O amor ao dinheiro

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Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.

I Timóteo 6:10

Frequentemente pessoas com algum dinheiro são vistas, geralmente por outras com menos dinheiro, como sendo “escravas” desse ídolo.

Jesus Cristo deixou bem claro que:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

Mateus 6:24 e Lucas 16:13

Lucro e Missão

O assunto foi tão marcante, que DOIS, e não somente um dos evangelistas mencionaram as palavras de Jesus Ipsis Literis.

Como membros de uma classe média “padrão”, temos a impressão de que o conceito de “amor ao dinheiro” é algo mais distante um pouco, e que no fundo no fundo, enquanto tivermos o “bocado acostumado”, não vamos sofrer nenhum tipo de má influência quanto ao que temos e como tratamos o que temos.

Ledo engano… que o digam os dólares nas partes íntimas de nossos políticos, como os dois rumorosos casos. Que o digam as sentenças prolatadas em favor de criminosos, em troca de “peitas” como o livro de Provérbios já nos advertia, há mais de 3 mil anos.

Como empresários, e mais, empresários com um compromisso com o Reino de Deus e sua expansão, estamos sempre diante da tênue linha que divide o Lucro da Missão. O Lucro não pode nem deve ser esquecido, como forma de manter a atividade (e quem dela depende) e a própria Missão. A Missão, por suas vezes, pode até depender do Lucro, mas depende muito mais do Senhor que dá a capacidade de obter o Lucro.

A Linha Divisória

O reconhecimento de que estímulo ao Lucro ultrapassou a Missão pode ser mais claro ou menos claro, mas alguns itens podem nos levar a pensar se ultrapassamos a tal linha:

  • Meu Lucro advém, ou pode advir, em algum momento, do prejuízo de alguém? A questão aqui pode parecer mais ou menos evidente, a depender do caso, mas quase sempre é possível raciocinar e concluir sobre o assunto, e, tendo orado antes, obter do Senhor a visão da tal Linha. Eu já me vi em diversas oportunidades em que eu tive que abrir mão de algum dinheiro em troca de não correr o risco de ofender meu parceiro/cliente/investidor. A questão do conceito de “soma-zero” no que tange ao Lucro já deveria estar plenamente resolvida na cabeça de quem empreende para o Reino – há um conceito que eu chamo de “Economia Adiabática” (fazendo um paralelo com o mundo físico, onde a economia seria um “sistema fechado”) onde, para um ganhar, o outro tem necessariamente que perder). É o conceito usual nas visões econômicas mais socialistas ou socializante – o empreendedor acaba sendo mau, pois ao lucrar está retirando recursos de alguém. A economia não é um sistema fechado de soma zero. O ganho de alguém, desde que honesto e voluntário, acaba por representar o ganho de todo o sistema econômico, inclusive de quem “forneceu” o lucro ao comprar. No entanto, não podemos confundir a margem de lucro que vai contribuir para a continuidade de um negócio com casos em que, de fato, o Lucro ocorre em detrimento de outro, por razões não-voluntárias.
  • Ao lucrar, estou beneficiando a outra parte? Um exemplo claro disso vem do aumento de preços durante períodos de relativa escassez de algum tipo de material ou serviço. É natural, pela lei de oferta e procura, que os preços aumentem, e com eles, por um tempo curto, a margem de lucro de quem vende. Há aspectos econômicos que advém daí – como a necessidade de repor materiais ou mão de obra mais caras, que necessariamente implicarão em aumento de preços. Mas há aspectos mais mundanos, como o aproveitamento de uma oportunidade gerada, por exemplo, por um “efeito manada”, no qual a oferta é dada como “escassa” de forma artificial, e portanto, sim, retirando riqueza de forma, pelo menos parcialmente, parte da riqueza do outro de forma não-voluntária.
  • Estou criando condições artificiais para lucrar? Algumas empresas, em alguns nichos de mercado, conseguem gerar, por períodos de tempo mais ou menos longos, condições em que o aspecto voluntário das trocas econômicas é controlado. Cartéis, oligopólios e outras formas de controle de mercado não deveriam fazer parte do vocabulário de empresas ligadas ao Reino. Aliás, a mega empresa tem-se mostrado, ao longo dos anos, cada vez menos capitalista (no sentido das trocas voluntárias de bens e serviços) e mais favoráveis e formas econômicas menos livres.

Escravidão e Liberdade Financeiras

Voltando ao Senhor Jesus, a Bíblia é muito clara sobre o trabalho, inventividade, sabedoria, prosperidade, mas é mais clara ainda sobre a necessidade de que dominemos sobre isso – o conceito de “dominar sobre a Criação” contido no Gênesis, na minha opinião, vai até o domínio sobre as criações do intelecto humano – o que criamos não pode nos dominar, e dinheiro é mais uma das criações humanas.

Crescer, multiplicar-se, encher a terra e sujeitá-la, dominar sobre a criação, são mandamentos que vão até nossos bolsos. Sujeitar nosso bolso à vontade soberana de Deus é parte do processo de ser feliz no Senhor. Se isso representar perder, ou deixar de ganhar, dinheiro, que seja! Não vamos nos esquecer nunca de Quem dá a condição de que tenhamos algo sobre o que trabalhar e lucrar, em primeiro lugar.

Lucro é a base para a sobrevivência de um negócio. Lucro, aliás, representa a possibilidade de manter CAPEX (Capital Expenditures, ou Inversões de Capital), OPEX (Despesas Operacionais), pagamento de tributos e contribuições sociais, remunerar sócios (que precisam viver). 

No caso de BAM, lucro é uma “cunha” necessária para que a entidade possa usar parte dele para manter a Obra de Deus, entregar produtos ou serviços com qualidade, honestidade e dentro de regras vigentes. Em síntese, Lucro em BAM é cumprimento da missão, do Ide.

Não temos que nos envergonhar do Lucro, se observamos: a)o caráter voluntário das trocas; b)a existência de justeza, no produto e no preço, dado o mercado; c)a inexistência de manipulação de preços, pela constrição da oferta ou aumento artificial da procura. 

Somos servos, antes de sermos homens e mulheres de negócios!

Marca na testa?…

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João de Deus trabalhava de contínuo numa redação de um desses jornais de bairro. Era um bairro bonzinho, classe B, numa São Paulo envergonhada de seus bairros bonzinhos, já que bom mesmo era ser abaixo da média… Mais correto, politicamente, menos visado por meliantes públicos, enfim, distante daquele quase já longínquo 2020, de triste memória, ele se recordava como as coisas começaram a ir mal.

João de Deus pede desculpa ao chefe e vai na esquina tomar um café (redução de custos… nem cafezinho mais tem). Leva a máscara, claro, pois que já tinha calo suficiente atrás das orelhas pra aguentar o dia todo respirando o próprio mau hálito. Lá encontra os de sempre, aqueles flagelados do novo normal, sujeitos broncos, brabos pra caramba com o governo, qualquer governo, mas já sem coragem pra falar o que pensam. Afinal, 4 anos depois da Covid-19, já não era possível sair às ruas sem máscara, sem um frasco de álcool gel em lugar visível e sem a caderneta de vacinação.

Depois da mixórdia da Covid-19, tudo continuara com a polêmica da vacinação obrigatória, que alguns julgavam impossível de ser praticada – afinal, o sujeito se esconde, finge, não toma, e no fim das contas, causa uma tragédia, já que contamina 2, 4, mil, e fica por isso mesmo. Questão de saúde pública… Força bruta justificada!

O ex-presidente, agora execrado por seus “mal-feitos”, substituído por um popular governador, está preso à sua casa no litoral do RJ, desconsolado por ter sido, segundo ele, vítima de um golpe palaciano. Sem entrar no que o ex-presidente fez de bom ou ruim, o fato é que o cara pirou depois de ser basicamente desautorizado a tomar qualquer atitude, pela justiça e depois ser cobrado por tudo o que deu de errado durante a Covid-19. Acabou como o grande culpado de tudo. O governador, e sua vacina importada, haviam vencido tanto a luta com o executivo federal quanto a batalha pela vacinação obrigatória. Não se sabe bem se a vacina funcionou mesmo, ou se foi só o resultado da baixa mortalidade daquele virus… mas ok, tá valendo. Venceu também a caderneta de vacinação virtual, um App no celular, www.vacinaobrigatoria.gov.br, que indica se o portador estava ou não vacinado. Isso lá nos idos de 2021.

Sem a tal caderneta atualizada o sujeito já não pode ir a lado algum. Está trancafiado e tem que pedir a parentes e amigos pra comprar comida e pagar suas contas, já que não pode sequer pedir nada por telefone ou internet. Está segregado enquanto não se conformar ao novo normal.

Um sujeito política e religiosamente apático, a despeito do nome, João de Deus, encostado no balcão do bar, toma seu cafezinho e discute com o Mário (que Mário – êta piada velha de sempre…) dono do local:

“Escuta, você já foi se vacinar esse ano?”, pergunta o Mário…

“Não ainda, mas vou logo porque tenho que fazer compra de mês com a patroa. Sabe como é que é… se não for logo, a inflação come o valor todo, e nem com PIX eu consigo transferir grana a tempo pra pagar o arroz-com-feijão. Tá cada vez mais difícil”, responde João de Deus.

Ao que Mário responde – “Aqueles meus amigos católicos da Opus Dei, e meus primos batistas decidiram não se vacinar. Agora não tem mais como nem entrar num supermercado. Continuam enchendo meu saco pra tentar comprar as coisas pra eles. Paguei uma conta de luz ontem pro Zé Ernesto e agora quero ver como é que vou fazer pra receber, já que o cara nem emprego mais tem. Foi demitido depois que o pessoal do telemarketing que ele trabalhava há anos descobriu que ele não tinha caderneta, e ainda por cima vivia dizendo ‘graças a Deus’ pra cima e pra baixo”…

“Pois é. O Corona desse ano, aliás, parece que tá pior que o de 2022. O do ano pasado nem foi tão ruim, porque com o novo desinfetante à base de suco de creolina deu super certo. Tudo cientificamente testado e aprovado”, completa João de Deus.

“Os meus parentes vivem dizendo que existe perseguição contra cristão… não vejo nada disso. Só que limitar o número de pessoas nos templos a 15% da capacidade é questão de saúde pública. Estamos há 4 anos no novo normal, e cada ano, parece perseguição, uma nova cepa de Covid aparece… quando não é da China é da Coréia, ou do Vietnã… Quando não é Covid é ameaça de Ebola… Virou uma festa isso aí… Falar nos meus primos crentes, você acha que essa tal de cristofobia existe?”

“Existe nada, Mário. Essa gente quer ser melhor do que os outros. Ficam falando – ‘ah… mas em avião todo mundo fica espremido’… ‘ah… mas em cinema pode até 75%, em supermercado pode 80%…’… mas dá pra entender, né? Temos que comer, e nos divertir um pouco, senão ficamos doidos. Pior ainda é ficar falando pra todo mundo o que crê. Uns chatos… parecem esses carolas que batem de porta em porta…”, diz João de Deus.

“Eu te digo que já nem sem bem… às vezes tenho saudades da missa… da cantoria… era bonito… Fui nuns cultos dos batistas, também gostei muito… animadinho… O caso é que ficam criando caso porque queimaram mais uma igreja, desta vez no meio de uma praçona grande, na Cidade do México, eu acho… Tinha uns 500 anos a igrejona… Achei triste, mas fazer o quê”…

Ao que retruca João de Deus – “olha, acho isso ruim. Afinal é patrimônio histórico, né? Tem que preservar sim… pode até tirar da igreja e dar pro governo tocar, mas era importante manter lá pra lembrar como é que era antes. O que eu sei é que pelo menos nas Mesquitas ninguém tocou em nenhuma até agora. Pelo menos por alguma religião ainda tem respeito… Tá vendo? Não é que o povo tenha cisma com religião. É que os crentes, os católicos, são tudo meio chatos mesmo… ficam querendo dizer pra gente o que é certo e o que é errado.”

“Mudando de saco pra mala, você acha que as aulas presenciais voltam ainda em 2024?”, pergunta Mário.

“Sei não. Ainda é perigo, né? Cada ano um troço diferente… melhor manter todo mundo em casa, estudando no computador… E no final a molecada gosta, porque eles passam todo ano. Ninguém repete. É bom pra auto-estima deles…”

Se despedem com uma cotovelada, porque ninguém é bobo de se expor… Vai que pegam a Covid-23…

Nota do Autor – Obviamente o texto acima é uma hipérbole e nunca… nunquinha mesmo que o governo teria a capacidade de criar uma Covid-19 atrás da outra… Mas já um outro tipo de calamidade… sei não… E dá-lhe queimar igrejas mundo afora…

Professores, Língua e Liberdade

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Sou filho de um professor de Português e de uma professora de matemática. Nasci e cresci em um ambiente acadêmico, portanto, tendo sido apresentado às letras e números desde muito cedo (minha mãe diz que eu falei muito cedo e que li muito antes de entrar no jardim de infância… coisas de mãe coruja…). Pra mim, avaliar a possibilidade de não saber ler ou contar é algo muito difícil. Só consigo avaliar isso através de pessoas que não sabiam, até certo tempo, e aprenderam – tiveram portanto, tempo de vida que lhes permitiu avaliar a falta que letras e números fazem…

Hoje, dia do professor, somos uma nação que resolveu fazer do ensino uma piada de mau gosto, e do professor um instrumento de luta ideológica. Deixamos de lado o significado das coisas e o exercício mental, a disciplina de aprender algo (aprender custa e cansa) para enfiarmos na cabeça de nossas crianças somente coisas que convêm a um segmento político ou outro, interessados numa massa de manobra para fins específicos de mantê-los nesse poder.

Estamos cansados de ver posts de professores apanhando de alunos, de execração de Paulo Freire, de alunos quebrando salas de aula… tudo isso satura e acaba por nos dessensibilizar para a realidade mais triste. O aprendizado mesmo.

Professores

Agradeço a Deus os professores que tive, e os pais que além de pais, foram mestres. Agradeço pela sinceridade com que ensinavam, e o interesse total em que aprendêssemos. Agradeço, em suma, pela paciência infinita com que ensinavam a todos, retirando desníveis ao longo do ano letivo, fazendo-nos chegar a um bom porto, ao final dele, com todos sabendo o mínimo necessário para “passar de ano” por méritos próprios, e “repetindo” os que não tiveram tal mérito, sem ofende-los, diminui-los, mas fazendo-os reconhecer que falharam.

Agradeço a Deus por ter me dado um mínimo de capacidade de aprender a aprender, a a me ensinar coisas que doutra forma me levariam a continuar a errar nos mesmos lugares ainda hoje. Arrogância devidamente domesticada, interesse pela leitura maximizado, interesse por coisas novas sempre alto, interesse por detalhes cada vez maior, sigo tentando ser melhor, para meu Deus e para meu próximo, lembrando lá de trás, de Tia Ângela, Tia Madalena, Tia Guilhermina, Tia Solange (in memorian), e tantas outras “tias e tios” (as “profe” daqui de Curitiba) que me ensinaram a pensar.

Aos pais-professores, Ivanir e Ruth, cujo amor ao ensino os levou aos estertores, lutando dia e noite por uma educação melhor e mais universal, sem meias verdades, sem aprovações automáticas, sem “medalhas de participação”, cultivando a disciplina e o mérito, sem varrer a incompetência para baixo do tapete oficial, nem se curvarem ante modismos que pouco a pouco acabaram se tornando a educação que vemos hoje – ou a falta dela.

Tias professoras, Dalva, Marly, Chirley, Neide, gente que dedicou toda uma vida a pegar na mãozinha de crianças de 4, 5, 6 anos, ensinando as primeiras letras com uma paciência de Jó.

Creio que ver profissionais, médicos, professores, advogados, engenheiros, contadores, fazendo a diferença no mundo deve ser boa recompensa por tanto amor ao ofício.

Não custa, porém, lembrar que o sacerdócio de professor precisa ser recolocado no pedestal que merece, longe do alcance dos políticos e dos “dominadores do idioma”.

Língua e Significado

Aldous Huxley já falava que “O progresso científico e técnico depende do hábito empírico do raciocínio, que não pode sobreviver numa sociedade estritamente regimentada.“. A ideia de educação, como me foi passada, estava fundamentada na “capacidade de aprender”. Minha escola pública, hoje tão depredada e desprezada, me ensinou a “aprender a aprender”. Quando fui para a universidade, eu já sabia que estava virtualmente sozinho nessa guerra interna da “Ordo ab Chao”. Era minha responsabilidade – que eu havia a duras penas aprendido de meus primeiros mestres – a aprender. E por ter aprendido a aprender, me tornava cada vez menos dependente de alguém que me dissesse o que era certo e errado. Isso me tornou, à uma, arrogante, e à outra, independente (na cabeça). Arrogante porque aprendi a discernir coisas mais cedo do que a maioria, e por isso mesmo, imaturo suficiente para não saber quando calar, quando esperar para responder, ouvir mais. É uma característica difícil de domar e que habita alguns espíritos mais espertos do que sábios. Independente porque não ligava tanto para o que pensavam de mim, o que reforçava, por outro lado, a ideia de que era arrogante. Em síntese, um caos sobre o qual colocar ordem foi muito difícil.

A língua, porém, foi o trampolim para essa capacidade de aprender a aprender. Foi por ler e entender o que lia que eu ia conseguindo interpretar o que estava diante de mim, dando tempo para ruminar o que entendia, e a formar conceitos a partir daí. Minha grande forma de entender o mundo sempre foi a palavra escrita, a despeito dos meus pendores matemáticos. Números sempre fui capaz de manipular com alguma destreza, mas eram símbolos que não falavam ao meu coração. Música (escrita) também nunca entrou no meu coração como no da minha esposa, Aline, por exemplo – sei onde é o fá, o sol, o mi, sei o que é um sustenido, um bemol, sei o que é um compasso, uma clave, uma pausa, mas nada disso “fala no meu coração” como a própria música. Pura preguiça de aprender essas duas línguas como deveria – matemática e música.

Língua sempre foi a palavra. E percebo que o domínio sobre a palavra escrita é liberdade. E aí é que mora o perigo da sociedade atual

Letra Cursiva e Domínio do Conceito

Ouvi de um amigo querido, executivo da área de educação, que achava que ensinar a criança a escrever à mão havia se tornado desnecessário. Dar um teclado e ensinar a digitar era suficiente.

Num mundo sob perpétua ameaça de crise de energia, confiar exclusivamente na capacidade de teclar, sem máquinas totalmente mecânicas, manuais, me parece burrice, retruquei.

O fato é que confiamos tanto na tecnologia da informação que esquecemos que todo o conhecimento está sendo confinado em “conventos digitais” os quais podem-nos ser fechados para sempre pela simples falta de corrente elétrica ou manutenção; ferrugem e infiltrações correm o risco de acabar com a civilização mais cedo do que uma guerra atômica.

Enquanto a eutanásia cultural coletiva não vem, assistimos diante de nós, impassivos, à destruição do significado.

Destruição do Significado

Já que não consigo matar de fome, mato empanturrando… Num tempo em que a quantidade de conhecimento acumulada cresce exponencialmente, nossa capacidade de participar desse banquete intelectual de forma controlada e civilizada decai a olhos vistos. Já não conseguimos saber os limites do que é correto, e estamos diante de uma campanha para nos soterrar de informações, úteis e inúteis, e todas, por fim, inúteis, por não sabermos mais a distinção entre elas.

Some-se a isso o fato de que as palavras estão tendo dois destinos: a perda do significado original e a criação de interpretações ofensivas por parte de qualquer um que se sinta ferido por algo que, creio, muitas vezes não sabe sequer interpretar.

Um grande amigo me dizia que chamou um colega de trabalho de “Apedêuta”, ao que o amigo lhe agradeceu muito o “elogio”. Fantástico! Da mesma forma, ao chamar o amigo de “Negão” (o que o cara é, porque enorme, com 1,90m e pele chocolate escuro) soa ofensivo a alguns (no caso, não ao destinatário do carinhoso apelido). Eu posso agradecer por ser incapaz de aprender algo, e ficar extremamente irritado porque alguém chamou um amigo negro de “negão”.

A candidata a juíza da Suprema Corte americana, Amy Coney Barrett, católica, 7 filhos, carreira brilhante, teve que se desculpar por ter usado a expressão “Opção Sexual” para se referir à homossexuais. Deputados de oposição ao governo que a nomeia disseram que a expressão é “homofóbica” e que ela deveria pedir desculpas à comunidade LGBTQ (!). Em dias de patrulha linguística, a liberdade de dizer que entende que existem opções sexuais é um pecado mortal. Ora, pensar se torna um pecado mortal em uma sociedade como a nossa.

A língua é o veículo de escravização mais efetivo que existe hoje, na minha opinião. Na verdade, uma linguagem patrulhada e tornada objeto de apenas alguns tipos de manifestação, tornam a sociedade muito menos capaz de pensar e ter independência. No fundo, se você controla a linguagem, controla a sociedade – como alguém já disse em algum canto, que não me lembro.

Que sigamos pensando, bem ou mal… afinal, como dizia Millôr Fernandes no Pasquim, “Livre pensar é só pensar“…

Abelha da Babilônia

https://babylonbee.com/

Eu adoro sátiras… adoro humor. Mas nesses dias atuais, onde o nível de compreensão da linguagem escrita cai vertiginosamente, a percepção da ironia e do humor fino está se perdendo, por duas razões: de um lado, é difícil fazer as pessoas lerem e perceberem ironias (e essa é a essência delas); por outro lado, é difícil entender se alguém quis ser irônico ou não, nos dias atuais, por absoluta falta da mesma coisa – capacidade de sê-lo. Viva a modernidade…

Um dos sites que curto muito é o “Babylon Bee” (título desse artigo). A descrição do site já é engraçadíssima, por si só:

“O que é O Babylon Bee?

O Babylon Bee é o maior site de sátiras do mundo, totalmente inerrante em todas as suas verídicas afirmações. Nós escrevemos sátiras, coisas de político e coisas do cotidiano.

O Babylon Bee foi criado ex nihilo (do nada) no oitavo dia da semana da criação, exatamente 6 mil anos atrás. Temos sido a primeira fonte de notícia em qualquer dos maiores eventos da humanidade, da Torre de Babel ao Êxodo até a Reforma e à Guerra de 1812. Nosso foco são os fatos, só eles, deixando as fake news e distorções de fatos para outros sites de notícias, como a CNN e a Fox News. Se você tiver alguma reclamação sobre algo no site, leve-a pra Deus. Ao contrário de outros sites de humor, tudo o que nós postamos é 100% verificado por Snopes.com.”

Mais legal ainda, o site possui uns posts que chamam de “Not the Bee”, em que falam que “isso pode parecer uma sátira, mas não fomos nós que inventamos”… Em alusão a algumas falas de políticos e outros personagens, que constantemente (quem lembra do Dilmês?) nos brindam com saudações à mandioca, estocagem de vento, etc.

O ridículo chega ao ápice quando alguém usa o site Babylon Bee como “fonte de informação”. É como um político aqui usar o site do Casseta & Planeta para mencionar uma manchete sobre o aumento de queimadas na Amazônia. Acontece volta e meia. Por incrível que pareça, não é só o internauta médio que tuíta e retuíta coisa sem pé nem cabeça.

Convido quem quiser e conhecer inglês (hoje os sites são traduzidos, em sua maioria, mas as ironias ali são tão específicas que a tradução às vezes sai incompreensível) a visitar o site e se deliciar com as brincadeiras.

Ah, super importante – o site tem fundamentação cristã-evangélica, ou seja, você vai ouvir e ler um monte de referências, muitas vezes nada elogiosas, a gente como o pastor Joel Osteen (um tipo de Valdomiro Chapéu dos EUA, que prega teologia da prosperidade) e outras figuras de proa do meio cristão norte-americano. Os mais puristas vão ficar às vezes meio chateados, por verem alguns “ícones” sofrerem gozações. Não esmoreça, continue a ler. Eu custei a entender e desconsiderar os palavrões do Apóstolo Arnaldo para poder dar risada com o fato de que ele, com razão, diz que “não faz brincadeira com Deus; faz brincadeira com quem faz brincadeira com Deus”, o que é verdade.

Curta com coração leve, porque é muito divertido. Quem dera tivéssemos uma versão A Abelha da Babilônia no Brasil, que cristãos de todos os matizes pudessem contribuir para a risada de qualidade, aquela que Deus aprova e ri junto… Nosso povo merece rir com qualidade!

Tributar Templos

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Vai na mídia uma grande celeuma em torno de algumas questões envolvendo perdão de dívidas a “Igrejas” (templos de qualquer culto). A Gazeta do Povo de hoje trouxe um interessante parecer da ANAJURE- Associação Nacional dos Juristas Evangélicos, que trata da questão com bastante clareza. Não puxa brasa pra lado algum e de certa forma esclarece tanto o que a imprensa, de forma geral, fala, como o que é fato, neste imbróglio todo.

Recomendo a leitura em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-que-nao-te-contaram-sobre-a-decisao-de-bolsonaro-quanto-as-dividas-de-igrejas/

Imunidade

Para começar, não são “igrejas” que são imunes, mas “templos de qualquer culto”. Uma conquista derivada de várias entidades de cabeça clara, desde os primórdios constitucionais do país, como a Maçonaria, os militares, as próprias Igrejas, etc, fizeram, na minha opinião corretamente, com que a religião ficasse segregada do Estado de forma que qualquer culto, e não só cultos cristãos ou afins, fossem alcançados pelas garras deste.

A imunidade foi e é uma forma do Estado brasileiro dizer claramente que é laico (não laicizante) e que não interferirá na dinâmica da fé, que é uma questão de foro íntimo. De forma análoga, o Estado se recusa a esposar esta ou aquela fé religiosa, deixando aos diversos proselitismos a tarefa de arrebanhar seus adeptos.

Portanto, o caso não está centrado em “Igrejas”, cristãs ou não.

Desvios de Finalidade

A ANAJURE faz uma sábia ressalva, e que, de fato, baseia-se numa realidade, e que escandaliza e cria rejeição por parte da sociedade, sobre a atitude de algumas seitas (não se pode chamar de Igrejas, tecnicamente) que usam a religião como forma de tirar proveito econômico de seus fiéis, enriquecendo seus líderes, que sugam o caixa das entidades como “Prebendas” ou “Côngrua” e usam como bem entendem. São seitas, antes de qualquer coisa, porque os fiéis não participam da vida financeira da Igreja.

Em síntese, há, de um lado, um abuso por parte do poder público, em tributar algumas instituições de forma injusta e infundada tecnicamente, principalmente pelo já mencionado fator Imunidade Constitucional.

Por outro lado há uma justa grita da sociedade contra os “Robbing Barons” (os Barões Ladrões) da fé, que preferimos não nominar, mas que tanto eu quanto o Brasil inteiro sabemos exatamente quem são. O Apóstolo Arnaldo, figura caricata do YouTube, é bastante preciso ao identificar os que abusam da fé. Ele faz troça (com as quais muitos evangélicos se escandalizam, com razão apenas parcial).

E o que é justo?

Interpretar “justiça” num mundo de “justiceiros sociais”, gente que sai por aí atacando quem quer que seja por qualquer razão que seja, só pra se sentir bem ou “dar uma lição” (à lá Black Lives Matter, etc) é algo bem difícil.

No entanto, alguns parâmetros de justiça, sobre o assunto acima, poderiam ser definidos assim:

  • Se nossa sociedade quer ser justa em termos de respeito à fé alheia, todas têm que ser tratadas igualmente;
  • Se todas têm que ser tratadas igualmente, logo todas tem que ser ou tributadas ou todas não tributadas;
  • A Constituição Federal instituiu não a “isenção” (como um jornalista da CNN Brasil erradamente propalou umas 10 vezes ontem), mas a imunidade. É imunidade justamente para que alguém com viés ateísta ou extremista (de uma determinada religião) não crie uma situação que venha a tornar o Estado brasileiro “oficialmente cristão” ou “oficialmente ateu”;
  • As religiões não têm, nem podem ter, finalidade de “ajuntar tesouros na terra”, como bem disse J.C… Portanto, é sim, desvio de finalidade, dar ao apóstolo “A” ou o pastor “B” um salário maior do que a responsabilidade ou liderança que ele exerce, ou pior ainda, deixar as finanças da entidade na mão desse líder carismático – líderes carismáticos, quando não vigiados, tendem a se tornar déspotas;
  • Qualquer entidade sem fins lucrativos no Brasil tem regras a seguir, entre elas regras associativas, de representatividade, entre outras, e, inclusive, o dever de fiscalização pelo Ministério Público.

Como evangélico, membro de uma das “Igrejas Históricas” (Batista), tenho orgulho de dizer que conheço a contabilidade de minha igreja e qualquer membro dela tem acesso a qualquer informação que queira, inclusive salários dos pastores. Portanto, pra nós, batistas, importa ZERO se o Ministério Público vai vir nos investigar. Teremos alegria em demonstrar nossa fé e zelo pelas coisas do Reino de Deus (o verdadeiro, não um “universal” qualquer) a quem quer que seja.

Fico muito feliz com opiniões equilibradas como da ANAJURE, e acho muito bom que seja exposta à sociedade essa faceta terrível de um submundo de seitas que são usadas para fins obscuros.

Soli Deo Gloria!

O Terceiro Mandamento

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Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 

Êxodo 20:7

No hebraico antigo, a palavra “tomarás” (Nasah) tem o sentido de “carregar”, “levar consigo”. O sentido do mandamento acima, como lindamente escreveu Dennis Prager, da Prager University, seria mais bem colocado como:

Não farás o mal no nome do SENHOR, para fazer bobagem em Seu nome”…

Dennis Prager – https://www.prageru.com/playlist/the-ten-commandments/

Desde a infância eu corria o risco (ainda corro) de tomar um tapa na boca se eu falasse “Meu Deus do céu”, ou “Juro por Deus”, pois era “tomar o nome do Senhor em vão”.

Não é isso que parece ser a ideia bíblica – Dennis Prager fala, muito eloquentemente, que Deus seria muito “miudeiro”, ou “pequeno” se nos condenasse ao inferno por falarmos “Ai meu Deus do céu”… seria (e é) muito idiota. O Deus criador do céu e da terra é muito maior do que isso.

Ocorre que, levado no sentido correto, o 3o. Mandamento nos fala de algo mais profundo: “carregar consigo, usar, levantar” o nome de Deus de uma forma que o envergonhe, ou que traga tristeza ou má reputação a Ele. Quando vemos alguém matar em nome do Senhor, como na Inquisição Espanhola, nas Cruzadas, ou na Invasão Muçulmana dos séculos XI a XII, podemos dizer que esses quebraram, em grande estilo, o 3o. Mandamento.

Quando alguém usa o nome do Senhor para arrancar dinheiro do fiel, quando usa “evangelho da prosperidade” para barganhar com Deus, esse líder, seja pastor, padre, ou outro, quebra este mandamento. Quando um líder usa do nome de Deus para causar mal sexual a alguém, traz desonra ao Senhor, e “carrega em vão” o nome do Altíssimo. Isso sim, não tem (segundo o Êxodo) perdão, porque …”o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.“.

Vivemos os tempos de figuras ridículas, trágicas se cômicas não fossem, como determinados “Apóstolos”, ou “Flordelises” da vida… que trazem sobre o resultado da promessa de “não ter por inocente” quem faz isso. Seja um crime de morte, sexual ou financeiro, ou ainda de qualquer outra natureza (como trazer má fama ao Senhor por ser um parceiro infiel, ou um profissional meia-boca), figuras da atualidade “carregam”, “levantam” bem alto no nome de Deus, apenas para O fazerem desonrado. Uma coisa dessas realmente não tem como passar impune.

Não passa impune, pois na Cruz, Jesus Cristo pagou por esse erro aí também, mas francamente, quem se conduz assim (e na vida todos já “carregamos” o nome do Senhor em vão alguma vez) precisa de arrependimento.

Não é o “Apóstolo Arnaldo” do Youtube que é o cara que devemos, como cristãos, atacar… Aliás, o pobre do Arnaldo Taveira, humorista, está sendo atacado (em vão) por justamente fazer troça com os “apóstolos” que de fato merecem ser atacados, os lobos em pele de ovelha que existem por aí… O Arnaldo fala muito palavrão, o que é chato mesmo, mas eu me racho de rir do cara, por expor, colocar a nu, as mazelas dos que se dizem “apóstolos” mas não o são:

  Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;

Apocalipse 2:2

Vou me esforçar pra nunca mais carregar o nome do Senhor por aí em vão, o que tenho certeza que será bom pra mim, independentemente do próprio Deus. O resultado do mandamento faz bem até pro ateu…

Poder, Dossiês… e o povo

Acordei já tentando ver matérias nos grandes veículos sobre a decisão de ontem, 25 de Agosto de 2020, do STF . Votaram a favor os notórios Levandowski e Gilmar Mendes, contra os “morde-e-assopra” Carmen Lúcia e Fachin, sem o voto do “decano” Celso de Melo, que não votou por estar afastado por doença. Acabou prevalecendo o entendimento de que “in dubio pro reu”. Não foi fácil achar. Nenhum veículo mostrou em primeira página (digital), e achei via Google, no G1, numa sub-matéria relativamente factual, e que não revela a imensidão e profundidade do caso, e o que ele pode gerar de repercussões, creio eu.

A decisão de considerar Moro como tendo sido “parcial”, diante de um doleiro sabida e confessadamente criminoso, não tem uma repercussão grande, pois o caso em pauta – Escândalo do Banestado – já tem quase 30 anos, e já “perdeu pressão” junto à imprensa.

O que me dá nos nervos e me leva a escrever é que, com essa decisão, a imprensa militante e os partidos de esquerda podem alardear que “Moro foi julgado parcial” (isso sim em manchetes em letras garrafais), o que vai abrir caminho, como parece ser a intenção, para anulação de condenações de Lula, fazendo com que o criminoso de 9 dedos se habilite novamente a se candidatar à presidência, único refúgio que ele tem para tentar salvar uma biografia que só pode ser salva a golpes de machado histórico (usando aqueles historiadores amigos, do tipo que apagam figuras importantes de fotos de Lênin, reescrevem longos episódios da vida de alguns países, inventam narrativas bacaninhas pra “acertar” a pose de governantes corruptos, etc).

De novo, é o mesmo ciclo de “poder-dossiê-e-o-povo-se-ferrar” – um poderoso faz algo, alguém tem um dossiê qualquer, escrito ou não, alguém “know what you did last summer” (sabe o que você fez no verão passado, como no filme), e por aí vai. A ciranda vai e vem, entre o STF, o Senado, grandes empresas que vivem à sombra de Brasília, e vamos de péssima decisão em péssima decisão, sendo vítimas de um conjunto de resultados truncados, que vão matando o país aos poucos, seja num governo de esquerda ou de direita.

Qualquer que seja o viés político do executivo de plantão, a ciranda-cirandinha de baixo e dos lados é a mesma – um grande número de empregados públicos, cada vez mais cheios de si, de seus direitos, de suas prerrogativas (obviamente nisso aí tem sempre o pobre funcionário que trabalha um monte e não é reconhecido – normalmente por não ter tempo de puxar o saco de ninguém)… De outro uma classe política que ao longo dos anos conseguiu criar bastiões de poder chamados partidos, cujas finanças são de ouro, e blindadas a qualquer auditoria. Essa classe faz subir ao poder dois caras, no Senado e na Câmara, sempre afinados com os interesses de baixo pra cima (da esfera pública), que, uma vez eleitos, querem se perpetuar lá (mesmo que inconstitucionalmente). Esses caras então detém a possibilidade de simplesmente “não votar” algo, por mais pressão popular, os de pares, que exista, se isso representar quebra da unidade deste poder sobre tudo.

Em última “instância”, o STF, composto por 11 sujeitos de capacidade duvidosa (hoje – no passado foi bem diferente) e interesses que são acossados a todo momento, com lembretes, dossiês, informações sutis ou não, de sua vulnerabilidade, por conta de seu passado político, seus institutos, suas ligações com escritórios de advocacia poderosos, e por aí vai.

O STF, esse da 2a. turma de ontem, inatingível, nos deixa a todos perplexos a cada momento, dois passos à frente de todo mundo, dando hoje decisões que parecem sem pé nem cabeça, mas que poderão embasar a “jurisprudência” para no futuro, chegarem aos resultados pretendidos, que a população, hoje, não consegue enxergar.

Francamente, como democrata, me recuso a apoiar golpes de qualquer natureza, mas não creio que estejamos numa democracia funcional. Com tudo isso que estamos assistindo, por parte do STF (inquéritos inconstitucionais, decisões “sombrias”, sumiços de ministros e reaparecimentos fugazes e pouco elogiosos, etc), por parte das presidências das casas legislativas, por parte de uma elite funcional encastelada, e tudo isso diante de um executivo isolado, politicamente restringido por decisões das próprias cortes supremas, e fustigado por uma imprensa que tem a capacidade de forjar situações para gravar cenas destemperadas do chefe do executivo, talvez eu tenha, forçosamente, que começar a entender por que alguns se rendam à possibilidade de uma ruptura institucional liderada pelas forças armadas.

Deus não há de permitir. Espero e oro que alguns desses caras sejam mandados para o além, sem violência, mas por Providência; outros sejam impedidos, também divinamente, de continuar a causar mal à nação. É pedir demais, eu sei. Afinal, Deus nos deu o livre arbítrio… e consequências. Mas não custa orar por um milagre mais radical…

Amizade disfarçada de parentesco

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Roberto e Aluízio, co-autores da minha carreira

Lá no início de minha vida profissional, aos 18, 19 anos, em 1983, alguns amigos vieram em meu socorro, no meio da minha cesta básica de dúvidas juvenis. Meus tios, irmãos de minha mãe, Aluízio e Roberto Montechiari, junto com o Frank, amigo e pai da tia-emprestada, Elaine, me fizeram o favor de me falar algumas verdades, que eu, como moleque, ainda meio achando que possuía um direito divino de viver bem às custas dos pais.

Como todo quase pós-adolescente, eu vivia um mar de interrogações, poucas certezas, e uma briga interna com Deus pela posse de minhas convicções (eu, ou Deus as teria?). No emaranhado de emoções daquele que, pela natureza da relação, não escuta nem pai nem mãe, vieram os tios ao socorro. Por que o conselho dos tios faria alguma diferença, onde o conselho de pai e mãe foram ignorados solenemente?

Ora, daquela sensação de pasmo, de espanto, ante um par de sujeitos bem sucedidos, um comerciante, bem de vida, cheio de relacionamentos importantes, o outro oficial da força aérea, “herói” de qualquer sobrinho que sabe que o tio pilotava caças e aviões militares. Ambos fizeram a diferença, não porque eram o que eram, mas porque “o que eram” me permitiu parar e refletir sobre o que falavam, com seriedade.

Hoje, encerra-se um capítulo importante na minha história, com a morte do meu amado Tio Aluízio, que não só me influenciou, mas deu emprego, deu palavras (duras, sábias, boas). Não vou poder estar com meus primos e tia (Carlos Eduardo, Carla Andréa e Neide). Tem Covid-19, sabe, essa “nuisance” na vida de todos nós que barateia o conceito de morte, e faz com que se fale tanto em contagem de corpos que se perca a noção da singularidade, da particularidade da morte privada, da morte íntima, da morte sofrida porque próxima do nosso coração.

“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos Seus santos”

Salmo 116:15

Fica, de lá pra cá, um desejo imenso de talvez ter sido mais prestativo, mais presente, embora morando a muitas centenas de Km de distância. Fica saudade, mas não fica dor, porque eu espero encontrar com esse tio amado na Glória do Senhor, que nos salvou a ambos, em momentos diferentes da vida, e que nos redimiu por igual, independentemente de quão carola um tenha sido, ou quão blasé o outro fosse, em determinados momentos da vida. O fato, inescapável e indelével, é que o selo do Espírito Santo da Promessa foi impresso em ambos os nossos corações, e nos fez amigos, irmãos em Cristo.

Tem realmente amizades que vêm disfarçadas de parentesco, da mesma forma que tem amizades que são mais fortes que laços de sangue. Nesse caso, o laço de sangue falava, e fala altíssimo, mas a amizade, o amor, sobrepujou a tudo isso.

Vai com Paz e em Paz, porque sei que o Senhor te guarda nos braços.

Até breve, tio amado!

Que relevância tem o povo?

Antigamente, sempre que alguém ouvia algo que não lhe agradava (no Rio, pelo menos) tinha uma frase padrão para responder: “meu ouvido não é penico”… que sintetizava o que achava o ouvinte sobre os comentários que lhe adentravam o pavilhão auricular…

Pois bem, creio que estamos ficando acostumados a sermos latrinas auditivas de nossas autoridades, de todos os matizes. O rigor das opiniões não mais existe, e o que se disse ontem é cada vez menos levado em consideração. O sujeito não apenas muda de opinião como fica zangado se lhe pregamos na cara o que havia dito antes. Afinal, seu deputado federal presidente da câmara, por que raios você agora acha que pode ter um outro mandato, contra o regimento da casa que você comanda? Quem te deu o direito?

Outros falam pelos cotovelos coisas que sequer acho que pesaram antes. A fala do ministro do STF, que candidamente e solenemente abalroou a própria Carta Magna, que ele mesmo deveria ser guardião, dizendo que, na prática, “todo poder emana do Supremo“, e não do povo, e será usado contra esse mesmo povo. Que vergonha, que papelão. Antes não tínhamos memória, como povo: o que ocorria há 4, 5 anos, já estava sepultado e não tinha mais quem recordasse. Agora, bastam 2 semanas.

“Toda tirania deve ser afastada, inclusive a tirania da maioria que elege o Executivo e o Congresso

Suposto guardião da Constituição

As pessoas sabem de tudo, ou ouviram de tudo um pouquinho, mas não se dão ao trabalho de examinar nada. O ritmo de recebimento e registro da informação é tão alto que a pessoa não medita mais sobre nada (aliás, eu, leitor da Bíblia, sinto isso no meu dia a dia – o que antes era motivo de 1, 2 horas de leitura de uns poucos versículos e muito tempo de meditação, virou 5, 10 minutos de um vapt-vupt que não deixa rastros na memória. Que vergonha…)

O povo já não tem relevância porque o povo está incapacitado para lembrar. Os políticos sabem que podem falar, e depois “desfalar”, porque sabem que, no fundo, é mais fácil hoje do que em qualquer outro momento da história humana se desdizer impunemente.

O povo não tem mais relevância porque não pega em armas, porque essas lhe foram tiradas? Quem poderia advogar a revolta popular, e a morte por uma guerra civil? Ninguém quer isso, claro. Mas na raiz de toda guerra civil existe, pelo menos, uma forte de lembrança do que está levando o povo a lutar.

Em tempos de Covid, com todo mundo em casa, eu mesmo tenho me dado ao trabalho de ler mais e tentar refletir mais sobre as coisas, aprofundando o que sei, e completando o que não sei com o conhecimento alheio. Checando fontes, perguntando a quem já viu ou já viveu, eu vou daqui dando meus pitacos sobre os temas que, como já disse, me interessam. Não trato de nada para agradar audiência, e nem sei se tenho audiência, mas não me importa. É um registro, pros meus amados (filhos, amigos) do que pensei e penso.

Assim, penso que o povo não tem mais relevância nenhuma mesmo. Vamos votar daqui há pouco, e novamente, por falta de capacidade de reflexão, vamos eleger um monte de ficha suja, de bandido, de gente que atenta contra a moral e a ética. Cristãos provavelmente vão eleger políticos de partidos que têm o fim da família como parte do compromisso formal, que creem que religião é “ópio do povo”.

Perderemos totalmente a relevância, por fim, quando sequer formos consultados, em urnas ou fora delas. Aliás, como quer o tal super-ministro, guardião da constituição cidadã de 1988, o povo é um tirano de seus governantes, e isso não tem o menor cabimento… quem manda é a burocracia!

Cloroquina

https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/chifre-nao-e-vacina-chico-buarque-tierry/

Hoje cedo li um artigo bem interessante. O link anexo remete ao Polzonoff, articulista da Gazeta do Povo. Sujeito interessante esse, que fala algo que nem tinha me tocado – ninguém, nem umzinho, desses “beautiful people” metido a artista, fez nada, ainda, pelo menos, sobre o momento dramático que estamos vivendo. Nenhuma Guernica, nem um “For whom the bells toll”, nem um Abaporu horroroso que seja. Nada. Bom, já que é possível fazer um abaporuzinho de M que seja, fiz o meu em forma de sonetinho cafona:

Soneto pra Cloroquina

Se cura, ainda não sabemos, se mata, ignoramos                                                                          Na frente da morte estamos, e então ressabiados                                                          Tomamos a tal pastilha, e mui piamente oramos                                                                           Até que por três quartãs tenhamos todos passado 

O que se prega e o que se faz são duas coisas distintas 
Boa pra curar malária, doença pra qual não ligo 
Joga-se conversa ao vento, renega-se a Cloroquina 
Tornando fraterno compadre no mais feroz inimigo  

Mas não só conversa se gasta; dinheiro bom, suado 
Transforma-se em intolerância, travestida de propina 
E seguimos todos o baile esperando por um milagre    

Ou talvez um bom remédio, talvez uma vacina 
Que nos remeta ao passado, de praia e de foguetório 
Onde a notícia, ao menos, não nos cheirava a velório                                                                             

É bonito, ou feio? É meu. Pelo menos cite a fonte quando curtir ou malhar… E vamos nós, esperando por um milagre, mesmo… E se me chamar de Buarque eu brigo!