O dilema que interessa

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Hoje, numa roda de grandes amigos no WhatsApp, falei uma frase que quero repetir, abaixo:

O ser humano, quanto mais bem sucedido, mais próximo está do caos.

Eu mesmo

Por que e em que contexto eu disse isso? Estávamos discutindo sobre uma recente matéria da revista Nature (https://www.nature.com/articles/s41467-021-22446-z) sobre o caráter inócuo da Hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19 (o tema que não quer calar).

Eu, como bom negacionista que sou, argumentei com dois links de entidades igualmente respeitáveis, o Lancet (https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31180-6/fulltext) e o New England Journal of Medicine (https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2031780) as quais, respectivamente, se retratam (Dez de 2020) de um artigo com o mesmo teor da Nature de ontem, ou dão certa razão à mal/bendita HcQ.

Do lado de lá deste debate virtual algumas das melhores cabeças pensantes que conheço e partilho amizade. Gente difícil de convencer e de argumentar. Intelligence is a bitch!…

A frase, que adoraria ver celebrizada, veio de um pensamento que tive na hora que mencionei a frase recente de um prêmio Nobel de medicina, Richard J. Roberts:

Medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos “cronificadores” que sejam consumidos de forma serializada.

Richard J. Roberts, Nobel de Medicina

Somei as duas frases, e coloquei então de lado, na minha cabeça, toda a discussão sobre HcQ e Covid e pensei no paradoxo que me levou à frase inicial: Quanto mais bem sucedidos como espécie nos somos, mais perto estamos do caos, e da extinção.

Eu fico pensando no meu jardim aqui em casa, e do fato de que preciso podar sem piedade algumas plantas para que elas continuem viçosas e produtivas. A vida das plantas depende, de certa forma, delas não crescerem indefinidamente. Deixado à própria sorte, o jardim cresce até se matar.

Essa constatação vem de encontro ao que o Mr. Smith, o vilão de Matrix, disse ao Neo (personagem de Keanu Reeves): “os seres humanos são como um virus sobre a terra… se reproduzem até destruir tudo ao seu redor“.

Então estamos fadados, desde o Jardim do Éden (ou desde o paleolítico, como queiram) a nos auto destruir na exata medida em que a civilização progride? Será que teremos que receber “podas” rasas frequentes, como a Peste Negra, a Gripe Espanhola, ou as Grandes Guerras, a fim de nos mantermos viçosos num mundo finito?

Essa já foi a indagação de vários filmes e livros sobre Distopias. Ora é um mundo em que deve-se morrer aos 30 anos (Admirável Mundo Novo de Huxley), ora é um mundo em que somos confinados em “mônadas urbanas” (Mundos Fechados de Robert Silverberg).

O ser humano é (até onde podemos confirmar) o único ser “imagem e semelhança de Deus” (eu creio), no sentido em que somos sencientes, ou seja, pensamos de forma autônoma, e detemos livre arbítrio. Portanto, somos os primeiros seres vivos sobre o planeta a termos a oportunidade de não experimental o caos como resultado de um vigoroso crescimento, reduzindo ou eliminando guerras. Como?

O Japão nos dá uma lição e uma pista importante sobre este tipo de futuro. São uma nação que envelheceu em pouco tempo (de 1945 para cá) e hoje tem a primeira população francamente em declínio no planeta.

O declínio gerou uma população velha e incapaz de arcar com custos como seguridade social (que no modelo atual equivale a um esquema Ponzi – pirâmide – que só funciona se tiver mais gente na base do que no topo). Esse declínio gerou também gastos médicos muito mais altos do que o resto do mundo, e menos dinamismo na economia. O fato é que há 20 anos os Dekasseguis brasileiros eram odiados por lá, e hoje tolerados, por serem da mesma “raça” (com pedido antecipado de perdão aos mais sensíveis) do que eles e falaram algo do idioma.

O Japão nos mostra que controlar a natalidade não resolve a equação da sobrevivência com sucesso, ou resolve até determinado ponto. Os economistas e biólogos estimam em 2,1 filhos por mulher (Opa… seres humanos que menstruam) como ponto de estabilidade para a raça humana continuar indefinidamente no planeta, desde que aprenda a lidar com ele.

Antibióticos, nutrição, segurança e educação fizeram com que a população do mundo explodisse, consumindo recursos e colocando o planeta em risco, nós dentro dele. Como não temos outro planeta, a grita por medidas que não agridam ou meio ambiente aumentam também exponencialmente. Por outro lado, algumas das propostas para isso implicarão em fome (ainda existente, e muito), desemprego e instabilidade política e social. O “fique em casa” de hoje é apenas um ensaio de uma situação que pode vir a ocorrer, por outras razões, muitas vezes, num futuro próximo.

O problema é que as soluções aventadas nunca, ou quase nunca, passam por um processo democrático ou humano. São quase sempre impostas, e não infrequentemente, letais. Esquecem-se, também frequentemente os formuladores de soluções “de força” que o fator tecnologia e inteligência, além do fator bondade, amor e empatia devem ser levados em consideração. Tecnologia e inteligência salvaram o mundo pós guerra da miséria e da fome. Fatores como bondade e misericórdia, quando aliadas à tecnologia, costumam produzir milagres.

Estamos diante do impasse que propus na frase que abre o artigo. Que o impasse seja resolvido com bondade, misericórdia e tecnologia, e não com guerras, pestes e fome.

Cristão tem medo de Ciência?

Li um interessante artigo no excelente site Quillette (www.quillette.com), um artigo longo, textão mesmo, como são quase todos os artigos desse site, mas detalhado e muito bem escrito. Coisa fina. Vale ler.

O artigo está acima e mesmo quem não conhece inglês pode traduzir lá mesmo.

Lá o autor trata de uma “briga” de palentólogos em torno das chamadas “Primeiras Nações” ou “Primeiros Povos”. Arqueólogos escavaram numa região que vai do estado do Maine até Newfoundland (Terra Nova), no Canadá, fósseis datados de uns 10 mil anos atrás, que apresentam um povo mais desenvolvido do que povos nativos mais recentes, da região. O “suco do assunto é que os povos nativos americanos passaram a exigir que os paleontólogos e arqueólogos NÃO estudem esses povos, mas que enterrem de volta os achados arqueológicos, no que chamam de “restituição”.

Será que eles não querem saber sua origem? Não é assim. É que os achados apontam para o fato de que os povos que hoje se consideram vítimas dos Europeus foram, eles mesmos, algozes de povos que já estavam na região há mais tempo, desfazendo o mito da sua primazia, e a narrativa de seu bom-mocismo.

Ciência bota medo…

Em outra ocasião, mais recente, cientistas brigam com outros cientistas sobre a validade de destruírem certas posições anteriores com teorias mais modernas, e mais corretas.

Tem gente querendo substituir o Big Bang a todo custo, simplesmente porque não cabe na sua narrativa sobre a origem do universo e da vida. O mesmo Stephen Hawking lutou com unhas e dentes até o fim da vida para tentar achar uma equação, uma explicação para “desdizer” a teoria que ele mesmo trabalhou para explicar e popularizar. Tudo porque seu ateísmo, ou agnosticismo, não podia suportar a afronta de que o universo teria tido um início, e portanto, um “causador”.

Diante disso tudo, nos vemos, cristãos, diante de uma situação em que, frequentemente chamados de negacionistas, terraplanistas e anti-científicos, temos que optar por uma postura mais bíblica, entendendo que a Bíblia pode contradizer a ciência em algum momento.

Os que chamam o cristianismo, principalmente o Catolicismo original e os Reformados de obscurantistas talvez se esqueçam que a quase totalidade das instituições de ensino que hoje lideram a pesquisa científica no mundo são de origem, inspiração ou manutenção cristã ou de cristãos (desde a Universidade de Padova, passando por Oxford, Harvard, Cambridge, todas as PUCs do planeta, e por aí vamos).

Muito, ou mal usado pelo Presidente, o texto de João 8:32, sempre foi um dos meus preferidos. Costumo brincar que é o Texto Áureo dos Auditores:

“E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará”

Jo 8:32

Se a bíblia é a inspirada palavra de Deus (e eu creio nisso) e o texto acima partiu da própria boca do Filho de Deus (eu creio nisso também), então cristão algum tem o DIREITO de ser acrítico, anti-científico ou jogar na retranca, quando o assunto é ciência.

A razão é muito simples – cremos (eu creio) que Deus é o autor da ciência. Se Ele criou as regras e leis deste universo, que são explicadas e desfiadas na física, química, biologia, etc, NÃO TEMOS o direito de achar que uma equação vai desdizer, ou desfazer o que cremos.

A Bíblia nunca se propôs a ser um livro científico. Escrita para pessoas tão diferentes quanto (adoro falar isso) Albert Einsten e Forest Gump, a Bíblia teve por obrigação ser atemporal, e acessível a ser explicada a todos.

Quando a Bíblia fala de um assunto que está francamente acima da capacidade, mesmo dos mais iluminados humanos, ela deixa claro que há coisas que são “mistérios”, ou que ainda não foram reveladas. Mas isso nada tem a ver com obscurantismo ou qualquer tipo de limitação à investigação. Nos escritos do Velho Testamento, Deus já falava a Adão e Eva que entendessem o mundo, dessem nomes às espécies (numa ordem de taxonomia bem clara).

Posso concluir que se a ciência em algum momento contraria a Bíblia, só pode ser por dois motivos:

  • Erro de Interpretação – Quem diz falar “pela Bíblia” na verdade entendeu errado ou criou um “dogma” que não deveria haver. Um exemplo claro éa insistência da igreja católica em condenar as teorias da terra redonda e que não seria o centro do universo. Na verdade o livro de Isaías já nos advertia de que “Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar” – Isaías 40:22)
  • A Ciência ainda não chegou lá – Aqui, o maior exemplo vem da antiga teoria cosmológica, válida durante décadas, de que o universo nunca teria tido começo e não teria fim. Desbancada pela descoberta da radiação de fundo, e comprovada nos laboratórios Westinghouse, em Nova Jersey, por Arno Penzias e Robert W. Wilson. Os “fósseis” de luz comprovariam a teoria de que alguém riscou o fósforo que gerou a explosão.

Que tranquilidade é saber que a ciência não desbancará, nunca, o Deus Onipotente. Que alegria é saber que a Bíblia é mais inteligente do que alguns se arvoram o direito de se achar. O caso mais recente, emblemático e francamente ridículo foi o do artigo de Mário Sérgio Conti, comparando nossa crença em Jesus Cristo à do coelhinho da Páscoa.

Este douto senhor, do alto de sua inaudita inteligência e certeza de todas as coisas declara-nos a todos nós como crianças burras e obscurantistas… Como se homens (de verdade) muito maiores e mais inteligentes do que ele não tivessem declarado seu pasmo e reverência a esse Deus Criador.

Termino com as palavras de Louis Pasteur, sempre citado pelos cristãos, cujos feitos excedem, talvez, um pouquinho, à montanha de maravilhas criadas por Conti:

Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.

Louis Pasteur

Família

Foto enviada por Katia Montechiari, tratada por mim.

Sempre tento fugir da platitude, do lugar comum, quando escrevo algo. Não é tanto por mim mesmo, mas pra tentar não encher o saco de quem lê. Se o texto já não é tão bom em si, fazê-lo intolerável é fácil. Difícil é fazer alguém ler.

Falo isso por conta das tristezas dessa vida, que parece que parou desde Março de 2020, e as pequenas e grandes tragédias que nos acometeram, como família, nesse tempo. Tragédias que são exacerbadas na nossa cabeça por estarmos trancados sem direito a habeas-corpus por um vírus.

A tristeza que começou em 2020, com Covid, mas principalmente pela morte do Tio Aluízio, o tio mais velho, de 87 anos – não dessa peste, mas de coração mesmo. 2020 terminou com aquele ar de “que vá e não volte”… uma exaltação prévia a um 2021 que poderia se mostrar mais benevolente. Não foi.

Em Fevereiro, um primo-irmão Carlos Eduardo, filho deste mesmo tio Aluízio, é assassinado por um condômino do mesmo prédio, amante da síndica, e que estava com ela cooperando pra subtrair o condomínio em uma bela grana. Meu primo, na comissão fiscal, descobriu e foi morto dias antes da assembleia que discutiria o fato. Morte brutal, desnecessária, horrenda. Mas não foi a Covid, ainda.

Agora em Março, ontem mesmo, outro primo-irmão, Arisley, morre depois de curta mas dura agonia, num hospital em Teresópolis. Felizmente morre cercado de amor da esposa Bernadeth, da irmã, Rosane e da mãe, Tia Chirley (com C mesmo). Sofreu menos do que sofreria, mas aos 61 anos ninguém acha que vai morrer. De novo, nada de Covid, Foi câncer mesmo.

Três amados, que, em tempos da Covid, não sucumbiram a ela. No fundo, fica aquela impressão de “quem dera” em mim… E por que? Ora, quando milhares de mães e pais enviam seus filhos a uma guerra (sempre me vem à mente a II Guerra, que consideramos “justa”), todos sabem que podem receber um telegrama dos militares informando da “morte corajosa, em batalha”. E assim, coletivamente, nos consolamos.

A Covid, como batalha, daria talvez mais sentido às mortes. Ora – há uma justificativa. Estou junto com milhares de famílias que sofrem por algo que “está aí”, está acontecendo, e que nos faz coparticipantes dessa tragédia coletiva. Guerra, ou Peste, são mais fáceis de justificar pra nós mesmos. Nossa cabeça encontra racional para isso, mais do que para um coração dodói, para um assassinato idiota, pra uma doença terrível (mas curável e conhecida).

É o caráter coletivo da Covid e da Guerra que nos traz certo conforto. O conforto do “combatente”. O conforto de quem está numa guerra – contra nazistas ou contra um vírus – mas uma guerra, em que a regra é acabar morto, e ter escapado uma exceção.

Meus soldados caídos, meus amados que verei na Glória Eterna, esses estão guardados por Deus. Não me chateia, não me irrita nem me faz maldizer o Criador. Pelo contrário, no fundo me faz ansiar pela minha própria “cura definitiva”, quando Deus enxugará dos meus olhos toda lágrima.

A última vítima da insanidade da vida na terra, Arisley Montechiari, deixa filha e neta, esposa, mãe e irmã, que certamente chorarão muito de saudade, mas não creio que de tristeza ou raiva. O conforto é muito grande, quando se anda com Deus. O que dizer de tantas outras vítimas das mesmas insanidades, e que além de tudo, creem firmemente que os queridos viraram pó e acabou tudo ali?

De novo, escrevo sempre e primariamente para mim mesmo. Portanto, estou ME consolando, ME tratando psicologicamente, para não enlouquecer, trancado numa gaiola de ouro, esperando o momento em que nossos mestres e líderes nos deixarão viver em certa liberdade ainda. Mas vou me consolando com o fato de que tudo aponta para o fim dessa brincadeira de mau gosto enorme chamada humanidade decaída, pecadora, miserável.

A quem fica, meu respeito. Não consolo, apenas respeito. Sei o que vocês passam – estamos passando juntos. Sei o que representa viver sem alguém amado – todos sabemos. Sei o que é a insanidade da perda devido a um universo que saiu de dentro do amor de Deus e se perdeu nos erros dos tantos alvos com os quais nos confrontamos todos os dias.

A quem coloca pequenos deuses entre si e sua família, sejam políticos, ídolos de qualquer matiz, não se leva a sério. A quem coloca ideologias acima da racionalidade e entendimento da vida, com suas mazelas e alegrias, meu profundo desrespeito. Não um desrespeito que age, que xinga, que menospreza. Não. Desrespeito no sentido lato da palavra: não respeito. Adoraria ver seres humanos discutindo em paz, mas sempre, com a cordialidade que advém da certeza da finitude da vida, com a certeza de que no final das contas, não pagam as minhas contas: Deus e eu fazemos isso. A esses, e me incluo, peço que tiremos de entre nós os pequenos deuses que nos infernizam o relacionamento.

Deus nos console a todos, nessa nova e insana guerra.

Dia do Crocodilo

closeup photography of crocodile eye
Paul Triekenens by www.unsplash.com

Como sempre, escrevo primariamente pra mim – escrevo pra no futuro eu mesmo e minha descendência sermos lembrados do que senti, como reagi e até (por que não?) como estava errado, ou certo. Aqui vai mais um pouco da percepção do dia infame de ontem, no qual o STF nos presenteou com um ex-culpado.

Engulhos no estômago à parte, a sessão de ontem da 2a. turma do STF, que definitivamente transformou Lulla em “ex-ladrão” (nos dizeres do Caio Copolla) foi mais do que um acinte. Foi algo que não tem cabimento em país algum com alguma pretensão à OCDE ou ao concerto das nações civilizadas. Foi um “xô” como diria o ex-culpado. Um Xô de milongas jurídicas e malabarismos verbais pra justificar o injustificável – considerar o juiz como algoz, e o ladrão como vítima. Amigos juristas disseram coisas como “o mecanismo venceu”, “vão precisar fazer a terceira temporada de O Mecanismo” e por aí afora.

Gente que sempre tive por equilibrada, ontem talvez tivesse jogado o bom senso pra trás e partido para as armas, para eliminar fisicamente um STF “totalmente acovardado”, nos dizeres do próprio meliante. Lá atrás, acovardado diante do maciço apoio da Opinião Pública. Hoje, acovardado pelo quê? Talvez pelo José Dirceu e algum “revólver” (virtual ou físico) contra os magistrados… Talvez pelos muitos BitCoins a serem recebidos em local (lógico) incerto e não sabido, derivado das diversas “tenebrosas transações” perpetradas por um partido que deveria ter sido caçado há tempos. Acovardado, talvez, pela pressão de uns ministros sobre outros, em sua sanha para tornar o Brasil uma Venezuela jurídica. Sabe-se lá.

Em todo o Teatro de Sombras de ontem, o que mais chamou atenção foi o choro de Gilmar Mendes. Cá entre nós: Choro? Que razão existiria para chorar, ao falar da atuação de Zanin et caterva? Será que chorou de remorso ou medo antecipado? Por ter sido jogado contra a parede para votar (e influenciar votos) como o fez – e talvez tenha feito principalmente contra Carmen Lúcia? “Carminha, os caras estão com uma arma na minha cabeça (virtual/física?)… me ajuda aí e mude seu voto… Carminha, balanga sua capa de Bento Carneiro e invoque os poderes do aquém do além adonde que véve os môrto e me help-me, please“…

Será que chorou de alegria por estar pingando na conta (sua, do seu instituto) uns BitCoins maneiros, comprados a uns R$ 20 mil pelo partidaço e entregues agora a Gilmar pela bagatela de R$ 200 mil cada (nem partidão mais é, pelo volume de recursos que ele mesmo, Gilmar, declarou que o PT teria – “para se eleger até 2038” ou coisa que o valha)? Que razão teria vossa excrescência para chorar? Alegria pelo “virtuose” de cabelinho ralinho penteadinho pra trás ter lhe dado uma aula de saber jurídico?

Qualquer que seja o motivo do choro, Gilmar dá à nação uma aula do que NÃO se fazer. Uma aula, como algum jornalista falou, de parcialidade à flor da toga. Uma aula de como faltar com a Dignitas do cargo e lançar-se à sarjeta da história jurídica nacional, como um ordinário desqualificado? Ou seja, o que quer que tenha motivado o choro, boa coisa não é.

E Carminha, nosso Vampiro Brasileiro? Balangou a toga e nos mandou todos às favas. Sequer deu, esta segunda turma, a chance de que os membros do MP e o ex-juiz de se manifestar! Ora, lá estavam Zanin e Cia. Onde estavam os pretensos acusados? Ou melhor, O pretenso acusado? Não será ouvido? Será jogado no lixo bilhões em custos e procedimentos da Operação Lava Jato sem que SEQUER sejam ouvidos os (agora) “criminosos”?

E os juízes do TFR-4? Os três caras que decidiram não apenas manter as condenações, mas aumenta-las? Num raciocínio básico, se alguma coisa deveria ser feita, deveria ser contra o STJ (em parte) mas principalmente o TRF-4, que é, em termos de mérito, a última instância de julgamento (e razão pela qual a condenação em segunda instância faz tanto sentido – no mundo todo).

Neste histórico dia de infâmia, 23 de março de 2021, no meio de uma pandemia que não permite que estejamos nas ruas, para combater (pacificamente) essa corja, vimos um Crocodilo derramar suas lágrimas enquanto estraçalhava o único herói não esportivo deste país dos últimos quase 200 anos (Dom Pedro II foi o último).

Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! 

Isa 5:20 

Nós e os Agostinho Carraras dessa vida

O Álbum da Grande Família': Relembre os figurinos de Agostinho Carrara no  seriado | Estilo | Gshow
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Circula um vídeo do ator Pedro Cardoso, que interpreta(va) Agostinho Carrara na TV, no qual ele derrama sua sabedoria sobre todos nós, respondendo perguntas feitas por internautas sobre os mais diversos temas.

Agostinho, ou melhor, Pedro, nos brinda com o melhor do padrão Globo de pensamento. Tive que comentar porque parece inteligentíssimo. O cara é articulado, e tal como Agostinho da TV, convence quem não entende o que é “blague” e o que é raciocínio, no duro, pra valer.

Duas coisas me chamaram atenção, e comento as duas em separado pois pode interessar a quem queira entender porque falar certas coisas é fácil, e desmenti-las dá um trabalhão…

Portugal é um destino Socialista

Uma das perguntas feitas a Agostinho (digo Agostinho pois certamente parece ter sido ele que respondeu, mas creio que poderia ter sido o Pedro, com os mesmos efeitos) era por que ele não ia pra Cuba, em vez de ter escolhido Portugal.

Com muita ginga e malandragem típicas do Agostinho, o cidadão responde que “se não sabíamos, Portugal era governado por um primeiro ministro socialista”. E para por aí, obviamente sem elaborar, pois que se elaborar, lascou o cano. Explicar com muitas palavras é coisa que complica, em alguns temas – principalmente naqueles em que há necessidade de rigor técnico e veracidade.

Portugal… Cuba… Cuba… Portugal… hummm, sei não. Qual dos dois é o destino que poderíamos considerar compatível com o que pensa o Pedro (o Agostinho creio que gosta mesmo é de Miami)? Se o objetivo é ser coerente com o que pensa o Pedro, ou pelo menos o que verbaliza, Cuba, ou ainda, China ou Coréia do Norte, seriam destinos mais alinhados ideologicamente.

Afinal, Portugal “está” sob um primeiro ministro socialista, eleito democraticamente, e cujo mandato pode ter um fim a qualquer momento, caso uma moção de desconfiança o retire do cargo prematuramente. Ainda, Portugal já esteve sob vários governos com tons de ideologia diferente, e certamente predomina uma certa social-democracia, embora se vejam nas ruas (a última vez que vi ao vivo e a cores foi entre 15 e 30 de Novembro de 2019, antes dessa peste toda) bandeiras com foices e martelos por todo lado.

Nada disso, porém, tirou (ainda) a liberdade dos portugueses de votar e serem votados, propor mudanças na legislação, eleger de acordo com a representatividade de cada região, demitir seus políticos, ter propriedade privada, fazer negócios intera e externamente, comprar e vender como bem entenderem, e qualquer outra atividade que configure uma nação fundamentalmente democrática. Tal não pode ser visto em Cuba, China, Coréia do Norte e outros paraísos frequentemente descritos como o céu na terra pelos ideólogos, o Shangri-la, o objetivo a ser atingido.

Pedro foi para Portugal. Pedro poderia ter ido para Cuba. Não existe forma de convencer Pedro a ir para Cuba, exceto de férias, na praia, talvez. Pedro é “Cardoso”, o que lhe deve ter legado um passaporte da Comunidade Europeia, um ente significativamente democrático, ainda que com viés social-democrata.

Pedro não ganhou dinheiro com Agostinho – só a Globo

A segunda grande colocação que ouvi (confesso que depois disso tive que sair pra não vomitar) foi a resposta à colocação de um internauta sobre o fato dele ter ficado rico com o Agostinho, e posar de socialista.

A resposta, pérola de hipocrisia e desintendimento sobre a natureza do capitalismo foi mais ou menos assim: “eu não ganhei dinheiro; ganhei um salário; quem ganhou dinheiro foi a Globo. É essa a natureza do capitalismo – o capital é que ganha dinheiro”, ou coisa que o valha.

É odiosa a posição dele. Provavelmente não deve ter recebido o jabá dele como “salário”. Como quase todo vivente bem instruído por contadores e advogados, o sujeito deve ter aberto sua Pejotinha (empresa de prestação de serviços), sabe-se lá, a Pedro Cardoso Produções Artísticas Ltda., e se aproveitado dela para faturar pagando algo em torno de 16% de tributos totais, e usando o resultado líquido como distribuição de lucro (não tributada) para receber os proveitos na sua Pessoa Física.

Duvido que o referido socialista tenha deixado na mão da Globo o valor integral do que recebeu, à razão de 27,5% de IR mais 11% de INSS… duvi-de-o-dó.

Bom, às colocações dele:

Salário não é lucro e portanto não deixa ninguém rico

É isso que se pode inferir da resposta – Ora, mesmo na hipótese de que Pedro tenha sido subtraído em mais de 40% sobre seus vencimentos, de IR e INSS, convenhamos que um salário de, sabe-se lá, R$ 1 milhão ou R$ 500 mil por mês está acima do rendimento de quase qualquer brasileiro. Trata-se, porém, de um sujeito que se equipara, em termos de renda, aos maiores empresários do país. Não. Ele não detém o capital (pois não aplicou nenhum na produção do programa nem correu qualquer risco, não contratou gente, contra-regras, não comprou câmeras, nem nada).

Pedro, portanto, se coloca na mesma posição de qualquer trabalhador, empregado com carteira assinada, se sorte tiver. Considera-se um mero peão num joguete que é controlado pela malvada corporação à qual pertence, e que é o vilão de um jogo do qual ele seja, talvez, um dos grandes beneficiários. Não dá pra ser mais hipócrita.

A Globo é o Capital, e como tal, não deve ser boa

Bom, isso ele não disse, mas certamente, ao fazer a colocação do item anterior, certamente é a única coisa que se pode presumir. Capital é ruim. Ponto final. Capital é o vilão e não há discussão – se discutir é fascista, genocida e sei lá mais o que.

Qualquer conservador sabe que capitalismo, no duro, NÃO se faz com monopólios. A Globo já foi quase monopolista, hoje está entrando na vala comum das outras TVs, em termos de audiência. Em termos de qualidade é superior tecnicamente, e inferior moral e em termos de sua objetividade. Há anos sofremos um massacre da Globo. Eu mesmo tive que ser “desmamado” da Globo, como um toxicômano. Que falta fazia o JN… Por que? Por ter assistido desde os tempos do Reporter Esso, Cid Moreira e Eron Domingues à bordo. Outros tempos, herdados por esses que aí estão.

A Globo, sob comando da geração atual, se perdeu em seus padrões morais, e, pior, tenta insistentemente nos influenciar a crer no que os irmãos Marinho parecem ser os temas a serem levantados: promiscuidade sexual, adultério, louvor ao “espertalhão”, desestruturação da família, homossexualismo e outros tópicos que não lembram em nada a Santa Missa em seu Lar, dos tempos idos.

Concluindo, Pedro/Agostinho lançam mão dos argumentos manjados e batidos de qualquer esquerdista. É fácil, diz-se em poucas palavras, e para combatê-los leva-se tempo e é necessário pensar e refletir. Isso não é o forte dessa nossa geração, “shallow now” (and ever).

Vamos pedir a Deus que Pedro finalmente tope passar um tempinho em Pyongyang… Lhe fará bem ver o quanto há de distância entre lá, e Lisboa. Vá com Deus, Pedrinho…

Estados Digitais

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O Contrato Social

Jean-Jacques Rousseau tenta explicar, em seu “O Contrato Social”, a forma como a sociedade elaborou, ao longo de séculos, um pacto, em que os indivíduos abrem mão de determinados direitos em nome de obter as coisas básicas para uma vida “normal”: ordem, paz (ausência de guerras), justiça, etc.

Rousseau viveu numa época em que os estados nacionais modernos se encontravam ainda no nascedouro – tudo, até então, passava por imposição, em maior ou menor grau. Portanto, julgo eu, até a renascença, pelo menos, estados nacionais no conceito moderno do termo, não existiam.

Em 1762, quando Rousseau escreve, estávamos ainda a 14 anos da declaração de independência dos EUA, que abriu a “era moderna” (minha opinião) dos Contratos Sociais. Logo após, em 1789, a Revolução Francesa, uma excelente iniciativa cooptada pela esquerda da época, que a transformou em nada mais do que um grande banho de sangue, mudaria para sempre o comportamento dos reis e presidentes em suas cadeiras – de déspotas, ou quase, a seres incomodados com a opinião alheia – do povo. Isso, pela primeira vez na história.

Para ser bem justo, o primeiro experimento (forçado, diga-se) de algum tipo de descentralização de poder, se dá com a Magna Carta (o título inteiro dá uma boa ideia do que era – “Grande Carta das liberdades, ou concórdia entre o rei João e os barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês”, assinada debaixo de porrete pelo Rei João sem Terra, da Inglaterra, ainda em 1215. Descumprida pelo monarca desde o princípio, serviu, mesmo assim, de base para a moderna sociedade inglesa. Pasmemos: um documento odiado pelos reis, mal usado pelos nobres e posto em frangalhos pela Igreja serviu, mesmo assim, de base para a primeira grande nação da era moderna, e até hoje nos causa espanto.

Tudo isso computado, quando os EUA se chamam de um “Farol sobre a Montanha”, se referindo ao exemplo que deram ao mundo, não podemos dizer que se trata de exagero. De fato, ter constituição, e leis que tornem o estado democrático de direito algo primordial em uma sociedade, em que:

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness”… (Temos essas verdades como sendo auto-evidentes, em que todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos Direitos inalienáveis, entre os quais esão a Vida, Liberdade e a busca da Felicidade)

Bill of Rights, 1789

Definição de Estado Nacional

Antecede esses direitos e definições o conceito mesmo de Estado Nacional. Portugal é considerado o primeiro estado nacional dentro do conceito moderno, de nação – território definido, governo central, cidadania, etc. Fundado (conquistado por casamento) por Dom Afonso Henriques, depois Afonso I, tinha as características que hoje se esperam de um estado nacional:

  • Fronteiras – Definições claras de fronteiras marcam a base de um estado nacional moderno. Sem fronteiras demarcas, e principalmente, reconhecidas, não há estado nacional moderno; Disputas de fronteiras podem ocorrer, mas dentro da sede de um marco legal preexistente e reconhecido ao menos em parte, por outros estados nacionais
  • Cidadania – A definição de cidadão de determinado país, dada fundamentalmente por nascimento em suas fronteiras, é definida diferentemente por alguns países – desde os ultra-estritos, como o Japão (para quem alguém que nasceu lá pode não ser japonês, se não tiver características e ancestralidade japonesa) até os EUA (para quem o nascimento em seu território, mesmo se por acaso ou propósito específico de gerar cidadania são a regra), as definições de cidadania é a mesma – alguém “nosso” para quem nossas leis se aplicam. Neste conceito se abriga o “direito” de deportar cidadãos, por quaisquer razões que o Estado entenda aplicáveis.
  • Governo Central – Entidade controladora da justiça, leis, regras, a quem se delega o monopólio da violência (com exceções, como os EUA e seu sagrado direito de porte de armas ao cidadão) e controle da economia, moeda, etc.

Ficamos apenas nessas três características, já que o texto já se alonga.

Estados Digitais

Se eu estou dentro do Facebook, Instagram ou outra rede qualquer, apenas para ficar nas mais influentes e poderosas, aparentemente estou dentro de um “local virtual de convivência”. Chama-los de “redes sociais” implica, em minha opinião, em chama-los, fundamentalmente, de “estados digitais, no sentido em que, de fato, esses “espaços geo-digitais” se constituem num Estado Virtual. Como não?

  • Fronteiras – Possuem fronteiras claramente demarcadas. Aliás, são as fronteiras mais claras da história – tem que entrar no sistema, ou seja, passar por suas fronteiras, para “estar” no “país Facebook” ou “país Instagram”. Dentro desses países virtuais, temos a clareza absoluta de onde estamos no momento, mas não sabemos onde estão as fronteiras. É como morar no Amazonas e não enxergar, ou talvez sequer compreender, a distância que existe até o Rio Grande do Sul. Pior ainda, porque essas fronteiras se expandem na medida em que novos cidadãos virtuais nascem e desenvolvem novos territórios virtuais, alargando o tamanho da “nação”
  • Cidadania – Ora, para entrar neste país virtual, temos que nos cadastrar, e sermos aceitos. Isso obviamente gera uma cidadania, a qual é-nos graciosamente concedida pelo Governo Central. Os casos atuais de “cancelamentos” virtuais são uma analogia mais que perfeita com os banimentos praticados por alguns estados nacionais. Banir, cercear, punir, prender (ainda que virtualmente), multar ou quaisquer outras atitudes contra o “cidadão” comprovam que há, nesses países virtuais, um conceito claro de cidadania
  • Governo Central – Fica claro que se alguém dita as regras, tem o poder de definir as “leis” e detém o poder de polícia – o monopólio da “violência virtual”. Sua constituição e sua declaração de princípios, da qual lança mão para punir quem quer. Em sendo uma propriedade privada, trata-se, portanto, de uma monarquia, no mais estrito sentido do termo – Um que Manda.

Resultados

Somos então, cidadãos de estados nacionais virtuais, que cobram de nós impostos (pagamos, direta ou indiretamente, para estar ali, ou pagam por nós), nos mantém “na linha” e tem o direito de prender e banir, perguntamos: que direito temos?

Em monarquias tradicionais (sobram pouquíssimos exemplos delas), os direitos costumam ser nuisances, à disposição e alvedrio do monarca. Aplicam-se, ou não. Ocorre que, sendo estados virtuais supranacionais, não devem nenhuma obediência aos seus súditos. Ou será que deveriam dever (sic!)?

Em termos de Facebook, Instagram, WhatsApp, Parler, etc, não temos muita liberdade de expressão, e, no fim das contas, acabaram por nos caçar o direito de falar o que pensamos. Percival Puggina, hoje, reflete texto de Alex Pipkin, no qual este diz que “o primeiro cancelamento a gente nunca esquece”. De ontem para hoje, um texto dele foi “banido” (equivalente no mundo real de terem censurado o texto por ferir a moral e bons costumes, ou algo semelhante).

Como conservador convicto, creio que a empresa privada tem o direito de fazer o que quiser. No entanto, já não parecem se tratar de empresas, mas de monopólios, monarquias, e como tal talvez devam ser tratadas. À exemplo da Standard Oil ou da Mother Bell, talvez o nosso CADE virtual devesse impor algumas regras de funcionamento ou até provocar sua divisão.

Não apoio a divisão desses meios, pois a medida seria mais arbitrária do que o que essas “comunidades” fazem com seus cidadãos-virtuais. No entanto, equivalente a um posto de gasolina que tem que ter determinadas regras de segurança, ou frigoríficos que devem ter regras sanitárias, entendo que a constituição de um país deva ser aplicada ao mundo virtual que circula e contém seus cidadãos de carne e osso. Ora, se temos, no mundo real, o direito a opinião – ainda que por isso possamos ser levado à justiça – que tenhamos a mesma condição no mundo virtual. Não sermos taxados disso ou daquilo por conta de um rapazote ou moçoila de 20 e poucos anos, que se arvorou no direito de nos cancelar, por terem ficado irritado(as) com o texto.

No fim das contas, num mundo em que vivemos boa parte do dia virtualmente, estamos acabando por ser mais cidadãos virtuais do que reais.

Diversidade

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Diversidade é uma dessas palavras que ganharam novo significado, nos tempos que vivemos. Ganhou um significado que talvez nem todo mundo goste, e que preciso – confesso – entender bem, para não cometer erros de julgamento.

Um cântico que tínhamos em nossas igrejas (evangélicas, e algumas católicas) antigamente se chamava “Unidade e Diversidade”, e se baseava num texto de Atos dos Apóstolos e diz assim:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.

Atos 4:32

O texto fazia menção à diversidade das pessoas que creram em Jesus Cristo, a nova fé do primeiro século, de sua condição diversa (pobres, ricos, livres, escravos) e sua unidade através de “um coração e uma alma”, a ponto de ninguém considerar algo como sendo seu mesmo (voluntariamente).

Era uma diversidade um tanto diferente da que temos aqui: por serem diversos, uniam-se voluntariamente, debaixo de uma fé e um coração, sem necessidade de imposição ou campanhas “explicativas”. O CEO e o peão do chão de fábrica, usando uma comparação moderna, conviviam e tinham as coisas em comum, de forma que ninguém passava necessidade. Voluntariamente, as pessoas davam o melhor de si, uns aos outros, e dessa forma, silenciosamente, essa estranha fé foi mais forte do que um império milenar, fazendo com que o apelo marcial, que mantinha coeso o imenso território de Roma, ruísse pelas mesmas razões da fé em que estavam fundados: o caráter espontâneo, voluntário, de suas atitudes, e o desprezo pelo ataque, pela ofensa, pela violência não defensiva e não provocada.

Ocorre que, aparentemente, voluntariedade, liberdade e discurso se misturam, hoje, numa confusão que torna difícil o que é mais importante – “um coração e uma alma”.

Lendo o texto do artigo acima, depreende-se o objetivo real e explícito de dar exposição a segmentos entre segmentos da sociedade, principalmente a inclusão de pessoas dessa ou daquela origem, cor, raça ou orientação sexual, a fim de dar diversidade aos Conselhos de Administração das empresas.

A entrevistada é uma excelente profissional, membro de diversos conselhos de administração de grandes empresas mundo afora. Portanto, está ali por capacidade e não porque é mulher, ou negra, ou homossexual, ou qualquer outra especificidade, válida ou não. Muito bom.

Minha dúvida vem no sentido contrário: o quanto de fato sabemos sobre a diversidade e quanto dessa diversidade está povoando as administrações públicas e privadas mundo afora, apenas pelo “conceito” de diversidade, em si, e não por efetivamente agregar algo, no que importa – capacidade de realizar o que é necessário.

O “sentido contrário” a que me refiro aqui diz respeito ao fato de que para mim pouquíssimo importa se uma pessoa é branca, negra, homem ou mulher, hétero ou homo, cristão ou não-cristão, no que tange à sua qualidade para orientar a tomada de decisões (ou tomá-las) na esfera dos grandes conselhos de administração mundo afora. Sempre vou privilegiar a capacidade intrínseca, em estado bruto, da pessoa que senta comigo em um Conselho ou que comigo compartilha decisões.

Nossa empresa é uma empresa fundada em valores cristãos, e como tal não pode discriminar por qualquer razão – pode, sim, e deve, deixar claro o que pensa em termos da fé que fundamenta nossos princípios de negócios, e a igualdade, verdadeira, dentro da diversidade do ser humano, sem, contudo infringir os princípios da Palavra de Deus em nossas decisões.

O tipo de confusão semântica gerada pela hiperssimplificação de termos às vezes difusos, ou difíceis de definir – como diversidade – nos leva a situações às vezes cômicas (como as discussões sobre a diversidade na matemática) ou trágicas (como a incapacidade de trabalho conjunto e proativo para debelar uma pandemia). A realidade tem importado menos do que os desejos, sensações ou estados de espírito.

Viva a diversidade, com consciência e responsabilidade!

P.S. – E viva o melhor que temos na nossa sociedade, a Mulher, em seu dia!

Lockdown

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Estamos aí de novo, curtindo nova onda de “lóquedáum” por conta da Covid-19. Na verdade, pode-se dizer que é por conta de outros fatores, que não a própria Covid:

  • Pode-se afirmar, por exemplo, que é por conta dos respiradores nunca comprados ou superfaturados (e comprados a menos) pelos governadores e prefeitos
  • Pode-se afirmar que é por conta dos hospitais de campanha, pagos a peso de ouro, e desmontados menos de 3 meses depois (se tanto) e cujos leitos de UTI estão fazendo tanta falta agora
  • Pode-se ainda afirmar que é por conta do fato de que fizeram lockdown antes do que deveriam, ou ainda, da forma errada, focando mais no aspecto “eu mando” (imposição) do que no aspecto “faz que é bom” (educacional).
  • Pode, por fim, afirmar que é pelo fato de que mesmo antes de pandemia, já termos um déficit de UTIs crônico, e que a Covid só fez agravar…

Tudo isso pode, mas cá entre nós, o problema desde o início é se lockdown resolve algo. Lógico que resolve: tranca todo mundo em casa que não há circulação de ninguém e o virus de fato, não se espalha. Ao longo da história fez-se lockdown. Estamos hoje repetindo o que se fez desde a idade média, e suas pestes negras e pragas terríveis.

Mas o problema é não é esse. O problema é: num mundo com quase 8 bilhões de habitantes, e num país com problema crônico de sub-moradia e saneamento ruim, de gente que vende o almoço pra comprar a janta, que precisa, de trabalho todos os dias, querer que as pessoas fiquem por longos períodos em casa, e apenas um grupo de cidadãos de segunda classe se exponha, é bastante desigual e quase desumano.

Quando escrevo o Paraná fechou mais uma vez toda sua economia, basicamente, e São Paulo faz o mesmo, por mais 20 dias, como se 20 dias de um ano de 365 dias não fosse algo a ser devidamente matutado antes de decidido.

Complementando a lista lá de cima, nesta reflexão, pode-se afirmar que o uso dos lockdowns por motivos escusos, por parte de governos estaduais, são a prova cabal de que “o mundo jaz no maligno”, como a Bíblia fala. É realmente surreal ver governos fazendo a mesma coisa, repetidas vezes, sifonando dinheiro federal, nosso dinheiro, para tudo, exceto combate à pandemia (até salários estão sendo pagos com essa grana), fechando tudo pela 5a., 6a. vez, achando que “dessa vez vai”… a insensatez não tem limites, por aqui.

Enquanto isso, vamos sendo tangidos em direção à nova descrição de nossas atribuições como “gado” (não de bolzonaro, mas de qualquer governinho estadual-imperial): vacina também não resolve. Tem vacina, mas fique em casa, já teve covid, mas fique em casa, vacinou 2 doses, continue usando máscara, ficando em casa… ou seja, a impressão é que esta pandemia não terá fim, e que, se tiver, já existe outra preparada, ali na esquina, para nos manter reféns de ordens de nossos “piccoli capi”.

Crises Institucionais e o “Checks-and-Balances”

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Como qualquer país com uma constituição minimamente funcional, o Brasil (que está no limite inferior disso) possui política de “checks-and-balances”, para usar a expressão popular dos EUA. É necessário que os três poderes se controlem e se mantenham na linha, e equidistantes.

A 4a. feira, 17 de Fevereiro de 2021, começou com a notícia bomba da prisão de um parlamentar do PSL-RJ, Daniel Silveira, por crime contra o STF – prisão “em flagrante” (aspecto mais questionado de todo o imbróglio) entre otras cositas más. Como já opinei em outro local, acho a fala do parlamentar de mau tom, e francamente execrável. Mas creio que só um idiota para acreditar que o sujeito realmente tenha a intenção de, de fato, fazer um levante contra o STF. Quer quiser fazer isso, de fato, certamente fará com um sniper no alto de algum prédio de Brasília, de posse de um rifle de grosso calibre, silenciado, e uma possante mira laser. Não parece ser o caso – apenas alguém que, no fundo, quer se “manifestar” – do pior jeito possível, mas sim, dizer o que pensa

Por que o Deputado se manifestou assim?

Em primeiro lugar, temos que entender o que pode ter motivado o cara a falar o que falou. Algumas ideias:

  • Sintonia com o Eleitorado – Ele está em sintonia com seu eleitorado, e no fundo, no fundo, sabe que quem o elegeu pensa igualzinho. Embora brasileiro não seja muito dado a atentados, ele adora imaginar o tal sniper explodindo a cabeça de um ministro do STF (NÃO estou querendo, nem expressando aprovação nem nada do estilo, “talkey”, Ministros?). Assim, ao falar o que falou, sabe que está agradando quem o elegeu.
  • Sintonia com a Opinião Pública – Ele sabe que, mesmo fora do seu eleitorado (e até na esquerda, por razões distintas) o STF goza de popularidade abaixo da crítica, e com isso confirma a noção que todos nós (vade retro) pensamos que o “STF tem que acabar” (de novo, STF, NÃO acho isso, ok?). Assim, ele joga para uma plateia maior ainda, e ganha uma notoriedade que não tinha (eu mesmo sequer sabia da existência do ilustre parlamentar até hoje cedo).
  • Protagonismo da Corte – Ele ganha espaço numa discussão que só existe porque há um protagonismo excessivo da Corte, inclusive com o tal inquérito secreto, iniciado pelo próprio julgador, a Corte, e que não tem pé, cabeça, princípio, fim, ou publicidade que permita à sociedade julgar o que está sendo feito ali. O STF deixou a circunspecção que sempre cercou o tribunal, e passou a opinar extensiva e ostensivamente sobre qualquer ato do executivo e legislativo, numa clara intromissão (ainda que também preservada pela liberdade de expressão, diga-se) em outros poderes.
  • Uma no cravo, uma na ferradura – Ao invocar a Lei de Segurança Nacional – peça de museu de horrores que o próprio STF diz estar em vigor – e ao mesmo tempo criticar e prender o deputado por ser a favor do AI-5 é, no mínimo, um contrassenso. Não faz sentido invocar um instrumento da ditatura para cercear o direito de falar bobagem de um defensor de outro instrumento da ditadura.

Checks-and-Balances

Parece que pra político brasileiro (e membros do judiciário), “checks and balances” parece tratar tão somente de instrumentos de movimentação bancária e peças contábeis… hehe. A postura do STF difere da maioria das cortes da mesma magnitude em outros países, por conta de aspectos que nada tem a ver com a posição política de seus membros. O STF se imiscui em discussões sobre as quais um dia poderá julgar. Ou seja, ao expressar – sem ser consultado – sobre o fato “A”, ou Decreto “B”, ou ainda a fala de fulano e beltrano, o STF atrai para si a pecha de “tomar partido”, o que não é bom para corte alguma.

Em se tratando de Brasil, o fato é magnificado pela sensação (disse “sensação”, por favor!) de que há ministros da Corte que sim, têm visões ideológicas claras e que trabalham ativamente para apoiar suas “causas”.

Tem ministro que parece Lamartine Babo narrando Fla X Flu na Rádio Nacional, nos anos 40 ou 50, que quando o Flamengo ganhava escanteio, dizia, sem a menor cerimônia “escanteio pra nóóósss”… Parece engraçado, e é, mas não é inteligente achar bacana – afinal, o que se espera do narrador esportivo é a imparcialidade que todo jornalista (inclusive esportivo) deveria ter. Ministro que coloca sua “causa”, sua opinião na mídia, está sujeito, mesmo, a tomar uma ou outra pedrada, e cá entre nós, não sem certa razão.

Crise Institucional?

Afinal a fala do tal deputado consiste ou não em uma crise das instituições? Bom, para quem já viu as barbaridades que os deputados norte-americanos como Ilan Omar ou Alexandria Ocasio-Cortez falam em cadeia nacional, as diarreias verbais de Bernie Sanders, todos congressistas, gente eleita, não poderia achar que o desatino verbal de Silveira represente algo de maior importância.

Afinal, deputado deveria servir, sim, pra falar mais alto, e até mais bobagem (eu dispenso, mas acontece) do que ficar de cochichos ao pé do ouvido e negociatas aqui e acolá, nos corredores do Congresso. Prefiro um deputado boquirroto do que um facínora ladrão. Não é a opinião deste ou aquele infeliz que fará diferença num edifício constitucional sólido. Só estamos discutindo isso tudo, em minha opinião, justamente porque o próprio ministro do STF acha duas coisas: a)que o tal edifício não é assim tão sólido e; b)ele se acha no direito de não seguir um ou outro preceito constitucional.

Não vejo qualquer crise, aqui, e por causa desta fala. Não acho sequer que o caso merecesse QUALQUER tipo de repercussão maior. Acho que a atitude de Alexandre de Moraes o expõe, expõe a Corte, e expõe uma situação tão desnecessária que só a tentativa de deter mais poder do que prevê a constituição daria origem.

O silêncio de Bolsonaro

Mas o que me irrita mesmo é que Bolsonaro não fala nada. Não sei se é bom ou ruim o silêncio dele. Só me irrita, porque o cara fala o que deve e o que não deve em assuntos em que não deveria abrir a boca para opinar. Deixa eu respirar fundo e repensar: acho que ele tem o direito e o dever de permanecer calado – como bom italiano, só parece não ter a capacidade para isso. Mas se fosse um cara cuja opinião fosse dada na hora certa, da forma e com as palavras corretas, talvez abrir a boca num momento desses servisse para apaziguar ânimos e evitar problemas. Infelizmente ele não é assim.

Ressalva a quem me ache contra o cara: NÃO sou contra ele ou o governo dele. Ainda vejo no governo dele mais coisas positivas do que negativas, a despeito da quase lavagem cerebral que temos recebido da mídia. É fato que o que “mata” o presidente é a forma de falar, e não o conteúdo, na maior parte das vezes.

Concluindo meu texto (como sempre, escrito de mim para mim, para arrumar minha própria bagunça interna), creio que o deputado é um bobão, que o ministro do STF agiu como outro bobão, e que um episódio extremamente babaca vai acabar dando à luz um monstrinho com cara de crise institucional.

O Bonito é Difícil?

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Lutei a infância e adolescência pra aprender a ler música e a tocar um instrumento por ela. A preguiça e a pressa não me permitiram. Toco um violão meia boca, um baixo pior ainda, tudo de ouvido, e apenas e quase só na Igreja os nas atividades dela.

Minha esposa começou aos 5 anos no piano, lê música, rege corais, cursou faculdade de música sacra e é minha fonte de inveja eterna… Foi persistente e isso dá a ela hoje um “ativo” difícil de se obter depois de velho.

Um violinista disse que odiou o violino e as partituras até que finalmente começou a não pensar mais na “técnica” e a tocar o que lhe desse na cabeça, lendo ou não a pauta, porque já não precisava dela. A técnica o escravizou, depois ele escravizou a técnica.

O mesmo vale pra leitura. Nessa área eu vou melhor um pouco. Papai, professor de Português, sempre teve centenas de livros em casa e nos incentivava a ler. E não a ler qualquer coisa. Tenho até hoje a versão d’Os Lusíadas que ele me “deu” (roubei, melhor dito), da Editora Melhoramentos de 1950 e qualquer coisa. Linda! Li Machado de Assis pra caramba e odiei (Lusíadas também). Meu maior desafio, porém, foram os Diálogos, de Platão – principalmente “A República”, que eu me lembre. Sensação de perda de tempo, de opressão mesmo. Livro vai, livro vem, fui me ajustando a uma literatura, digamos, mais cordial a mim, como Stephan Zweig, Henri Charrière, Émile Zola, entre outros “clássicos não tão clássicos”. Adorei o conceito de “série” contida na epopéia dos Rougou-Marquart, de Zola, “uma história natural e social de uma família sob o terceiro império”, que começa com a história de Naná, uma prostituta, e cuja família vira “gente fina”. Fui polindo minha leitura até que hoje, vejam vocês, vou de um lado a outro do espectro, de “coisas” como J.K. Rowling e mesmo Paulo Coelho até C.S. Lewis, Eugen Rosenstock-Huesy, entre outros.

Bonito, então, é difícil sim. Tem que ser, pois que bonito é algo que se olha de fora e se admira como algo pouco, ou muito, extraordinário. Duvido que achemos uma flor algo “simples”, uma concha perfeita como “simplória” ou um soneto de Vinícius de Moraes algo “comum”. Útil também é difícil por natureza – pois que para ter utilidade deve necessariamente se prestar a um papel diferente do de estar parado, sem uso.

Para que todo esse palavrório? Porque estamos vivendo uma época de preguiça mental e hiper-simplificação de conceitos e significados. Esses dois exemplos – a música e a literatura, e a necessidade de trabalho duro sobre ambas, a fim de dominar o básico, para daí seguir, é um chamado ao “Ordo ab Chao”, sobre o que já tenho chamado atenção aqui e acolá. A ordem sobre a tendência do ser humano de simplificar coisas além do que é possível, e a certeza, como disse Einstein, de que não se deve simplificar além do máximo possível. A vida não para de pé, a sociedade não pra de pé, a religião não para de pé, nem um motor de fusquinha “para de pé” por assim dizer, se não houver a complexidade mínima que permita às partes funcionarem.

O título do artigo poderia ser “O Bom é difícil” ou “O útil é difícil” ou muitos outros. Apenas selecionei “bonito” por ser compatível com os dois exemplos que dei. Não há música bonita sem a mínima complexidade das notas que a compõem, assim como não há literatura possível sem o mínimo de trama, de arrumação gramatical ou semântica que nos leve a ter prazer nela.

Com nossa tendência ao caos, ao “mínimo possível”, à lei do menor esforço, enfim, a tudo o que desarruma, em vez de arrumar, teremos o mesmo fim melancólico que estamos presenciando na cátedra hoje, na família, hoje, na igreja, hoje, e em todo lugar.

Há um “diabo” em sociedade que nos sopra no ouvido sempre que o “simples é melhor” – simples sim, mas não menos do que o necessário à utilidade e beleza .