Sinecuras

www.unsplash.com

Sinecura significa “Sem Cuidado” (do latim – sine, “sem” e cura, “cuidado”), de acordo com a Wikipédia. O nome era dado a um emprego ou função que era só uma desculpa pro sujeito “mamar” em alguma teta. Estatal ou não, sem trabalhar – ou seja, receba, sem qualquer cuidado, pois você não tem responsabilidade alguma. Só recebe.

O Brasil não inventou a sinecura. Na Inglaterra dos séculos XVI ao XIX, as sinecuras eram formas de reconhecimento dos reis aos seus súditos fieis, por conta de algo que tivessem feito (merecida ou imaginariamente). A Roma antiga, onde o termo se originou, não foi nem de longe a inventora da prática, embora tenha tornado o termo famoso. E lá as sinecuras eram, pelo menos, entendidas pelo que realmente eram – benesses com o dinheiro alheio.

A famosa Companhia das Índias Orientais, ou “John Company”, na gíria da época, era uma empresa privada com características e poder muito parecidos ao de alguns países. A John Company foi mais rica e mais poderosa do que a maioria dos reinos europeus da época, e também distribuía suas sinecuras.

A prática, portanto, não nasceu em terras e reinos católicos, embora tenham se tornado uma forma de arte, quando os países protestantes da Europa, e os EUA, já tinham praticamente banido a prática, em fins do Séc XIX. Claro que banir é um termo forte, já que em pleno Séc. XX vimos a repetição disso tanto na Inglaterra, Holanda, EUA e outros locais.

O costume chegou ao Brasil com as caravelas de Cabral. Pero Vaz de Caminha aproveita a famosa cartinha a El Rey para solicitar uma sinecurinha pra um cunhado, se não me falha a memória… e daí viemos: de sinecura em sinecura.

A modernidade da Sinecura

O Estado moderno e sua impessoalidade tende a coibir as sinecuras, sob a alegação de que cada trabalho merece sua paga, e não pode existir paga sem trabalho que o justifique. Isso, longe de significar o fim da prática, implicou em sua sofisticação.

Hitler, na Alemanha Nazista, formou um time de “Sinecuristas” de alto coturno, composto de empresas como Basf, Bayer, Heinkel, etc, que ajudaram no esforço de guerra alemão em troca de uma sinecura chamada monopólio. Aliás, essa é, na minha opinião, a única diferença entre um estado comunista e um estado fascista- a existência desses monopólios ou oligopólios, no fascismo, contra um estado todo-provedor e empreendedor, no comunismo “raiz”.

Lula, e seu partido, fizeram algo semelhante, muito mais recentemente, com a política dos “campeões nacionais”, que elegeu empresas para serem vitoriosas no mercado, como JBS, Odebrecht, etc. A troca parece funcionar bem, já que a JBS, por exemplo, acabou se tornando mesmo um campeão nacional, e mundial até, com seu gigantesco faturamento e sua competência na produção de proteína animal.

Nada disso, porém, parece ajudar o país. Em troca de qualquer sinecura, de um empreguinho estilo “rachadinha” num gabinete de vereador no interior até o recebimento de zilhões em empréstimos do BNDES a juros baixos e à custa de deixar outro zilhão de empreendedores sem financiamento (1), o mercado se desalinha e acaba empobrecendo como um todo. Mas esse não foi nem o pior exemplo de sinecura recente. Pior do que financiar um empreendedor nacional é financiar um estado (no mais das vezes totalitário ou quase) com esse mesmo dinheiro da população, sob a certeza de que o pagamento não viria – e na época, não importava se viria ou não.

A Negociata – a Sinecura Nossa de Cada Dia

Assim como a cerveja da 6a. feira, com aquele torresminho, e um pagode, o desejo pela sinecura do dia-a-dia está enraizada aqui, e precisa ser extirpada a golpes de facão.

“Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Barão de Itararé

Apparício Torelly, o Barão de Itararé citado acima, era um humorista e escritor do início do século, famoso por seu humor ácido e tiradas geniais. entre outras, disse pérolas que se confirmam a cada dia, piada ou não: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.” ou a célebre “O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.” entre outras dezenas de frases geniais.

A negociata é a sinecura com meia contrapartida: não é totalmente “sine” (sem), e dá algo de “cura” (cuidado), mas normalmente dá mais lucro. É o outro lado da alma brasileira – se não dá pra receber sem fazer absolutamente nada, “vende-se” algo por um preço um tantinho maior, pagando algo pra cada agente do processo, e até se entrega algo, a depender do grau de vigilância da sociedade. Os hospitais de campanha da Covid 19 me cheiram muito a essa classe de sine-quase-cura: contrato na crise, sem licitação, pago milhões, não uso, descomissiono assim que posso, todo mundo fica com a impressão de que algo foi feito, e nada.

Durante a tragédia em Nova Friburgo e região, em 2011, se não me falha a memória, prefeitos receberam do Governo Federal milhões para aliviar o sofrimento das vítimas. Os prefeitos (mais de um) são acusados de embolsar a grana toda – uns R$ 300 milhões e não fazer nada. Se embolsaram, não sei. O que sei é que qualquer chuvinha maior no centro da cidade provocava alagamentos, por conta do assoreamento das manilhas de águas pluviais.

Eu com isso…

A tendência, como o saudoso Barão já falava, é a de que nós nos importemos somente quando não somos nós o objeto de tão grande benesse. Se estou no meio, às favas a moral. Vimos corruptos, há alguns anos, agradecendo a DEUS (Aiaiai!) pela propina recebida, que era “desejo divino”. Como cristão evangélico, minha vontade é a de que a teologia da “queda da Graça” fosse verdadeira, e esses aí fossem do céu direto pro inferno. Não posso arguir isso…

O fato é que requer grandeza moral para não aceitar nem propor sinecuras ou negociatas. O ser humano em geral, e o brasileiro em particular, são mestres em arrumar desculpas e explicações para seus malfeitos. Ora é “porque todo mundo faz mesmo”, ora é “porque preciso”, ou ainda porque “é por uma boa causa”.

Grandeza moral se aprende no berço, com pais igualmente morais, ou mesmo que imorais, que reconheçam isso e incutam nos filhos o desejo de que eles não sejam iguais aos próprios pais. Levar (ainda que arrastados) para a igreja e escola ajuda muito. Segregar de amizades ruins era a marca do pai de antigamente; não é mais. Grandeza moral, porém, é algo que nem sempre os filhos aprendem. Para isso, infelizmente, as consequências sociais deveriam ser duras e imediatas. Não o são: hoje a leniência com o “pobre do menino de 16 anos que matou 4” tem sido a marca de uma sociedade que no fundo ama a sinecura, o mal-feito, a negociata e deseja que as punições não ocorram. Algo diabólico.

Estamos longe de extirpar o mal e as sinecuras permanecem nos mesmos gabinetes legislativos, nas mesmas varas cíveis e criminais, nas mesmas escolas e universidades, no bar da esquina, na fila do ônibus, na repartição pública, e por aí vai.

Educação? Leis duras? Fortalecimento da família? Igrejas e Templos? Tudo isso junto ajuda. Temos uma luz no fim do túnel? Não sei – acho que não pois “o mundo jaz no maligno”. Tenho esperança? Poucas. Vamos resolver o problema? Não creio. Pessimista? Muito.

Eu creio em Deus, porém, e sei que Ele é quem detém o controle da humanidade, a quem dá livre-arbítrio, mas que também teu o Seu. Esperemos pelo melhor, desconfiando, mas esperemos.

(1) A injustiça desta prática é menos aparente, pois parece que o governo simplesmente tem o dinheiro e empresta a quem quer – como devedor líquido e pagador de juros, o dinheiro que vai para o BNDES e que acabou alimentando os campeões nacionais acabou sendo financiado a juros de mercado, em títulos da dívida, a custo significativamente maior. Sou contra a existência de bancos estatais de qualquer natureza, inclusive de fomento, mas entendo o xodó que o mercado tenha por eles, em um país de juros altos e crédito difícil.

Salmos da Modernidade – Salmo 12

www.unsplash.com

Esse é em Ré Menor, moçada… Feliz 2022!

Socorro, acode, Senhor... 
Tem malandro demais nesse mundo!
Ninguém faz mais o que presta,
Só tem mentiroso, ladrão, vagabundo...

Se o cara abre a boca, ja tá mentindo,
Corta fora o beiço dos caras, Senhor!
Cala a boca de toda essa corja, é o que resta
Essa gente que engana e não tem temor!

Quem vai pelo mundo criando tristeza
E faz da vida do pobre um horror
Pode crer que não vai demorar
Pra Deus dar um fim a você, malfeitor.

Deus vai nos livrar de você, malandragem, 
Mas nós sabemos que tem muita gente
Que adora enganar, e ser enganado
Dá ouvidos a promessa, de político que mente.

Socorro, acode Senhor...

Versão em Prosa – pra parte do Jogral:

Socorro, acode, Senhor…Tem malandro demais nesse mundo! Todo mundo só quer se dar bem. Ninguém mais liga pra fazer o que presta. 
Só tem mentiroso (tanto no tempo de Davi como hoje! – Nota do Adaptador). Abriu a boca, pode contar que tá enrolando, puxando saco, mentindo. 
Pode parecer cruel, mas que Deus corte fora a língua de quem é assim – pode até ser figurativamente…
Esses caras vão pelo mundo achando que engalam todo mundo na lábia, e falam abertamente: quem é que manda na minha boca? 
O povo mau vai pelo mundo fazendo o pobre sofrer, mas Deus falou que vai dar um fim nesse estado de coisa. Deus só fala coisa boa, honesta que nem ouro e prata puros. Ele falou, não tem erro!
Pois é… a gente sabe que Deus vai tomar conta de nós; e vai nos livrar da malandragem pra sempre. 
Mas é claro que tem gente ruim em todo lado, e que no fim das contas tem um monte de gente que acha bacana gente que fala bonito, promete tudo, não mede palavras pra agradar, mesmo que no fundo só queira uns votos… ou uma grana.

Nota: a brincadeira com o “samba enredo” e o jogral é pra lembrar que Salmos, na verdade, significam “cânticos” de louvor, e eram coletâneas de músicas que provavelmente eram entoadas em cultos a Deus… e ainda são! O Samba enredo é pra curtição mesmo… o jogral é pra nós imaginarmos a criançada da igreja falando, no intervalo das estrofes, ao som de uma cuíca, baixinho, ao fundo…

Os meus desejos para 2022

www.unsplash.com

“Deus abençoe” tem sido o meu “motto” quando falo com pessoas, às vezes até com quem não tenho muita intimidade. Procuro pensar no que vou falar, e falar porque realmente desejo a bênção de Deus sobre a pessoa.

De uma forma geral, mesmo que é agnóstico não se importa com meus bons desejos. É o normal. Se alguém me diz “Nossa Senhora te abençoe”, eu, que sou evangélico, a despeito de fã de carteirinha de Maria, a mãe terrena de Jesus, não acredito que ela vá me abençoar, pois está com Deus na Sua Glória. Mas e daí? Importa para mim o bom desejo do meu amigo “desejador”.

Quando um amigo espiritualista me deseja “bons fluidos”, ou coisa parecida, não fico zangado. Sei o que ele quer dizer com isso e aceito de bom grado o que há no coração dessa pessoa. Não me incomoda; ao contrário, me dá alegria.

Por outro lado, volta e meia recebo um “what???” ou “o que é isso???” nas redes sociais quando desejo a alguém meus “God Bless”, “Dio vi benedica”, ou “Deus abençoe”. A razão? Sei lá. Talvez a rejeição pura e simples a Deus, por implicância, ou por achar que se desejo bons votos em nome do meu Deus, claramente sou um conservador, e provavelmente fascista, terraplanista, bolsonazista, e por aí vai. Qual o que…

O ano de 2022 promete. Promete coisas más, eu creio, pois quando há eleição num ano, sempre há a maldade da manipulação da nossa sociedade em prol de uma ou outra visão de mundo. 2022 promete trazer coisas boas, também, como é comum. Deus sempre manda nossa quota de sanidade, pela via de coisas boas que Ele tem prazer de lançar sobre a humanidade, apesar de nós. Mas o vidente sempre acerta no “artista famoso que vai partir”, a “enchente que vai inundar o sudeste”, ou mesmo a “guerra que vai estourar no oriente médio… em algum lugar”. Ninguém dá bola. Isso também é praxe.

O que não é praxe neste ano é a culminação de uma cisão social tremenda, desnecessária e que só serve a político e à política. Estamos escravos do nosso sistema político, que concentra poder nas mãos de quem não deveria te-lo, e mantém a renovação política longe da sua plenitude. Mas também será um ano em que esse mesmo Deus, Aquele do “te abençoe”, abençoará de fato esta nossa sagrada terrinha. Poucas vezes tenho visto tanta gente engajada em tentar renovar a política. Gente boa, de fato, se mobilizando para se candidatar e tentar mudar as coisas. Isso vai mexer no cenário, e de fato, só precisamos de uma ligeira maioria no Senado para que a população reconquiste um módico de controle social sobre a política. Para ver o nível de corrupção que inunda as casas legislativas.

Deus vai nos abençoar porque é Deus. Não porque nós merecemos qualquer coisa. Mas essa terra tem sido vítima, por tempo demais, de gente que tem o coração voltado só para seus interesses, e seus grupos de pressão. Ninguém (ou quase ninguém) parece capaz de em determinado momento parar, refletir e pensar “minha posição é ruim para o Brasil”, ou “minha posição tornará gente infeliz”.

Bom, quem é capaz de criar e viver de uma indústria tão perversa como a da seca no nordeste, do tóxico, do tráfico de seres humanos ou de influência no legislativo, é capaz de tudo. Mas para esses também existe um Deus todo-poderoso. E a eles também eu desejo que “Deus os abençoe” – até porque a bênção de Deus assume tantas facetas, que em alguns casos pode significar a frustração de todos os planos de quem meu pedido de bênção é estendido.

Portanto, Deus te abençoe, Bolsonaro (e que você pare de criar encrenca, mesmo com boas intenções). Deus te abençoe Lula (e que você tenha um encontro com Jesus e desista de seus maus caminhos). Deus os abençoe, Ministros do STF (e que vocês passem a julgar com equidade e não com suas agendas políticas). Deus te abençoe, José Dirceu (e que você entenda que Deus existe, e que cobrará de você contas pelas suas maldades contra o país). Deus os abençoe, Macedo, Valdomiro e tantos outros mercadores da fé (e que vocês reconheçam que o que fazem é contrário à Palavra de Deus, em muitos e muitos casos).

Por fim, Deus te abençoe, eu mesmo, e que aprenda a lidar com as dificuldades em mais otimismo e certeza de que há um futuro sempre melhor, não importando a dor do passado; as felicidades do presente, e principalmente da vida Eterna com Deus, são e serão recompensas suficientes por tudo.

Feliz 2022, amigos, Feliz 2022, Brasil, e que Deus nos abençoe, o que quer que isso signifique para cada um de nós!

Guerrilha

www.unsplash.com

A primeira menção do termo Guerrilla (Pequena Guerra) aconteceu quando os espanhóis, por volta de 1808, começaram a atacar o exército invasor de Napoleão, durante as chamadas “Guerras Napoleônicas”, enquanto nosso então soberano, Dom João VI, andava comendo coxinhas de frango nas ruas do Rio de Janeiro, acompanhado da mal-educada Carlota Joaquina, outro tipo de guerrilheira espanhola, exportada para a corte portuguesa de então.

Guerrilha passou a ser um termo militar usado para definir pequenos grupos de ataque, ou na definição abaixo:

Trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não empregando contra ele senão meios extremamente limitados

Beaufré, André, in Introdução à Estratégia

Guerrilha contra Nós

Ontem (28/12/2021) escrevi um meio desabafo a que denominei “Rolo Compressor”, ao qual estaríamos sendo submetidos. Uma minoria, com poderes quase que ditatoriais, e que nós, uma maioria conservadora e de vida pacata, não conseguíamos suplantar.

Hoje me ocorreu que não é bem um rolo compressor, mas uma guerrilha, talvez. A observação cautelosa da história dos últimos 150, 200 anos, dá conta de que há uma guerrilha em ação, na qual, de fato, um adversário muito mais forte acaba sendo dominado pela via de ações com meios extremamente limitados, mas efetivos.

Terrorismo

Neste sentido, terrorismo acaba sendo uma espécie de guerra de guerrilhas, pelo uso de força sub-reptícia contra combatentes, e não combatentes, ou seja, contra populações desarmadas, por meios extremamente violentos, cujo objetivo é deixar o adversário de boca aberta, sem reação, baratinado com a capacidade para o mal, empregado contra ele.

O 11 de Setembro, de fato, foi um grande sucesso “militar”, guerrilheiro, se considerarmos o efeito e o custo absurdo em vigilância e segurança. Com o custo a todos nós imposto por essa ação única e ousada, poderíamos ter transformado todo o oriente médio, Irã e Afeganistão, em países de primeiríssimo mundo, com ruas calçadas de prata e calçadas de marfim.

A Guerrilha entre Nós

A guerrilha tradicional, de forma geral, e o terrorismo em particular, têm um defeito de origem: seu potencial de aplicação continuada. Não dá para empregar ataque atrás de ataque impunemente. Depois do 11 de setembro houve o Metrô de Madrid e mais outros episódios de maior ou menor impacto, mas o grande terremoto e comoção gerados pelas Torres Gêmeas não seria repetido com igual eficácia.

Há, porém, a guerrilha no estilo Rolo Compressor, que continua firme e forte, e que nos mantém a todos reféns de várias correntes de pensamento, desde a esquerda internacional, que preconiza a “Pátria Grande” latino-americana, até a dominação cultural de organizações como ONU, OMC e grandes corporações. Esse tipo de guerrilha pode ser usada continuamente, e tem sido usada assim, contra tudo e contra todos os que se opõem ao seus objetivos.

No caso do terror internacional, o objetivo declarado, a Jihad, é uma iniciativa de uns tantos covardes radicalizados, que são incapazes de conquistar corações e mentes pela apologia e discussão ampla, irrestrita, de ideias e ideais. São covardes porque não possuindo meios de convencimento, jogam bombas; inexistindo razão para dar-lhes amparo, recorrem aos aviões pilotados por radicais. Quanto ao terrorismo, sabemos o que ele quer, e de forma mais ou menos precisa, quem são.

No caso da guerrilha intelectual marxista, o “inimigo” é difuso, mas mais capacitado a conquistar incautos pela pregação de suas doutrinas, ainda que igualmente incapazes de debater de forma ampla, aberta, irrestrita, e sem berrar ou recorrer a mentiras. Vemos uma erosão da vida ocidental que ocorre entre os 16 e os 30 e poucos anos, pela adesão a um modo de vida descompromissado com a realidade do emprego e dos boletos para pagar. Após os 30 e poucos, o sujeito começa a acordar para o fato de que não há solidez em qualquer argumento que dê a um estado-deus a primazia sobre a vida de populações inteiras.

De Paulo Francis a Thomas Sowell, de José Guilherme Merchior a Carlos Lacerda, exemplos abundam de gente que, por pensar, simplesmente, deixaram os “tenets” de esquerda, e acabaram virando grandes anti-esquerdistas. Este fato, aliás, da visceralidade com que antigos esquerdistas se voltam contra postulados de esquerda, diz muito sobre o que viram, e como acabaram por entender o que antes acreditavam, e do que se livraram.

Perguntado, Paulo Francis não hesitou em dizer a razão pela qual tinha se desiludido e deixado a esquerda: “Eu cresci“. Amadurecimento gera uma espécie de conservadorismo que nada mais é do que deixar de lado as coisas de menino, nos dizeres do Apóstolo Paulo:

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.

1a. Epístola de Paulo aos Coríntios 13:11 

Há um muro no final da vida de cada um de nós. Quando somos jovens, o muro está tão longe, aparentemente, que não o vemos, e portanto, não nos importamos. A vida, claramente, é infinita. É a beleza da experimentação, da descoberta, das realizações e da ousadia. Não é ruim em si, mas não sei se deve ser estimulado – hormônios já fazem isso bastante bem. Na medida em que envelhecemos, acabamos vendo o muro cada dia mais próximo, e nos damos conta de que mais cedo ou mais tarde vamos dar de cara nele. E começamos a pensar na “Vida após o Muro”. Nos tornamos mais reflexivos e mais cautelosos. Isso também não é ruim em si, mas também não precisa ser estimulado, pois que a falta de hormônios, ou sua substituição por outros, já cumpre o papel.

Mas a guerrilha segue e existe, e certamente não é liderada por menores (em idade cronológica). Se não o é, então quem a lidera? São gente mais próxima do tal Muro do que seus liderados. Deveriam, portanto, ter deixado a sabedoria e seus hormônios, ou a falta deles, falar em seus corações. Deveriam ter-se dado à reflexão e parado de encher o saco de todas as novas gerações.

Então quem são esses guerrilheiros, a dita “Esquerda”? Como cristão, tendo a acreditar que, sabedores ou não, seguem uma cartilha ditava pelo capeta, o capiroto, o coisa-ruim, de destruição de todos os valores implantados com sangue, suor, erros e lágrimas, ao longo de 20 séculos de cristianismo, com auxílio luxuoso do judaísmo (chamar de auxílio é reducionismo, claro). Boa parte sim, cônscios de que são “não-inocentes úteis” nas mãos do inimigo, mas boa parte tão somente não tendo amadurecido a ponto de enxergar que os ideais, à primeira vista tão nobres, de repartição de renda, igualdade, e planejamento central, não funcionam, e nunca funcionarão.

Graças a Deus, como dizia Paulo Francis,

A melhor propaganda anti-comunista é deixar um comunista falar.

Paulo Francis

Deixe-o falar, não o impeça. Ouça até ele parar com a ladainha pré-ordenada, e daí comece a fazer perguntas simples sobre alguns aspectos e peça detalhes sobre como tal e tal coisa funcionarão. O sujeito acabará te convencendo, sem querer, de como o que ele defende não tem base na realidade e como nunca funcionou, e nunca funcionará.

Mas isso não impedirá o rolo compressor de seguir compactando e amassando nossa existência, nem a guerrilha lutando pelas mentes e corações dos nossos jovens.

Estratégia

A estratégia de qualquer guerrilha se resume em poucas ações: escolha de um local em forma de gargalo, surpresa, velocidade, violência e retirada rápida. Foi assim com os espanhóis cortando as linhas de suprimento dos exércitos de Napoleão, e que enfraqueceu estômagos e pernas dos soldados, permitindo o então Visconde de Wellington derrotá-los dentro de Portugal. Foi assim no 11 de setembro, quando uns 10 caras deixaram de joelhos a nação mais poderosa da terra.

É assim hoje, e o local em forma de gargalo são as nossas escolas e universidades, é a nossa mídia, é a nossa cultura. Nas instituições de ensino, guerrilheiros bem treinados atacam de forma pontual os “exércitos” de toda a nação, um pelotão/turma por vez; na mídia, meio dúzia de guerrilheiros bem falantes, dispostos a defender um ideal, atacam de uma posição de vantagem tática (uma câmera e um microfone) milhões de incautos ao mesmo tempo; na cultura, umas poucas centenas de guerrilheiros talentosos e charmosos atacam toda uma população com frases de efeito, palavras bonitas douradas por fora com desejos elevados. E está feita a mágica da guerrilha intelectual moderna. Poucos dominam o cenário mundial, enquanto muitíssimos assistem impotentes, ou tão ocupados em pagar as contas que não têm como fazer nada.

Por fim, não nos esqueçamos de um fator que um ser humano bem formado não costuma lançar mão: a mentira, o engano, a meia-verdade, a violência. Se você é guerrilheiro, não pode ter pudor de atacar a dona do mercadinho, a senhorinha que vende flores no térreo da Torre, ou o pai de família que saiu pra trabalhar e pegou um voo fatídico. Você tem que encarar essas mortes como “danos colaterais”, para um bem maior, e seguir em frente. Minta, engane, falseie estatísticas, escolha com carinho seus entrevistados para falar o que você quer, coloque pílulas de mentira em livros didáticos. Reescreva a história para contar o que você quer; enfim, lance mão de qualquer argumento, mas principalmente, não deixe o outro falar. Sufoque-o com um palavrório sem fim. Tenha um bom fôlego de modo que não deixe o outro argumentar. E se o outro conseguir te pedir detalhes do que você pensa, insista que o tempo acabou e que você precisa chamar os comerciais, ou que a aula está no fim.

Nossa Guerrilha

Temos uma guerrilha para chamar de nossa? Sim, e ela tem milhares de anos: a família. É nela que diariamente os guerrilheiros-pais metem na cabeça dos filhos, dia após dia, coisas “subversivas” como falar a verdade, usar a lógica, não gastar mais do que ganha, respeitar os mais velhos, e por aí vai.

Temos outra tática boa – igrejas. Nelas são completados os ensinos de virtude e frutos do espírito – amor, paz, benignidade, bondade, mansidão, domínio próprio, e coisas contra as quais não havia lei – hoje estão criando.

Uma outra tática, o envelhecimento natural, parece estar ocorrendo sempre, e sobre ela não temos nada a melhorar ou mudar, exceto polir a existência de forma a tornar os anos adicionais de cada cidadão nos mais produtivos de sua vida, e não achar que a vida acabou porque a aposentadoria chegou.

O muro continua lá, o além-muro existe e pode ser uma bênção. Enquanto não batermos no muro, poderemos ajudar outros a pelo menos enxergá-lo. Será nossa maior guerrilha. Sempre.

Rolo Compressor

www.unsplash.com

Isso aí abaixo é um desabafo.

Não tenho dúvida de que vivemos debaixo de um rolo compressor, em nossa sociedade ocidental. Viramos o patinho feio de tudo o que é aspecto da sociedade moderna. Temos que pedir desculpas por tudo, a quem quer que seja, por qualquer coisa que tenha acontecido há 10 ou 200 anos atrás. Não temos escolha. Temos que ajoelhar quando um cabeludo, péssimo quarterback de time da NFL nos manda ajoelhar.

Temos que achar bacana coisas como Planed Parenthood (organização pró-aborto nos EUA), Femen, Movimento LGBTQ+, ESG ou qualquer outra moda que inventem e que possa ser colocada debaixo do manto da santidade politicamente correta. Dava cansaço. Agora dá irritação. Espero que não dê em banho de sangue.

Por outro lado temos que nos envergonhar por coisas que eram sinônimo de moral e bons costumes, como família nuclear, cis-genderismo, apreço à ideais democráticos, como liberdade de expressão e livre trânsito de ideias, livre trânsito de produtos, liberdade de cátedra, e outras abominações.

Esse é um rolo compressor que às vezes vem do alto de uma empresa mundial qualquer, por exemplo, informando que temos que fazer cursos de integração e reaprendizado LGBTQ+, ou “descolonialismo”. De repente vem um CEO ou ministro de estado dizendo que todo mundo tem que aderir a um determinado tipo de palavreado, e aceitar passivamente coisas como linguagem “neutre”.

Já não se pode discordar. Não digo atacar, vociferar ou discriminar. Digo apenas discordar, polidamente. Acreditar diferentemente. Ser independente nas ideias. Nada disso pode mais. Até palavras que tínhamos como tendo significado consagrado, estão sendo ressignificadas. Aliás, até a Bíblia tem tido defensores de sua reinterpretação e ressignificação. Com muito apoio inclusive dentro de comunidades cristãs “mainstream”.

Não existe mais nenhum ponto imutável de apoio. Nada mais é firme e constante. Nenhuma ideia ou opinião pode ser considerada não-efêmera, e somos constantemente levados a acreditar que algo que sempre tivemos por fundamento, como falar a verdade, examinar e pensar sobre algo antes de verbalizar, ou mesmo a forma como educar nossos filhos, já não vale mais.

Um novo capítulo está sendo aberto nessa sanha de compressão social: a prevalência do estado sobre os pais, no que concerne à criação e saúde dos filhos. Mais recentemente, estamos vendo-se perder a liberdade de escolha que temos que ter a responsabilidade de ter, sobre o destino dos nossos pequenos.

O rolo compressor me obriga a pensar que meu filho de 5 anos pode escolher perfeitamente o sexo que terá. Mas não pode ser responsabilizado, se matar alguém aos 16 anos. Ele pode decidir se vacinar por conta própria, mas não tem condição de dirigir aos 15 anos.

O rolo compressor está vindo numa velocidade cada vez maior. Não dá para saber (se você nunca leu Apocalipse, claro) sua origem e interesses. Manifestamente, o cristianismo e os valores da civilização ocidental são seu alvo. Nossos valores familiares são seu prato, a ser devorado e transformado em fezes.

Se você se sente debaixo de um rolo compressor social, cujos motoristas são uns poucos gatos pingados com excessivo poder – sabe-se lá quem o deu a eles – sinta-se abraçado. Um abraço bem forte, de quem está sendo esmagado junto. Aliás, estaremos cada vez mais juntos, até virarmos pasta de gente.

Hedonismo, Dor e Liberdade

www.unsplash.com

Sem mais preâmbulos, e indo direto ao que quero dizer…

Hedonismo

A Wikipédia traz a definição clássica de Hedonismo como sendo “aumentar o prazer e diminuir a dor”, que deriva da escola filosófica clássica iniciada por Aristipo de Cirene. Esse sujeito achava que não havia nada mais nobre do que ter prazer, e evitar a dor. Criou todo um conceito filosófico para justificar sua teoria. Deve ter sido imensamente popular… Bom, hoje seria.

Dor

Sobre a dor, é um fato da vida, e decorre de algo que nos chateia, nos incomoda, nos faz mal, ao corpo ou à alma. É algo que o ser humano foi criado para evitar. É algo que ninguém deseja para si próprio, em sã consciência.

Liberdade

Liberdade é um conceito extremamente complexo, e que ultimamente tem sido vendido como “não prestar contas a ninguém”, “não ter limites aparentes”, ou ainda “capacidade de tomar as próprias decisões”, ou mais objetivamente (creio), independência, autonomia e autodeterminação (como a mesma Wikipédia conceitua).

E daí? Onde quero chegar?

Não sou filósofo nem psicólogo. Lido com finanças e números a vida toda. No entanto, vejo uma relação umbilical entre Liberdade, Hedonismo e Dor. Se eu sou livre, mas pratico hedonismo, ou seja, só penso nos meus próprios prazeres, chegará o momento em que física e mentalmente estarei impedido de exercer liberdade. Seja por falta de condicionamento mínimo para caminhar num parque, ou sentar quieto, meditar, orar ou simplesmente prestar atenção em algo, perderei a liberdade pela via dos efeitos do hedonismo.

Por outro lado, se eu pratico exercício, a disciplina do alimento, do estudo, da concentração, eu necessariamente estou “me negando a mim mesmo” algo, em algum momento. Isso gera dor, seja física seja mental. A dor de cabeça do jejum tem a mesma natureza fundamental da dor muscular do exercício ou a dor de alma das horas passadas em meditação. Elas diminuem meu prazer, claramente. Eu, pelo menos, tenho zero prazer em caminhar ou correr, levantar peso ou mesmo orar – é uma disciplina que precisa ser exercitada, que gera dor antes de gerar prazer.

Se eu gero dor física ou mental/espiritual, perco algo de minha liberdade. Ou seja, no momento da dor me privo da liberdade, por exemplo, do descanso, ou do relax de uma boa comédia na TV.

Paradoxo da Liberdade

A liberdade, portanto, parece ser, e é, um grande paradoxo. Desde as definições sobre o “preço da liberdade” (eterna vigilância) até o conceito bíblico, a maravilhosa passagem em que Jesus nos informa que “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36), vemos uma liberdade que antes de ser um “estado”, é uma “ação” – estar livre, pois que perdê-la parece bem mais fácil do que conquistá-la.

Eu, por exemplo, perdi minha liberdade quando passei dos 120Kg. Não apenas isso, quase perdi meu fígado e minha vida para a esteatose (e depois, se deixasse minha vida “livre”, cirrose). Tive que acabar com minha liberdade de comer o que bem entendia e beber vinho mais liberalmente, e me submeter a um tratamento radical – uma cirurgia que me cortou 90% do estômago, e que até agora me tira a vontade de sequer tocar em comida (uma paixão).

Perdi minha liberdade “sendo livre”. Que paradoxo. Perdi a liberdade justamente por fazer tudo o que queria fazer com minha barriga, sem pensar em mais nada. Quão livre eu realmente era? Esqueci a parte da “eterna vigilância”. Vigiar não é nada bom, e tira o prazer. Vigias de bancos, de presídios, ou de acampamentos militares sabem da importância de uma boa vigilância para manter a liberdade – e o quão chato é o processo… a vontade de cair no sono e atender os desejos da “carne” podem ser o estopim da perda total da liberdade, e até da vida, em muitos casos.

Portanto, ser livre implica em boa medida em matar o hedonismo.

Vida Moderna

O homem moderno foi levado ao hedonismo extremo por uma vida boa, conquistada pra nós nas trincheiras das grandes guerras, e pelos nosso políticos e estadistas menos populares, que nos exigiram sangue, suor, lágrimas, que nos instaram, a cada brasileiro, a “cumprir o seu dever” como o Brasil esperava. A dor de uns comprou a liberdade e o hedonismo de todos, ou quase todos.

Onde isso nos está levando? Pensando numa camada ainda mais alta na Escala de Necessidades de Maslow, criamos um nível superior, que poderíamos chamar de “Hedonismo Crônico”. É um estado em que temos o “direito” ao hedonismo, sem prestar contas a ninguém. A vida moderna nos chama ao direito, e nos quer afastar do dever.

A Equação da Vida Moderna

Vida Moderna = Hedonismo.

Direito = Prazer; Dever = Dor.

Eu mesmo

Pragmatismo

O resultado desse hedonismo crônico será fatalmente a perda da liberdade. E a perda da liberdade virá pela falta de um mínimo de pragmatismo. Por razões que só uma sociedade majoritariamente hedonista pode compreender, já há algumas décadas temos trocado o necessário pelo desejado, o correto pelo que nos faz sentir bem, o difícil e certo pelo errado e fácil.

Tem sido assim, por exemplo, com a teimosia da ideologia de gênero, que nos quer fazer esquecer o sexo biológico como não importante, a despeito da inescapável impressão digital biológica, do XX e XY no nosso corpo.

Tem sido assim também com relação às ideias de que temos direito a algo pelo qual não trabalhamos e não conquistamos; direitos que “nos são devidos” mas que alguém terá que pagar por eles. Tem sido assim com relação ao “capitalismo malvadão” e sua geração de riqueza e o consumo/confisco dessa riqueza por governantes que nunca descontaram uma duplicata ou pagaram uma folha de salários na vida.

Tem sido assim, mais recentemente, com física e matemática, cujos rígidos padrões lógicos não são “aceitos” por alguns, que adorariam que 2 + 2 fosse igual a 22… Tem um vídeo excelente sobre isso… procurem no YouTube.

Enfim, tem sido assim todas as vezes que a realidade impõe à sociedade algo duro de engolir. Qual avestruz, muitos escondem a cabeça na terra na vã tentativa de que o problema desapareça, independentemente do fato de que 2 + 2 = 4, independentemente de como me sinto com relação a isso.

Nossa sociedade perdeu a capacidade de ser pragmática. Foi o realismo, o pragmatismo, segundo Viktor Frankl, que permitiu a muitos prisioneiros de campos de concentração sobreviverem às terríveis condições impostas pelos nazistas. Os otimistas morreram logo; os pessimistas, logo depois. Acho que os hedonistas morreram antes de qualquer grupo desses.

A vida não coaduna com o hedonismo puro e simples. A liberdade não lhe paga homenagem.

Decerto, em mais 20 anos esse artigo mal escrito poderá fazer sentido para alguém que, depois de cismar com igualdade de sexos, ou sua inexistência, ou políticas sociais infinitas, tenha perdido a liberdade ou encontre-se na mais miserável existência.

Acordar antes do problema é melhor do que depois, ou não acordar mais.

Commodities e Crescimento Mundial Pós-Pandemia

www.unsplash.com

Me caiu às mãos um artigo da Bloomberg, EUA, que traça linhas muito interessantes sobre o que afetará, de fato, a economia mundial pós-pandemia (se Deus quiser!). Começa dizendo que se a gente pensar somente nos efeitos do estímulo financeiro do FED (Banco Central Norte-Americano), ou na indústria da construção civil chinesa (em palpos de aranha) ou na montanha russa política, dos preços de petróleo da OPEP, precisamos incluir nesta lista o Bolsa Brasil. Sim… o programa de auxílio do governo federal brasileiro, de R$ 400 mensais.

Confesso que tive que ler e reler para entender a ligação entre o Bolsa Brasil e o comportamento das commodities, a Bloomberg começa se perguntando sobre os efeitos que a ruptura da “camisa-de-força” do teto de gastos terá sobre a economia brasileira; faz alusão ao liberal (Chicago Boy) ministro Paulo Guedes e como o compromisso com a austeridade fiscal ficou estilhaçado, após passar mais da metade de seu mandato debaixo da Espada de Damocles da Covid-19 e seus efeitos devastadores. O Real desvalorizado é atribuído à política desleixada, digamos, com o orçamento nacional.

Com trocadilhos engraçadinhos (“Bean There”), a revista realça então a importância capital do Brasil no mercado internacional de Commodities, a começar pela mais óbvia, a Soja:

USDA via Bloomberg

Um trocadilho mais tarde (“Turning Chicken”) e estamos diante de outras duas commodities fundamentais, essas secundárias (soja e milho entram antes nessa folia), carne e frango, e como a queda de poder aquisitivo da população brasileira, aliada à alta dos preços da arroba do boi, acabaram causando uma virada em direção ao frango:

USDA via Bloomberg

O artigo continua a discorrer sobre commodities menos sensacionais no momento, como minério de ferro (o artigo chama a Vale de “estatal”, numa defasagem de informação de alguns anos já) e o café.

O artigo termina fazendo uma observação bem interessante:

Essa é uma aposta ousada. A turbulência fiscal no Brasil e a queda [no valor] da moeda já estão agitando e elevando os mercados de soja, carne bovina e frango. Não se surpreenda se isso repetir o truque do café.

Bloomberg – in https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2021-11-28/brazil-s-anti-poverty-program-will-rock-commodity-markets

Bom, a partir daqui, minhas considerações:

Relevância do Brasil no mercado de Commodities

Em 2010 estive num evento da ACG – Association for Corporate Growth, em Chicago nos EUA. Eu era um dos panelistas dentro de um evento que contou com a presença ilustre do então embaixador do Brasil nos EUA, João Almiro, que discorreu sobre o “Advento das Commodities”, e por que o mundo deveria deixar de considerar o Brasil um país de “produtos primários”. O tamanho da população mundial, e sua necessidade cada vez maior de produtos de várias naturezas, aliado à tecnologia embarcada, enorme, no Agro brasileiro, fazia do Brasil um player importante no mercado mundial, pela via que o mundo havia quase abandonado entre os anos 50 e 60.

Ali, em meio à “onda verde amarela” que Lula tão bem surfou, de bons ventos nos preços das commodities e no então recém descoberto petróleo do pré-sal, o Brasil era a vedete do momento.

Mas não se iluda o respeitável público. O tal governo tratou de criar tantas situações absurdas, inclusive a eleição de Dilma Rousseff, logo depois, que rapidamente o castelo e a empáfia do governo brasileiro de então desmoronaram. Eu ali, chamei Dilma de ex-guerrilheira e, sem saber, predisse que o Brasil não consolidaria sua posição de crescimento constante, por conta justamente da postura política do país. Quase apanhei dos brasileiros ali, que até me chamaram de “fascista” num avant-première do uso do epíteto hoje tão conhecido. Nem liguei, como não ligo até hoje em nadar contra a corrente, se estou seguro do que estou falando (não é sempre que isso ocorre, mas apostar contra a inteligência e o bom senso da esquerda é sempre seguro).

O fato é que após isso, vimos o país desmoronar diante da corrupção e da queda dos preços internacionais de soja, milho, etc. Mas NÃO, e nunca, na representatividade do Agro brasileiro para o mundo. Aprendi ali a respeitar o que tinha sido doutrinado a desprezar – o campo e sua potência. Hoje sabemos que o Brasil não é só Agro-Tech-Pop-Tudo. Agro é força política, que o Brasil sempre teve uma espécie de vergonhazinha de de usar.

Aposta na Alta de Commodities

Ensina Warren Buffet que se você entende e confia nos fundamentos de uma empresa, invista nela e esqueça que a grana existe. Os resultados vão aparecer. A longo prazo, mas vão.

Pois essa é a aposta mais certeira do mundo, exceto se grupos de interesse conseguirem reverter a tendência de crescimento da população nos próximos 30, 40 anos, quando deverá atingir seu máximo, e se manter lá por mais uns, digamos, 100 anos. Exceto se o mundo se tornar predominantemente assexuado, abusar de contraceptivos e aborto, ou se tornar um lugar no qual a população conclua que não vale a pena colocar filho no mundo, commodities tenderão a crescer em termos de preço. Incluo aqui o famigerado petróleo – nem mencionado pela revista.

É de se crer que se cada cidadão do mundo tiver um bocado decente de comida na boca, pelo menos 3 vezes por dia, a população pode parar de crescer agora que o consumo de commodities agrícolas continuará a crescer muito (não fiz conta, não posso afirmar quanto) nos próximos 40 a 50 anos.

Então por que a Demonização?

Se o campo é necessário, se a população cresce, se tem ainda um montão de gente passando fome no mundo, sem casa, sem água, luz, etc, por que países como a França, Alemanha, entre outros, teimam em demonizar nosso Agronegócio? Por que falam como sendo a pior coisa do mundo, quando sabemos que usamos relativamente pouca terra para produzir, e que somos, no final das contas, muito mais eficientes, tanto por questões locais, climáticas, quando de avanço técnico, para colocar um prato de comida na mesa de mais de 1,2 bilhão de pessoas no mundo todos os dias?

A resposta como sempre é econômica, mas no nosso caso, como parece que sabemos, travestida de preocupação ecológica. Acho que o público brasileiro está cansado de saber que tanto a visão do Brasil como “devastador de florestas” como de “carbono positivo” são grandemente manipuladas e exageradas, em detrimento dos próprios mal-feitos de países, principalmente a França, neste pormenor (pormaior?).

E os Preços?

Com o Real desvalorizado, e com os preços das commodities nas alturas, o Agro brasileiro vai ganhando em relevância em relação a outras atividades, na composição do PIB. O Centro Oeste vai se tornando um “Center West” (Illinois, Ohio, Iowa, etc) em termos de riqueza e produtividade. Populações inteiras antes atraídas pelas luzes das cidades e pelo ar do mar, agora não querem mais saber de sair de suas cidades cada vez mais confortáveis e seguras.

Agricultores antes quase que obrigados a vender suas safras ao primeiro que aparecesse, ou correr o risco de perde-la por não ter onde guardar, agora possuem silos e mais silos de armazenamento, e podem escolher quando, e se vender, e a que preço. Isso por si só demonstra a força do agricultor brasileiro e sua influência no preço global das commodities. Não se trata de matar o mercado com preços altos – isso, na minha opinião, fazem muito bem os EUA e a UE. Se trata, isto sim, de produzir cada vez mais barato, melhor, e com margens mais adequadas. Por isso o Brasil, na minha opinião, nunca terá uma moeda supervalorizada (aliás, a última vez que isso aconteceu foi justamente no início do fim da prosperidade que o populismo nos brindou). Sempre precisaremos ter, no limite, uma moeda “competitiva”. Torço por um mercado de câmbio realista, o que hoje não acontece (acho nosso Real muito desvalorizado).

Concluo por dizer que com liberdade no campo, liberdade cambial, e com ajuda de Deus (São Pedro, se você é católico), o Brasil só terá a ganhar com commodities, agora, como foi no passado, e será sempre.

Escrúpulos

A minha tentação é a de generalizar. Tomar o todo pela parte, e sair batendo. Não funciona. Eu já começaria este post cometendo o mesmo erro que me proponho a desnudar, ou esclarecer (modestamente) que vejo no povo brasileiro. A falta de escrúpulos. Claro que temos um povo que em sua maioria tem vergonha de fazer algo que é moralmente condenável, ou literalmente na definição do Websters, que figura acima “o sentimento que evita que você faça alguma coisa que você pensa ser moralmente errada, e o faz ter incerteza sobre faze-lo“.

Mas o fato é que vivemos num país em que os “moral qualms” (dilemas morais) não estão na ordem do dia das pessoas. Aliás, o mundo segue o Brasil nessa via de mão única em direção ao caos. Desde furar uma fila ou colocar o carro pra rodar no acostamento, até jogar a moral de todo um país na lama pra ganhar uma eleição, o fato é que temos poucos dilemas morais. Antes tínhamos nossos pais e nossas igrejas e templos para nos lembrar da nossa responsabilidade de sermos mais polidos, pensar nos outros primeiro, e fazer o que é certo em qualquer situação. A recompensa era um “céu” ou um “bom carma”, ou ainda evitar um “pito” ou umas “correadas”. Positivas ou negativas, as motivações para andarmos na linha existiam e eram implantadas.

Via Expressa para o Caos

O país, e agora o mundo, começam a marchar na Via Expressa do Caos. Vamos a toda velocidade, ignorando a maior motivação positiva de todas – a civilização. Esta me parece ser a maior recompensa terrena do Escrúpulo. Só a existência de dilemas morais é que nos tira da rota de colisão com o Caos que se avizinha. E vamos todos alegremente repetindo toda e qualquer coisa que nos traga algum conforto pessoal, alguma vantagem, alguma posição de destaque.

O intelectual foi o primeiro e perder o escrúpulo, a bússola moral. Deveria ser o último. Afinal, é para a intelectualidade, para os pensadores, que se volta a sociedade em busca de compasso para suas dúvidas. Nossa intelectualidade abraçou com força e paixão a visão de mundo do “quanto pior melhor”, contanto que detenhamos a postura de pessoas bem intencionadas.

A Via Expressa vai afunilando e se tornando cada vez mais esburacada, cada vez que um intelectual, ou um famoso, a esburaca de propósito. Alguns exemplos recentes nos ajudam a refletir sobre isso.

Fique em Casa

Há quase 2 anos fomos instados a ficar em casa, pois que a “economia a gente vê depois”. O escrúpulo foi ali jogado às favas, por famosos, “influencers”, jornalistas e intelectuais. Políticos também, claro, mas deles sempre pudemos esperar qualquer coisa.

O debate aberto, claro, franco, e honesto foi substituído por um ruído estridente, que proibiu que se debatesse com calma e “ciência” (entre aspas para denotar seu inescrupuloso uso recente) sobre o assunto.

É lógico que daria para criar as medidas suficientes e necessárias para que continuássemos a trabalhar e produzir, sem aumentar a tragédia que já estava instalada entre nós. Prova disso foi a fantástica performance do agribusiness, que não parou, e acabou por salvar nosso pescoço e nossos estômagos, a despeito dos aumentos de preços.

A Guerra dos Absorventes

Mais recentemente, o veto presidencial a uma esdrúxula medida de prover absorventes higiênicos pagos pelo SUS para jovens e adolescentes de classes menos privilegiadas gerou uma gritaria desproporcional ao fato. Mais ainda por duas razões que poderíamos chamar de apavorantemente claras: não foi dito de onde sairia a grana para bancar isso e não se pensou antes nos dias de aula perdidos pelo Fique em Casa. O país que mais manteve alunos fora da escola agora clama por absorventes para supostamente evitar evasão escolar.

Não se trata aqui de dizer que o estado não deve dar este ou aquele item de higiene, saúde, etc. Trata-se de dizer que o Estado não deveria “dar” NADA a ninguém sob forma de subsídio ou “doação”, pois não há dinheiro público, mas só o nosso, o do pagador de impostos.

Se o Estado quer dar algo ao povo, que dê liberdade de empreender, trabalhar, produzir e ganhar seu próprio dinheiro para comprar seus próprios itens de higiene com orgulho e vergonha na cara, sem depender de ninguém.

O STF

Por último, por hoje, a falta de escrúpulos de homens e mulheres escolhidos para a mais alta corte do país, que deveria ser usada somente para solução de problemas constitucionais, no esclarecimento de pontos específicos e de quem propõe ações a ela, para atingimento de interesses próprios.

Partidos políticos passaram a usar nosso STF de forma a atingir objetivos específicos, principalmente no questionamento de temas que não deveriam ser sequer reconhecidos por esta Corte como sendo de sua alçada julgar.

E aí está o outro lado da falta de escrúpulos – por entender que precisa “fazer algo”, 11 ministros desvirtuam os objetivos da Corte e põem-se a julgar e avocar a si as coisas mais aberrantes, deixando ações que estão há décadas pendentes de uma decisão tomando poeira.

Existe maior falta de escrúpulo, menos bússola moral, do que colocar um ladrão do erário na rua por tecnicalidade? Existe falta de moral e compasso maior do que colocar traficantes de tóxico e chefes de facção em liberdade, por razões que sequer tenho a coragem de inferir aqui?

Que tipo de Corte Suprema se dá ao trabalho de imiscuir-se dia a dia nas obrigações de outros poderes? Que ministros são esses que não têm o menor dilema moral em votar e fazer algo frontalmente contra a própria constituição, como caçar um mandato e manter direitos políticos, ou começar seus próprios inquéritos ao arrepio do processo legal?

Efeitos

A falta de escrúpulos não veio até a sociedade, no atacado, sem antes passar pelo longo e penoso processo de permear o varejo. Antes de vermos governadores roubando em larga escala, vimos Brizola fazer acordos espúrios com o crime organizado, já nas eleições de 1982.

Antes de vermos Lula ser posto na rua “descondenado”, vimos todo um processo de difamação da Operação Lava Jato, constituído pouco a pouco, a ponto de gente razoavelmente inteligente dizer que “prefere Lula do que Bozo”, como se fosse uma escolha minimamente informada ou clara, com todas as informações puras, na mesa, passadas por uma imprensa livre e honesta.

Enfim, o processo que nos leva à Via Expressa do Caos começou pequeno, lá atrás, com o “Jeitinho Brasileiro” sendo louvado como sendo uma forma de adaptação, de flexibilidade. Nunca foi chamado por ninguém pelo que realmente é – falta de escrúpulo.

É óbvio que se resolvem problemas mais rápido sem se ter dilema moral. Engravidou? Não tem condição de criar? Mate a criança. Aborte. Não tem condição de ter um par de tênis de marca? A sociedade te tirou o direito ao bom e o melhor? Roube! É simples. Não consegue estudar para passar em medicina? Don`t worry – compre uma vaga.

A Ordem sobre o Caos era o mote dos Positivistas de onde vem o “Ordem e Progresso” da bandeira. O Caos sobre a Ordem parece ser o mote de qualquer um que deseje o poder neste país.

Só por Deus…

Polarização – Eu e Luiz Felipe Pondé

blue and black can on black surface
Unsplash.com

Todo mundo sabe quem é Luiz Felipe Pondé. Já eu, seria algo como “Zé Ruela Qualqué”, ou seja, um ignoramus. Contudo, ouvir e dar razão pelo simples fato de alguém ter notoriedade não parece muito esperto… Vide um tal imitador de focas, de altíssimo perfil público, mas a quem o desprezo intelectual parece justificado.

Pois bem… Pondé pondera (sem trocadilhos) que a polarização é um fato antigo, primeiro relacionando o conceito ao “culto ao mal”, que, segundo ele, vigorou antes do culto ao bem, e portanto há uma tendência à polarização que vem daí, se é que entendi bem.

Mais à frente em sua coluna diz que “a polarização especificamente política não é nova”. Ele então a remete ao início do capitalismo. Pois bem… e nós com isso?

Dois aspectos me vêm à mente:

Polarização é Necessariamente Ruim?

A impressão que fica, tanto do artigo, como da opinião comum, da imprensa e principalmente do Beautiful People, é de que a polarização é sempre, e necessariamente, ruim. Obviamente, a polarização dos outros, claro. A nossa, que não se confessa nem a pau, não é.

O Brasil sempre foi um país sem grandes polarizações, com muita gente num centro, meio “geleia geral“. Aliás era disso mesmo que a minha geração era acusada – de não tomar posição, não lutar por seus direitos, não se afirmar, ser “alienada”. Meus amigos da América Latina sempre acusaram o Brasil de ser um país de gente “blanda” (branda) e que não se posiciona. Culpam-nos por ter sido sempre complacentes, da turma do “deixa disso”. Ditadura aqui sempre foi “blanda”, briga aqui sempre foi apaziguada, com raras exceções. Fomos colocados em banho maria desde tempos imemoriais, como Homo Amabilis, que sempre fomos como nação.

O medo que está dando no povo é que o Homo Amabilis parece ter sofrido mutação, desde que a esquerda, em fins dos anos 80 do século passado, começou a dominar a cena acadêmica e cultural. Com o adentrar em campo de políticos proeminentes como FHC e Lula, e cujas posições, muito devagar, foram-nos empurrando para cantos separados, fomos nos “radicalizando”. Nos tornamos Homo Radicitus, ou radical.

Ocorre que o Brasil mais abrangente é o do Homo Amabilis, esse sujeito do interior, ou mesmo das capitais, mas que não se sente com o mínimo de vontade de brigar com ninguém, cujo salário contado, se permite uma cervejinha no fim de semana, com 1 Kg. de lombo agulha na brasa, já se satisfaz; é o cara do campo e das pequenas cidades, em paz com todo mundo, feliz por não ter que enfrentar neve ou terremoto (sem nem o saber), e que tem sua banana e sua abóbora no quintal, come bem e ainda distribui; vai na sua igreja, ora, reza, volta para casa, quer criar os filhos obedientes e honestos, enfim, o sujeito que não pegaria em armas, mas está sendo conduzido a isso.

Que não se confunda este sujeito com um imbecil lesado, massa de manobra pura e simplesmente. É alguém que, com limitações, consegue interpretar a vida de uma forma bastante razoável. Aliás, tem-se a tendência de subestimar quem não tem assim tantas letras como gente incapaz de pensar por si. Na minha experiência isso é burrice. Desde meus avôs e avós, com pouca escolaridade, mas com um bom senso fora de questionamentos, até os funcionários de vários níveis que já tive na vida, e ainda tenho, todo mundo tem uma fita métrica bem boa na cabeça, e é capaz de identificar o que é bom pra si e para o próximo.

É claro que a deseducação que vimos tomar conta do país nas últimas décadas contribuiu bastante para que, mais jovem a pessoa, menos capaz de bom senso seja, mas nem isso são favas contadas. O que há hoje é uma divisão clara (uma radicalização) entre gente extremamente bem informada e inteligente e uma minoria, eu diria, que abriu mão de pensar.

Se estamos hoje diante de uma massa de gente menos disposta a contemporizar com certas coisas, e sobre as quais a grande mídia não consegue mais exercer um comando como o fazia, se deve a duas coisas: a)a mídia deixou de ser razoável, em suas pressões por “mudança” sobre o cara comum, da esquina e; b)o cara comum, da esquina, já percebeu que não tem vez nem voto num país manipulado de pé a ponta. Ou seja, se há gente na rua aos milhões, gritando fora isso, fora aquilo, isto é o resultado da falta de bom senso de quem, de fato, obtinha sucesso relativo em manter um certo nível de conformação por parte do cidadão, que não consegue mais.

A corda parece ter realmente arrebentado com a Lava Jato, que expôs o Rei Nu, Lula, e seus asseclas, e tornaram o homem comum.

Polarização pode ser Necessária?

O ideal é que não haja nunca, necessidade de polarização. Mas o fato é que poucas vezes na vida há momentos críticos em que uma polarização não é somente necessária, mas caso de vida ou morte. Alguns exemplos vêm à cabeça e sempre com o ponto e o contraponto – o “radical” e seu “detrator” – Catilina (o carbonário) e Cesar (o estadista), Churchill (o radical) e Neville Chamberlain (o cara do Deixa Disso), e mais recentemente, Trump (o boquirroto) e Biden (o pacifista).

O que há de comum nesses casos todos é a tentativa de um “radical” em resolver um assunto, mesmo que pela força, e os “pacifistas”, cujas atitudes nos teriam levado ao caos, caso aplicadas. A mais flagrante delas certamente foi a atitude de Churchill, cuja retórica e radicalismo nos salvou a todos de estarmos até hoje sob a suástica.

Portanto, você, meu caro polarizado, que berra nas ruas e nas redes, reconheça-se como um caso de atavismo da espécie, espécie essa que se arrasta pelo mundo produzindo mitologias, inclusive políticas, que nada mais são do que formas empobrecidas de metafísica. Você é a pura inércia em ação. Sua substância é a violência.

https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luiz-felipe-ponde/obsessoes-ancestrais/

Minha substância não é a violência, mas me sinto polarizado. Não porque eu tenha uma natureza “catilinária”, “carbonária”, mas porque estamos diante de algo maior do que o deixa-disso pode resolver. Assim, dizer que somos todos uma cambada de radicais, de um ou outro lado, sem enxergar a perspectiva de cada um (e confesso que algumas visões da esquerda – bem intencionada e não metida em rolos – são válidas) é cegueira, e lacração pura e simples.

Sinto que estamos num momento em que uma bela dose de polarização é desejável e necessária. Ou bem entendemos que estamos sim caminhando a passos largos para uma situação de exceção, ou deixamos tudo como está para ver como vai ficar. Fizemos isso em 1985, com o fim da ditadura. Acordamos anos depois com um congresso eleito por “puxadores de votos”, com partidos que não representam ninguém, com uma constituição parlamentarista para um país presidencialista, sem nossas armas, a despeito do resultado de um plebiscito, com milhões de funcionários públicos a mais do que o necessário e com salários mais altos do que qualquer outro setor, com uma dívida interna acima dos 80% do PIB, e para finalizar, na iminência de aceitarmos bovinamente ativismo da corte que deveria impedi-lo, em detrimento de nossa liberdade de expressão

Façam suas apostas. O mundo já se viu nessa encruzilhada antes. Quem “polarizou” conseguiu sobreviver. Quem não o fez, virou vítima de quem fingiu não ser. Melhor um fim com horror do que um horror sem fim.

Vala Comum

white petaled flowers at daytime
www.unsplash.com

Uma vala comum foi encontrada durante as obras de expansão do aeroporto de Odessa, na Ucrânia. Oito mil pessoas pelo menos foram enterradas lá. Os trabalhos continuam, e podem ser mais do que essa quantidade, por si já absurda. Não se trata do Holomodor, a grande fome, provocada por Stálin, e que resultou na morte de milhões de ucranianos. Foi um abate sistemático de pessoas pela polícia secreta da então União Soviética.

“Uma boa bala, uma boa cova”, falou Miguel Iasi, deputado federal pelo PC do B há algum tempo, parafraseando Bertold Bretch:

“Nós sabemos que você é nosso inimigo, mas considerando que você, como afirma, é uma boa pessoa, nós estamos dispostos a oferecer o seguinte: um bom paredão, onde vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala e vamos oferecer, depois de uma boa pá, uma boa cova. Com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo, luta”

Bertold Brecht, poema “Perguntas a um homem bom

De novo, lá vamos nós, observando nossos arqueólogos da modernidade escavando, uma hora aqui, outra acolá, 10 mil ossadas, 3 mil ossadas… Ao todo já foram mais de 100 milhões de ossadas encontradas nos subsolos da utopia comunista.

Também há ossadas, claro, em outros regimes não comunistas, mas igualmente de força, como as 30 mil do regime militar argentino, 10 mil do chileno, e por aí vai, inclusive nossas quase 500, em 21 anos de nossa “ditablanda” (como dizem os hermanos latinos).

Tudo contra ossadas, se elas não estão perfeitamente identificadas em cemitérios e não tiveram sua morte comprovada e, se possível, de causas naturais. Tudo contra valas comuns de qualquer origem, sejam elas brasileiras, chinesas, russas ou do Khmer Vermelho.

O problema aqui é estarmos todos nós, brasileiros, flertando com mais um campo de ossos, ali na esquina, gerado por mais uma ditadura, seja de esquerda, de direita ou do judiciário. Neste meio tempo, o Sete de Setembro passa a ser, para alguns, motivo de medo, e não de júbilo.

Um Holomodor brasileiro, perpetrado há anos, nos deixa com uma sensação coletiva de que nada do que fomos ou somos valeu ou vale a pena. Tudo nesses 521 anos foi ruim, tudo patético, tudo substituível por algo “melhor”, segundo alguns, mesmo que para isso algumas novas valas comuns tenham que ser abertas.