ainda pensam assim!” ela gaguejou. “A Queer Theory desconstruiu a objetividade!”. Suas palavras pairaram no ar enquanto eu olhava ao redor da sala. Nem um único membro do corpo docente, nem mesmo aqueles em matemática ou ciências, parecia perturbado por sua declaração categórica. Como eu era um professor titular, relutava em debater com um colega não titular durante uma reunião escolar. Então, deixei o assunto de lado. O curso foi aprovado sem revisão pela Escola de Artes Liberais, e passou a ser aprovado pela comissão curricular. E foi assim que minha faculdade entrou no negócio de ganhar convertidos.

Mark Goldblatt in https://quillette.com/2023/02/07/the-approaching-disintegration-of-academia/ – Grifos meus, tradução minha e do Google Translator…

Não estou aqui, como não está o autor, Mark Goldblatt, para concordar ou discordar com a proposição, nem mesmo com o que a professora chamou de “Queer Theory” (Teoria Gay, ou coisa que o valha). Não se trata nem de concordar nem discordar dessa ou aquela posição, no espectro de pensamento possível ao ser humano de qualquer espectro, raça, religião (ou falta dela). Trata-se da negação da POSSIBILIDADE DO CONTRADITÓRIO. O professor catedrático teve que se calar, ante a professora iniciante, tão somente para evitar um problema mais sério, devido ao fato de TODOS os outros acadêmicos presentes terem se omitido, ante a avassaladora pressão exercida por um conceito que sequer admite ser questionado.

Questionar é Preciso?

A pergunta fundamental é essa. Estamos proibidos de questionar? Sejam equações ou urnas eletrônicas, estamos diante de grupos organizados de pressão cada vez menos propensos a aceitar ser contraditados. E não apenas se sentirem afrontados pela mínima discordância, mas pessoalmente ofendidos. Independentemente de se tratar tão somente de um debate saudável de ideias.

O medo maior, no meu caso, é que tal postura está chegando em ciências exatas, o que será, certamente, a total abdicação do direito de inovar e quebrar paradigmas.

Desconstrução da Objetividade

Acho que neste “pormenor”, a professora da citação tem toda razão. A Queer Theory quer, de fato, “desconstruir a objetividade”. O que isso poderia significar? Uma banana pra realidade; uma figa pro senso comum? Não se sabe. O fato é que ao dizer que desconstruiu a objetividade, eu coloquei no lugar dela algo diferente – e necessariamente menos objetivo – subjetivo. Qual é o lugar que a subjetividade possui no meio acadêmico e científico? Em minha opinião, não deveria ter nenhum lugar. Nem mesmo em “ciências” consideradas menos exatas, como sociologia, psicologia ou mesmo teologia, a base é o sufixo “logia”, lógica, sobre a qual se baseia, ou deveria se basear, qualquer estudo sincero – nem vou dizer sério, porque o conceito de seriedade também pode ser considerado subjetivo. Sincero, porque se propõe a observar a realidade, e comprovar, de forma tão segura quanto possível, os resultados experimentais ou provas matemáticas/mentais.

Por lógico, descontruir a objetividade parece significar a inclusão de elementos menos palpáveis, ou comprováveis. Isso fica claro no uso que se dá à própria linguagem. A desambiguação da linguagem é o objetivo, por exemplo, dos dicionários e da linguística (e mesmo a filologia). Com as mudanças constantes de conceitos, baseadas em preferências e sensações, mais do que em fatos ou usanças, perde-se o referencial e o entendimento comum de um termo. Os grandes escritores do mundo ajudaram a “fixar a língua no tempo”. Shakespeare no inglês, Goethe e Schiller, no alemão, Dante Alighieri no italiano, Cervantes no espanhol ou Camões no portugues escreveram de forma tão magistral que ajudaram a transformar “sua versão” do idioma em “regra culta”, menos mutável, e por conseguinte menos sujeita a más interpretações.

Um tio querido, recém falecido, tradutor juramentado de alemão, sempre se gabava da superioridade desse idioma para definições de engenharia – só como um exemplo. É de tal ordem, e tão bem definido, o conceito de cada coisa, que é praticamente impossível a um engenheiro “não entender” ou “desentender” algo, devido ao detalhismo do idioma alemão com coisas para as quais temos uma só tradução como “alicate”, “arruela”, “fechadura”, “biela” e coisas que, se ambíguas, tornam um carro uma carroça.

Posso ir adiante falando do tema, mas como já perdi talvez 99,99% dos meus leitores, por enfado, deixo o texto à posteridade – ou pra mim mesmo no futuro, quando eu mesmo tiver saco para ler o que escrevi. Mas ao ler, saberei de forma precisa o que quis dizer – espero.

Espiral Descontrolada

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É uma obra de ficção, portanto não adianta procurar similares ou reflexos de vida real. Depois da “obra”, vamos tentar estudar uns fatos:

“Seeker”


“Carros elétricos acabam se tornando MagLevs, que podem ser carregados e impelidos usando supercondutores magnéticos de baixo custo nos carros e nas ruas. Nessa taxa, os novos tipos de carros vão deixar obsoletos os Teslas, SpaceX e qualquer outra montadora de automóveis, sem exceção, dentro de uma década. A ordem mundial, pelo menos no que tange a tecnologias, foi relativamente estável por milênios. Mas nos tempos modernos, indústrias nascem e morrem à uma taxa furiosa. Mesmo tecnologias que pareciam interligadas no tecido social foram relegadas à lata de lixo da história num piscar de olhos. Em 1996, Eastman Kodak era uma força motriz com 140 mil empregados e um valor de mercado de USD 28 bilhões. Mesmo com tudo isso, meros 16 anos depois a companhia dava entrada com pedido de falência. Um Tiranossauro-Rex que falhou em imaginar o poder disruptivo que a revolução da fotografia digital criaria.

Em contraste com a Kodak, enquanto esta estava dando seus últimos suspiros, um pequeno grupo de empreendedores fundava o Instagram, um serviço de compartilhamento de fotografias que rapidamente atraiu algo como 800 milhões de usuários. Apenas 18 meses depois de sua fundação, no mesmo ano da falência da Kodak, esses poucos fundadores do Instagram haviam vendido sua empresa por USD 1 bilhão.”

“Seeker” (tradução minha), de Douglas E. Richards.

Os fatos acima são reais, a despeito do contexto de ficção desse cara aí, que é best seller. A questão a abordar é o quanto isso é verdade e os efeitos disso no mundo. Onde vamos parar? Ou melhor, vamos parar? Ou vamos continuar acelerando? Indefinidamente? Onde isso vai nos levar?

Empresas Grandes, Empresas de Vida Curta

O que o autor acima conclui é que estamos vivendo em um mundo de mudanças tão drásticas e rápidas que daqui a pouco não teremos mais condição de nos manter sãos.

Eu concordo, em parte. Acho que a despeito disso estar acontecendo, e que haja de fato uma mortalidade alta nas empresas, um fato é mais importante e talvez nos leve na direção exatamente oposta: o tamanho cada vez mais paquidérmico das empresas, e suas características de oligo-monopólio.

Caminhão sem Freio

Ao mesmo tempo em que alguns advogam pelo tempo de qualidade e de família, equilíbrio entre negócios e lazer, e outros, mais ainda, querer “resetar” o planeta pela via da mudança completa da forma de se conduzir a vida, outros criam em cima de criações de outras criações nessa espiral tresloucada.

Não dá para nos acostumarmos com uma tecnologia; outra vem e nos deixa obsoletos. Tenhamos nós 8 ou 80 anos de idade. Eu me sinto obsoleto dentro de minha própria profissão, apesar de ter ajudado a criar algumas tendências, ao longo dos anos. Não há como conter isso, como não há como conter um motor cujo cabo de acelerador travou, e o cabo do freio partiu. É aumentar o giro até que exploda. E vai explodir, é claro.

Essa constatação de “caminhão sem freio ladeira abaixo” por um lado cega os “adrenaline junkies” e deixa os medrosos mais apavorados do que o normal. Não fui, nunca, um viciado em adrenalina, mas tampouco me conto com os medrosos. Me conto, isso sim, no “centrão“, por assim dizer. Mesmo eu estou apalermado com a velocidade do nascimento e morte de empresas, e onde isso vai nos levar.

Dinâmica de um Mercado com uns poucos Donos

Cada vez que volto aos EUA eu fico mais apalermado com a “Corporate America” e como tudo foi dominado por um pequeno número de empresas com imenso poder financeiro e capacidade de estar em todo o país de forma “ubíqua”.

CVS e Walgreens são (quase) as únicas farmácias; WalMart, Publix e mais 4 ou 5 mega operações dominam todo o mercado de varejo em supermercados; Home Depot e Lowe`s dominam quase todo mercado de materiais de construção e itens para o lar; Exxon, BP e mais 4 ou 5 bandeiras dominam toda a distribuição de combustíveis; McDonald`s, Burger King, Taco Bell e mais uma meia dúzia de redes dominam a refeição fora de casa… Não existem mais os famosos “moms-and-pops”, ou seja, os negócios de família, fora de grandes redes, que, via de regra, trazem o colorido especial e o “diferente” ao mercado.

Além de tudo isso acima, nem convém citar o oligopólio das empresas de software (Apple, Google, Microsoft) e todo o segmento tecnológico.

A pergunta não é ser contra o capitalismo, como esse bando de ideias soltas parece conduzir. Trata-se exatamente do contrário – a morte do capitalismo pela mão dos maiores atores do próprio capitalismo. Isso não é capitalismo como deveria ser entendido, ou seja, o famoso capitalismo liberal, defendido por luminares como Ludwig Von Mises.

População Alta, Capitalismo Concentrado

Fica claro que não é possível alimentar, vestir, educar e mover uma população de 8 bilhões de pessoas com “moms-and-pops” somente. As mega estruturas são necessárias. No entanto, o “CADE” dos EUA, há muitos anos, tratou de cortar em pedaços empresas de petróleo e comunicações justamente para evitar que o monopólio acabasse por criar uma escravidão comercial e de consumo, e por consequência, um governo paralelo, dos “Robbing Barons” (Barões Ladrões), que quase dominaram toda a nação.

O mesmo aconteceu com o sindicalismo nos EUA, e até no entretenimento, com Hollywood praticamente dominando a cena cultural e impondo padrões, muitas vezes rechaçados por boa parte da população.

Essa população tão alta precisa ser mantida viva e satisfeita. Isso é compreensível. Mas estamos numa encruzilhada: vamos continuar a manter os mercados centralizados ou vamos botar nossas regras anti-monopólio para funcionar? Vamos assistir passivamente a democracia ser erodida pelo controle financeiro esmagador dos mono/oligopólios, ou vamos tentar, ao menos, fazer com que haja mais competitividade.

O último, e talvez mais absurdo exemplo, esteja no jornalismo. Com o advento das mídias sociais, críamos que teríamos poder de palavra limitado somente pela quantidade de pessoas dispostas a nos ouvir. Ledo engano. Estamos sendo massivamente dominados por “centros de pensamento” dentro de empresas de comunicação.

O mundo precisa achar uma forma de não deixar que uns poucos capitalistas acabem com o próprio capitalismo “raiz”.

Há Conclusões?

Nem sei mais. Espremidos entre uma guerra cultural e ideológica de um lado, e por um capitalismo que cada dia se parece mais com uma ditadura, temo que quando eu chegar a alguma conclusão, o mal já estará feito para mim e para todo mundo que gosta de comprar um cachorro quente qualquer, num Bar do Seu Zé qualquer, e depois tomar um café passado na hora…

Brazil’s Bicentennial

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I was born in Brazil. I am proud of it. I was born some months after an alleged military Coup d’État was completed, with the support of the higher and lower chambers of the Congress, as of April 1st 1964. I was called “a son of the dictatorship” many times. Well, I had no heart, I heard several times, as the adage goes – “he who was not leftist when young…”. I hope I developed a brain from my young years to now…

I was educated here in Brazil. I heard, thousands of times, my teachers telling us of the shortcomings, pitfalls and errors of my country. I was led to believe we, as a nation, were a failure, an abomination, and more recently, a terrible place to be a minority, be it black, gay, or have the “wrong” religion.

Teachers Said…

According to our teachers, our discovery, in 1500, was a fraud. I was taught that the Portuguese people came here to usurp, despoil and kill. Only. The fact that according to the sensus of the XVII and XVIII showed a Brazil with a GDP per capita similar to that of the USA. That clearly means that Brazil was not “destitute” as we were made believe. In fact, Brazil was, at the time, twice the size of the “Metropole”, Portugal.

We we also taught that our independence, bloodless as it was, was another fraud. We were being turned independent just to remain under the boot of tyrants – England being the main beneficiary of this torpidity. No one in Brazil had a say about it. We were irrelevant. 100% useless big farm. Our 2 rulers (Don Pedro I and II) were sold to us as frauds, tyrants and very bad to the population. They were pro-slavery, bad, bad elements. Don Peter II deserved to lose his throne, we were taught.

Our Republic was another farce. Despite of the fact that the old, former Emperor deserved nothing but the worst. The Republic was proclaimed and was born as a sort of dictatorship. All was decided by a group or pro-slavery landowners, sycophants, all, and also very very bad people.

Our participation in World War II? A failure, irrelevant (despite the thousands dead in Italy) our teachers told us. A fascist dictator was in charge of support the “free-world”. What a lie!

Our way of life was never endangered during the Cold War. That was all a smoke screen to the public opinion. Our Congress did not consider the presidency vacant, when João Goulart, a leftist president, left the country without the authorization of the Congress, which was forbidden by the Constitution. No. We were lured into believing we were under threat of a Coup D’État from leftist individuals. The Brazilian Communist Party never had in its tenets the definition of “Internationalism” and having one single, supreme party in power. No. We were led to believe we were being saved by the military. Guerrillas just wanted us to be free from Imperialism. And, again, before you ask, no – they did not want to substitute one form of imperialism for another one.

More modernly, we were fooled into believing the military did not leave power by their own free will, once the menaces of communism revolution were reduced, due to the impending doom of the Soviet Union. Nope… absolutely not. The “milicos” left, we were taught, because the military were “expelled” of the power by the enlightened academics and politicians. That was 1985 and I was 21 by then, and working as super-junior (and bad) auditor. I was living by myself by then and still in college. Again, I never had a heart, and therefore I did not understand that I was a slave of a dictatorship. Well, I voted every 2 years, I was never impeded to go here or there, leave the country, buy and sell, and even curse the military, the press, God, or whatever the ethanol in the blood stream required from me.

We then were taught we had the best Constitution of the whole world. By 1988 we were entering the concert of the civilized nations, at a long last. And no… we were not being played by two left wing parties, in what was called the “Theatre of Scissors”… nope. All was well. We were being enlightened.

We had the best of all times during the Lula`s presidency. And before anyone asks, no… definitely he did not rob us big time. The USD 6 Bn sent back to the treasury and to Petrobrás was a figment of our imagination. And no… a mid-tier manager did not put back into Petrobras an amount of USD 96 Million. He was threatened by bad people (public attorneys and federal judges) to relinquish their own, sweated money to the Company as to avoid prison. Bad system we have. Lula did not surf the best economic period of all times. No… commodities were not at historic highs when he was in power. He was not responsible for putting into his own chair a bad, stupid president. No. The woman was a maverick and was unfairly impeached because of “minor faults”.

We are here today, under a fascist president. One that has been massacred by the press in a day-by-day basis, worldwide. And a thousand times no. The man is a “negationist” and “the very worst president ever” of Brazil. No. inflation is out of control, at 6% in 2022 (check this figure against USA and Europe). The country is not growing 2.6% this year. No no and no – we are to vote for Saint Lula, if we want to regain our independence.

What I see…

All in all, Brazil is a 522 years-old failure. Those are the “facts” as we were taught by our enlightened teachers and precise and technical press. Facts? What about facts? Who needs facts when we have a mission to fulfill, comrade?

Well, I live in the best and most beautiful country of the whole world – I am a negationist, after all. I live in a place of kind and warm people. I live in a place that has been undermined and robbed by our politicians, with just a few respites along our history. I live in the “cherry over the cake” country, desired by all powers to be. I live in a country that has increasingly embraced good western values, such as Christianity and free market. I live in a place that can be so much more!

I live in a place where 80% of its energy is renewable and still has 1/3 of its territory preserved as it was in 1500. We have the least polluting car fleet of the world, using a mix of ethanol and gasoline which is much better to the environment than the alternatives.

I am proud of this country. I am sick of people telling us how bad we are. I am tired of seeing our own “elite” going abroad to dissacrate the truth and tell everyone that “the Amazon is burning” when it is not true.

Yes, we can do better. Yes, we can go greener. Yes, we can discriminate less. Yes, we can simplify taxation, limit the invasiveness of the State, improve our judiciary system, control criminality better. Yes, we can make this a better place, but man… I do not want to permanently live in another country. Though I very much love the USA, Italy and other countries in which I am very well received, I love my dear country.

Long live, Brazil! May the next 200 years be better, easier, and more just. God bless Brazil!

A Lei por Pretexto

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“Pode, acaso, associar-se contigo o trono da iniquidade, o qual forja o mal, tendo uma lei por pretexto? Ajuntam-se contra a vida do justo e condenam o sangue inocente. “

Salmo 94:20-21

Culminando uma série de malversações e sequestros da Lei, assistimos impotentes, como nação, no dia de ontem, a “cancelamentos oficiais” de executivos e donos de empresas que representam, sabe-se lá, alguns milhares de empregos diretos no país, sob pretexto de defesa da democracia. Na noite do mesmo dia, Luciano Hang, da Havan, vai às TVs para explicar a bobagem e a atrofia mental que leva um julgador a, açodada e bovinamente, aceitar uma “denúncia” de corporações sob a alegação de “apologia ao golpe”.

Num grupo de WhatsApp alguns do grupo vociferaram sua indignação com o status quo jurídico (do qual foram vítimas logo em seguida, como que confirmando a assertividade da opinião) dizendo que “preferiam um golpe a ver Lula de volta no poder”. Se a razão para cancelamento é essa, podem me prender e sequestrar minhas contas correntes também. Obviamente que não estou fazendo apologia a golpe coisa nenhuma. Apenas estou arrazoando quanto ao fato de que, se é para sofrer um golpe, antes seja esse baseado em intervenção militar do que numa “tomada de poder, o que é diferente de vencer eleições”, como postulou o terrorista-mor.

Ora, eu, de fato, temo mais os efeitos de longo prazo de um golpe “bolivariano” aqui no Brasil do que um suposto “golpe” militar, cujos efeitos já sofremos, e que acabou voluntariamente, por decisão dos golpistas em devolver o poder aos civis. Pela experiência mundial, não existe devolução do poder voluntária a “civis” no contexto de um golpe palaciano de esquerda.

O salmista, há 3 mil anos, ensinava que a Lei pode ser usada como pretexto para a opressão. Jesus Cristo comprou tremenda briga contra o status-quo farisaico, ao dizer que esses agiam mais ou menos assim:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”

Mateus 23:23

A síntese do que estamos vivendo nem chega a poder ser denominada de farisaismo. Pode-se arguir que, na pior das hipóteses, os fariseus tentavam impor a outros aquilo que de fato criam ser algo nobre, a Lei. O caso aqui no Brasil é mais farisaico do que qualquer fariseu poderia ter elaborado: trata-se de usar a Lei como pretexto para implantar aqui uma ditadura “do proletariado”, uma entidade que sequer existe mais, na cultura do serviço, da tecnologia e do pleno acesso à informação. Esse é o martelo, que já não existe (se é que um dia existiu). Já a foice, essa está mais quebrada ainda, pois que o percentual de brasileiros vivendo no campo diminui, e a produtividade agrícola só aumenta, em virtude da ciência e da tecnologia.

Assim, sem bandeiras que deem suporte nem à foice nem ao martelo, a ânsia por escravizar parte para dividir o povo de outra forma, como já sobejamente sabido: ricos contra pobres, heteros contra homos, mulheres contra homens, pais contra filhos, ateus contra religiosos, e por aí vai. A tática da divisão para a conquista segue firme no imaginário de quem se vê como “libertador” do que sequer há de que se libertar.

A Lei virou pretexto para nos cancelar, nos prender, e para deturpar a própria lei, e, ao fim, acabar com sua própria aplicação.

Que ao fim e ao cabo se cumpra a parte seguinte do Salmo:

Mas o SENHOR é o meu baluarte e o meu Deus, o rochedo em que me abrigo. Sobre eles faz recair a sua iniquidade e pela malícia deles próprios os destruirá; o SENHOR, nosso Deus, os exterminará. 

Salmo 94:22 e 23

Amém pra isso!

Confortavelmente Entorpecido

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Confortáveis

Em 1979, Roger Waters e David Gilmour “poetizaram” uma tendência que estava já em sua adolescência, e que se tornou um problema de saúde pública hoje.

“Não há dor, você está recuando
Um navio distante, fumaça no horizonte
Você está apenas vindo em ondas
Seus lábios se movem, mas não consigo ouvir o que você está dizendo
Quando eu era criança
Eu saquei um vislumbre fugaz,
De rabo de olho
Eu me virei para olhar, mas ele já tinha passado…
Eu não consigo detalhar o que isso significa, agora
A criança está crescida…
O sonho se foi
Eu me tornei confortavelmente entorpecido”

Pink Floyd, in The Wall, 1979

A juventude, em 1979, encarava um problema: negava-se a encarar a vida, talvez pela primeira vez (de forma coletiva). Antes era mais difícil, porque quem assim o fizesse morreria de fome, frio ou ostracismo social. A vida tinha sido tornada fácil pelas gerações que antecederam os “Baby Boomers” (BBs, nascidos entre 1950 e 1970). Eram tempos nos quais pagar as contas ficava mais a cargo do Estado do que do cidadão, mesmo nos EUA, mais pragmáticos, e muito mais na Europa, com seu estadão grandão e paizão.

A geração dos BBs foi-se revelando, mesmo, uma geração de bebês. No Brasil essa tendência demorou mais a chegar, pois aqui custamos mais a poder depender do estado, e as famílias ainda eram mais próximas e exigentes. Não é mais assim, hoje em dia, e nos aproximamos muito aos padrões de primeiro mundo, pelo menos para uma classe média e alta urbanas.

Confortavelmente entorpecidos fomos vivendo, álcool, narcóticos, pornografia e outras coisas nos distanciando da realidade. Liberdade, como dizia a propaganda de jeans, “é uma calça velha azul e desbotada”. Ou seja, liberdade é usar o que quiser, falar o que quiser, fazer o que quiser, se quiser, fumar, cheirar e beber o que quiser. É proibido proibir, foi nosso mote – o da minha geração, que basicamente começou isso, por aqui. Confortavelmente entorpecidos continuam nossos contemporâneos, e as gerações que nos sucederam, como Gerações X, Y, Millenials, etc.

Vivemos confortavelmente por tempo demais.

Entorpecidos

O entorpecimento parece já não ser tão confortável, mas seguimos negando fatos que são esfregados na nossa cara. Nem numa cracolândia, comendo lixo na rua, parece que o cidadão consegue enxergar que está pouco confortável, e muito entorpecido. Quanto mais desconfortável, mais entorpecido precisa estar para seguir adiante. Se é que se pode chamar esse estado de “ir adiante”.

Estamos entorpecidos por não termos disciplina. Estamos entorpecidos por termos perdido a liberdade para a preguiça, o conforto e a irresponsabilidade com o futuro, e a falta de perspectivas.

Esse entorpecimento é fruto da indisciplina reinante, e tem alguns frutos bem visíveis.

Escrita e Leitura

Não escrevemos mais. Estamos perdendo a capacidade de nos comunicar por escrito. Por consequência, a falta de disciplina para tal nos faz perder também a capacidade de nos comunicarmos oralmente. Quem não consegue colocar em palavras um mínimo de sentenças organizadas, não vai conseguir falar adequadamente. Vejo que mesmo os analfabetos ou semi analfabetos do meu tempo de criança sabiam se expressar melhor do que muitos alfabetizados de hoje. Talvez porque fossem analfabetos por falta de oportunidade, mas não por desinteresse. O que lhes faltava em letras, talvez lhes sobrasse em reflexão.

Metade, ou mais, de quem chegar a começar a ler este texto provavelmente vai largar – até entendo que meu estilo é chato, mas espero que não o conteúdo. A verdade é que ler se torna cada vez mais difícil a quem prefere ver. Tik-Toks e outros Reels são prova eloquente dessa preguiça em decifrar caracteres. Quanto menos eu ler, menos eu sigo uma linha de raciocínio, e menos, consequentemente, terei disciplina para formar padrões e ideias. Adoraria estar exagerando. Temo que não esteja.

Estética e Música

Desde a pele se tornando um pergaminho multicolorido até os piercings e mutilações cutâneas, fomos sendo paulatinamente tornados cegos à beleza da pele humana. Passamos a achar lindos os apetrechos colocados sobre nós em exageros, que muitas vezes chegam ao implante de chifres.

Na música, repetições indolentes das baladas sertanejas, repetitivas e previsíveis, ao pancadão cujo ritmo serve às rodas de semi-zumbis de periferia, deixamos de lado a harmonia. Trocamos a beleza pela feiura, em uma estética pobre que as massas adoram.

Por que? Porque não requer disciplina alguma para absorver. Requer altura. O som de péssima qualidade, tocado no maior volume possível, talvez seja uma outra prova da necessidade de me isolar (acusticamente) do mundo ao redor.

Fones de ouvido, usados por horas à fio, fazem o papel de um biombo, ocultando nossos sentidos do mundo ao redor. Um belo quarto, pago pelos pais, com internet de alta velocidade e, de preferência, com ar condicionado e TV 4K, completam o serviço, nos tirando do mundo e não nos livrando de mal algum.

O que virá?

Costumávamos dizer que qualquer material tem sua resistência posta à prova, até o ponto de rompimento. Como tudo no mundo parece ser pendular, espero que o pêndulo, que me parece estar totalmente à esquerda (sem conotação política) poderá voltar a virar-se à direita (idem). Assim, é possível que o esgotamento de um modelo de indisciplina e a vida nesse “metaverso” terrível acabe por acabar, nem que seja pelo esgotamento de ter quem pague por isso tudo. Acabando o financiador, talvez acabe a indisciplina, pela via da escassez, do desamparo.

Não acho que isso vai acontecer, contudo. Entendo que o mundo, de fato “jaz no maligno” como a Bíblia diz. Essa entropia (desorganização) do universo, que é crescente, me dá um medo patológico de que cheguemos ao ponto de não-retorno, onde as pessoas estarão tão Comfortably Numb, que nem a morte será mal vinda. Será a consumação de um processo de deterioração que fará com que nossa civilização imploda, como faz o câncer no organismo, indo até matar o hospedeiro.

Eu escapo? Talvez. Acho que sim, porque de fato, estou numa bicicleta sem rodinhas. Se eu parar, eu caio. Portanto, o melhor que a sociedade poderia fazer pelo ser humano seja retirar dele toda e qualquer rede de amparo social (triste dizer isso…) que não derive da extrema necessidade e que não seja continuada, mas pontual. Deixar o ser humano voltar a ser responsável pelos seus pratos de comida, talvez faça com que levemos mais à sério o ato de sobreviver.

Comfortably Numb, mas às minhas custas…

No princípio era o Código-Fonte

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Com certeza, mudar o Evangelho de João de “Verbo” para “Código Fonte” vai aterrorizar alguns e outros me chamarão de herege. Afinal, creio que o próprio Apóstolo, ao trocar o nome de Jesus Cristo por “Verbo”, já deve ter apanhado em alguma medida… então o problema não deve ser novo.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo ERA Deus. O que João chama de “Verbo” é a palavra Logos, de onde derivam todas as palavras ligadas à Lógica, como Antropologia, Teologia, e por aí vai. Logos é o nome dado filosoficamente à RAZÃO. Ou seja, João está dizendo que o que criou o mundo foi a Razão. Uma das definiçoes de Razão, rapidamente arrancada da internet é:

Razão, no sentido geral, é a faculdade de conhecimento intelectual próprio do ser humano, é um entendimento, em oposição à emoção. É a capacidade do pensamento dedutivo, realizado por meio de argumentos e de abstrações. É a faculdade de raciocinar, de ascender às ideias.”

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Ou seja, no princípio existia somente o conhecimento intelectual, o raciocínio. Sem o raciocínio, nada do que existe teria sido criado. E então o Raciocínio veio até nós, fez-se carne, e morou conosco, e vimos sua Glória, como a glória de um filho único de Deus – demonstrando que o Filho de Deus é A Razão, o Raciocínio, e que Jesus Cristo trouxe a nós uma nova razão.

Por que tudo isso? Porque no fundo, É como se Deus, ao criar, tenha criado um código-fonte da vida, que se espalhou de forma proposital e dirigida, coisa que está sendo difícil à ciência desprovar, a cada dia. Quando nos demos conta, estávamos olhando dentro de nossas células, e demos de cara com um código de quatro letras, A, C, T e G. Com essas quatro letrinhas, O Verbo criou toda a vida que existe, desde o Princípio até agora.

A conclusão então é a de que somos “informação”? Somos feitos de informação, com um propósito? Sim, creio. Só que, como um vírus entra num programa de computador, um “código malware” entrou em nossa programação e fez com que ficássemos impedidos de fazer qualquer coisa, sem essa sequência errada de programação. O “hacker” foi denominado de Diabo, Serpente ou Satanás (aliás, um belo apelido pra um hacker “do mal” como esse). Precisou de um antivirus de alta potência, que para retirar o vírus de nossa programação, teve que “se deixar apagar”, voluntariamente. Isto é, se deixou morrer. Com isso, levou cativo o cativeiro, ou seja, levou preso o malware. Limpou o programa, e é a chave para fazê-lo.

Apenas que esse antivirus não se instala em local algum, em programa algum, sem autorização individual, dada por um “Enter” bem teclado. E muitos de nós não reconhecem o malware dentro de nós mesmos, se recusando a deixar o antivírus nos limpar.

No princípio era a Razão. Deus é a razão, e pede de nós uma vida racional, capaz de olhar em volta, ver a complexidade do programa baseado nas quatro letrinhas, dentro de nosso corpo, e reconhecer que é impossível alguém dar de cara com um manual de programação sem entender que aquilo está ali com um objetivo, e não por acaso.

Indo Além

Deus como inteligência, porém, é uma visão muito estreita. Nós trataremos de “desumanizar” Deus, se o tratarmos apenas como inteligência. A Bíblia, o Manual de Instruções e Programação, diz que “Deus é amor”. Como podemos fazer essa transição lógica de inteligência para amor? Vivendo num mundo de “programas infectados”, conhecemos bem a inteligência sem amor, fria, autocentrada, e via de regra, usuário do alheio sem meias medidas e sem pudor. O inteligente costuma usar tudo ao redor, quando lhe falta justamente o Amor.

E Deus é “amor” em essência. O que se pode concluir disso? Que quando se é realmente inteligente, como Deus é, tende-se a colocar o amor na jogada (esqueça por um momento se você crê em Deus ou num deus – apenas trabalhe com as variáveis sobre a mesa). Só quem é sumamente inteligente pode ser sumamente amoroso. Quando você sabe que é a pessoa mais inteligente da sala, e não se beneficia do outro, você não perde o respeito pelo outro, mas cresce em Amor. Amor aqui definido como o desejo de que o outro seja melhor, se sinta melhor, ame, e propague o mesmo amor.

Jesus, o Verbo, então veio dar testemunho desse imenso Amor. A inteligência se fez mortal, viveu entre nós num tempo analógico, e de grandes limitações materiais, para contar a nós que é possível usar um potente antivírus e ter nossos programas consertados; olharmos a Criação e vermos o amor de Deus por nós, em cada “linha de código” contida numa árvore, num, bebê, num pé de alface, qualquer coisa; olhar o outro e querer para ele mais do que queremos para nós mesmos.

Vimos Sua Glória como a glória do Único Filho da Inteligência. Se é difícil entender por que um Deus manda “seu filho” para estar entre nós, talvez a analogia com um antivirus, que é capaz de andar no meio dos programas e linhas de código comuns, e não ser, ele mesmo, contaminado, nos dê uma visão clara do Amor da Inteligência, do Programador, por nós.

O nome “filho” talvez transmitisse melhor o conceito do Cristo no ano 1, e talvez hoje uma analogia melhor fosse justamente a de um “código comprimido”, um “arquivo .rar” de um programa maior, da mesmíssima essência, mas de função diversa, de ser provado e depois estar habilitado a retirar o “virus do mundo”, um Cordeiro.exe, que, se dermos o “Enter”, teremos a certeza de estarmos livres do malware. Estando no mundo, porém, sempre estaremos em contato com o “virus” e sempre precisaremos recorrer ao antivirus, sabendo que não há necessidade de dar outro “Enter”, mas somente pedir para que “rode” e limpe o que marginalmente foi escangalhado nas funções do dia-a-dia.

Que o Supremo Código-Fonte continue nos limpando dos malwares do dia a dia, até chegarmos à estatura de linguagens perfeitas diante dEle!

O taxista baiano

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Numa dessas minhas andanças recentes a trabalho pelo país me deparei com um cidadão extremamente bem falante, educadíssimo, boa cultura, voz mansa, dirigindo um taxi que me levaria de um lado a outro da cidade de Feira de Santana, na Bahia.

Ah… a Bahia… um local único onde a cidadania enxerga o mundo de uma maneira muito interessante, nem sempre correspondendo ao que se vê no dia a dia. Bahia de todos os santos, e demônios também… Mas deixemos o coisa-ruim pra lá, se der pra fazer isso.

Arthur Schopenhauer, em seu livro “Como vencer uma debate sem ter razão alguma” elenca 38 formas de debater, e ser bem sucedido, sem ter razão. É, obviamente, uma fina ironia mas define exatamente o mundo em que vivemos, sem a obviedade: quem assim debate não sabe que não tem razão, muitas vezes.

Foi o caso do dito chofer de praça… Lá pelas tantas, numa dessas interjeições que me marcam (e me atrapalham) lanço uma expressão sem objetivo claro, algo do tipo “isso é coisa de esquerdista”, ou “gripezinha, como a Covid”. Foi o suficiente para, com voz calma, branda e didática, eu ter sido ensinado, entre outras coisas: a)meu negacionismo, com relação à Covid; b)meu erro por achar o Paulo Guedes um bom ministro da economia; c)minha suprema burrice por não enxergar o que claramente se nota – que o preço da gasolina está alto por culpa única e exclusiva dos nossos dirigentes.

Não se iludam os meus (parcos) leitores. Nada foi dito com raiva. Não fui chamado de fascista, negacionista, terraplanista e tudo o mais. A voz branda me “educou” em vários aspectos da minha vida em que eu, obviamente, estou totalmente errado. Num dos momentos áureos da corrida que não durou 20 minutos, foi educado no que significam dados científicos. “Vou lhe dar dados à prova de bala: a Covid mata mais do que qualquer outro vírus – as estatísticas (sei lá de que, nem me lembro) confirmar. É ciência!”. Admiti, claro, que matava, pois é verdade. Mas dizer que mata, e mata mesmo, mas que não seria razão para declaração de pandemia ou “feche tudo” não serviu de nada. Os olhos diziam da tristeza que ele sentia por mim, uma alma condenada ao purgatório, no mínimo.

O senhor tem que entender que o Paulo Guedes está fazendo uma péssima gestão. Não vê a inflação? Não vê o preço da gasolina? Não vê como a gente está morrendo de fome feito moscas nas ruas?“. No que eu tento (em vão) contra argumentar – mas o que foi possível foi feito, creio, um auxilio de R$ 400,00 para quem não tinha nada é o que se pode fazer num país com orçamento apertado.”… “Seu Wesley, vou lhe ensinar uma coisa – nós somos um país de miseráveis, e R$ 400,00 são esmola…“. Tá ok… fazer o que, ele tem razão, a economia, afinal de contas, a gente vê depois.

Minha irritação sobe na medida em que a vozinha de padre de paróquia vai ficando tanto mais agressiva nos argumentos quanto mais doce e branda no tom. Eu ia perdendo a paciência. A discussão, eu já tinha perdido. No final da corrida o meu professor de economia e saúde ainda me diz “o senhor entendeu“? Eu, obviamente já com cara vermelha digo: “meu amigo, você deveria parar e pensar no que fala, porque dissemina um nível de falsidade que não dá pra tolerar“.

Ponto pro taxista. Bola fora pra mim… vou aprender um dia a ter vozinha de padre, a não perder a calma quando confrontado com argumentos tão “acachapantes” como esses… e depois, de saideira, tive que dar a minha nas costelas dele, às expensas do bondoso e amigo povo baiano, que nada tem a ver com essa situação em particular: “você deve ter razão… afinal, a Bahia há anos vive sob governos tão bons, e tem taxa de desemprego e IDH tao altos”…

Que baixeza da minha parte… não sabendo como “me defender”, aplico um golpe baixo desses… Um dia eu aprendo…

Linguagem de Gênero? Sou Neutre…

(Reprodução/Internet)
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Os idiomas tem uma evolução no tempo, e algumas âncoras. Quanto mais longevo e “estático” é o idioma, significa que mais ciência e regras ele tem. Alguns exemplos, como o Chinês Mandarim, o Grego e o Latim são contundentes. Tão contundentes a ponto de um cidadão grego comum e corrente do Século XXI ter a capacidade de ler e entender, em grande parte, um texto da antiguidade clássica grega, digamos, os Diálogos de Platão.

Âncoras

A âncora do idioma é sua forma culta – ou seja, o fato de que alguém(ns) teve (tiveram) o trabalho de estabelecer uma norma. Enquanto isso não acontece, normalmente o idioma vai espiralando indefinidamente, evoluindo sem controle, tornando cada geração incapaz de entender a anterior, em alguns casos.

O inglês foi uma “criação” de William Shakespeare, Geoffrey Chaucer e outros talentosos escritores, que “amarraram” o barco da língua inglesa em um píer de regras, de onde é mais difícil – mas não impossível – escapar. O alemão foi amarrado ao cais da norma culta por Goethe, o italiano (florentino) por Dante Alighieri, o português por Luis de Camões.

O que esses caras tinham em comum? A necessidade de usar um código de compreensão claro para si e para outros. Um código que permitisse a sua obra sobreviver a mais de uma geração sem precisar de um expert linguístico para fazer toda uma arqueologia sobre o idioma.

É natural que os idiomas escapem das âncoras, pouco a pouco. A função da norma culta não me parece ser a de deixar o idioma estático, mas de permitir que as variações possam ser localizadas no tempo, separando regras de costumes. É importante que os significados evoluam. “Coitado” já foi palavrão, hoje é uma mera interjeição de pena. “Porrada” está a caminho de deixar de ser palavrão para significar soco, pontapé, cacetada… e por aí vai. Isso é uso, e usos mudam. Algumas palavras vão e vêm, como os nomes da moda – Joaquim é um nome que no meu tempo de criança só gente velha tinha. Hoje virou nome de lindos moleques. O mesmo vale pra Alice. Um dia voltaremos a ver de novo os Crisóstomos e as Marlenes de 2, 3 e 4 anos andando pelas ruas.

O que me chama atenção na evolução do idioma, no entanto, é seu caráter popular e voluntário. É um fenômeno de massas. É algo que surge ninguém sabe de onde.

Mudança Forçada

Estamos, no entanto, vivendo um momento diferente, em que estamos diante da decisão, de uma minoria, de impor ao falante uma realidade paralela, em que será obrigado a usar expressões que não nasceram nem da alma, nem do uso, nem do desejo de copiar.

A gente não fala “follow up”, “drivers”, “modus operandi”, “data vênia” ou “savoir faire” porque foi forçado. A gente falar porque algum meio, seja acadêmico ou profissional nos empurrou para tal. A gente não fala “lá em riba” ou “Ôxe” porque foi doutrinado a fazê-lo. Fala porque cresceu falando, e porque os pais nasceram falando. Eu, por exemplo, canso de dizer “Nossa”, sem me tocar que, como batista que sou, não sou necessariamente crente nas graças da mãe de Jesus, como intercessora. É parte da herança.

Alemão, há anos no Brasil, ainda fala “genau”; italiano ainda fala “caspita” e japonês ainda se cumprimenta com um “ohaio” sem nem pensar, às vezes. É a fonte, não imposta, mas incorporada, que vale.

Por que eu deveria me curvar a uma imposição de dizer que sou “neutre” num assunto ou outro, ou aceitar que meu suado canudo de papel da USP venha grafado com “Formandes”, só para agradar alguns que acham que a língua vai mudar a forma que um trata o outro?

Por que eu tenho que responder que sou “Latinx” a um gringo? Até entendo que um transsexual use determinado pronome, que lhe interesse. Não é meu problema. Fale como quiser. Seja o que quiser, e preste contas por isso. Não é força nem violência que mudam a sociedade. Isso inclui a violência linguística, imposta por uma minoria que considero (EU considero, bem dito) sem noção.

Se você quiser falar formandes, latinx, el@ ou elxs, tudo bem. Eu não quero nem vou falar assim, Peço que respeitem meu direito de não fazê-lo. Gosto bastante da norma culta da língua, e a despeito do meu português nem sempre castiço, desejo falar o mais explicadamente possível, ao maior número de pessoas, pelo máximo tempo possível. Quero ser entendido.

Não achemos que a língua vai dar a menor bola para isso. Além de romper com uma regra, nada vai mudar se o povão não incorporar isso como mudança. Claro, é fácil mudar regras quando a população é fundamentalmente iletrada. É mais fácil aqui, entendo, do que em um país de nível cultural mais alto. É mais fácil “caô” ou “zuêra” virarem norma culta do que “elxs”, penso eu – até porque pronunciar certas coisas é mais difícil.

O idioma é âncora e é fator de união. Quem conhece esse brasilsão de norte a sul entende que só nos tornamos nação por causa do nosso idioma. Nossa união passa por nos entendermos. Que assim continue, sem imposições.