São muitas as frases e as análises sobre o processo de envelhecimento. Pablo Picasso dizia que
Leva muito tempo para nos tornarmos jovens.
Pablo Picasso
E não é que é? A capacidade de rir de mim mesmo inexistia, entre meus 12 e 40 anos. Foi o processo de ver a comédia de minha burrice que me fez rir do que faço. Isso não foi ensinado a mim. Foi fruto dos anos de janela, vendo a banda passar.
Na mesma toada, George Bernard Shaw dizia
A juventude é uma coisa maravilhosa. Pena ter que desperdiçá-la com os jovens!
G. Bernard Shaw
Aqui e acolá vemos gente velha e talvez ressentida deixando claro que a juventude que viu e vivenciou foi desperdiçada, ou não apreciada devidamente, exceto quando a tal banda já passou.
Talvez por conta dessa falta de humor, de se levar demasiado a sério, ou por pura inexperiência, a frase seguinte cabe bem para os dias atuais, e para todos os dias, desde que o grande cisma social foi (artificialmente) criado:
Quem não foi comunista aos 18 anos, não teve juventude; quem é, depois dos 30, não tem juízo
Atribuído a Carlos Lacerda
Hoje, lendo matérias de jornalistas mais experientes, pude ver o amargor deles com os profissionais do jornalismo de hoje, os mais jovens, em seu afã de SER parte da notícia, em vez de CONTAR a história, como ela ocorreu. Um deles conta como o fato de estar de câmera em punho, diante de manifestantes, fez reacender um conflito já pacificado pela polícia.
Outro conta como o apreço a causas “libertárias”, de esquerda, majoritariamente (mas nem só) faz com que a objetividade pule pela janela das redações do país e do exterior.
O pior é a dificuldade de argumentar com jovens devidamente doutrinados. Eles não escutam, não argumentam mais racionalmente, não fatiam os problemas para estudá-los, não usam (não todos, obviamente) de racionalidade em suas análises, normalmente mais rasas do que deveriam, para que se chegue a conclusões minimamente corretas.
Assisti outro dia um comediante num desses “Late Shows” dos EUA falando que passando na rua, ouviu um “buuum” e de repente começou a chover chocolate. Como estava do lado da fábrica da Hershey, ligou os pontos e pensou “explodiu algo na fábrica e o chocolate foi pelos ares, e agora cai sobre nós aqui na rua”. Ao falar isso, viu-se cercado de pessoas dizendo que não, que obviamente a fábrica não explodiria, e que havia outra explicação. Talvez o governo tivesse jogado gotas de chocolate de helicópteros, pra adoçar a vida da triste população…
Ele emenda, dizendo que na cidade que possui o Centro Wuhan de Estudos do Coronavirus ocorreram os primeiros casos de… Coronavirus. Mas não… logicamente a razão NÃO é o tal Centro de Coronavirus. A razão deve ser outra… Um virus desse não vazaria de um laboratório tão seguro! Nunca! Nós devemos procurar explicação em outro lado.
Pois é. A juventude embarca toda numa explicação dessas, quando a relação de causa-efeito parece tão óbvia. Alguém com a veia do pescoço saltada me dizia aos berros que eu estava sendo “terraplanista” por acreditar numa evidente bobagem dessas, criada pelo Trump somente pra culpar o regime Chinês, que nada tinha a ver com isso.
Barbaridade, pensei… e me calei.
Se a juventude já é em si insegura, se se leva a sério demais, se convive com a sombra dos pais e avós, e precisa lutar ainda para assegurar seu lugar ao sol, imaginemos essa mesma juventude sendo propositalmente manobrada e ensinada a NÃO pensar? Sabe aquela qualidade mental que só apreciamos depois de sermos surradas por ela, a habilidade matemática, que mais do que fazer contas, parece que nos dá uma habilidade secundária de medir efeitos… sabe ela? Coloquemos a matemática de lado, pois dá um trabalhão, e passemos a falar como nos nos “sentimos” sobre os números.
Sabe a gramática, aquela que meu pai, professor de Português, lutou a vida toda para enfiar em cabeças jovens? Aquela que é cheia de regras, que odiamos a vida toda? Ela também parece ter um efeito colateral de “freio de arrumação” na nossa lógica e entendimento do que está escrito… algo que só damos valor quando passamos pelo processo disciplinador do aprendizado duro e tenso, das provas e “sabatinas”.
Os jovens, por culpa de muitos adultos, desperdiçavam sua juventude preocupados demais com o amanhã, em ganhar dinheiro, casar, ter filhos… perdiam (ou nem chegavam a ter) bom humor. Hoje, ao contrário, essa carga foi tirada dos ombros dos jovens. Pode-se ser o que quiser. Pode-se trabalhar, ou não… estudar, ou não… pensar, ou não… e não há qualquer consequência sobre isso.
Envelheci um tanto, muito (se Deus quiser) falta ainda por envelhecer. Estou tentando me preparar mentalmente para as restrições impostas pela saúde, mobilidade e perda de agilidade mental da maneira como acho válida, e que vai me dar um pouco de alegria mesmo velho. Pensar, estudar, dar risada, fazer bagunça com os filhos (e às custas deles, muitas vezes!!! Haha!) e quem sabe, em alguns anos, com os netos.
Só não quero ser acusado do que já o fui quando jovem – carranca excessiva, se levar à sério demais, viver pra si mesmo, querer sucesso quase a qualquer custo, ser levado “em roda” por qualquer vento de ideologia, enfim, as tragédias normais que cercam todo adolescente e jovem.
Se sentir um completo idiota é uma coisa que deve, na minha opinião, ocorrer com cada um de nós pelo menos uma vez por dia, senão mais. Não que eu queira, ou que algum de nós queira ser um idiota, ter cometido uma idiotice ou faça algo com consequências graves, ou não, de sua inépcia, insensatez ou idiotice mesmo. Tenho o dever de me sentir idiota, para que não seja sem saber.
Mas o fato é que reconhecer que fez algo idiota já é algo bom. Pelo menos a gente está ligada no que faz, acha que poderia ter feito melhor, ou reconhece quando algo não está à altura do que é preciso ser feito. É uma sensação horrível, de incompetência, mas ao mesmo tempo libertadora, pensando bem, por pelo menos eu saber que entendo o que fiz errado.
Adoro atribuir ao Apóstolo Paulo uma frase que ele nunca disse (pelo menos que eu saiba) mas que tem toda a cara dele:
Bem aventurado aquele que sabe aquilo que ignora
Apócrifo
Como é bom olhar algo e ter certeza absoluta de não saber nada, zero, a respeito. Eu estou em busca de expandir o limite da minha ignorância (ou melhor dito, daquilo que conheço), a fim de ignorar cada vez menos. Mas é muito difícil.
Nelson Rodrigues dizia com muita propriedade que
Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.
Nelson Rodrigues
Somos mesmo muitos…
Mas a razão de eu falar de tanta “idiotice” é menos filosófica e mais prática. Existem várias “bolhas”, como se diz por aí. Fala-se muito em “fazer algo repercutir fora da bolha”, e coisas parecidas. Eu costumava não me achar encerrado em em nenhuma delas. Mas francamente, já não sei não. E falo da bolha política, mas também da bolha dos costumes, do politicamente correto/incorreto e todas as outras, que os tempos de Mídias Sociais parece que reforçaram. Eu começo a achar que eu talvez esteja olhando o mundo com óculos errados. Afinal, amigos meus, grandes amigos, deram de ralhar comigo, à vera, por conta de certas posições minhas. Não são necessariamente posições políticas, mas são posições que tem um profundo impacto no que eu penso ser o meu modo de viver ideal.
Já escrevi várias vezes que me identifico como um conservador, cristão e que tento ser racional. Por isso, assuntos como a liberdade de cátedra, a inviolabilidade do direito de opinião, e o caráter absolutamente iconoclasta da ciência tendem a ter muito eco no que eu penso e faço. Assuntos que eu julgava que não mereceriam mais do que um olhar superficial, como por exemplo, a realização ou não de um campeonato de futebol de 30 dias, com sei lá, 16 seleções, sem público, todo mundo testado pra Covid, estão gerando tanto problema que eu chego a me encolher diante de opiniões de amigos que eu julgo inteligentes e sábios.
Outra feita, é uma tal CPI da Covid, que eu não entendo como é que alguém em sã consciência pode dar a mínima credibilidade, ganha tanto espaço e é considerada tão fundamental pra sociedade, neste momento de pânico e suspense: como uma comissão que é presidida e relatada por dois sujeitos desqualificados, moral e legalmente, pode ser levada adiante sob holofotes do Brasil e do mundo, sem qualquer questionamento.
Devo estar priorizando somente um lado da opinião, e isso não gosto de fazer. Deve haver, então, algo errado, e é COMIGO. Afinal, gente que considero muito melhor do que eu enxerga razoabilidade nisso tudo. Desde discutir por conta da tal Copa como assistir uma CPI como se fosse um seriado da NetFlix.
Desde o início desse processo de pandemia eu tenho pensado em muitas coisas que em outros tempos não teriam qualquer repercussão, como o uso ou não desse ou daquele comprimido disso ou daquilo, do tempo que o comércio deve ficar aberto ou fechado, do tanto de transporte coletivo que temos que ter, do atraso de dias, ou meses (dependendo da fonte) para obtenção de vacinas… Tudo o que tenho visto parece formar parte de uma curva de aprendizado sobre algo que nenhum de nós têm a menor experiência, e cujos erros certamente foram cometidos. São patentes, mas não são mais do que isso mesmo – erros, inadequações, idiotices. É o Galípoli, do mesmo Churchill que nos salvou da ameaça nazi-fascista, anos depois. É a tragédia de uma situação que ninguém poderia dizer-se preparado para enfrentar.
Meus amigos, que realmente (não é ironia) são melhores e mais sábios do que eu fazem coro com boa parte da população que bate sem parar no governo (vou fazer aqui a ressalva de sempre – votei e votaria de novo em Bolsonaro em 2018, mas não voto nele se houver alternativa conservadora minimamente capaz de vencer uma eleição).
Um dos meus esportes preferidos é dividir problemas em partes e tentar raciocinar sobre cada uma das partes. Coisa de gente limitada – como eu tenho dificuldade com variáveis múltiplas, busco isolar cada uma e resolvê-las separadamente, e tentar assim chegar a uma conclusão sobre o todo. É isso que tenho tentado fazer ao longo da vida, com algum nível de sucesso.
Mas estou apavorado comigo mesmo. Não sei se estou numa bolha tão, mas tão fechada, que não consigo enxergar algumas coisas que outros veem por óbvio. Eu realmente não consigo “fechar questão” sobre alguns assuntos que uns têm por certo. Eu não consigo achar defeito grave numa economia que conseguiu cair, com Covid e tudo, menos do que entre 2013 e 2014, sem nada, exceto o fato de termos tido um péssimo governo.
Além de tudo isso, tenho uma visão de que no final das contas, o mercado consegue, com seus milhares de interações diárias, de milhares de cabeças pensantes, indicar o que realmente está acontecendo, quando as câmeras e microfones são desligados e os políticos voltam pros seus sepulcros caiados.
Enfim, terminando, outra citação de Nelson Rodrigues, que pretendo manter na mente, justamente por tudo o que já escrevi acima:
Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.
Me pego volta e meia me mandando respirar fundo e desacelerar. O fato é que minha agenda não ajuda nem um pouco, muito menos a pressão de produzir resultados bons, confiáveis, revisados e rápidos. Ter tudo isso junto, numa entrega só, é quase impossível. O resultado são noites em que parece impossível desligar.
Sinto isso muito mais intensamente quando faço a atividade que costumava ser prazerosa, de ler a Bíblia, meditar no que me está sendo dito por este Livro, e internalizar conceitos que farão toda a diferença na minha caminhada diária. Cada dia está mais difícil ser profundo. Cada dia mais fácil a mente vagar.
Escrever se torna uma forma de dar ordem aos meus pensamentos, pois que se não fizer isso, nada bom sai pro papel virtual. Qualquer um pode notar perfeitamente quando estou mais ou menos focado e relaxado – é só ler minhas crônicas e artigos e comparar. Verão quantas vezes eu pulo de galho em galho, de aspecto em aspecto, sem conectar os pontos. Pra mim, está tudo tão claro, que eu assumo, presumo, que o leitor eventual vá achar que está claro para si também. Isso raramente acontece.
Na mesa, já não tenho paciência sequer de dizer com clareza: “me passe o saleiro?”, me limitando a apontar na direção geral do objeto e grunhir qualquer coisa, esperando que os filhos ou a esposa vão entender por milagre o que estou querendo.
Que vida! Que pressa, que aceleração iníqua! E que tempo perdido, paradoxalmente, com tanta pressa!
O velho Armindo Constantino Montechiari, o velho “Nonno”, costumava dizer que “quem faz errado, faz duas vezes” (ao que acrescento – ou mais do que duas vezes). E obviamente estava certo, e está, até hoje. Costumo refazer raciocínios, irritar as pessoas quando estou acelerado demais, e não passar mensagem que presta. Não é saber ou não saber o que dizer: é atropelar o que falo e com isso deixar todo mundo na mão, sem saber o que quero transmitir. Por isso escrevo. Se tornou mais fácil.
Em um grupo de amigos profissionais, espera-se que eu dê não minha opinião, mas exemplos meus, próprios, que possam ajudar a pessoa a chegar às suas próprias conclusões, sem que eu tenha que “informar” algo. Ocorre que quando se está acelerado, quando se está vivendo dois segundos por segundo, o estrago é fácil de prever – a cara de bobo de pessoas que acham que você deve ser inteligente demais, afinal falou algo que ninguém entendeu (penso eu) ou então o contrário – o que é que este cretino quis dizer com esse amontoado de bobagens? O grupo se frusta comigo, eu me frustro comigo, porque não consigo passar as ideias uma palavra de cada vez.
Essa aceleração vai para o campo do relacionamento pessoal, e só desacelera nos finas de semana, quando uma caminhada melhor, a tranquilidade de uma boa música, uma mesa boa, da melhor cozinheira do mundo, Aline, e um vinho de qualidade nos fazem parar e pensar na vida. O domingo, com suas idas à Igreja, nos leva a sentar e ouvir o sermão com atenção e introspecção, lembrando daquilo que Deus quer falar pro nosso coração.
A alternativa que tem sido (meio que) imposto à nós é a da meditação que nos leva a “esvaziar a mente”. Eu não sou lá muito fã, porque ainda sou do tempo em que se dizia que mente vazia é oficina do diabo. Além disso, o Apóstolo Paulo falava que legal mesmo é “encher-nos do Espírito Santo”, ou seja, tirar o “excesso de nós mesmos” e dar lugar ao Espírito de Deus e suas palavras, sempre calmas e doces. Mas é uma dificuldade conseguir isso frequentemente.
Para não dizer que sou contra tudo o que é oriental, sinto que é muito proveitoso respirar fundo, prestar atenção na nossa respiração, e focar a cabeça num só ponto, um só pensamento. Isso me ajuda.
Se você, como eu, é acelerado mentalmente, e está sentindo que isso cobra um alto preço, solidarize-se comigo. Eu pretendo desacelerar, do falar ao pensar, do sentir ao comer, do respirar ao dormir. E fazer tudo com mais propósito.
Não quero deixar que o FaceBook ou o “ZapZap” ditem meu ritmo. Afinal, pressa continua a ser inimiga da perfeição!
Hoje, numa roda de grandes amigos no WhatsApp, falei uma frase que quero repetir, abaixo:
O ser humano, quanto mais bem sucedido, mais próximo está do caos.
Eu mesmo
Por que e em que contexto eu disse isso? Estávamos discutindo sobre uma recente matéria da revista Nature (https://www.nature.com/articles/s41467-021-22446-z) sobre o caráter inócuo da Hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19 (o tema que não quer calar).
Eu, como bom negacionista que sou, argumentei com dois links de entidades igualmente respeitáveis, o Lancet (https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31180-6/fulltext) e o New England Journal of Medicine (https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2031780) as quais, respectivamente, se retratam (Dez de 2020) de um artigo com o mesmo teor da Nature de ontem, ou dão certa razão à mal/bendita HcQ.
Do lado de lá deste debate virtual algumas das melhores cabeças pensantes que conheço e partilho amizade. Gente difícil de convencer e de argumentar. Intelligence is a bitch!…
A frase, que adoraria ver celebrizada, veio de um pensamento que tive na hora que mencionei a frase recente de um prêmio Nobel de medicina, Richard J. Roberts:
Medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos “cronificadores” que sejam consumidos de forma serializada.
Richard J. Roberts, Nobel de Medicina
Somei as duas frases, e coloquei então de lado, na minha cabeça, toda a discussão sobre HcQ e Covid e pensei no paradoxo que me levou à frase inicial: Quanto mais bem sucedidos como espécie nos somos, mais perto estamos do caos, e da extinção.
Eu fico pensando no meu jardim aqui em casa, e do fato de que preciso podar sem piedade algumas plantas para que elas continuem viçosas e produtivas. A vida das plantas depende, de certa forma, delas não crescerem indefinidamente. Deixado à própria sorte, o jardim cresce até se matar.
Essa constatação vem de encontro ao que o Mr. Smith, o vilão de Matrix, disse ao Neo (personagem de Keanu Reeves): “os seres humanos são como um virus sobre a terra… se reproduzem até destruir tudo ao seu redor“.
Então estamos fadados, desde o Jardim do Éden (ou desde o paleolítico, como queiram) a nos auto destruir na exata medida em que a civilização progride? Será que teremos que receber “podas” rasas frequentes, como a Peste Negra, a Gripe Espanhola, ou as Grandes Guerras, a fim de nos mantermos viçosos num mundo finito?
Essa já foi a indagação de vários filmes e livros sobre Distopias. Ora é um mundo em que deve-se morrer aos 30 anos (Admirável Mundo Novo de Huxley), ora é um mundo em que somos confinados em “mônadas urbanas” (Mundos Fechados de Robert Silverberg).
O ser humano é (até onde podemos confirmar) o único ser “imagem e semelhança de Deus” (eu creio), no sentido em que somos sencientes, ou seja, pensamos de forma autônoma, e detemos livre arbítrio. Portanto, somos os primeiros seres vivos sobre o planeta a termos a oportunidade de não experimental o caos como resultado de um vigoroso crescimento, reduzindo ou eliminando guerras. Como?
O Japão nos dá uma lição e uma pista importante sobre este tipo de futuro. São uma nação que envelheceu em pouco tempo (de 1945 para cá) e hoje tem a primeira população francamente em declínio no planeta.
O declínio gerou uma população velha e incapaz de arcar com custos como seguridade social (que no modelo atual equivale a um esquema Ponzi – pirâmide – que só funciona se tiver mais gente na base do que no topo). Esse declínio gerou também gastos médicos muito mais altos do que o resto do mundo, e menos dinamismo na economia. O fato é que há 20 anos os Dekasseguis brasileiros eram odiados por lá, e hoje tolerados, por serem da mesma “raça” (com pedido antecipado de perdão aos mais sensíveis) do que eles e falaram algo do idioma.
O Japão nos mostra que controlar a natalidade não resolve a equação da sobrevivência com sucesso, ou resolve até determinado ponto. Os economistas e biólogos estimam em 2,1 filhos por mulher (Opa… seres humanos que menstruam) como ponto de estabilidade para a raça humana continuar indefinidamente no planeta, desde que aprenda a lidar com ele.
Antibióticos, nutrição, segurança e educação fizeram com que a população do mundo explodisse, consumindo recursos e colocando o planeta em risco, nós dentro dele. Como não temos outro planeta, a grita por medidas que não agridam ou meio ambiente aumentam também exponencialmente. Por outro lado, algumas das propostas para isso implicarão em fome (ainda existente, e muito), desemprego e instabilidade política e social. O “fique em casa” de hoje é apenas um ensaio de uma situação que pode vir a ocorrer, por outras razões, muitas vezes, num futuro próximo.
O problema é que as soluções aventadas nunca, ou quase nunca, passam por um processo democrático ou humano. São quase sempre impostas, e não infrequentemente, letais. Esquecem-se, também frequentemente os formuladores de soluções “de força” que o fator tecnologia e inteligência, além do fator bondade, amor e empatia devem ser levados em consideração. Tecnologia e inteligência salvaram o mundo pós guerra da miséria e da fome. Fatores como bondade e misericórdia, quando aliadas à tecnologia, costumam produzir milagres.
Estamos diante do impasse que propus na frase que abre o artigo. Que o impasse seja resolvido com bondade, misericórdia e tecnologia, e não com guerras, pestes e fome.
Sempre tento fugir da platitude, do lugar comum, quando escrevo algo. Não é tanto por mim mesmo, mas pra tentar não encher o saco de quem lê. Se o texto já não é tão bom em si, fazê-lo intolerável é fácil. Difícil é fazer alguém ler.
Falo isso por conta das tristezas dessa vida, que parece que parou desde Março de 2020, e as pequenas e grandes tragédias que nos acometeram, como família, nesse tempo. Tragédias que são exacerbadas na nossa cabeça por estarmos trancados sem direito a habeas-corpus por um vírus.
A tristeza que começou em 2020, com Covid, mas principalmente pela morte do Tio Aluízio, o tio mais velho, de 87 anos – não dessa peste, mas de coração mesmo. 2020 terminou com aquele ar de “que vá e não volte”… uma exaltação prévia a um 2021 que poderia se mostrar mais benevolente. Não foi.
Em Fevereiro, um primo-irmão Carlos Eduardo, filho deste mesmo tio Aluízio, é assassinado por um condômino do mesmo prédio, amante da síndica, e que estava com ela cooperando pra subtrair o condomínio em uma bela grana. Meu primo, na comissão fiscal, descobriu e foi morto dias antes da assembleia que discutiria o fato. Morte brutal, desnecessária, horrenda. Mas não foi a Covid, ainda.
Agora em Março, ontem mesmo, outro primo-irmão, Arisley, morre depois de curta mas dura agonia, num hospital em Teresópolis. Felizmente morre cercado de amor da esposa Bernadeth, da irmã, Rosane e da mãe, Tia Chirley (com C mesmo). Sofreu menos do que sofreria, mas aos 61 anos ninguém acha que vai morrer. De novo, nada de Covid, Foi câncer mesmo.
Três amados, que, em tempos da Covid, não sucumbiram a ela. No fundo, fica aquela impressão de “quem dera” em mim… E por que? Ora, quando milhares de mães e pais enviam seus filhos a uma guerra (sempre me vem à mente a II Guerra, que consideramos “justa”), todos sabem que podem receber um telegrama dos militares informando da “morte corajosa, em batalha”. E assim, coletivamente, nos consolamos.
A Covid, como batalha, daria talvez mais sentido às mortes. Ora – há uma justificativa. Estou junto com milhares de famílias que sofrem por algo que “está aí”, está acontecendo, e que nos faz coparticipantes dessa tragédia coletiva. Guerra, ou Peste, são mais fáceis de justificar pra nós mesmos. Nossa cabeça encontra racional para isso, mais do que para um coração dodói, para um assassinato idiota, pra uma doença terrível (mas curável e conhecida).
É o caráter coletivo da Covid e da Guerra que nos traz certo conforto. O conforto do “combatente”. O conforto de quem está numa guerra – contra nazistas ou contra um vírus – mas uma guerra, em que a regra é acabar morto, e ter escapado uma exceção.
Meus soldados caídos, meus amados que verei na Glória Eterna, esses estão guardados por Deus. Não me chateia, não me irrita nem me faz maldizer o Criador. Pelo contrário, no fundo me faz ansiar pela minha própria “cura definitiva”, quando Deus enxugará dos meus olhos toda lágrima.
A última vítima da insanidade da vida na terra, Arisley Montechiari, deixa filha e neta, esposa, mãe e irmã, que certamente chorarão muito de saudade, mas não creio que de tristeza ou raiva. O conforto é muito grande, quando se anda com Deus. O que dizer de tantas outras vítimas das mesmas insanidades, e que além de tudo, creem firmemente que os queridos viraram pó e acabou tudo ali?
De novo, escrevo sempre e primariamente para mim mesmo. Portanto, estou ME consolando, ME tratando psicologicamente, para não enlouquecer, trancado numa gaiola de ouro, esperando o momento em que nossos mestres e líderes nos deixarão viver em certa liberdade ainda. Mas vou me consolando com o fato de que tudo aponta para o fim dessa brincadeira de mau gosto enorme chamada humanidade decaída, pecadora, miserável.
A quem fica, meu respeito. Não consolo, apenas respeito. Sei o que vocês passam – estamos passando juntos. Sei o que representa viver sem alguém amado – todos sabemos. Sei o que é a insanidade da perda devido a um universo que saiu de dentro do amor de Deus e se perdeu nos erros dos tantos alvos com os quais nos confrontamos todos os dias.
A quem coloca pequenos deuses entre si e sua família, sejam políticos, ídolos de qualquer matiz, não se leva a sério. A quem coloca ideologias acima da racionalidade e entendimento da vida, com suas mazelas e alegrias, meu profundo desrespeito. Não um desrespeito que age, que xinga, que menospreza. Não. Desrespeito no sentido lato da palavra: não respeito. Adoraria ver seres humanos discutindo em paz, mas sempre, com a cordialidade que advém da certeza da finitude da vida, com a certeza de que no final das contas, não pagam as minhas contas: Deus e eu fazemos isso. A esses, e me incluo, peço que tiremos de entre nós os pequenos deuses que nos infernizam o relacionamento.
Deus nos console a todos, nessa nova e insana guerra.
Estamos aí de novo, curtindo nova onda de “lóquedáum” por conta da Covid-19. Na verdade, pode-se dizer que é por conta de outros fatores, que não a própria Covid:
Pode-se afirmar, por exemplo, que é por conta dos respiradores nunca comprados ou superfaturados (e comprados a menos) pelos governadores e prefeitos
Pode-se afirmar que é por conta dos hospitais de campanha, pagos a peso de ouro, e desmontados menos de 3 meses depois (se tanto) e cujos leitos de UTI estão fazendo tanta falta agora
Pode-se ainda afirmar que é por conta do fato de que fizeram lockdown antes do que deveriam, ou ainda, da forma errada, focando mais no aspecto “eu mando” (imposição) do que no aspecto “faz que é bom” (educacional).
Pode, por fim, afirmar que é pelo fato de que mesmo antes de pandemia, já termos um déficit de UTIs crônico, e que a Covid só fez agravar…
Tudo isso pode, mas cá entre nós, o problema desde o início é se lockdown resolve algo. Lógico que resolve: tranca todo mundo em casa que não há circulação de ninguém e o virus de fato, não se espalha. Ao longo da história fez-se lockdown. Estamos hoje repetindo o que se fez desde a idade média, e suas pestes negras e pragas terríveis.
Mas o problema é não é esse. O problema é: num mundo com quase 8 bilhões de habitantes, e num país com problema crônico de sub-moradia e saneamento ruim, de gente que vende o almoço pra comprar a janta, que precisa, de trabalho todos os dias, querer que as pessoas fiquem por longos períodos em casa, e apenas um grupo de cidadãos de segunda classe se exponha, é bastante desigual e quase desumano.
Quando escrevo o Paraná fechou mais uma vez toda sua economia, basicamente, e São Paulo faz o mesmo, por mais 20 dias, como se 20 dias de um ano de 365 dias não fosse algo a ser devidamente matutado antes de decidido.
Complementando a lista lá de cima, nesta reflexão, pode-se afirmar que o uso dos lockdowns por motivos escusos, por parte de governos estaduais, são a prova cabal de que “o mundo jaz no maligno”, como a Bíblia fala. É realmente surreal ver governos fazendo a mesma coisa, repetidas vezes, sifonando dinheiro federal, nosso dinheiro, para tudo, exceto combate à pandemia (até salários estão sendo pagos com essa grana), fechando tudo pela 5a., 6a. vez, achando que “dessa vez vai”… a insensatez não tem limites, por aqui.
Enquanto isso, vamos sendo tangidos em direção à nova descrição de nossas atribuições como “gado” (não de bolzonaro, mas de qualquer governinho estadual-imperial): vacina também não resolve. Tem vacina, mas fique em casa, já teve covid, mas fique em casa, vacinou 2 doses, continue usando máscara, ficando em casa… ou seja, a impressão é que esta pandemia não terá fim, e que, se tiver, já existe outra preparada, ali na esquina, para nos manter reféns de ordens de nossos “piccoli capi”.
Não posso afirmar bem como foi… É como se eu tivesse sido transplantado ao ano de 2030, e já em condições totalmente diferentes da minha vida habitual. De “mastigador de número” e contador bissexto, me vi alçado a uma posição que nunca poderia imaginar. Vivi algo que ainda não sei bem explicar. E voltei pra contar.
Quase uma década depois do malfadado 2020, o mundo estava diferente. Sai de casa de máscara (não essas de pano qualquer, mas de um látex cinzento com uma espécie de “botão” laranja na frente, que apita quando chego perto demais do alheio – qualquer alheio…). Não vivo mais numa casa, mas num apartamento num bairro bem aglomerado no centro. Viro a esquina e dou de cara com mais um monte de gente de máscara cinza com botão laranja. Cada vez que um vivente chega próximo demais de outro, o botão laranja acende e apita.
O povo chama a máscara de BolsoTrump, em homenagem a dois ex-presidentes que brigaram com a “ciência” da época. Uns trogloditas esquisitos. Passou… passou… tudo parece ter voltado aos “eixos”.
Viro a esquina e entro num prédio – parece que meus pés sabem onde querem me levar. Supostamente trabalho ali, no comando alguma divisão do governo ligada à saúde. Fica difícil conciliar minha vida atrás dos balanços e fluxos de caixa e essa, ligada à medicina. Tenho pavor até de ver sangue. Sinto minha cabeça girar. Como fui parar aí?
Mas um impulso, um dever, desse outro eu nesse universo paralelo, me impele. Nada disso estava aqui ontem, e francamente é como se os últimos 9 anos tivessem passado num borrão. Não estou mais gordo, e sei que algo aconteceu pra que eu perdesse o excesso de uns 20 Kg – uma bariátrica que eu programara em 2020 e que não aconteceria antes de 2021? Não sei. Tudo é uma névoa só.
Entro no prédio e dou de cara com o porteiro. As escamas que ele tem na testa dão um ar de alienígena de Star Trek (um Romulano?) mas de alguma forma parecem “comuns”. As mãos estão ornadas com umas unhonas grandonas, pontudas e esverdeadas. Ele me responde com cordialidade, que nem posso dizer se é habitual ou não. Está lá… uma cordialidade que eu chamaria de bovina – se não parecesse reptiliana.
Tinha um ascensorista (Sic!), com um focinho esverdeado e presas afiadas, e testa de homo-sapiens-sapiens, cabelos meio ruivos, olhos esverdeados, parecendo a Cuca do Sítio do Picapau Amarelo. Parte de mim levou a cena na boa; parte talvez tivesse se borrado de medo, ou dado risada. Ascensorista? Por que? Pergunto e ouço a resposta: “condutor de veículo vertical”… orgulho profissional! Estou num filme da Marvel, esse de universos paralelos, de cor meio desbotada e uma mistura de coisa antiga e nova. Um ar de Berlin Oriental dos anos 60 e Blade Runner.
12 andar. Sala 144, a do canto, grande, clara e bem mobiliada. Um dos quadros na parede reconheço como o da minha casa em 2021. Algo ali me é familiar. Respirei fundo e tentei acalmar minha “outra parte”, já que a parte “paralela” parece estar de boa. A secretária chega. Não tem focinho nem escamas, mas quando ela se vira eu vejo uma renca de protuberâncias saindo das costas, como um dinossauro – também esverdeado.
Sr. Figueira, o Dr. Palhares perguntou por si. Anotei direitinho pra não esquecer… Ele mandou… e me passa um bilhete – “Figueira, preciso discutir contigo a questão das remessas de máscaras novas… as com bico vermelho – pros Insistentes”. Que bico vermelho? Que máscaras?
De novo meus pés me levam ao Palhares, a quem conheço sem nunca ter visto. Essa confusão de paralelo e oficial vai acabar me colocando em uma saia justa. Palhares acena pra mim. Tudo normal, os olhos amarelados e dentes pontudos saem da boca grande. O terno Armani super chique e os sapatos de um couro que desconheço – um cromo qualquer – me parecem estranhos, mas o Figueira do Universo Paralelo não acha nada estranho.
Figueira, você é uma mala mesmo! Quantos insistentes catalogamos semana passada? – “Uns 2 mil”, respondo – de onde saiu a convicção, não tenho ideia.
– “Então?” – pergunta Palhares – “nem pensou nas máscaras de ponta vermelha (as “Dula”, em homenagem a outros dois ex-presidentes)? Não temos nenhuma, e essa gente vai causar encrenca. Sem Dula na cara, ou no mínimo uma BolsoTrump, os caras vão sair fazendo arruaça. Vamos agilizar isso. O Ministério deve ter algumas ainda, em Brasília. Vamos pegar o que pudermos.” O Figueira do Universo Paralelo sabe que as máscaras de botão vermelho não são apenas para controle de distanciamento social, mas possuem agulhas prontas para injetar vacina, caso o sujeito ultrapasse a linha que o STF chamou de “Limite da Insurreição Social”. Reclamar é uma coisa. Falar com repórter acarreta meia dose de Pfizer… Escrever textão no Face questionando a ciência do distanciamento dá uma dose de Oxford… e pra completar, levantar cartaz e fazer manifestação dá uma dose inteirinha de Coronavac, e a certeza da cura, pela Semisaurização compulsória – que o STF não quis impor de cara, pois que os países desenvolvidos chamariam de ditadura do judiciário…
Saio tão rápido quando consigo (ser 20Kg mais leve ajuda um monte!). O monitor de tubo catódico me liga por Skype ao Ministério e rapidamente consigo, não as 2 mil, mas perto disso – 1.800. Já dá pro gasto. Deixo mais 2 mil pedidas pro mês que vem, quando as campanhas de conscientização do mês deverão estar concluídas, e os relatórios de anomalias reportarem os novos insistentes.
De volta na sala, o Figueira do Universo oficial se pergunta que raio foi tudo aquilo. O que são “insistentes”, e o que as máscaras de bico vermelho fazem. O Figueira do Paralelo sabe, mas teima em achar que eu sei e não precisa me contar. Somos duas pessoas numa cabeça só. Eu, o Figueira do Oficial, de carona.
Resolvida a questão das Dula, volto a agir sobre o outro tema – as reações adversas. Durante a vacinação de 2021, ninguém se preocupou muito com os resultados de médio prazo – longo prazo, nem se fale. Quando começaram a aparecer os primeiros dentões e as peles esverdeadas, os olhos amarelados e os cachorros e gatos da vizinhança começaram a desaparecer, o Ministério se preocupou. Eram coisas simples, no início, e quem tinha as reações não ligava muito. Tinha até quem gostasse – os “mutantes” (ou semi-mutantes) principalmente. Havia uma espécie de euforia, uma alegria de estar vivo, que contaminava os Semisauros, como passaram a ser tecnicamente chamados, que fez com que ninguém quisesse chegar muito perto ou questionar muito sua nova condição. Era o mRNA que havia feito isso. Um ex-presidente havia predito isso e o povo tinha dado muita risada dele. Afinal, como é que uma vacina chinesa, de Oxford ou de um dos mega-laboratórios mundiais poderia fazer de mal? Ainda mais transformar alguém em crocodilo, jacaré, caimã ou coisa que o valha… bestagem desse povo.
Uma vez estabelecida a comunidade dos Semisauros, passou a ser perigoso criticar muito. Assim, em poucos anos, os peles verdes e olhos amarelos começaram a ascender socialmente, por conta do efeito de tribo entre eles. Palhares era um deles, e tinha tido muito sucesso, desde que saíra da condição de veterinário no Zoológico de Curitiba para a exaltada posição de líder do combate aos Insistentes.
E os Insistentes? Gente que se recusou a tomar as vacinas, e foi até o STF pra ganhar o direito de não ser vacinado, contraiu Covid-19, depois Covid-20, depois Covid-21 e assim por diante. Agora, já na Covid-28 (a deste ano e do ano passado atrasaram), eles insistem em não se vacinar. Foram perdendo a capacidade cognitiva e hoje são os cara que fazem os trabalhos mais braçais, pesados e sujos da economia. Quase já não há Insistentes em cargos de direção, Se tornaram os Forest Gump de 2030, só que sem sorte.
Eu? nem sei – não me olhei no espelho pra saber se sou Insistente ou SemiSauro. Passo a mão no pescoço e na testa pra ver se acho algo estranho. Não acho nada. Os dentes continuam de herbívoro. Relaxo, e me pergunto – será que isso é bom?
Palhares entra como uma fúria, de novo, na minha sala e me convoca a ir confrontar uma nova manifestação de Insistentes na frente do prédio. – “Meio dia, quase, por que esses caras insistem em manifestar na hora do almoço? Por que não fazem como todo mundo e manifestam na hora do expediente”?
Eu eu paralelo responde – “Eles tem o que fazer. Tem essa mania de trabalhar, bater ponto… sabe como é… só manifestam na hora do almoço, sábado, domingo… é da natureza deles”. Palhares esfumaça pelos ouvidos… Dá pra sentir a mufa…
Palhares chama a segurança e descemos cercados de oficiais – todos Semisauros, armados. Do lado de fora algo como 100 manifestantes (a mídia vai falar que foram 10, o movimento vai dizer que eram 10 mil… same old…). Cartazes pedem o fim das vacinações: “Cloroquina ampla, geral e irrestrita” e “Fora Dirceu”, pedindo o impeachment do presidente. Outro cartaz diz “Cuidado rapá / o mRNA vai te pegá” (assim mesmo).
Palhares pega o megafone e começa – “dispersar para evitar o uso da força” seguido daquela microfonia irritante de filme americano. A líder (aparente) do movimento berra de volta – “Não vamos usar M3rd4! nenhuma de máscara de nariz vermelho! Ninguém aqui come gato e cachorro de vizinho! Abaixo a vacina!”.
Um dos seguranças, indignado com o tratamento dado aos Semisauros (afinal criticar hábitos alimentares é discriminação!), parte pra agressão e lança um jato de spray de pimenta na tal líder, berrando “obscurantista! fascista!”. O pau come. Os seguranças deixam as armas e partem pro ataque usando o que lhes é mais letal – garras e presas. Os manifestantes recuam. Não há, estranhamente, nenhuma câmera ou microfone de TVs ou qualquer outro veículo. Só os celulares gravam tudo – uns modelos parecidos com PT.550 Motorola, só que com visor melhorado e tecnologia 8G. Os manifestantes recuam depois que um sujeito preto (negro!) tem o braço arrancado por um segurança mais “acrocodilado”. Tem um pouco de sangue na calçada, mas ninguém liga muito, depois de tantos episódios parecidos.
Depois de chamar o SAMU, o manifestante foi atendido, a turba vai se espalhando e cantando palavras de ordem. Voltamos ao escritório. Palhares recomeça a cantilena – “Já falei. Se não forem marcados oficialmente como Insistentes, vão dizer que estão em processo de transformação, e que já tomaram vacina. Como não dá pra dizer que não, já que o governo perdeu o controle dos vacinados, fica nessa… o STF mandou a gente não começar o processo de ressocialização enquanto o sujeito não for marcados oficialmente. O volume de Insistentes tá aumentando… já falei com Brasília… Isso vai acabar virando uma revolta de proporções maiúsculas. Ainda bem que a falta da vacina afeta o QI e essa gente já não tem mais tanta capacidade de mobilização… Mas vai que surja um Enstein Insistente entre eles… corremos o risco de ter uma guerra civil nas mãos… e olha que tudo o que queremos é pro bem deles!. Negacionistas! gente burra! Devia estudar! Não conhecem ciência!”
Fico no meio do caminho, entre a pena dos Insistentes de QI baixo e os Semisauros ferozes mas preocupados com o bem estar geral. É uma situação difícil.
Na TV, de noite, o presidente fala à nação – “Hoje, vimos várias manifestações contra a ciência e pelo obscurantismo. Gente de QI baixo, que se recusou a tomar a vacina, enfrentou as forças da lei, que foram obrigadas a dispersar as manifestações com galhardia, e algumas mordidas“. E chorou, segundo ele, de pena desse povo sofrido, que não entende que a ciência trabalha para seu próprio bem… Chorou, porque afinal, lágrimas são típicas de crocodilos.
Do jeito que fui para em 2030, voltei pra 2021, no meu peso normal (Sic!) e com meu mau humor habitual. Tenho que decidir: tomo ou não tomo a vacina? Se eu tiver visto o futuro, tenho a escolha de virar um Sauro ou me tornar um Burro, Insistente…
Da sala minha mulher avisa – “vamos sair que chamaram a nossa faixa de idade na fila da vacina – e não quero mais nem meio mais – você VAI COMIGO!” berra ela… e eu vou…
Hoje cedo li um artigo bem interessante. O link anexo remete ao Polzonoff, articulista da Gazeta do Povo. Sujeito interessante esse, que fala algo que nem tinha me tocado – ninguém, nem umzinho, desses “beautiful people” metido a artista, fez nada, ainda, pelo menos, sobre o momento dramático que estamos vivendo. Nenhuma Guernica, nem um “For whom the bells toll”, nem um Abaporu horroroso que seja. Nada. Bom, já que é possível fazer um abaporuzinho de M que seja, fiz o meu em forma de sonetinho cafona:
Soneto pra Cloroquina
Se cura, ainda não sabemos, se mata, ignoramos Na frente da morte estamos, e então ressabiados Tomamos a tal pastilha, e mui piamente oramos Até que por três quartãs tenhamos todos passado
O que se prega e o que se faz são duas coisas distintas
Boa pra curar malária, doença pra qual não ligo
Joga-se conversa ao vento, renega-se a Cloroquina
Tornando fraterno compadre no mais feroz inimigo
Mas não só conversa se gasta; dinheiro bom, suado
Transforma-se em intolerância, travestida de propina
E seguimos todos o baile esperando por um milagre
Ou talvez um bom remédio, talvez uma vacina
Que nos remeta ao passado, de praia e de foguetório
Onde a notícia, ao menos, não nos cheirava a velório
É bonito, ou feio? É meu. Pelo menos cite a fonte quando curtir ou malhar… E vamos nós, esperando por um milagre, mesmo… E se me chamar de Buarque eu brigo!
A independência acadêmica, leia-se, liberdade para pesquisar o que quiser, e chegar a conclusões independente de pressões ou interesses, é um assunto muito sério. Em alguns países o assunto é (ou era) levado muito à sério. Essa liberdade deveria ser levada a sério em disciplinas como sociologia ou história, mais ainda em engenharia, matemática, e medicina, principalmente. As disciplinas “de humanas” são as que menos parecem respeitar a liberdade acadêmica, devido à enorme ideologização das diversas correntes políticas. Como ninguém morre por um diagnóstico histórico errado, no curto prazo, ninguém dá muita bola pra isso. Mas imagine em medicina.
O risco de perda de liberdade acadêmica começa a ser pouco a pouco revelado, onde menos eu esperava qualquer ação jornalística mais independente, depois do Brasil claro – a França. E sobre o vilão do momento, a Covid-19.
O Jornal France Soir (antigamente um “vespertino”, quando havia jornal impresso) publicou no início do mês uma lista de pesquisadores que recebem fundos de laboratórios farmacêuticos, entre eles dois principais, Gilead e AbbVie, que querem levar ao mercado remédios contra a Covid-19 . Esses que estariam de certa forma “tendenciosos” contra a bendita (ou maldita, dependendo da ideologia) Hidroxicloroquina, ou HCQ para simplificar. Lá constam pelo menos 13 renomados cientistas que pesquisam em
France Soir publica lista de professores pagos pela Gilead. São todos contra a cloroquina e contra o Professor Raoul (Didier Raoul, Univ. de Marselha).
France Soir, citado pelo blog de J. L. Douret
Estamos todos aqui no Brasil, “hiperinformados”, gordos de tanto dado na nossa cara, e sem quase nada de verdade pra olhar. Esse blog do J.L. Douret tem um lema interessante: “Pense certo, pense errado, mas pense por si só“. Achei interessante o lema, pois estamos sendo cada dia mais motivados a não fazê-lo.
O que o France Soir fez foi colocar em dúvida a liberdade acadêmica que 13 “grandes nomes” da pesquisa francesa, por conta de sua receita proveniente de duas grandes empresas farmacêuticas, e, ao mesmo tempo, seu veemente ataque às pesquisas do Dr. Didier Raoul, que ficou célebre recentemente por algumas entrevistas e artigos propondo um coquetel de HCQ, zinco e azitromicina para prevenir a Covid-19. Lá na França, como cá no Brasil e em praticamente todo o mundo há uma guerra meio que deliberada sobre o tal coquetel. Ninguém sabe muito bem a natureza da “raiva” e espírito encarniçado contra alguns fármacos que juntos não somam R$ 5,00 por paciente por dia. Ou talvez por isso mesmo a raiva esteja justificada.
Na minha modestíssima opinião, um acadêmico ser pago para fazer pesquisa científica é válido. É lícito e desejável que as universidades trabalhem em conjunto com as empresas a fim de gerar patentes, métodos e pensamentos que tornem o mundo melhor. É um grande exemplo de bom capitalismo. No entanto, é necessário um freio na intervenção que o poder econômico tem na liberdade acadêmica. Aparentemente (dados de Wikipédia são sempre disputáveis, mas bastante acurados), o conceito de liberdade acadêmica começou na Universidade de Leiden, na Holanda, esta fundada em 1575, e se espalhou pelo mundo. Os suspeitos de hábito, URSS, China, Cuba, países do leste europeu, atentaram e atentam contra a liberdade acadêmica dia e noite.
Leiam o artigo (tem tradução, meia boca mas têm) pro Português, e dá pra compreender rapidamente que a soma de grana no bolso e animosidade contra o Dr. Raoul de certa forma está patente. O caso mais estranho é atribuído ao Dr. como abaixo traduzo:
“No. 1. – A Palma de Ouro vai para o Prof. François Raffi de Nantes. com € 541.729 [recebidos de farmacêuticas] , incluindo € 52.812 da Gilead. Será que é coincidência que falaram que o telefonema anônimo ameaçando Didier Raoult, se ele persistisse com [os estudos e propagação da informação] da hidroxicloroquina, saiu de um celular do departamento de doenças infecciosas do Hospital Universitário de Nantes, do qual François Raffi é o chefe ? Certamente uma pura coincidência. [ironia embutida]
Blog J.L. Duret
Como diz o lema do blog, pense certo, pense errado, mas pense por si só. Sem teoria da conspiração, mas sabendo que as farmas são o que são porque fazem o que fazem, pense… e conclua.
Do meu Face-amigo Jason Butler recebi esse artigo que li com interesse, e não pude deixar de fazer uma breve resenha para quem não lê inglês (se puder, use um tradutor qualquer na internet e traduza tudo; leia porque vale a pena!).
O cientista suíço, e ex-diretor do Instituto de Imunologia da Universidade de Berna, na Suíca, Dr. Beda M Stadler, professor emérito e biólogo, resume o imbróglio (que é o nome mais apropriado para tudo o que está acontecendo) da seguinte forma, em tópicos:
1 – Um novo vírus? – O Covid-19, ou Sars-Cov-2, não é um virus novo; assim, todo mundo estava mais preocupado com que animal teria causado essa pereba do que se perguntar o quanto este troço se relaciona com os já conhecidos Coronavírus;
2 – O “Conto da Carochinha” da não-imunidade – “Desde a Organização Mundial de Saúde (OMS) a todos os “virologistas de Facebook“, todos alegaram que este vírus era particularmente perigoso, porque não havia imunidade contra ele, porque era um novo vírus.“. ele continua… “Foi quando percebi que o mundo inteiro simplesmente alegou que não havia imunidade, mas, na realidade, ninguém tinha um teste pronto para provar essa afirmação. Isso não era ciência, mas pura especulação baseada em um pressentimento que foi repetido por todos.”.
Vamos adiante que a coisa fica melhor…
4 – O fracasso dos “Modeladores” – O autor continua dizendo que “O epidemiologista também se apaixonou pelo mito de que não havia imunidade na população.” (na minha profissão é o fetiche do auditor que quer achar uma grande fraude e virar herói). E continua – “Eles também não queriam acreditar que os coronavírus eram vírus frios sazonais que desapareceriam no verão. Caso contrário, seus modelos de curvas teriam aparência diferente. Quando os piores cenários iniciais não se realizaram em nenhum lugar, alguns ainda se apegam a modelos que preveem uma segunda onda. Vamos deixar suas esperanças – nunca vi um ramo científico que se manobrasse tanto para o impedimento. Também ainda não entendi por que os epidemiologistas estavam muito mais interessados no número de mortes, do que nos números que poderiam ser salvos.”. Daí nasceram os modelos matemáticos que, baseados na premissa de que não havia imunidade, calcularam os mortos em milhares de milhões, alarmando todo mundo e criando um caos bem aproveitado pelos políticos mundo afora…
São certamente palavras duras vindas de um cientista desse calibre…
5 – A Imunologia do Bom Senso – O sumário deste argumento é: “Quando as primeiras estatísticas da China e mais tarde dados mundiais mostraram a mesma tendência, ou seja, quase nenhuma criança com menos de dez anos ficou doente, todos deveriam ter argumentado que as crianças claramente precisam ser imunes. Para todas as outras doenças que não atingem um determinado grupo de pessoas, chegamos à conclusão de que esse grupo é imune. Quando as pessoas estão morrendo tristemente em um lar de idosos, mas no mesmo lugar que outros aposentados com os mesmos fatores de risco acabam saindo totalmente ilesos, devemos também concluir que eles estavam presumivelmente imunes.“. Em síntese, segundo o autor, faltou bom senso, ou melhor, quando o bom senso começou a ser usado, já havia em marcha uma narrativa difícil de deter.
Tem uma passagem realmente gostosa de ler: “O termo ‘portadores silenciosos’ foi criado e então alegou-se que alguém poderia estar doente sem apresentar sintomas. Não seria fantástico! Se esse princípio a partir de agora se tornar comum no campo da medicina, as seguradoras de saúde vão ter um baita problema, mas também professores, cujos alunos poderiam agora afirmar ter qualquer doença para deixar de frequentar a escola; afinal, no fim das contas você não precisa ter mais sintomas pra estar doente“.
6 – O problema da imunidade ao Corona – Como é que o imunologista deveria ver o longo tempo de incubação?: “O que tudo isso significa na vida real? O tempo extremamente longo de incubação de dois a 14 dias – e relatórios de 22 a 27 dias – devem despertar qualquer imunologista. Além da alegação de que a maioria dos pacientes não mais secretaria o vírus após cinco dias. Por sua vez, ambas as [alegações] levam à conclusão de que existe – mais ou menos no fundo – uma imunidade básica que contorce os eventos, em comparação com um ciclo esperado [de uma infecção viral]“
Se isso é verdade, ele quer dizer que levaria a “um longo período de incubação seguido de rápida imunidade.”. Aqui o autor faz uma sensata associação dos efeitos da doença não apenas à idade da pessoa mas à qualidade da nutrição; infere que dependendo da condição social, a pessoa poderia estar mais propensa a casos severos de Sars-Cov-2, ou Covid-19, por desnutrição, etc.
O autor conclui dizendo que haverá sim, novos casos de Covid no próximo inverno (hemisfério norte): “O vírus se foi por enquanto. Provavelmente voltará no inverno, mas não será uma segunda onda, mas apenas um resfriado. As pessoas jovens e saudáveis que atualmente andam com uma máscara no rosto estariam melhor usando um capacete, porque o risco de algo cair em sua cabeça é maior do que o risco de ter um caso sério de Covid-19.“
Pra concluir, outra pérola que merece reflexão: “No caminho de volta à normalidade, seria muito bom para nós, cidadãos, se alguns Alarmistas pedissem desculpas…“… “Também a mídia continuava mostrando vídeos alarmistas de hospitais italianos para ilustrar uma situação que, como tal, não existia. Todos os políticos pedindo “teste, teste, teste”, mesmo sem saber o que o teste realmente mede.”.
São tristes dias em que meia dúzia de burocratas da OMS, com meia dúzia de caciques do PC Chinês e uma mídia cúmplice dobram a aposta, em cima da população, sem ter cara de voltar no blefe que fizeram, e não tem cara pra desfazer.